6 momentos-chave do Sporting em 2023/24

    Sporting

    Só os mais puros matemáticos podem vislumbrar um cenário no qual o Sporting não seja campeão nacional. Fora das equações de primeiro e segundo grau, será apenas uma questão de tempo para o Sporting levantar o segundo título de campeão nacional em quatro anos, o segundo também com Rúben Amorim no comando.

    A palavra certa para definir a temporada do Sporting é consistência. Os leões lideram desde o princípio o campeonato e a nível exibicional são a equipa mais completa em Portugal, especialmente no momento ofensivo. Fica, acima de tudo, a sensação de um plantel espremido ao máximo, a recuperação de jogadores esquecidos ou desacreditados e o desenvolvimento de um modelo de jogo mais dotado de imprevisibilidade e de recursos para ameaçar o adversário.

    Além do título de campeão nacional, o Sporting disputa também a Taça de Portugal numa final do Jamor que coloca frente a frente Rúben Amorim e Sérgio Conceição. Ainda assim, e numa altura em que o final da temporada se arrasta rapidamente e o mês de maio, propício a festejos, lágrimas e balanços, se aproxima, já é possível identificar alguns dos momentos determinantes numa época de sucesso para o Sporting.

    1.

    Gyokeres Sporting
    Fonte: Sporting CP

    13/07/2024 e a contratação de Viktor Gyokeres: O verão é propício a histórias de amor efémeras, curtas e passageiras, mas também do início de romances arrebatadores e de paixões intensas. Corria o dia 13 de julho quando a principal novela dos meses de calor de 2023 teve fim e Viktor Gyokeres foi oficializado pelo Sporting.

    Hoje já ninguém se lembra quanto custou o sueco nem de todo o caminho que o Sporting ultrapassou até o contratar. Depois de uma temporada com Paulinho como homem solo, Rúben Amorim reconheceu o erro, identificou o perfil da contratação e só ficou satisfeito quando viu Viktor Gyokeres aterrar em Alvalade. Trabalho meritório do Sporting na identificação, monitorização e capacidade de sedução – tarefa semelhante com Morten Hjlulmand – que permitiu contratar um jogador que revolucionou o patamar ofensivo dos leões.

    Viktor Gyokeres mudou o Sporting e é o jogador mais influente em Portugal nos últimos anos. Tornou o Sporting uma equipa mais completa, mais imprevisível e com mais armas para criar problemas aos rivais. Funciona como referência para um jogo mais direto, ganhando bolas pelo ar e funcionando como pivô, mas também rodando e acelerando em campo aberto. Cria dúvidas nos defesas adversários que lidam com um questionamento: como colocar Viktor Gyokeres longe da área sem lhe dar espaço para acelerar? Isto porque é dentro de área, entre os golos e as movimentações de arrasto, que Viktor Gyokeres é mais eficiente.

    Além de todo este impacto dentro de campo, Viktor Gyokeres é também um elemento agregador dos adeptos. A famosa máscara que entrelaça os dedos na cara uniu os adeptos do Sporting sob a onda do mistério do porquê da celebração e a apoteose do momento perfeito para a voltar a colocar na cara. Foram 40 vezes, por agora, que os adeptos do Sporting já colocaram a máscara na cara. Se Viktor Gyokeres estivesse por Portugal aquando da pandemia, tudo teria sido resolvido mais rapidamente.

    2.

    Paulinho Sporting Fernando Meira
    Fonte: Sporting CP

    12/08/2023 e uma estreia de roteiro (in)esperado na Primeira Liga: «Esteve muito perto de acontecer Sporting», disseram na altura os mais supersticiosos adeptos verde e brancos quando Rúben Amorim e companhia suspiraram de alívio quando Paulinho mostrou os dentes e devolveu os três prontos nos descontos na receção ao Vizela.

    3-2 foi o resultado final num jogo que esteve controlado e muito perto de ser um agradável passeio. Está algo esquecido pois o tempo teve a arte de o curar, mas o arranque da temporada do Sporting não foi perfeito. Não havia qualquer tipo de dificuldade em colocar-se a marcar, mas, depois do primeiro golo, a equipa de Rúben Amorim tinha a tentação de deixar o jogo embalar num ritmo lento e sofreu vários golos perigosos nesta suave envolvência.

    Viktor Gyokeres, o sueco que se mostrou pela primeira vez, marcou dois golos num espaço de dois minutos e colocou o Sporting de Geny Catamo como ala direito de forma estranha e de um apagado Francisco Trincão – onde andam estes tempos – em vantagem. Samuel Essende e Nuno Moreira trataram-se de, em três minutos já depois dos 75’, voltar a colocar o resultado no estágio inicial.

    Apareceu no final o golo de Paulinho que fez vibrar o Estádio de Alvalade. Sem a responsabilidade de ser a única fórmula para o golo, o português cresceu e viveu a temporada mais concretizadora de leão ao peito. Começar bem foi fundamental para o início de uma caminhada gloriosa para o Sporting.

    3.

    Antonio Adán Atalanta Sporting
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    05/10/2023 e como abdicar dos princípios, ser superado e aprender: Até o empate no Estádio do Dragão neste fim-de-semana e num estágio da temporada diferente, só por uma vez o Sporting havia sido completamente superado por um adversário: a Atalanta de Gian Piero Gasperini.

    Rúben Amorim nunca escondeu a admiração ao técnico italiano visto pelo português como uma inspiração ou uma referência. Na primeira parte da partida Alvalade, o técnico percebeu que, por maior que seja o respeito, este não se pode transformar em medo. Caso contrário, o resultado será desastroso.

    Durante quarenta e cinco minutos o Sporting não cheirou a bola. O sistema agressivo de encaixes individuais da Atalanta retirou conforto na construção e a solução foi saltar etapas em busca de uma referência direta. O jogo longo não resultou, os centrais de Bérgamo engoliram o Sporting e encontraram espaços para destruir os leões. Foi a primeira derrota da temporada do Sporting e a única da época em Alvalade (onde o Sporting só não venceu na Europa).

    Ao intervalo Rúben Amorim recuou na descaracterização da equipa, voltou à lógica mais criativa e paciente que caracterizou a temporada dos leões e o Sporting cresceu. Não foi suficiente para evitar a derrota, mas foi o suficiente para Rúben Amorim perceber que por mais que seja necessário e fundamental realizar adaptações consoante o adversário, estas não podem apagar a espinha da equipa.

    4.

    Eduardo Quaresma Sporting
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    18/12/2023 e uma prenda de Natal antecipada: Eduardo Quaresma estava engolido numa espiral negativa com sucessivos empréstimos sem sucesso e com um papel residual no plantel do Sporting. As perspetivas de uma carreira em rota descendente terminaram diante do FC Porto em casa num verdadeiro jantar de Natal para o Sporting.

    Eduardo Quaresma foi a novidade, Viktor Gyokeres a certeza consumada e o Sporting assumiu a liderança isolada do campeonato. O FC Porto, geralmente muito competente na preparação estratégica de jogos deste nível, foi engolido pelo Sporting e não soube competir perante uma equipa muito coordenada dos leões.

    Tratava-se já de um Sporting mais consolidado e com maiores argumentos para ludibriar adversários. Jogar com uma linha defensiva tão subida com centrais sem capacidade para cobrir as costas e recuperar metros (contar com Pepe neste cenário foi estratégia suicida) permitiu a Gyokeres ter espaço para acelerar e defensivamente o Sporting esteve competente.

    Wenderson Galeno era a principal ameaça de um FC Porto que vivia da exploração das transições e dos lançamentos para o brasileiro, mas Eduardo Quaresma cumpriu e esteve irrepreensível nos duelos. Depois de perder na Luz, mesmo sendo amplamente superior durante a maioria da partida, vencer um rival direto era um passo importante para o Sporting. Vencer de forma incontestável foi ainda mais moralizador.

    5.

    Francisco Trincão Sporting
    Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

    29/01/2024 e a fase rolo compressor: Uma derrota com o Braga na Taça da Liga – num jogo em que o Sporting foi superior em tudo menos na eficácia – impediu uma sequência de 14 vitórias consecutivas, mas não foi suficiente para impedir os últimos dias de 2023 e as primeiras semanas de 2024 de serem a melhor fase da temporada.

    Mesmo com as ausências relevantes de Geny Catamo, de Ousmane Diomande e de Hidemasa Morita, que se encontravam com a seleção nacional, o Sporting atingiu o pico a nível exibicional. A vitória por 8-0 diante de um Casa Pia fragilizado representa este período em que o Sporting se apresentou a um nível exibicional muito avançado e deu passos largos rumo à conquista do título.

    Foi também o período em que vários jogadores se afirmaram como peças importantes. Marcus Edwards viveu a melhor fase da temporada depois de um apagamento inicial e rapidamente se eclipsou novamente. No melhor nível é um dos melhores em Portugal, mas mantê-lo é uma conversa diferente. Com lugar para ficar, Geny Catamo regressou da CAN em grande nível, Daniel Bragança aproveitou a ausência de Morita para ganhar importância, Eduardo Quaresma viveu a fase de maior fulgor e regularidade de minutagem e apareceu em força um nome que merece destaque.

    Falando da temporada do Sporting, é difícil fugir dos destaques óbvios: a liderança de Sebastián Coates, as valências de Gonçalo Inácio na construção, a capacidade de funcionar como pêndulo de Morten Hjulmand, o oportunismo de Pedro Gonçalves e a veia goleadora de Viktor Gyokeres. A estes falta a criatividade de Francisco Trincão. Não chegou ao Barcelona por acaso e, apesar de ter dado um passo atrás na carreira, não perdeu qualidade. Precisava desta afirmação para ganhar confiança e mostrar-se. Ganhou importância com a ascensão de Geny Catamo e quando passou a jogar por dentro, recebendo entrelinhas, trabalhando em espaços curtos e definindo quer com passes de rasgar quer com combinações curtas. Ganhou golo ao jogo e corre por um lugar no Euro 2024.

    6.

    Geny Catamo Sporting
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    02/04/2024 – 06/04/2024 ou como uma semana pode ser perfeita: Os mais perfeitos jogos não precisam de ser especialmente perfeitos. Basta que, no final, a festa dos adeptos seja tanta que todas as imperfeições sejam deixadas para trás.

    Numa semana o Sporting jogava o apuramento para a final da Taça de Portugal e a liderança da Primeira Liga, podendo abrir uma vantagem de quatro pontos (com um jogo em atraso) para o Benfica. Era uma semana decisiva com dois jogos diante do rival da cidade e que decidiram muito do que é a temporada do Sporting.

    Depois de um banho de bola durante 60 minutos em Alvalade, uma vantagem pela margem mínima deixava o Sporting em alerta para a visita à Luz onde na primeira volta havia perdido de forma inexplicável. O Benfica até soube competir, foi em diversos momentos mais perigoso, mas os leões resitiram, controlaram as incidências e agarraram o passaporte para o Jamor.

    Quatro dias volvidos, novo encontro desta feita em Alvalade. Rúben Amorim identificou os problemas na exibição na Luz – os problemas na temporada do Sporting foram de eficácia ou de redução do ritmo e subjugação ao adversário – e agigantou-se. Ao primeiro minuto o Sporting colocou-se em vantagem e soube procurar a felicidade que chegou graças a Geny Catamo. Aproveitar o balanceamento ofensivo de Di María para finalizar à direita foi chave e o Sporting agarrou o título. Só falta saber quando o irá levantar.

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