O futebol no seu esplendor, dividido em duas eliminatórias

    eternamocidade

    Descrito como o jogo mais popular do mundo, o futebol é muito mais do que simples 90 minutos. Ser adepto de um clube é muito mais do que apoiar um clube uma vez por semana. Como no desporto em geral, o futebol é sobretudo emoções. De um momento para o outro, num lance de génio ou num erro defensivo, aquilo que poderia ser um fracasso transforma-se em ouro. Por outras palavras, o futebol é possivelmente o jogo em que mais rapidamente um vilão se transforma num herói e vice-versa. Por tudo isto, não raras vezes ouvimos aquela expressão que diz que “o futebol é o momento”. Dividida em duas batalhas diferentes, em Munique e em Lisboa, nada melhor do que uma semana como esta para o FC Porto perceber tudo isto.

    A última semana trouxe aos adeptos portistas uma das maiores alegrias dos últimos tempos. A vitória frente ao Bayern revelou um FC Porto pujante, com dimensão europeia e sobretudo com traços de equipa de topo na Europa. Com uma exibição dominadora, agressiva, sufocante e eficaz, os 3-1 ao Bayern de Munique fizeram os portistas acreditar que o sonho europeu voltou aos corredores do Dragão. Numa época como esta, com um treinador completamente inexperiente a nível de clubes e com um plantel com 16 jogadores novos, poucos seriam os que apostavam numa tão brilhante prestação na Liga dos Campeões. Mesmo não tendo apanhado, até ao confronto com os bávaros, equipas de topo do futebol europeu, ao longo da competição fomos percebendo que a Champions se transformou no melhor sítio para jogadores e treinador do FC Porto competirem. Olhar para as exibições de Basileia, Lviv e Bilbau (até ao jogo com o Bayern), e fazer o exercício comparativo com alguns dos jogos dentro de portas esta época, era um exercício quase surreal, dada a diferença qualitativa apresentada pela equipa a nível nacional e europeu. Mesmo que as goleadas no campeonato tenham sido frequentes, não raras vezes vimos uma equipa amorfa, a transbordar, dentro e fora do relvado, uma inexperiência gritante ao nível do campeonato português.

    Com alguns pontos perdidos de forma inexplicável e que comprometem seriamente a hipótese de chegar ao título, facilmente se compreendeu a obsessão de Lopetegui e dos jogadores com a Liga dos Campeões. Num plantel com tanta qualidade e com tantos jogadores com mercado, a constituição deste FC Porto era um apelo à superação na maior prova de clubes da Europa. Ao longo dos meses de Champions, não raras vezes me insurgi contra este fanatismo pela liga milionária. Bem sei, e ainda bem que me lembro, que a história portista se construiu em grande parte pelas glórias europeias que o clube foi construindo ao longo dos tempos. Desde o calcanhar de Madjer, em Viena, até à conquista de Gelsenkirchen, passando pelas vitórias em Tóquio, Sevilha ou Dublin, as últimas três décadas azuis e brancas foram pintadas por conquistas europeias e mundiais que transformaram o clube e o tornaram num dos maiores a nível europeu. Na última quarta-feira, perante o colosso Bayern, a exibição portista foi uma lembrança daqueles tempos dourados, não tão longínquos no tempo mas que pareciam tão difíceis de algum dia serem repetidos. Perante uma das melhores equipas do mundo, o FC Porto não se atemorizou: jogou com as suas armas, com a sua estratégia, e aproveitou os seus momentos de jogo. Com ambição, crer, garra e determinação, dentro e fora das quatro linhas, a equipa mostrou ao mundo que é possível voltar a sonhar, mesmo contra os maiores.

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    O Allianz-Arena, em Munique, será o palco do Bayern-FC Porto
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Por tudo isto, ao olhar para o calendário portista, rapidamente se chega à conclusão de que esta é uma das semanas mais importantes dos últimos anos. Primeiro na Baviera e depois no Estádio da Luz, o FC Porto joga muito daquilo que é a sua temporada. E é neste preciso ponto que regresso ao ponto onde comecei: à premissa de que o futebol é o momento. À partida para Munique, os jogadores e o restante staff foram brindados com um banho de multidão: naquela tarde de domingo, foram mil os adeptos que decidiram despedir-se dos jogadores, apoiando-os rumo a uma das maiores batalhas do clube nos últimos anos. Com Lopetegui, Quaresma ou Jackson como os mais adorados, aquela despedida da multidão é porventura o exemplo maior daquilo que é o futebol. Sem receios de uma eliminação natural ou de uma goleada que pode perfeitamente acontecer, os adeptos portistas decidiram retribuir aos jogadores a alegria da última quarta-feira, tendo consciência da semana que vão ter.

    Ao longo dos últimos meses, não raras vezes fui aqui criticando e elogiando a equipa. Enquanto adepto mas sobretudo enquanto analista, sempre me insurgi contra a intermitência exibicional e comportamental dos comandados de Lopetegui. Também por isso, esta semana, no Bola na Rede, não quis trazer para esta coluna de opinião um texto motivacional para o clube ou um qualquer outro artigo que me fizesse estar nos píncaros da emoção. Isso é, na minha opinião, o pior que pode acontecer esta semana, à equipa e aos adeptos.

    Mais do que olhar para um possível apuramento para as meias-finais ou para uma liderança do campeonato português, aquilo que acredito ser mais importante nesta altura é haver ponderação. De adeptos a treinador, passando pelos jogadores e dirigentes, é importante não cair na tentação de pensar, apenas porque se venceu ao Bayern de Guardiola, que, a partir da última quarta-feira, o limite é o céu. Procurando ser objetivo na análise, é certo que não me posso esquecer da alegria que tive ao ver o FC Porto “banalizar” um colosso como os alemães. É certo também que não me posso esquecer de que, falando do campeonato, no jogo da primeira volta, o FC Porto não teve a felicidade e o engenho de que precisava para vencer o Benfica. Ainda assim, e mesmo achando que um super Porto pode ser feliz nestas duas batalhas, penso que o mais importante é não cair no exagero de descer do céu ao inferno em apenas alguns dias.

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    À partida para Munique, os jogadores foram brindados com uma despedida calorosa
    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

    Mesmo com um apuramento para as meias-finais à mão de semear, ninguém na equipa portista se pode esquecer de que, do outro lado, está uma das melhores equipas da história do futebol europeu. Esse é um pensamento que acredito que esteja na cabeça dos jogadores, mas penso que dificilmente está na mente dos adeptos. No que à Liga diz respeito, o jogo com o Benfica é sempre o apogeu máximo de emoção e rivalidade. Por alguns confrontos passados e que para nada servem na atualidade, a maioria dos adeptos considera que, a jogar como se jogou com o Bayern, ganhar por 2 ou 3 na Luz será tarefa fácil. Infelizmente para o FC Porto, esta banalização do que é um jogo e do que é o futebol pode ser prejudicial no caso de um possível falhanço nestes dois jogos.

    Caro leitor, não quero que, após este texto, ache que estou a fazer um funeral à equipa ou que estou já a tentar precaver-me em relação a dois possíveis fracassos. A explicação para este texto é mais profunda do que isso: mais do que olhar para Berlim, ou para o título nacional, o FC Porto terá de pensar que, esta semana, vai defrontar duas excelentes equipas, em jogos onde qualquer resultado pode acontecer.

    É certo que, ao ver o fato europeu com que a equipa se tem vestido, é legítimo acreditar no apuramento para as meias e numa vitória na Luz como impulso decisivo para a reconquista do título. Tudo isso é verdade, mas, num jogo tão imprevisível como é o futebol, o mais importante é perceber que, do outro lado do campo, existe um adversário com igual ou maior qualidade. Sem medos ou receios, penso que a receita para estas duas batalhas é simples: acreditar que é possível. Em 1987, 2003, 2004 e 2011, outros acreditaram e a glória chegou. A história não se repete mas a glória pode ser novamente alcançada. Só não pode é ser vista como obrigatória, como se a equipa fosse jogar sozinha estes desafios. Não vai, e os adversários são de qualidade inegável. O que não quer dizer que o FC Porto não possa sonhar. Eu acredito que pode e que tem tudo para o fazer. Basta honrar o símbolo e a sua história.

    Fonte: Página de Facebook do FC Porto

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