3 aspetos nos quais o Sporting CP foi Sporting CP em 2022

    Fine. Sobem ou descem os créditos. E as taxas de juro. Alguém se enganou a escrever “fino/a” e colocou um “e” por distração. O erro não é crasso, são coisas que acontecem e, se acontecem, decerto que pode acontecer ao Sporting CP.

    Por norma, as pessoas que se encontram efetivamente bem nos países que debitam a língua de Oscar Wilde e Virginia Woolf – quando inquiridas – agradecem prontamente a preocupação, ainda que esta se vista com ironia e desdém. A pressão social impera e ninguém quer deixar a boa educação numa estrada sem tráfego, de polegar estendido: por essa razão, arremessamos a mesma questão, estilo ping pong. Por vezes, chateia.

    Abri o Google porque não tinha informação suficiente para completar outro parágrafo com informação pertinente. FINE também sinigica Ficha de Informação Normalizada Europeia. Até lhe ser dada uma explicação sobre o assunto, aguarde pacientemente para que o autor se abasteça da paciência necessária. Estatísticas apontam para 2028. Até lá, quero inscrever a minha costela cinéfila no ginásio e desenvolvê-la de modo a que esta fique fine para sessões fotográficas. Il Boom e Ladri de Biciclette, de Vittorio de Sica terminam com um fine garrafal. Assim como Le Notti di Cabiria, de Frederico Fellini. Mas nem todos os filmes italianos terminam dessa forma, provavelmente. Até podem existir filmes da Europa e dos restantes continentes que terminem com um “Fine”. 2023 vai servir para aniquilar dúvidas.

    2022 está a finar-se e os ministros do governo de António Costa idem. O Lula vai tomar posse e o Bolsonaro não estará presente. Resoluções de ano novo ocupam as mentes dos portugueses e os Coldplay atuam em maio, em Coimbra. O Mundial da vergonha finou-se e Sporting CP entrou finalmente em campo para competir, sem brincadeiras.  Não podíamos ser mais felizes…

    Alguns hábitos devem continuar a sê-lo até finarmos. Sei o quâo chatas as revistas do ano e as retrospetivas com músicas de fundo podem ser, mas unamos esforços em torno da que se segue, já que é do melhor clube do mundo que falamos.

    A (segunda) época (quase perfeita) – Nenhum sportinguista em perfeito juízo se pode queixar da temporada 2021/2022 e metralhar culpas para todas as direções. Pelo segundo ano consecutivo, o Sporting CP arrecadou 85 pontos e fez da regularidade o seu cartão de visita. Melhorou a qualidade do futebol praticado, brindou os adeptos com um desempenho corajoso na UEFA Champions League e demonstrou o porquê de ter apostado em jogadores que – na teoria – não serviam. Rúben Amorim provou aos descrentes que nem tudo era estrelinha e que uma equipa disciplinada, fiel às ideias de jogo e empenhada podia alcançar novamente aquilo que estava fresco na memória. O FC Porto conseguiu, por mérito próprio, ser (ainda) mais organizado e regular e acabou por vencer sem contestação.

    Rúben Amorim
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Com menos apetrechos do que os rivais, lutamos até à última gota. Muitos adeptos – nem sempre os mais sequiosos pelas vitórias – não compreendem a diferença existente entre a luta até à derradeira jornada e o alcance daquilo que todos queremos para o clube. O percurso pode ser muito pequeno ou ser um dos trilhos mais longos. A distância começa por ser medida fora das quatro linhas: com uma estrtura forte que sirva o clube e não se sirva dele e com um projeto capaz de assegurar e trabalhar sobre o futuro. Nos últimos 40 anos, o Sporting CP passou do estatuto de clube vencedor para clube que quase vencia em poucas épocas e nunca vencia em muitas outras. Não se galgam tantos patamares em dois ou três anos. Vejam o Sporting CP como um individuo em reabilitação. No futebol, importa ver a realidade e enfrentá-la, não fazer dela uma cadeira para que possámos chegar ao fruto apetecido. Esperemos que o projeto vigente não se fine, como outros se finaram.

    A modalidade verde – O ano de 2022 sinalizou novamente a supremacia do leão no futsal nacional: Campeonato Nacional, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça. Para os adeptos, as conquistas anteriores resultam num acontecimento tão vulgar como a contemplar a facilidade com que Messi se desenvencilhou dos setores defensivos das seleções que defrontaram a Argentina no Catar.

    Assistir a um jogo da equipa comandada por Nuno Dias é uma das mais belas odes à modalidade. Posicionamento e organização defensivos irrepreensíveis e entrega máxima de qualquer jogador que esteja a pisar a quadra. Mestria, qualidade técnica e desenhos ofensivos muito difíceis de travar, mesmo conhecendo na perfeição quem os execute. No confronto mais apetecível a nível nacional – com o SL Benfica – os leões têm saído vitoriosos e relativizado o adversário.

    Fonte: Bola na Rede / Carlos Silva

    João Matos comanda o defesa. Erick e Tomás Paçó, aprendizes de Capitão, já sabem tomar as rédeas quando ele se ausenta. Apesar das características que os distinguem, algo os une e aproxima: o prazer ao envergar o símbolo do Sporting CP. A defesa conquista parte dos pontos. Guitta, – o melhor do mundo na posição, como gosto de lhe chamar – conquista a parte que sobra da metade.

    Alex Merlim arquiteta a estratégia de ataque. Parece o Arjen Robben do futsal porque a finta é sempre igual e a consequência da finta a mesma. Ganha no primor técnico porque está acima de quase todos. Deixa a velocidade para o Pany Varela, para o Pauleta e para o Sokolov. Dá-se extremamente bem com o prodígio Zicky Tê, com o matreiro Cavinato e com o promissor Estebán. A outra metade dos pontos divide-se pelos ilustres mencionados.

    Perdoem-me a sobranceria histórica. Mas, aqui, não somos viscondes. Somos imperadores.

    Plano de Fidelidade à Formação Frutífera (PFFF) – Em princípio, o plano reunirá maior apoio – e, consequentemente, maior êxito – do que as reformas e investimentos que o Plano de Recuperação e  Resilência gizou para os próximos três anos em Portugal. Gonçalo Inácio, Dário Essugo, Mateus Fernandes, Rodrigo Ribeiro e Daniel Bragança encabeçam uma lista que pode trazer inúmeros dividendos ao Sporting CP.

    A academia de Alcochete não tem só fama. Tem proveito. Que o digam estes jovens e muitos outros que viram ser possível estrearem-se com a camisola do seu clube, em Alvalade ou noutros estádios do país. Nuno Mendes é um dos muitos exemplos que corrobora a tese “apostar na formação constitui uma mais-valia para um clube que se quer tornar saudável”.

    Mateus Fernandes Sotiris Alexandropoulos Sporting Farense
    Fonte: Carlos Silva/Bola na Rede

    Os dirigentes desportivos têm o dever de conduzir os clubes ao equilíbrio económico e à gestão cuidada, não afundando o clube em mares que sabem ser impossíveis de navegar. No Sporting CP, a mensagem transmitida para os sócios e público em geral resvala e condiz com o chavão anterior. As equipas portuguesas necessitam, cada vez mais, de formar para vencer, de modo a conseguirem crescer tanto como os tubarões europeus conhecidos. Reter os jovens com maior potencial, oferecer-lhes condições que os seduzam e que garantam a continuidade no clube que os tornou jogadores para, posteriormente, apostar nas suas valências e delas retirar lucro desportivo e financeiro.

    As ideias de Rúben Amorim convergem com o plano traçado pela direção de Frederico Varandas, abraçando os mais jovens e colocando-os no centro do furacão com o plantel sénior. O treinador leonino renovou recentemente e o prolongar do vínculo significa a continuidade na aposta das pequenas crias e na transmissão dos ensinamentos essenciais para a estadia na selva.

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.