Existem jogadores que merecem sempre ser lembrados, sobretudo pelo exemplo que deixaram no mundo do futebol. Quase uma semana depois da sua partida, é tempo de lembrar Jorge Costa. Lembrar o “Bicho” nunca é demais, não só pelo que foi enquanto jogador, mas pelo seu carácter e que transmitiu ao longo de muitos anos aos companheiros, treinadores, jogadores e presidentes. Um homem “antes quebrar do que torcer”.
Com gosto pela bola desde menino, Jorge Costa começou a jogar no Foz. Com a particularidade de ter rodado entre a posição de defesa central e a de ponta de lança, além de ter atuado com o número dez na camisola. Uma opção ligada à já antiga ideia de o dez ser o craque da equipa. O seu desempenho no Foz foi relevante, ao ponto de no princípio do verão de 1987, o jovem portuense ter três propostas e ter de decidir entre elas para continuar a sua formação até ao fim: Boavista, Leixões e.… o “seu” FC Porto. Numa conversa com o seu pai, foi questionado qual era a sua escolha e a mesma foi óbvia: Vestir de azul e branco.
Até 1990, terminou a formação como júnior nas Antas e inicia a sua carreira como futebolista sénior. Na época 1990/91 (a sua de estreia como sénior), o então treinador portista, Artur Jorge, permite o seu empréstimo ao Penafiel e Jorge Costa estreia-se oficialmente na Primeira Liga a 26 de agosto de 1990. Num desafio contra o Sporting de Marinho Peres (onde brilhavam Fernando Gomes, Jorge Cadete, Oceano ou Carlos Xavier) e em pleno Estádio Municipal 25 de Abril, os leões goleiam por 2-5, mas o jovem central cedido pelo FC Porto marcou o primeiro golo do Penafiel e do jogo. Uma estreia auspiciosa para Jorge Costa e uma temporada que foi mais positiva a nível individual do que coletivo. Apesar de o Penafiel ter escapado à descida de divisão por apenas um ponto, a época do jovem defesa central foi muito positiva. Participou em 23 jogos e marcou três golos, além de ter trabalhado num grupo onde estavam rostos experientes como Teixeirinha e Adão e um outro jovem com quem ainda jogaria muitas mais vezes: Carlos Secretário.
No fim da época e já no verão, participa numa das suas maiores conquistas coletivas: O Mundial Sub-20 realizado em Portugal. Num grupo liderado por Carlos Queirós (um dos treiandores que marcou o “Bicho”), Jorge Costa foi dos pilares de uma equipa promissora histórica onde estavam também Luís Figo, Rui Costa, João Vieira Pinto, Peixe, Gil ou Brassard. Numa final mítica no Estádio da Luz e com uma plateia a rondar as 130 mil pessoas, Portugal venceu o Brasil nas grandes penalidades por 4-2 (após um 0-0 regulamentar) e em que Jorge Costa marcou a primeira.
No verão de 1991, regressou às Antas para fazer a pré-época e onde correu bastante por um lugar nas opções de Carlos Alberto Silva (novo treinador do FC Porto) para 1991/92. Com um setor defensivo recheado de opções (Aloísio, Fernando Couto, Zé Carlos e Paulo Pereira) para o treinador brasileiro e entendendo que não fora observado o suficiente, Jorge Costa vai ao gabinete do novo técnico. O jovem central manifesta (como revelou mais tarde) o descontentamento por não ter tido o tempo suficiente para mostrar o que valia e a conversa termina com o acordo de que iria para novo empréstimo. Combinado com o Marítimo, Jorge Costa faz na Madeira a sua segunda temporada como sénior.
A época 1991/92 corre bem ao jovem central, realiza 32 jogos (esteve entre os cinco jogadores mais utilizados) e marcou um golo (num triunfo por 2-0 em casa, precisamente contra o Penafiel, seu ex-clube). Contudo, esta época fica marcada para Jorge Costa pelo que se passou no encontro das Antas, frente ao FC Porto. O jogo estava empatado a um golo e antes do intervalo, o jovem central cedido pelos dragões aos madeirenses, tem a infelicidade de fazer um autogolo antes do intervalo.
A equipa de Carlos Alberto Silva só garantiu a vitória aos 89 minutos, quando Domingos Paciência selou o 3-1 final. Um triunfo difícil para os dragões, no qual o erro de Jorge Costa acabou por ser determinante. Com tal acontecimento, Jorge Costa viu a sua credibilidade e honestidade profissional ser posta em causa, acusado de ter “ajudado” o clube pelo qual estava cedido. Um episódio difícil a nível individual e que levou na altura, a uma mudança de regras: Um jogador emprestado por um clube, não poderia jogar contra esse clube. Uma nova regra que acabou por proteger os jogadores em tal situação. Apesar de tudo, para Jorge Costa, este foi um episódio que acabou por o fortalecer e continuar a carreira com determinação e vontade de vencer, sem nunca ninguém questionar o seu profissionalismo. Assim acabou por se verificar, sem sombra de dúvidas.
Após dois empréstimos, Jorge Costa estava pronto para voltar à “Invicta” e partir para um novo ciclo na sua carreira. Ciclo esse que seria sempre em crescendo, ao longo de nove temporadas e meia e um período que também fica marcado pela alcunha que lhe fora atribuída pelos colegas (em especial, por Fernando Couto): “Bicho”. Entre 1992/93 e 1994/95, Jorge Costa começou como quarta opção para o eixo da defesa tanto para Carlos Alberto Silva e Tomislav Ivic. Ainda “tapado” por Fernando Couto, Aloísio e Zé Carlos, o “Bicho” respondia sempre positivamente quando era chamado a jogar e fora um desempenho que lhe valeu, por muitas vezes, a titularidade da seleção nacional ao lado de Couto.

Este período também ficou marcado por uma lesão grave, contraída durante um Portugal-Escócia, em 1993 no Estádio da Luz. Um encontro em que o “Bicho” jogou até ao fim, apesar de se ter lesionado bem cedo e no fim se ter verificado ser uma rotura de ligamentos dos cruzados. A primeira de três lesões semelhantes que se repetiriam mais tarde. A segunda foi contraída em Alvalade, durante um Sporting-FC Porto para a Taça de Portugal em 1996. A terceira aconteceu na pré-época de 1997/98 e que o fez perder o início da época. Curiosamente, sendo uma lesão que obriga a uma paragem de meio ano, a verdade é que a determinação e esforço de Jorge Costa o fez regressar ao fim de três meses em todas as três lesões. Um exemplo que demonstra o que Jorge Costa foi enquanto foi enquanto profissional de futebol.
Com o tempo, saíram Fernando Couto para Itália e depois Zé Carlos de regresso ao Brasil e assim, Jorge Costa sobe na hierarquia e passa a titular ao lado de Aloísio no eixo da defesa portista. No entanto, acima desta subida na hierarquia da equipa azul e branca, existiu outra mais importante. Com a redução da utilização do mítico capitão de Viena João Pinto, Jorge Costa passou a ser o capitão de equipa. Foi a partir das épocas com Bobby Robson no comando técnico (1994-96) e depois mais com António Oliveira como técnico dos dragões (1996-98), que Jorge Costa começou a jogar muito mais e por fim a afirmar-se como titular indiscutível. Já antes com Robson, a filosofia era mais anglo-saxónica e de pragmatismo, jogo pelo jogo, embora o futebol fosse de excelência, obreiro de dois campeonatos e que deixou boas memórias nas Antas. Mas em particular, com Oliveira por quem tinha sentimento especial, pelo portismo e pela capacidade fazer mexer com os jogadores antes de jogos grandes (em especial, frente ao Benfica).
A época 1996/97 foi especial e com os seus melhores números individuais (39 jogos e cinco golos). Começou com Supertaça conquistada ao Benfica, a duas mãos. Depois de um 1-0 no Porto, seguiu-se um 0-5 no Estádio da Luz e com uma cabeçada do capitão a fazer o terceiro golo. Uma conquista única e festejada na “Invicta” como se o S. João tivesse voltado à rua. A outra grande conquista foi o tricampeonato. Um feito que nunca tinha sido alcançado na história do FC Porto e Jorge Costa foi um dos obreiros do grupo que o alcançou. Os dois confrontos com o Benfica tiveram a marca do “Bicho”. Na Luz, fez o golo da vitória no 1-2 final, uma vitória que deixou as águias a mais de uma dezena de pontos atrás do futuro tricampeão.
Nas Antas e já com o título conquistado, mas para a consagração, um triunfo de 3-1 e com Jorge Costa a fazer o último tento, novamente de cabeça. Nesta época, ainda houve espaço para um episódio infeliz em fora agredido por George Weah no fim do jogo frente ao AC Milan para a Champions League. Uma violenta cabeçada que partiu o nariz ao “Bicho”, fruto de uma alegada vingança do avançado africano por Jorge Costa lhe ter partido (sem intenção e infelizmente) um dedo da mão após um pisão. Com alegados insultos racistas também pelo meio, o caso terminou nos tribunais e sem resolução, pois Weah nunca foi notificado.
A época 1997/98 foi de pouca utilização devido a lesões e recuperações, mas chegou para Jorge Costa ser um dos sete jogadores que chegaram ao tetracampeonato de dragão ao peito (os outros seis foram Aloísio, Paulinho Santos, Rui Barros, Drulovic, Folha e Rui Jorge, este último foi o único que não ficou para o Penta, saindo para o Sporting em 1998). Para a época 1998/99, entrou Fernando Santos para as Antas, um treinador que marcara muito o “Bicho”. Após uma primeira metade de época tremida, com uma Supertaça ganha ao Braga sem brilhantismo, primeira volta muito atrás de Sporting, Benfica e Boavista e eliminado da Champions League e Taça de Portugal, tudo acabou por se recompor. Em Janeiro de 1999, Jorge Costa voltou a ter a companhia do seu “irmão futebolístico” Vítor Baía, o grupo consolidou-se e tornando-se mais regular no campo, chegou ao pentacampeonato. Algo que nunca foi alcançado por outro clube português e nunca mais o foi desde então. Jorge Costa foi o capitão do grupo que alcançou o feito e um dos seis jogadores que o alcançaram entre 1995 e 1999. Durante este período, o Bicho participou em 145 jogos, marcou 12 golos e fez três assistências.
Embora Jorge Costa se mantivesse em forma e a liderar devidamente os seus colegas, os dois anos seguintes foram muito difíceis e menos bons para a equipa. Na seleção destacou-se a sua presença na defesa da seleção nacional e com um rendimento excelente no Euro 2000. Um grupo único de jogadores, consagrado nesta competição como a geração de ouro do futebol português (Figo, Rui Costa, João Vieira Pinto, etc…) e que só foi batido pela França campeã do Mundo e depois da Europa (Zidane, Henry, Vieira, Barthez, etc…). No FC Porto, apenas se conquistou duas Taças de Portugal e uma Supertaça. Os dois campeonatos foram perdidos de uma forma algo “desleixada” para o Sporting de Augusto Inácio em 1999/00 e para o Boavista de Jaime Pacheco em 2000/01. Até que veio a malograda época 2001/02, cuja primeira metade foi de muito má memória para o “Bicho”.
Saiu Fernando Santos e entrou Octávio Machado. Embora a época tenha começado bem com a conquista da Supertaça em Vila do Conde, frente ao Boavista (1-0 com golo de Jorge Andrade) e com um ciclo razoável de resultados até à sexta jornada, chega o FC Porto-Vitória FC nas Antas e o inesperado aconteceu. Aproxima-se o intervalo do jogo, estava empatado a zero e os dragões estavam a jogar francamente pouco. Aos 44 minutos, Octávio ordena a entrada de Rubens Júnior e manda sair… Jorge Costa. Uma substituição que não se percebeu por dois motivos. Primeiro, porque ninguém é substituído a esse tempo a não ser que esteja lesionado e segundo, só se substitui na primeira parte um jogador a jogar francamente mal e que esteja a prejudicar a equipa com isso.
Nenhum dos casos se aplicava aqui, ainda para mais, Jorge Costa sendo defesa, não era pela defesa que o FC Porto esteve mal nessa primeira parte do jogo. Constava-se que o técnico setubalense tinha preferência pela dupla Ricardo Carvalho-Jorge Andrade e via Jorge Costa como uma opção secundária e terminou por tomar tal opção. Uma opção que custou muito ao capitão portista. Ao sair, Jorge Costa tirou a braçadeira e atirou-a na direção de Capucho (vice capitão), acabando a mesma por cair ao chão e foi a correr em direção aos balneários. Um episódio que ficou (algo injustamente) conhecido pelo “atirar a braçadeira para o chão”. Após o jogo com os sadinos e antes do confronto com o Celtic para a Champions League dias depois, o “Bicho” foi alegadamente obrigado a pedir desculpa pela sua atitude, pretensão à qual não anuiu de forma alguma. Tomada esta posição e não se retratando publicamente, Jorge Costa foi afastado da equipa e ficou até dezembro de 2001, bem longe das opções de Octávio Machado. Como sempre, “antes quebrar do que torcer”. Saiu depois de nove anos e meio e 15 títulos conquistados (seis campeonatos, quatro taças e cinco supertaças).
Bem longe da equipa titular do FC Porto, automaticamente longe da “equipa das quinas”. Foi tempo de dizer adeus, Jorge Costa queria jogar para ter ainda uma hipótese de ainda ir ao Mundial da Coreia/Japão 2002, representar a seleção nacional. Surgiu a proposta de representar o Charlton de Londres e o ex-capitão portista partiu para Inglaterra com um empréstimo de meia-época e opção de compra no fim da mesma. Estrou-se pelo emblema londrino a 5 de dezembro de 2001 numa vitória num dérbi frente ao Chelsea (0-1). A passagem pelo Charlton foi classificada pelo “Bicho” mais tarde como “uma experiência magnifica”. Em 26 jogos de camisola encarnada Addick, Jorge Costa ficou com a alcunha de “tanque”. Com os responsáveis satisfeitos com o desempenho do central português, o clube londrino queria acionar a opção de compra e a mesma ia concretizar-se. O que fez tudo mudar foi uma chamada que Jorge Costa recebeu quando estava em Londres, vinda do novo treinador do FC Porto: José Mourinho.
Ambos tinham uma relação bastante próxima, desde que ambos coincidiram como jogador e treinador-adjunto dos tempos de Bobby Robson na Invicta. A conversa ao telefone é franca e frontal, fica decidido que Jorge Costa volta ao FC Porto para 2002/03. No entanto, o “Bicho” ficou assustado quando viu o nome e as origens de muitos dos colegas (Paulo Ferreira vindo de Setúbal, Nuno Valente e Derlei vindos de Leiria ou Maniche oriundo da equipa B do Benfica) que ia ter no novo plantel dos dragões e mais tarde constataria que foram todos “escolhidos a dedo” para envergarem a mística portista. Com um balneário recheado de jovens e maioritariamente portugueses, Vítor Baía e Jorge Costa eram os nomes mais experientes. Tendo de escolher um novo capitão de equipa, José Mourinho sugere uma votação para escolher entre ambos.
Sugestão essa que deixou o grupo com bastante nervosismo. Tal sentimento terminou entre o grupo, quando Vítor Baía pede para intervir e diz frontalmente que se a sua posição era importante, o seu voto era em Jorge Costa. Uma posição que foi apoiada pelo grupo e deixou Mourinho descansado quanto ao balneário. Além de ter sido um momento que foi o início de uma união e de um grupo que entraria para a história como dos mais sucedidos do futebol português e mundial, pelo futebol praticado e pelos resultados alcançados em apenas duas épocas (2002-2004): Dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça Cândido de Oliveira, uma Taça UEFA e uma UEFA Champions League. Praticamente todos os troféus, levantados por Jorge Costa como capitão.
Um período que ficou marcado por um momento que ilustra o que foi o “Bicho” como capitão dos dragões. Em janeiro de 2003, o FC Porto perdia no Restelo com o Belenenses (1-0 ao intervalo) e na pausa, no balneário, Jorge Costa pede a José Mourinho um momento a sós com os seus colegas. Aqui, como o próprio confirmou mais tarde em entrevista, o capitão portista foi “mais agressivo do que o habitual” e acordou os companheiros, pois sentia a equipa bastante adormecida. Foi tal o “raspanete” que quando Mourinho entrou no balneário só teve de fazer uma substituição e dar algumas indicações. “O trabalho sujo fez ele por mim”, disse José Mourinho mais tarde. O resultado final em Belém foi 1-3 para os dragões e Jorge Costa bisou pela única vez na sua carreira.
Juntando a uma época 2004/05 negativa na sua segunda metade a nível coletivo, mas marcante pelas conquistas da Supertaça ao Benfica (1-0 em Coimbra) e pela Taça Intercontinental frente ao Once Caldas (ganha nos penáltis em Yokohama), Jorge Costa fez a sua última temporada como jogador do FC Porto. Uma segunda passagem muito frutuosa e marcante a do “Bicho” pelo seu clube do coração. Uma ligação que terminou em 2005/06, quando o novo treinador portista, Co Adriaanse, o informa na pré-época que era sua quinta opção para o eixo da defesa (atrás de Pedro Emanuel, Ricardo Costa, Pepe e Bruno Alves).
Uma posição do técnico holandês que apesar de ter desagradado muito ao “Bicho” e inclusive ter perguntado se era para o dispensar (opção que Adriaanse não quis fazer por respeito ao seu estatuto no clube), o fez ficar para ver se com o tempo mudaria de opinião. Assim não aconteceu. Embora Jorge Costa tenha continuado a trabalhar como sempre e esforçando-se por uma oportunidade, até dezembro de 2005 nunca jogou e nunca fora convocado um único jogo. Para terminar a carreira, Jorge Costa emigrou para a Bélgica para fazer seis meses ao serviço do Standard de Liège onde jogou ao lado do compatriota e grande amigo, Sérgio Conceição. Assim o fim de uma carreira fantástica, da melhor e mais marcante ligação de Jorge Costa ao futebol e de um jogador irrepetível.
Após o fim da carreira de jogador, Jorge Costa ia começar a gozar com a família e com os mais próximos o tempo do pós-carreira. Contudo, uma proposta para iniciar a carreira de treinador foi aliciante o suficiente para o “Bicho” mudar de ideias. Começou em 2006/07 como adjunto de Rogério Gonçalves no SC Braga, ambos recém-chegados ao clube e estrearam-se com um triunfo de 3-1 sobre o Benfica, em novembro de 2006.
Mais tarde, ainda seria treinador principal dos “guerreiros do Minho” após Rogério Gonçalves ter saído e ficou no cargo até outubro de 2007. Daí em diante, muitas foram as suas experiências como treinador em Portugal (Olhanense, Académica, Paços de Ferreira, Arouca, Farense, Académico de Viseu e AVS) e estrangeiro (Cluj, Limassol, Anorthosis, Seleção do Gabão, Sfaxien, Tours, Mumbai City e Gaz Metan). Duas foram mais marcantes, a de Olhão levando a equipa ao primeiro escalão do futebol português passado 34 anos e a de Viseu, com um percurso incrível com o Académico que quase culminou com a subida do clube à primeira liga, não fosse a saída a seis a jornadas do fim.
A sua última função no futebol, chegou no verão de 2024. No seu sentido de portista independente, Jorge Costa toma o partido de André Villas-Boas nas eleições presidenciais do clube em abril desse ano e foi uma das bandeiras da candidatura. O “Bicho” assumiria o cargo de Diretor de futebol dos dragões caso Villas-Boas vencesse. Um convite que o faria voltar à sua casa após quase 19 anos sem ter tido qualquer (e inexplicável da parte da então direção) ligação ao FC Porto. Assim foi, o “bom filho a casa retornou”. Com a vitória esmagadora de André Villas-Boas sobre Jorge Nuno Pinto da Costa (80% contra 20%), Jorge Costa passou o seu último ano como profissional de futebol no seu clube de coração.

Ainda foi a tempo de estar no banco ao lado do então treinador portista, Vítor Bruno e ver o FC Porto conquistar uma Supertaça em Aveiro, contra o Sporting num encontro épico (4-3 após prolongamento). O ano acabara por ser negativo a nível coletivo (terceiro lugar e sem títulos) com Martín Anselmi ao leme da equipa. Contudo ainda participou na contratação do novo técnico dos dragões, Francesco Farioli e na preparação do plantel para 2025/26. Equipa que muito promete. Dois dias depois da apresentação aos sócios frente ao Atlético de Madrid (vitória por 1-0), Jorge Costa infelizmente partiu e precocemente com 53 anos.
Todos os clubes têm o seu ADN, características e mística particulares. Por vezes, são coisas que só se sentem e não se explicam. Algo que o “Bicho” também referiu numa entrevista em 2017, para o canal do “seu” clube. Em particular, o FC Porto sempre demonstrou ser um clube orgulhoso do seu passado, mas sempre com os olhos no futuro e a querer ganhar sempre, com raça, força, paixão, entrega, competência, ambição e trabalho. Uma cultura que sempre ficou patente naqueles que observaram (e observam) a história do futebol português dos últimos 40 anos.
Jorge Costa é um dos maiores símbolos dessa mesma cultura e um exemplo que viverá sempre. Já dizia alguém, e com razão, que “uma pessoa só morre quando morre a última pessoa que se lembra dela”. No futebol, essa ideia também é verdadeira. Obrigado pelo exemplo “Bicho” e até sempre!