Eu ia começar este texto a perguntar se uma equipa poderia ambicionar ganhar títulos sem um ponta de lança, mas depois lembrei-me do Barcelona e decidi mudar a questão. Mas aquele Barcelona (e mesmo a seleção espanhola) eram uma excepção, até pelo seu modelo de jogo.
Mas não estamos aqui para falar de outros clubes. Queremos analisar só e apenas o nosso clube. E analisando o Sporting apenas na primeira liga de futebol, começa a preocupar-me a falta de eficácia da linha ofensiva tendo como expoente máximo Paulinho.
Em todos os textos que escrevi sobre o tema tenho apoiado a teoria (que se verifica na prática) de que o nosso avançado trabalha muito para a equipa apesar da falta de golos, mas começa a cansar ouvir a frase “lance perigoso para o Sporting, Paulinho vai marcar… ao lado / defesa…”. Parece preocupante, principalmente quando temos o ataque menos concretizador dos pretendentes ao título – 17 golos, enquanto os outros dois já acertaram no lado certo das redes por 27 e 28 vezes.
No que toca a marcadores de golos, o clube que nos acompanha no topo da tabela tem Luiz Diaz com 9, enquanto o nosso melhor artilheiro continua a ser Pedro Gonçalves com 4 apesar de ter estado sem poder jogar em quatro das onze jornadas já disputadas. Depois de Pote aparecem, com 2 cada, Pedro Porro, Gonçalo Inácio, Nuno Santos, Palhinha e Coates, todos da linha defensiva (Nuno Santos tem jogado muitas vezes na lateral defensiva), o que reflete o facto de a maioria dos nossos golos serem marcados através de lances de bola parada.
Um Sporting a vencer pela margem mínima. Até quando?
Tudo isto juntando o facto de que muitos dos jogos são ganhos pela margem mínima, sendo alguns resolvidos apenas nos minutos finais, deixa a sensação que mais cedo ou mais tarde este “coração” que a equipa vem mostrando pode deixar de chegar, fazendo com que possamos perder pontos em campos que não seria suposto. Porque todos sabemos que muitos dos jogos terão que ser resolvidos nas poucas oportunidades que iremos ter, pelo facto de jogarmos em campos pequenos contra adversários que se fecham muito lá atrás.
A questão de falta de golos do Paulinho fica mais exposta quando percebemos que ele é o jogador que mais remates tem na primeira liga – 27 (o melhor marcador da liga rematou 24 vezes), e o Sporting é apenas a quarta equipa com mais remates – 157, contra os 192 do FC Porto, 175 do SL Benfica e 160 do Vizela. Estes dados mostram que não é pela equipa não criar ocasiões, mas por mera falta de eficácia. Mostram ainda o peso que tem Paulinho na percentagem de finalização dos lances de ataque criados pela equipa. Logo, se ele não concretiza, a equipa sofre.
O que nos deixa mais descansados é o facto da nossa equipa ser de longe a mais eficaz no momento defensivo, uma vez que sofremos apenas quatro golos em onze jornadas já disputadas, o que nos deixa com a sensação de que se não conseguirmos marcar pelo menos haverá pouca probabilidade de sofrermos. É essencialmente por isso que continuamos a ser uma das equipas invictas na europa.
Mas até quando teremos que estar a viver da competência dos nossos defesas, tanto no sector defensivo como ofensivo? Não podemos estar “defensivodependentes” se queremos ambicionar por algo mais. E com isto não significa que sejamos uma equipa defensiva, que não somos.
Não quero, de forma nenhuma, com este texto, culpar o Paulinho de eventuais deslizes que possam surgir – e já surgiram. Serve antes para alertar que, tendo um ponta de lança, ou um avançado centro com melhor aproveitamento das oportunidades estaríamos sempre mais perto de ganhar os jogos, e permitiria resolver muitos jogos mais cedo dando à equipa a oportunidade de dosear o seu esforço mais cedo. E este aspecto, num plantel curto como o nosso, no final pode fazer a diferença.
Para já, e enquanto Paulinho não encontra os golos, que nos valham São Pote, São Coates, todos os santos e santas… assim como a competência da equipa no momento defensivo (e aí também entra Paulinho). Porque o sucesso deste grupo tem sido o facto de terem sido e continuarem a ser uma verdadeira EQUIPA.