«Custou-me estar na qualificação e depois levarem o Custódio. Chamavam os jogadores do Mendes» – Entrevista BnR com Paulo Machado

A proposta do SL Benfica – 

BnR: Sendo tu uma pessoa que não teme novos desafios, em 2012 assinas pelo Olympiacos da Grécia, onde te cruzas com o técnico Leonardo Jardim. Foi ele que fez mais força para ires para Atenas?

PM: Não foi ele que fez mais força, porque o Olympiacos já andava atrás de mim desde o final da minha primeira época no Toulouse. Nesse ano, toda a gente me queria: eram eles, equipas da Liga dos Campeões e até cheguei a receber uma proposta do Benfica e tudo.

BnR: A sério?

PM: Sim, tive proposta só que o clube não aceitou. O Olympiacos já me andava a “namorar” há algum tempo, e a chegada do Jardim acaba por dar uma maior força e acabo por ir para lá. Na terceira época no Toulouse, eu e o treinador Alain Casanova já não nos estávamos a dar bem, e decidi mudar.

Fonte: Facebook Paulo Machado

BnR: A primeira vez que jogas na Liga dos Campeões foi na Grécia. Recordas-te contra quem foi a tua estreia?

PM: (Paulo pensativo) Por acaso, não me lembro…

BnR: Foi em casa contra Schalke 04, em que os alemães vencem por 2-1.

PM: Ah, pois foi! Perdemos, mas foi um bom jogo esse.

BnR: A adrenalina aumentou quando entras em campo e começa a tocar o hino da Champions?

PM: Claro que sim, nesse dia levei a minha família para ir ver o jogo, e quando começo a ouvir o hino vieram-me as lágrimas. “Fogo, estou a jogar a Liga dos Campeões”, foi o meu pensamento nesse instante, já que era um sonho de qualquer jogador.

BnR: Os gregos são caraterizados por viver o Desporto Rei de uma forma bastante apaixonada. Tens algum episódio que te tenha marcado durante a tua estadia lá?

PM: Tenho sim, quando marquei golo ao Montpellier para a Liga dos Campeões em casa. Foi incrível! Lembro-me de marcar o golo e os adeptos em vez de me chamarem por Machado, gritaram “Moustaki” por causa do bigode. Essa é alcunha por que sou conhecido, e ver o estádio todo a cantar isso, até fiquei emocionado e senti que tinha conseguido conquistar os adeptos, foi incrível.

BnR: Tocaste no moustaki (bigode em grego), e não podemos deixar passar de lado o famoso festejo! A ideia para “Moustaki Walk” veio donde?

PM: Quando era mais novo, no Carnaval vestiamo-nos de “Cadeirudo”, que era uma personagem de uma novela brasileira, usava uma bengala de Charlot e andava da mesma forma como festejo. Achei piada e tentei andar como ele, tanto que consegui apanhar o jeito (risos). Pensei logo “Vou usar isto e vai tornar-se um festejo mundial”. Quando toda a gente marca e festeja quase sempre da mesma forma, decidi fazer uma coisa diferente. Já ninguém me tira esse festejo!

BnR: Apesar de teres ajudado nas conquistas de duas Ligas e Taça, acabas por abandonar o clube. Custou-te sair do campeão helénico?

PM: Custou-me muito, recordo-me que viajei com o meu pai até à Croácia para falar com o Dínamo, e quando ele me falou da possível ida para lá, disse logo “Não pai, eu adoro a Grécia, é um país único, o clube é excelente, para quê sair?”. Ele falou que era um clube campeão e tal, isso acabou por me convencer. Eu não queria mesmo sair do Olympiacos, mas tinha assinado o treinador espanhol Míchel antes da época acabar, e, numa conversa que tivemos, indiretamente disse que não contava comigo para o ano seguinte. Pensei logo “Joguei duas épocas sempre a titular, se ficar aqui não vou ser colocado a jogar e vai contratar os espanhóis todos”. Uma coisa que até hoje não percebo é o porquê de os técnicos espanhóis não gostarem dos jogadores portugueses. Achei por bem ir para Zagreb.

BnR: No Dínamo, encontras o guarda-redes Eduardo, o defesa Ivo Pinto, o médio Gonçalo Santos e o extremo Wilson Eduardo. O facto de teres colegas que falassem a mesma língua ajudou à tua rápida adaptação à Croácia?

PM: Claro que ajudou, mas mesmo tendo portugueses, se formos falar de adaptação, a deles foi mais fácil que a minha. Eu em Zagreb era o número 10, fui a contratação mais cara, tinha uma enorme pressão sobre mim que eles não tiveram. Eles podiam errar e ter um jogo menos bem conseguido que ninguém os assobiava. Eu cheguei a ter o estádio todo a assobiar-me, a insultar-me.

BnR: Complicado

PM: Adorei estar na Croácia, o Dínamo respeitou-me, as pessoas dentro do clube gostaram de mim pois sou brincalhão, mas, todos os dias, se fosses ver os jornais era fortemente criticado. Marcava golo, era o melhor em campo, só que no dia seguinte era rasgado do tipo “Não joga nada!” ou “Como é possível terem pagado tanto dinheiro?!”.

BnR: Os jogadores por vezes também sentem o peso do valor da transferência…

PM: Claro que sentem. Cheguei a França, ninguém me conhecia. Cheguei lá, fiz os jogos, fui para o Toulouse, como não tinha muita pressão, dava tudo e joguei o meu melhor futebol. Para o Olympiacos, já fui com pressão, tanto que, no início, pensaram “Vai chegar aqui o Messi”, mas não tenho nada a ver com o Messi. Da maneira que falaram, parecia o Messi e ia decidir os jogos todos. Não basta ver a minha carreira? Não sou jogador que vá marcar muitos golos, dou assistências e trabalho para a equipa, que dá tudo o que tem e não podem pedir mais que isto. Fui para o Dínamo e aconteceu o mesmo. Cheguei lá e adorei, mas foi dos piores anos da minha carreira.

BnR: Custou assim muito a experiência lá no Dínamo?

PM: Nem tanto, pois ia para os jogos e dentro de campo fazia o meu trabalho. Já fora de campo não ligava muito, pois nem sequer lia os jornais. Tanto é que fui para a Grécia e aprendi grego, e, quando chego à Croácia, começo a aprender a língua ao início, só que vi que toda a gente falava mal de mim, pensei mesmo “Não vou aprender esta língua, pois vai-me entrar na cabeça que falam mal de mim e vai ser pior”, então decidi não ter aulas de croata. Aprendi a falar francês, inglês, espanhol mesmo sem ter jogado lá e sei um pouco de grego. Podia ter falado croata, só que os jornalistas me atacavam todos os dias. Se fosse hoje, eu diria que era racismo, não percebia o que é que tinham comigo para me criticar mesmo quando não fazia nada de errado.

BnR: Felizmente, a etapa croata resultou em mais quatro títulos para o currículo. Com que ideia é que ficaste do campeonato no final dessa experiência?

PM: O meu objetivo, quando saí do Olympiacos, era ir para uma equipa que fosse campeã também, não podia juntar-me a um clube que andasse a lutar para não descer. Tive propostas da Turquia e tudo, só que pensei “Vou para a Turquia para lutar para não descer?”. Não podia trocar o sucesso do Olympiacos por isso. Fui para a Croácia onde o Dínamo era campeão. Para mim, o campeonato da Grécia é melhor que o da Croácia, em termos de competitividade, nem há comparação possível. Na Croácia, só tens o Rijeka, o Hadjuk é só por ser o rival, mas aquilo nem competitividade havia quase. Íamos para os jogos e pensávamos “Quantos vamos dar? 4,5?”. Isso acaba por desmotivar um bocado, tanto que, às vezes, as equipas adversárias até começavam a ganhar 1-0, eu dizia logo “Tenham calma, que daqui a pouco já levam 4 ou 5”, e isso era certinho. 

Guilherme Costa
Guilherme Costahttp://www.bolanarede.pt
O Guilherme é licenciado em Gestão. É um amante de qualquer modalidade desportiva, embora seja o futebol que o faz vibrar mais intensamente. Gosta bastante de rir e de fazer rir as pessoas que o rodeiam, daí acompanhar com bastante regularidade tudo o que envolve o humor.                                                                                                                                                 O Guilherme escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.

Subscreve!

Artigos Populares

Nova reviravolta coloca transferência de Viktor Gyokeres para o Arsenal em risco de colapsar

A transferência de Viktor Gyokeres para o Arsenal teve um novo contratempo. Em causa os bónus do acordo com o Sporting.

FC Porto lança-se na corrida por destaque do Ajax de Francesco Farioli na última temporada

O FC Porto já iniciou negociações com o Ajax para a contratação de Kenneth Taylor. Médio foi protagonista da equipa de Francesco Farioli.

Sporting pode investir dinheiro de Viktor Gyokeres em antigo pupilo de Francesco Farioli no Ajax

O Sporting está atento à situação de Mika Godts no mercado. Extremo belga é destaque do Ajax e foi treinado por Francesco Farioli.

Cristiano Ronaldo já reagiu à oficialização de Jorge Jesus como novo treinador do Al Nassr

Cristiano Ronaldo já deixou uma mensagem pública para Jorge Jesus. Português vai orientar CR7 no Al Nassr.

PUB

Mais Artigos Populares

Benfica: Tiago Gouveia conta com interessado na Serie A

A Lazio está interessada em Tiago Gouveia. Águias não estão dispostas a vender o jogador de 24 anos neste momento.

Wimbledon #2: Jannik Sinner consegue a sua desforra

Jannik Sinner é o novo vencedor do torneio de...

Enzo Barrenechea está a caminho do Benfica e pode chegar a Lisboa nas próximas horas

Enzo Barrenechea deve deixar o Aston Villa e rumar ao Benfica. Médio argentino pode chegar a Lisboa nas próximas horas.