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    «Golo ao Benfica foi um presente na minha carreira» – Entrevista BnR com Bruno Moraes

    Bola na Rede: Pegando já por aí, como é que surgiu o interesse do FC Porto?

    Bruno Moraes: Num desses torneios na Europa, eu tinha conhecimento que estava a ser observado, mas não fazia ideia que era pelo FC Porto. Eu tive alguns interessados de Itália porque o Santos foi fazer um torneio em Viareggio numa cidade pequena, mas era um torneio importante com grandes equipas como o Milan, Juventus, Parma, entre outras. Eu tive um bom desempenho e algum destaque e chamei a atenção de alguns clubes como a Lázio. Até hoje eu tenho uma camisa da Lázio na altura em que o meu pai era o meu empresário e ele foi reunir com eles e a Lázio levou uma camisa com o meu nome para me convencer a assinar com eles. Mas o meu pai, como tinha muita experiência não se deslumbrou muito com as propostas dos clubes de Itália e achou que, para eu ter uma melhor adaptação e pela facilidade da comunicação, a minha entrada no futebol europeu seria numa primeira fase jogar no FC Porto. Soube que a minha ida para o FC Porto teve a ver com o interesse do José Mourinho. Ele viu os meus vídeos e na altura o Hélder Postiga ia ser transferido, por isso ele quis ir buscar um jogador com as mesmas características: um ponta de lança técnico que finalize bem. Foi através desse interesse do José Mourinho que eu pude fazer parte do FC Porto.

    Bola na Rede: Começas por te destacar na equipa B e alinhas num plantel com algumas promessas que se viriam a tornar figuras do nosso campeonato, como Ricardo Costa, Vieirinha e Hugo Almeida. Como é que foi essa adaptação e de que forma é que esses jogadores te receberam e ajudaram a conhecer a realidade do clube?

    Bruno Moraes: Sendo sincero me causou um pouco de choque porque na altura que me contrataram, eu tinha a esperança, e a promessa que foi feita, era de eu ingressar na equipa principal. Eu cheguei com essa ilusão de jogar, ou pelo menos ir para o banco, mas na verdade, o Mourinho me chamou várias vezes para conversar e o FC Porto tinha uma estratégia de me irem lançar aos poucos. Nessa altura, como era jovem e como eu já disse que era muito ambicioso, achava que já estava preparado, mas não estava. Então foi necessário eu fazer alguns jogos pela equipa B, foi necessário ir entrando aos poucos na equipa principal do FC Porto, mas na altura para mim foi difícil porque durante a semana eu treinava com os seniores e no final da semana ia jogar pela equipa B. Para mim isso era muito doloroso e muito difícil de assimilar porque eu queria muito jogar. Mas respeitei a opção do treinador, eu ia para os jogos da equipa B e acho que acabei marcando 12 golos em 10 jogos pela equipa B, até dezembro eu fiz bons números. A partir de dezembro/janeiro eu já participei na equipa A e não voltava a jogar na equipa B. Foi assim que eu ingressei no FC Porto, com essa adaptação ao futebol europeu que é um pouco diferente do nosso futebol no Brasil pela forma de jogar, no sentido em que nós no Brasil “com bola jogamos muito e sem bola jogamos pouco”, aqui na Europa é diferente, quando perdemos a bola temos de reagir à perda e temos de nos posicionar. Trabalhamos muito sem a bola e eu demorei algum tempo para aprender isso, mas consegui aprender e ganhar essa mística no FC Porto de querer ganhar tudo, querer ganhar logo, custe o que custar, sempre com vontade de ganhar e me comecei a dedicar ao clube e até hoje, em tudo o que faço, essa mística do FC Porto me ajuda a querer sempre ganhar.

    Bola na Rede: Nessa época de estreia em Portugal, em 2003/04, representaste a equipa principal em oito ocasiões e estreaste-te a marcar frente ao Rio Ave na Taça de Portugal. O que é que o jovem Bruno Moraes com 19 anos sentia ao estar rodeado de um lote de craques que marcou uma geração do futebol português?

    Bruno Moraes: É verdade, como eu já disse, tudo na minha carreira aconteceu muito rápido. No Santos tive num grupo de jogadores consagrados no meu primeiro ano como sénior e pude aprender coisas. Quando eu vim para o FC Porto, no meu segundo ano de sénior, eu apanhei também jogadores com muita história e prestígio. Vítor Baía, Deco, Derlei, Costinha, Maniche, Alenitchev… jogadores de seleção com muita qualidade que me ajudaram a aprender muita coisa. Para além da qualidade do campo, eram mais velhos e aconselhavam bastante os jogadores mais novos. Foi muito bom esse ano que eu joguei no FC Porto em que vencemos a Liga dos Campeões e o campeonato e foi muito bom eu ter participado nisso com eles.

    Bola na Rede: Por falar em Liga dos Campeões, tu estreaste-te na Liga dos Campeões no Santiago Bernabéu frente ao Real Madrid e fazes mais alguns minutos no Dragão frente ao Manchester United. Recordas-te do ambiente vivido nesses jogos?

    Bruno Moraes: Jogar a Liga dos Campeões é o sonho de muitos meninos. Só pela apresentação, as estrelas, a música, é um ambiente totalmente diferente e ali estão reunidos os melhores. É um nível muito alto e com certeza fica na memória todos os momentos e jogos. Nesse ano de 2003/04 eu participei em alguns jogos e foi maravilhoso estar ali naquele ambiente fervoroso e ver os craques, como os jogadores do Real Madrid que eu sempre admirei. Nesses jogos que falaste eu tive com jogadores que nunca imaginei estar perto: Roberto Carlos, Ronaldo, Figo, Beckham, Zidane. Contra o Manchester United tive oportunidade de jogar contra o Cristiano Ronaldo, Giggs, Scholes, uma série de jogadores lendários. Eu fui um privilegiado por estar lá e foi muito satisfatório chegar até a esse momento na minha carreira.

    Bola na Rede: Lembras-te com quem estavas no balneário a ver o jogo da final da Liga dos Campeões em Gelsenkirchen?

    Bruno Moraes: [Bruno Moraes fica pensativo] Com o Ninja?

    Bola na Rede: O Maciel disse-me que estava contigo nesse momento.

    Bruno Moraes: Ah, o Maciel! O Maciel também é ninja.

    Bola na Rede: Apesar de não terem estado no banco, como foi vivida a festa no relvado e a chegada à Invicta?

    Bruno Moraes: Foi tudo maravilhoso. O facto de eu não ter sido convocado foi menos bom porque eu queria estar lá a jogar, mas só de fazer parte desse plantel já me deixa bastante contente e poder comemorar com eles esse título foi gratificante. Tínhamos uma equipa fabulosa, o Maciel ficou de fora também, um grande jogador que era muito rápido e fazia muitos golos na Liga Portuguesa, mas faz parte do futebol, um treinador não pode escolher todos para jogar. Têm de ser feitas escolhas e hoje eu aceito isso, mas jogador quer sempre jogar. Eu estava ali, estava feliz, mas se estivesse no jogo era melhor.

    Bola na Rede: Como foi ter sido treinado por José Mourinho?

    Bruno Moraes: Foi especial, tanto pelas correções como quando ele nos elogiava de um modo muito particular. A psicologia que ele emprega no trabalho dele é muito boa. No caso dele, ele chamava-nos quando percebia algum tipo de comportamento, quando um jogador andava desanimado ou quando andava motivado e treinava bem, ele sempre fez questão de chamar na sala dele e conversar sobre isso. Era um treinador que na altura já estava muito à frente dos outros treinadores. Como o Mourinho foi o meu primeiro treinador, eu tive sempre uma referência muito alta na Europa. Quando fui treinado por outros, era lógico que havia coisas boas, mas o padrão Mourinho foi sempre difícil depois de encontrar no futebol.

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    Nélson Mota
    Nélson Motahttp://www.bolanarede.pt
    O Nélson é estudante de Ciências da Comunicação. Jogou futebol de formação e chegou até a ter uma breve passagem pelos quadros do Futebol Clube do Porto. Foi através das longas palestras do seu pai sobre como posicionar-se dentro de campo que se interessou pela parte técnica e tática do desporto rei. Numa fase da sua vida, sonhou ser treinador de futebol e, apesar de ainda ter esse bichinho presente, a verdade é que não arriscou e preferiu focar-se no seu curso. Partilhando o gosto pelo futebol com o da escrita, tem agora a oportunidade de conciliar ambas as paixões e tentar alcançar o seu sonho de trabalhar profissionalmente como Jornalista Desportivo.