«Golo ao Benfica foi um presente na minha carreira» – Entrevista BnR com Bruno Moraes

    Bola na Rede: És cedido por empréstimo na época seguinte para o Vitória de Setúbal, naquela que foi uma época de transição do pós-Mourinho no FC Porto. Era difícil conquistar um lugar naquele plantel que contava com Mccarthy, Postiga, Hugo Almeida, Luís Fabiano, Jankauskas?

    Bruno Moraes: Era difícil por várias razões, não só pela parte desportiva, mas também pelo clube, como SAD e empresa que tem de gerar lucro. Eu como era novo e tinha um contrato longo decidiram que ainda havia tempo para me avaliar. Logo no meu primeiro ano surgiu um interesse muito forte para eu poder jogar mais e ser emprestado, só que optei por ficar no FC Porto porque quis fazer parte daquele grupo que viria a ser campeão europeu e acreditava que poderia fazer alguns jogos.  Acho que ainda fui importante em alguns jogos da Taça de Portugal, fiz esse golo, tive em alguns jogos na Liga dos Campeões e no campeonato. No meu segundo ano o FC Porto ainda comprou mais jogadores para a posição de ponta de lança e os treinadores que vieram também não me conheciam. Abriu uma janela para eu ser emprestado e eu queria jogar, queria me afirmar como jogador e precisava disso. Saí ainda com um pouco de relutância no empréstimo para o Setúbal, mas foi importante para mim esse empréstimo em que eu pude jogar, ter oportunidades, fiz bastantes jogos, bastantes minutos na Primeira Liga Portuguesa, só que no final da primeira época tive um pouco de infelicidade com a lesão e não pude jogar na final da Taça de Portugal.

    Bola na Rede: Nesse ano em Setúbal és treinado por José Couceiro e divides o balneário com Jorginho, Meyong, Moretto, Hélio Sousa, Sandro e muito mais, um grupo que viria a ganhar a Taça de Portugal. Que momentos guardas dessa época em que, ainda apenas com 20 anos, conseguiste ter maior destaque em Portugal ao apontares nove golos?

    Bruno Moraes: É verdade, eu fui muito bem recebido e bem tratado por todos em Setúbal. A minha ida para o Setúbal foi muito bem conseguida desde o começo e desde as negociações do empréstimo. Não foi um empréstimo qualquer, foi bom para eles e bom para mim. Fiz parte de um balneário muito bom com grandes jogadores como falaste. O Sandro, o Auri, o Jorginho que foi contratado pelo FC Porto, o mister José Couceiro que me proporcionou bons momentos na equipa e que me integrou facilmente no plantel, o Meyong que era uma referência da seleção dos Camarões e era o meu parceiro do ataque em muitos jogos e muitos mais jogadores. Tínhamos uma equipa muito forte em Setúbal em que ganhamos a Taça de Portugal e em que fizemos uma boa figura no campeonato.

    Bola na Rede: O Vitória de Setúbal foi um clube que marcou a tua carreira, onde tiveste duas passagens por empréstimo. Como reagiste este ano, ao ver o clube viver um dos momentos mais negros da sua história e a ser despromovido ao Campeonato de Portugal?

    Bruno Moraes: Fiquei triste. Infelizmente eu passei por clubes que tiveram uma má administração em que as pessoas colocaram os seus interesses financeiros em cima do clube e depois, ao não terem retorno, acabam por lesar o clube. Acho que isso é muito complicado porque as pessoas passam e o clube continua. Chegas a um clube, o clube está estável, está bem e depois deixam o clube nesse estado. Eu não estou a falar especificamente do Setúbal porque eu não tenho conhecimento de tudo o que se passou lá, mas de uma forma geral é muito mau isso. Não só para o clube, como também para a família dos jogadores já que na maioria dos casos os jogadores ficam sem receber. Aconteceu isso comigo no União de Leiria, em que eu fiquei sem receber o meu ordenado durante seis meses e o clube simplesmente fechou e abriu com outro nome e tudo continuou como se nada tivesse acontecido. Mas deixo esses casos para outras pessoas, eu só fico vendo e nesse caso do Setúbal foi algo que me deixou muito triste porque é um clube que sinto que faz parte da minha história e também sinto que fiz parte da história do clube.

    Bola na Rede: Regressas ao FC Porto e, após uma longa paragem em 2005/05, voltas a vestir a camisola dos Dragões em 2006/07 e tens a tua época mais produtiva no FC Porto. Qual foi o papel do mister Jesualdo Ferreira nessa época? Foi determinante para te devolver a confiança?

    Bruno Moraes: Sim, claro que foi. O Mister Jesualdo foi muito importante nessa integração. Antes do mister Jesualdo chegar, tem pessoas importantes que eu não posso esquecer. O departamento médico do FC Porto, o Dr. Nélson Puga, o Braga, todos os massagistas, também não posso esquecer o António Dias que hoje trabalha com o Nuno Espírito Santo no Wolves e o mister Co Adriaanse que me facilitou a integração no FC Porto mesmo eu voltando da lesão, ele sempre gostou de mim, do meu futebol e isso se notou na minha pré-época onde marquei muitos golos e me estava afirmando no ataque do FC Porto. A chegada do Jesualdo também foi importante e, apesar de eu não ser titular habitual, era uma peça importante no grupo no sentido e que eu era quase o 12º jogador. Além de ser o primeiro a entrar na maioria dos jogos, entrava muitas vezes em funções diferentes que não eram a minha. Pela confiança que depositava em mim, o Jesualdo me via quase como parte do grupo inicial. É um treinador que eu me lembro bem porque trouxe estabilidade ao clube, era um treinador que minimizava os problemas e deixava os jogadores à vontade para jogar o futebol e aprendi muitas coisas com ele.

    Bola na Rede: Ainda nessa época, assumes o estatuto de herói improvável e marcas o golo da vitória no Clássico frente ao SL Benfica aos 92’. Como é que tu te sentiste no dia seguinte, quando foste tomar o pequeno almoço naquele café perto do Olival e todas as pessoas que lá estavam levantaram-se e aplaudiram-te por causa do golo que marcaste ao Benfica?

    Bruno Moraes: Esse golo ao Benfica foi um presente que eu tive na minha carreira. Na minha carreira tive uma ascensão rápida e antes desse golo ao Benfica eu tive as lesões, tive períodos que tive de ficar longe da minha família para estar aqui em Portugal e uma série de dificuldades que eu fui superando. Como eu falei, nesse ano eu não era titular no FC Porto, era como se eu estivesse jogando do banco. Nesse jogo contra o SL Benfica eu tinha até comentado com alguém que eu ia entrar e fazer golo. Mesmo faltando pouco tempo eu nunca deixei de acreditar e a recompensa veio com o golo que, tal como o golo do Kelvin, vai ficar sempre guardado na memória dos adeptos. Foi um momento especial que eu tive com o FC Porto por tudo aquilo que eu passei desde a minha chegada e ainda bem que aconteceu porque eu gostaria de ter dado muito mais pelo FC Porto, gostaria de ter cumprido o meu contrato e de ter seguido a minha trajetória no clube, que era a de ter jogado mais três anos e ser transferido. Mas saí pela porta grande, mesmo com as lesões que tive. Foi um dos meus momentos grandes pelo FC Porto e vai ficar guardado para sempre. Tenho até aqui um quadro, não sei se posso mostrar…

    Bola na Rede: Claro, faço questão.

    Bruno Moraes: [Bruno Moraes mostra o quadro na parede do festejo do golo com os adeptos] É justamente do golo ao SL Benfica, quando estou a voltar do golo no meio dos adeptos com o segurança a ter de me segurar e a torcida atrás de mim feliz e um ponta de lança gosta de proporcionar estes momentos aos torcedores.

    Bola na Rede: Passado cerca de quatro dias desse jogo, ainda de pé quente, voltas a sair do banco e assinalas mais um feito importante na tua carreira: marcas o teu primeiro golo na Liga dos Campeões, na Alemanha, frente ao Hamburgo. Podemos dizer que o Bruno Moraes de 2006/07 estava a viver o melhor momento de forma da carreira?

    Bruno Moraes: Sim, com certeza. Até me arrepiei agora ao lembrar do golo e de tudo aquilo que eu vivi naquele momento, foi um momento mágico. Estava no auge da minha carreira. Estava numa idade boa, já não era miúdo já estava mais maduro, já sabia o que queria e já tinha passado por algumas dificuldades que me deixaram mais forte. Eu estava a entrar forte nos jogos, estava a ser um jogador que solucionou muitos problemas do FC Porto nessa altura e fazer golo nesse jogo da Liga dos Campeões, estar na assistência também, enfrentar jogadores desse nível e ainda ganhar alguns jogos, foi muito bom. A nossa equipa era muito forte, apesar de ter poucos jogadores experientes. Se não me engano o mais velho era o Pedro Emanuel, o Helton também e o Paulo Assunção, mas a maioria era tudo jovem, com 23/24 anos, mas com uma força e qualidade enorme. O mister Jesualdo conseguiu criar uma trajetória de vitórias no FC Porto durante esses anos.

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    Nélson Mota
    Nélson Motahttp://www.bolanarede.pt
    O Nélson é estudante de Ciências da Comunicação. Jogou futebol de formação e chegou até a ter uma breve passagem pelos quadros do Futebol Clube do Porto. Foi através das longas palestras do seu pai sobre como posicionar-se dentro de campo que se interessou pela parte técnica e tática do desporto rei. Numa fase da sua vida, sonhou ser treinador de futebol e, apesar de ainda ter esse bichinho presente, a verdade é que não arriscou e preferiu focar-se no seu curso. Partilhando o gosto pelo futebol com o da escrita, tem agora a oportunidade de conciliar ambas as paixões e tentar alcançar o seu sonho de trabalhar profissionalmente como Jornalista Desportivo.