«A maior mágoa da minha vida é nunca ter tido uma oportunidade no Sporting» – Entrevista BnR com Fábio Paím

Fábio Paím. Nome grande do imaginário coletivo de uma geração que floresceu sob a égide de um predestinado de quem Cristiano Ronaldo disse um dia “Se acham que sou bom, esperem até ver o Paím”. De um trato e educação desarmante, esta conversa permitiu ao autor – e quiçá ao leitor – a compreensão de que nem tudo o que parece… é. Parangonas várias foram escritas sobre o lado oculto de um homem que mostrou ser muito além do que se conhece. Este foi, aliás, o mote para que o Fábio aceitasse o nosso convite: deixar de fora da convocatória o sensacionalismo e estender-lhe a passadeira do jornalismo sério, nunca lhe puxando o tapete. Numa entrevista exclusiva Bola na Rede, a primeira depois do décimo aniversário, fiquem com Fábio Paím, o humano por trás fama.

«Cresci com esse talento fora do normal de que as pessoas falam e ainda não apareceu alguém igual»

Bola na Rede: Estás na Polónia?

Fábio Paím: Sim, estou na Polónia.

Bola na Rede: Quantos graus estão aí?

Fábio Paím: Não sei. Não ligo ao frio. Nunca tenho frio [risos]. Diria uns 15 ºC. Está tranquilo.

[…]

Desculpa a demora.

Bola na Rede: Não faz mal. Como estás?

Fábio Paím: Bem, vêm aí coisas boas. Ainda não falei sobre isto publicamente e não quero fazê-lo enquanto não tiver certezas, mas acabei de receber um pré-contrato.

Bola na Rede: Vou respeitar. Ando atrás de ti há meses.

Fábio Paím: Só aceitei dar-te esta entrevista porque, embora não te conheça, gostei da maneira como me abordaram. Eu tento “ajudar-vos”, mas vocês, comunicação social, nunca me tentaram ajudar. Escrevem e dizem o que querem, sem direito ao contraditório. A entrevista é com imagem?

Bola na Rede: Não, apenas texto.

Fábio Paím: Senão vestia a camisola do clube.

Bola na Rede: Como te sentires mais confortável. Se achas que as entrevistas que já deste foram boas, espera até veres esta.

Fábio Paím: [risos] O Cristiano, não é? São frases que marcam a vida de uma pessoa, ainda por cima dito por ele.

Bola na Rede: Mantêm contacto?

Fábio Paím: Há muito tempo que não falamos, há muitos anos. As nossas vidas seguiram rumos distintos e tenho de ser sincero: o homem está noutro nível. Desencontrámo-nos e é normal; acontece com os amigos, também. Mas o carinho e o respeito mantêm-se.

Bola na Rede: Antes de avançarmos tira-me uma dúvida. Cresci a ouvir falar num jogo contra o Belenenses, em que fintaste meia equipa adversária – guarda-redes incluído – e voltaste para trás. Aconteceu ou é mito?

Fábio Paím: Aconteceu em vários jogos, inclusive contra o Benfica, em Alcochete. Eu era mau, era “chateado” e cresci com esse talento fora do normal de que as pessoas falam e ainda não apareceu alguém igual. É o talento, um dom, que tanto pode ser bom como pode ser mau. É difícil de explicar.

Bola na Rede: Vamos às tuas raízes. Os teus pais são angolanos, mas já nasceste em Portugal. Como é a tua relação com eles?

Fábio Paím: Do meu pai sou um bocadinho afastado, apesar de agora estarmos a criar uma ligação. Ele desligou-se de mim muito cedo. A minha mãe e o meu tio são os pilares da minha vida. São pessoas humildes, que trabalharam e trabalham muito. O meu tio foi quem sempre me acompanhou e era quem me levava aos treinos. A minha mãe, uma mulher de trabalho, é uma pessoa muito parecida comigo. Vieram muito cedo de Angola, por força da guerra, e vieram para trabalhar, como muitos africanos que vieram para Portugal nessa altura.

Bola na Rede: De que forma a cultura angolana se fazia sentir em tua casa?

Fábio Paím: De todas as formas que possas imaginar. As nossas raízes são de festa. É algo que sempre esteve comigo e que eu e a minha mãe adoramos; é por isto que digo que ela é a pessoa mais parecida comigo.

Bola na Rede: Onde moravam?

Fábio Paím: Em Alcoitão. Até hoje a minha mãe ainda lá tem a casa.

Bola na Rede: Continua a ser onde ficas quando vens a Portugal?

Fábio Paím: Não, mas vou lá muitas vezes. Quando vou a Portugal fico em Alvide, com a minha mulher e com os meus filhos.

Bola na Rede: A Associação Familiar e Desportiva da Torre era o clube mais perto?

Fábio Paím: Atualmente sim, mas antigamente era o Alcabideche, que já não existe. Agora é a Torre, o Fontainhas e outro clube onde o Hélder, que jogou no Benfica, treinou…

Bola na Rede: Talaíde?

Fábio Paím: É isso mesmo.

Bola na Rede: Chegaste a jogar na Torre?

Fábio Paím: Não, só joguei no Alcoitão, onde comecei. Depois fui logo para o Sporting. Joguei foi no Torneio da Torre.

Bola na Rede: Como foste parar ao Sporting?

Fábio Paím: Foi nesse torneio, onde nem sequer podia jogar porque não tinha idade suficiente. Tinha sete anos e não podia ser inscrito. Joguei com outra identificação [risos]. Estavam lá Sporting, Benfica e outras equipas de bom nível e eu joguei pelo Alcoitão. Foi quando o Sr. Aurélio Pereira me viu e falou com o meu tio. Perguntou-lhe se me deixava ir fazer testes ao Sporting.

Bola na Rede: O que é que o Sr. Aurélio Pereira tinha de especial?

Fábio Paím: Ao longe via um talento. Ele acompanhava estes pequenos torneios e sabia que os grandes craques vêm dos sítios com menos possibilidades. Quando me viu foi amor à primeira vista. A maneira como ele fala com as pessoas é diferenciada.

Fonte: Fórum SCP

Bola na Rede: Lembras-te de alguém com quem tenhas jogado no teu primeiro ano de Sporting?

Fábio Paím: Lembro-me de todos. O Daniel Carriço, por exemplo, é um irmão. Apesar de não convivermos todos os dias é uma pessoa que, sempre que precisei, estava lá. É uma pessoa diferente, é “O Capitão”.

Bola na Rede: Onde vivias nessa altura?

Fábio Paím: Comecei a viver no estádio antigo, depois fui para a Academia. O Daniel chegou depois e, muitas vezes, era o pai dele que me levava para os treinos e para os jogos. Cheguei a ir com eles de férias para Montargil. Mas depois a vida, e a nossa cabeça, leva-nos para um lado e as outras pessoas vão para outro.

Bola na Rede: Podes contar alguma história dessa altura que nunca tenhas revelado?

Fábio Paím: Lembro-me de uma, também com o Daniel, em que estávamos a ir para o treino e íamos apanhar o comboio, em Cascais. Como ainda faltava algum tempo para o comboio chegar, lembrámo-nos de ir andando pelas praias até ao Monte Estoril e apanhávamo-lo mais à frente. Fomos andando e passámos por umas piscinas junto à praia; nesse momento veio uma onda e mandou-nos para dentro da piscina. A sorte é que estava muito calor.

Bola na Rede: Ires viver sozinho com 16 anos foi um passo maior do que a perna?

Fábio Paím: Eu não tinha noção do que era e do que poderia vir a ser. As pessoas falavam comigo, mas eu não dava importância. Pensava que só me queriam chatear, mas não. Não tinha alguém para quem olhasse e pudesse ter como referência.

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Miguel Ferreira de Araújo
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