O talento como sustento | FC Porto

    A época do FC Porto tem-se pautado, ao nível de resultados, por um relativo sucesso. E digo “relativo” porque, pese embora o imaculado (até agora) percurso no campeonato e a brilhante campanha na Taça de Portugal, a eliminação precoce na Taça da Liga e o afastamento na Liga dos Campeões deixam um, ligeiro, amargo de boca nos portistas.

    E tal sucede porque fica a ideia de que, apesar das dificuldades que enfrentou e do poderio dos adversários, no caso das provas europeias, a equipa fica a dever a si própria a não continuidade em prova. Sobra uma Liga Europa que, como já aqui mencionei, tem que ser encarada para ganhar.

    No entanto, os resultados são “apenas” a consequência do tema que trago, hoje, a este espaço de opinião. Numa época que vai sendo marcada por inúmeras vitórias, julgo que, para os adeptos do FC Porto, uma vez que ainda nenhuma se traduziu em troféus, a maior vitória de todas reside no jogo da equipa e na capacidade que esta tem tido de encantar.

    Serão poucos a negar a importância da presença de Sérgio Conceição no banco do FC Porto nos últimos anos. Uns dirão que ganhou muito, outros poderão afirmar que ganhou pouco, mas julgo que poucos ousarão opinar que as coisas teriam corrido melhor sem ele.

    Todavia, independentemente dos resultados, as equipas comandadas por Conceição, apesar de espetaculares em muitos momentos do jogo, poucas vezes foram capazes de dar espetáculo.

    Equipas sempre combativas e competitivas, muito fortes nos duelos e na reação à perda de bola, mortíferas a atacar a profundidade e sempre muito compactas. Ainda assim, quase sempre incapazes de surpreender, pouco recorte técnico e preferência recorrente por sobrepor o físico à técnica.

    FC Porto
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    Ora, esta temporada, assistimos a uma inversão do paradigma. O FC Porto continua muito forte naquilo em que já era espetacular, mas começa a mostrar capacidade para dar o tal espetáculo. Introduziu imprevisibilidade e variabilidade no seu jogo e ocupa melhor os três corredores.

    Já consegue alternar o ataque feroz à profundidade com a pausa e está mais agradável à vista. Há aspetos a melhorar, é certo. Continua com dificuldades na construção a partir de trás (Vitinha tem dado uma enorme ajuda neste capítulo) e mantém uma forte dependência das segundas bolas e das recuperações de bola em zonas altas. No entanto, as melhorias são evidentes.

    E tal sucede porque as portas do onze foram abertas ao talento. Jogadores como Marega (sem desprimor pelo maliano que foi, em muitos momentos dos anos anteriores, um abono de família) estão a dar lugar a jogadores mais técnicos e elásticos.

    Há, parece-me, uma maior abertura de Sérgio Conceição para conciliar mais talento, no mesmo momento, dentro de campo e a equipa, sendo capaz de manter o rigor defensivo e a sagacidade no momento de recuperação, só tem a ganhar com isso.

    Fábio Vieira foi o mais recente jogador a ganhar mais espaço na equipa, e conta já com 8 assistência na Primeira Liga.
    Fonte: Diogo Cardoso/BnR

    Sou da opinião de que o FC Porto até nem vive, em termos exibicionais, a melhor fase da época, mas ver Vitinha, Luís Diaz, Otávio, Fábio Vieira e até o próprio Evanilson em campo em simultâneo é uma clara rotura com o passado. A estes poderia juntar Pepê ou Taremi que não raras vezes têm sido chamados à competição e que trazem, também, fino recorte técnico.

    Mas mesmo na defesa se nota uma maior abertura de Sérgio Conceição ao talento. A opção por João Mário ao invés de Manafá (o internacional sub-21 é bastante mais capaz no momento com bola) ou a insistência de início de época do treinador portista na contratação de uma alternativa a Zaidu (a intenção estava lá, mas Wendell continua sem convencer) são provas, inequívocas, de uma evolução do timoneiro azul e branco na sua forma de ver o jogo e encarar os adversários.

    Tem enorme mérito o treinador porque se soube reinventar, mas tem ainda mais valor por conseguir que jogadores que estão muito mais confortáveis com bola do que sem ela, sejam capazes de manter a equipa equilibrada em todos os momentos do jogo.

    Todas as equipas devem ser versáteis e estar preparadas para diferentes tipos de abordagem ao jogo. Parece-me que o FC Porto tem um plantel com profundidade suficiente para isso e que a mescla de talento com jogadores mais dados ao lado mais físico garante tranquilidade e confiança para o que resta da época.

    Permitam-me, antes de fechar, umas breves palavras sobre alguns dos jogadores que mencionei acima.

    Apesar da relutância inicial, a batuta lá foi entregue a Vitinha. E que bem que lhe assenta. É um jogador total. Posiciona-se e ocupa os espaços em pés de veludo e é exímio na tomada de decisão. No passe ou na progressão com bola, raramente falha. Tem sido um regalo para os olhos.

    Luís Diaz é, por esta altura, o melhor jogador da Europa se excluirmos os cinco principais campeonatos. À explosão e capacidade de drible que já apresentava juntou golo e tomada de decisão. É um jogador que oferece todo o tipo de soluções à equipa e deverá deixar o clube em breve tal é a capacidade que tem demonstrado.

    Fábio Vieira parece ter aprendido que o futebol não é só bola no pé. Está mais maduro e é, provavelmente, o jogador do plantel mais forte no capítulo do passe.

    Últimas palavras para Otávio e Taremi. O primeiro é um verdadeiro exemplo em campo. A atacar ou a defender, está sempre ligado à corrente. Deambula por todas as posições do ataque e decide quase sempre bem.

    O segundo, que muito perdulário tem sido, é dos jogadores mais inteligentes que já vi passar pelo clube. É verdadeiramente fantástico a jogar em apoio e no jogo associativo e muito do sucesso da época de Evanilson se deve à forma como o iraniano trabalha para abrir espaços para ele e para outros jogadores.

    Tem sido, portanto, muito por essa capacidade técnica e imprevisibilidade dos seus jogadores que o FC Porto tem sido capaz de, com maior ou menor dificuldade, derrotar os seus diferentes oponentes e amealhar os pontos que o colocam numa posição muito confortável para atingir o principal objetivo da época. E no FC Porto de Conceição, isso é uma novidade.

    Finalmente, o talento como sustento.

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    Bernardo Lobo Xavier
    Bernardo Lobo Xavierhttp://www.bolanarede.pt
    Fervoroso adepto do futebol que é, desde o berço, a sua grande paixão. Seja no ecrã de um computador a jogar Football Manager, num sintético a jogar com amigos ou, outrora, como praticante federado ou nos fins-de-semana passados no sofá a ver a Sporttv, anda sempre de braço dado com o desporto rei. Adepto e sócio do FC Porto e presença assídua no Estádio do Dragão. Lá fora sofre, desde tenra idade, pelo FC Barcelona. Guarda, ainda, um carinho muito especial pela Académica de Coimbra, clube do seu pai e da sua terra natal. De entre outros gostos destacam-se o fantástico campeonato norte-americano de basquetebol (NBA) e o circuito mundial de ténis, desporto do qual chegou, também, a ser praticante.