«Eu era o Paím, era o “Rei”. Quando dei por mim, já estava numa situação complicada»
Bola na Rede: Para onde vais quando sais de Inglaterra?
Fábio Paím: Quando saí do Chelsea fui para o Massamá. Fui para a Segunda B. Tinha vários convites, mas acabei por assinar pelo Real um dia antes do fecho do mercado. Antes disto estava novamente a treinar à parte em Alcochete. Fui para a equipa satélite do Sporting, onde estava o André Martins, o Diogo Salomão… eram vários. Eu vinha de uma realidade diferente, de outro mundo; isso mexe muito com o psicológico. Infelizmente, não soube gerir as coisas.
Bola na Rede: O ego atraiçoou-te.
Fábio Paím: Não foi o ego. Eu sou uma pessoa muito tranquila. Se perguntares aos meus colegas vão dizer-te isto. Não falto ao respeito a ninguém. O meu ego é igual ao teu. O que mudou foi a minha cabeça. Sabes o que disse quando cheguei ao Real? “Vou fazer o que me apetece”. Depois o que acontecia? Ou não treinava ou chegava atrasado e “maluco”. Rebentei comigo.
Bola na Rede: O que fizeste depois de saíres do Real?
Fábio Paím: Estive parado dois ou três anos. Deixei de jogar.
Bola na Rede: Como ocupavas o tempo?
Fábio Paím: Sair, beber… só porcaria.
Bola na Rede: Mas conseguiste retomar a tua carreira.
Fábio Paím: Não foi fácil. Estive parado muito tempo, na vida louca. Eu era o Paím, era o “Rei”. Quando dei por mim, já estava numa situação complicada. Tentei voltar a jogar, mas já estava com peso a mais. Até que o Paulo Torres me deu a mão.
Bola na Rede: Foi quem te levou para o Torreense.
Fábio Paím: Sim, é um homem espetacular. Fiquei lá uns cinco ou seis meses. Pagaram-me tudo: casa, alimentação, ordenado. Até que o Primeiro de Agosto me contactou: era um contrato muito bom e tanto eu como o clube aceitámos. A partir daí foi sempre a descer.
Bola na Rede: Como era o futebol angolano?
Fábio Paím: Não tem nada a ver.
Bola na Rede: Então?
Fábio Paím: Outra realidade. Mas tinham muito dinheiro. O Primeiro de Agosto é o melhor clube de Angola e sabes como é: pessoas grandes, com outros interesses, por trás de clubes, mas o culpado é sempre mesmo. As pessoas não tentaram perceber o que aconteceu.
Bola na Rede: Sentiste-te mais português em Angola ou angolano em Portugal?
Fábio Paím: Portugal é a minha casa. No entanto, em Angola, não estava à espera de ter sido recebido como fui; não tenho nada a apontar e sinto saudades do país. Aliás, todos os países me receberam de braços abertos pela pessoa que sou.
Bola na Rede: Esperavas ter sido convocado para a CAN 2012?
Fábio Paím: Não. Peço desculpa aos angolanos, mas a minha seleção é Portugal.
Bola na Rede: Porque é que não deixaste que te operassem à fissura que tinhas no pé?
Fábio Paím: O que aconteceu foi o seguinte: quem me quis lá foi o Drulovic; ele foi despedido e foram para lá uns portugueses – não vou dizer os nomes, as pessoas sabem quem são – que começaram a impor o seu ego. Só que eu já lá estava. Num país onde nunca tinham estado, chegaram e arranjaram confusão. Entretanto já encontrei a pessoa – pela qual tenho o maior respeito pelo que fez no futebol português -, mas o ego dele prejudicou-me e quis emprestar-me.
Bola na Rede: Estás a referir-te a Carlos Manuel.
Fábio Paím: Emprestou-me ao Benfica Luanda e desculpem-me, mas se o Primeiro de Agosto já era mau, fui para um clube ainda pior. Foi quando tive a fissura, a que me queriam operar. E eu disse que não. Tinha dinheiro e disse que ia para Portugal e pagava os tratamentos do meu bolso. Quiseram rescindir comigo por justa causa por que fui para Portugal tratar-me. Vim embora sem nada, sem me pagarem o resto do contrato.
Bola na Rede: Apesar de tudo jogaste com alguns consagrados do futebol angolano. Como foi ser liderado pelo Kali?
Fábio Paím: Até hoje é o meu capitão. O rei de Angola, o rei da “banda”. É um Homem.
Bola na Rede: Ary Papel tinha qualidade para vingar no Sporting?
Fábio Paím: A primeira vez que o vi foi na bancada, num jogo da equipa B. A ele e ao Dala. Não tenho uma ligação íntima com ele, apesar de trocarmos umas mensagens. É o jogador tipicamente angolano. Em Angola é o rei, mas o futebol em Portugal é outra coisa. Tenho-o como um bom jogador, mas são realidades diferentes.