O Sporting apresentou-se em Alvalade com um contexto pouco habitual: um plantel fustigado por baixas relevantes e, de forma inédita nesta época, a começar sem Hjulmand, o habitual pêndulo do meio-campo e símbolo do equilíbrio leonino. A gestão era obrigatória, não apenas pelas ausências, mas também pelo peso ainda bem visível do duelo europeu frente ao Bayern, que deixou marcas físicas e, sobretudo, mentais numa equipa que entrou em campo algo desligada do ritmo competitivo exigido pela Liga.
Do outro lado, o AFS apresentou-se com uma postura pragmática e inteligente. Sem assumir a iniciativa do jogo, a equipa visitante mostrou-se organizada, compacta e paciente, procurando explorar transições rápidas sempre que o Sporting perdia bola em zonas sensíveis. Não criou perigo constante, mas foi suficientemente competente para incomodar e, acima de tudo, para manter o jogo num registo morno durante a primeira meia hora. Os leões tinham posse, mas era uma posse estéril, previsível, sem acelerações nem rasgos que desmontassem a estrutura defensiva adversária.
O Sporting parecia adormecido, ainda a digerir o derby e o desgaste europeu, com circulação lenta e pouca agressividade na pressão. Faltava clarividência no último terço e, por momentos, instalou-se aquela sensação incómoda de que o jogo poderia complicar-se se o marcador permanecesse fechado durante demasiado tempo. No entanto, como tantas vezes acontece em equipas grandes, bastou um momento para mudar tudo.


Aos 30 minutos, no seguimento do que já se tornava expectável pela crescente aproximação à área adversária, desatou-se finalmente o nó da “mangueira”. E quando a água começa a correr, é difícil pará-la. Em apenas cinco minutos de verdadeiro rugido leonino, o jogo ficou praticamente resolvido. Foram cinco minutos de intensidade, criatividade e eficácia que contrastaram brutalmente com a apatia inicial.
Nesse curto espaço de tempo, brilharam intensamente os três homens do jogo: Maxi, Suárez e Geny. Cada um à sua maneira, foram o garante de um caudal ofensivo constante ao longo de toda a partida. Maxi destacou-se pela capacidade de acelerar o jogo e ligar sectores; Suárez foi letal nos espaços, sempre bem posicionado e frio na decisão; Geny trouxe imprevisibilidade, desequilíbrio e uma energia contagiante que empurrou a equipa para a frente. A partir daí, o Sporting passou a jogar com confiança, soltura e domínio absoluto.


Importa ainda destacar a exibição muito sólida de Vagiannidis. Seguro defensivamente, criterioso com bola e inteligente nas subidas pelo corredor, foi uma das peças mais consistentes numa equipa que, depois do desbloqueio emocional, nunca mais perdeu o controlo do jogo.
Rui Borges, depois de duas exibições menos conseguidas, conseguiu finalmente devolver ao Sporting a identidade dominante que caracteriza esta equipa. Leu bem o jogo, ajustou dinâmicas e viu os seus jogadores responderem de forma clara dentro de campo.


Este triunfo não foi apenas mais três pontos: foi uma afirmação de maturidade, profundidade de plantel e capacidade de reação. Um Sporting que, mesmo com baixas e cansaço acumulado, soube acordar a tempo e impor a sua lei.

