«A maior mágoa da minha vida é nunca ter tido uma oportunidade no Sporting» – Entrevista BnR com Fábio Paím

    «O capitão do Sporting era para ser eu. O número sete naquele estádio. Vou tentar conviver com isto»

    Bola na Rede: O regresso a Portugal para jogares no Clube Futebol Benfica foi um ato de humildade ou de desespero?

    Fábio Paím: As pessoas não podem dizer que eu não tentei. Se devia ter tentado mais cedo? Sim. A idade é o melhor amigo do homem. Às vezes pergunto-me “Estou longe da minha mulher e dos meus filhos; será que vale a pena?” e fico chateado. Mas estou a fazer por mim. Já estou com 32 anos; vou jogar mais dois anos? Três? Mas estou na batalha. Quem conhecia a equipa onde estou? Quem? As pessoas só criticam. Quantos jogadores que jogaram no Benfica ou no Sporting hoje têm outras profissões? Digo isto com todo o respeito, porque eu também já trabalhei na Uber. Como é o Paím ninguém dá valor.

    Bola na Rede: Por falar em valor, acredito que fosse alto o que foste receber no Qatar.

    Fábio Paím: Fui para o Qatar, mas não joguei. Em Portugal disseram “mais um clube onde não vingou”, mas não foi assim. Fui para o Qatar fazer testes como, aliás, também aconteceu em Malta. Com 80 ou 90 kg. Quiserem ficar comigo, mas não me deram o que estava combinado. Então se estou num país que não conheço e não me pagam vou voltar para casa.

    Bola na Rede: Como é que alguém com a tua personalidade se deu num país do Médio Oriente?

    Fábio Paím: Aquilo tem festa a sério! Privadas, claro. Eu tenho sorte.

    Bola na Rede: Nessa fase, um bom salário era mais tentador que um bom projeto?

    Fábio Paím: Eu não peço um bom contrato. Peço só que sejam certos comigo. É pedir muito? E o que sai nos jornais é outra coisa. Por exemplo, dizem que aqui, na Polónia, tenho zero jogos e zero golos; é mentira! Já marquei golos e fiz assistências.

    Bola na Rede: Corrige-me se falhar algum: Malta, Lituânia, Luxemburgo, Portugal, Brasil e Polónia. Disse todos?

    Fábio Paím: Agora há mais um. As pessoas deviam olhar para mim de maneira diferente. Nunca fui bandido. Saí da cadeia há um ano e estou a trabalhar. É algo que acaba com a vida de uma pessoa. E em menos de um ano vou conseguir chegar à Primeira Liga, sem empresário, e as pessoas não vão valorizar.

    Bola na Rede: De que país?

    Fábio Paím: Não posso dizer.

    Bola na Rede: Acompanhas o futebol português?

    Fábio Paím: Não vejo futebol. O único clube que acompanho é o meu Sporting.

    Bola na Rede: Incomoda-te seres usado como um mau exemplo?

    Fábio Paím: Não, muito pelo contrário. Sei que em clubes grandes, nas academias, usam o meu exemplo como motivação. Fui um mau exemplo para mim, mas um bom exemplo para os que vêm.

    Bola na Rede: O talento dos outros sempre te pareceu curto para quem conhecia o seu?

    Fábio Paím: Tu já viste os meus vídeos na formação?

    Bola na Rede: Claro.

    Fábio Paím: Então deixa-me fazer-te um desafio: sei que o entrevistador és tu, mas do que viste – e foi pouco, porque antigamente não era como hoje, em que se tem acesso a tudo – achas que houve alguém com mais qualidade do que eu?

    Não vai aparecer alguém igual. Quando digo a verdade dizem que sou arrogante. E nem joguei pela equipa principal do Sporting.

    Bola na Rede: Numa dimensão diferente, também se diz de Quaresma que, com outro compromisso, podia ter tido outra carreira.

    Fábio Paím: O que é o que o Quaresma podia fazer mais? Só ser o melhor do mundo. Fez uma carreira de sonho: campeão da europa por Portugal, jogou no Barcelona, no Inter… o que é que podem pedir mais ao homem?

    Bola na Rede: Qual foi o momento mais alto da tua carreira?

    Fábio Paím: Não sei responder-te a isso. O meu sonho era ter jogado pela equipa principal do Sporting e acabei comigo por não ter conseguido. É algo que vou levar comigo para sempre. O capitão do Sporting era para ser eu. O número sete naquele estádio. Vou tentar conviver com isto.

     

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    Miguel Ferreira de Araújo
    Miguel Ferreira de Araújohttp://www.bolanarede.pt
    Um conjunto de felizes acasos, qual John Cusack, proporcionaram-lhe conciliar a Comunicação e o Jornalismo. Junte-se-lhes o Desporto e estão reunidas as condições para este licenciado em Estudos Portugueses e mestre em Ciências da Comunicação ser um profissional realizado.                                                                                                                                                 O Miguel escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.