É um passado que já não volta para o FC Porto: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Uma das citações mais clichês da língua portuguesa, mas que nunca perdeu nem perderá o sentido que Luís de Camões lhe quis dar. Muito menos no universo portista e, no geral, no mundo do futebol. São tempos estranhos estes que se vivem no FC Porto. A derrota na Alemanha, assim como no Estádio do Dragão ditou a eliminação de uma equipa que se assumia como candidata ao título, frente ao Bayer Leverkusen, quinto classificado do principal escalão alemão .
Fazendo uma viagem no tempo para a temporada 2009/2010, há uma década, damos de frente com um FC Porto com estatuto de tetracampeão. Jesualdo Ferreira procurava dar aos adeptos o quinto campeonato consecutivo, mas falhou redondamente e acabara por ficar em terceiro lugar, a oito pontos do primeiro.
Na Liga dos Campeões, o mínimo exigido era chegar aos oitavos de final. Feito que os dragões nesse ano alcançaram, qualificando-se num grupo com nomes com Chelsea FC, Atlético Madrid e APOEL de Nicósia, sendo que este último seria teoricamente o mais acessível. Caíram com estrondo nos oitavos de final da prova contra um Arsenal FC diferente daquele que conhecemos hoje. No entanto, na primeira mão, no Estádio do Dragão, ainda se sonhou com a qualificação – o jogo acabou 2-1 para o FC Porto, mas em Londres a equipa portuguesa foi goleada por 5-0.
A Supertaça e a Taça de Portugal foram mais dois títulos que se juntaram à época deste FC Porto 2009/2010. Um ano que, para grande parte dos adeptos e da comunicação social fora um desastre, uma vez que foi a pior classificação na Primeira Liga desde 2001/2002.
Já o Bayer Leverkusen, durante este ano, estaria a construir o seu império para voos maiores. Uma equipa que sempre lutou para chegar o mais longe possível na Liga Europa contava com os conhecidos Toni Kroos, Arturo Vidal, Lars Bender, Gonzalo Castro e Stefan Kießling, todos eles na flor de idade. Alcançaram a quarta posição na Liga Alemã e não disputariam qualquer competição internacional.
Era um plantel extremamente jovem, que procurava fazer o melhor possível com o menor custo, à imagem dos dias correntes. No entanto, e apesar da equipa alemã não ter vencido qualquer título desde 1992/1993 (conquista da Taça da Alemanha), vemos uma superioridade colossal em relação ao FC Porto. Seja em qualidade coletiva e individual, seja em orçamento e/ou até mesmo em objetivos competitivos. Estranho, no mínimo.
Este Bayer Leverkusen, que é indubitavelmente mais forte que o FC Porto a nível individual e, neste momento no coletivo, tem uma estratégia bem traçada quanto ao seu papel no futebol alemão e mundial. Sempre teve. Essa estratégia tem certos objetivos, essencialmente alcançáveis. Essa estratégia talvez seja maior que a própria direção, o treinador ou os jogadores.
No dia em que alguém queira dar uma volta a essa estratégia repentinamente, sem qualquer preparação prévia, dar-se-á um cataclismo no clube. Perdem-se os valores, perde-se a credibilidade, perde-se a confiança e perde-se a exigência. Algo a reter para muitas equipas pelo mundo fora. Para terminar, em jeito de post scriptum, devo dizer que Jesualdo Ferreira e o FC Porto rescindiram o contrato existente no final da época de 2009/2010.
Foto de Capa: Diogo Cardoso / Bola na Rede