É preciso ter calma, não dar o Sporting CP pela alma

    (Já) longe vão as épocas através das quais maçava a parafernália de seguidores da página, – aludindo ao Sporting CP – espetro que se rege pelo espírito nómada num extremo e pela assiduidade aborrecida no outro. Provavelmente, perdi a pouca aptidão que achava ter. Talvez nunca a reunisse no espólio das minhas capacidades. Porém, encarem isto como um “teste de fogo” e um último esforço em prol do meu bem-estar.

    O mundo opera mudanças ao ritmo da circulação do oxigénio. Escrever sobre o Sporting CP era uma função inserida no compartimento da normalidade e desempenhada com uma palavra – pelo menos para mim – indizível. O masoquismo salutar tornou-se uma constante: para o exterior, o dedilhar de gracejos e o relato dos problemas de sempre; no interior, uma mágoa curada com álcool (ao invés de se estudarem variações de PIB’s, experimentem analisar quais os adeptos que mais gostam de fazer “conchinha” com o elixir dos deuses).

    Para que se possua uma noção clara da fugacidade da mudança, Luís Filipe Vieira tremelicava num braço de ferro – ou material menos dúctil – por Edinson Cavani aquando dos últimos textos que redigi para uma das divisões do Bola na Rede.

    Fevereiro de 2021, primeiro lugar do campeonato. Ora: metade da equipa nasce depois da entrada de Portugal no Euro, o atual treinador foi colega de equipa – no Belenenses – do técnico imediatamente transato (Jorge Silas), o presidente nos tempos livres foi também médico (militar) combatente no Afeganistão, Jérémy Mathieu não consta no onze inicial e Hugo Viana ainda ostenta os sapatos no chão encerado da Academia do Sporting CP.

    O ar respirável é pandémico, a atualidade desportiva é endémica. De repente, a mensagem é sui generis e não adulterada do presidente ao roupeiro, o balneário rema e embala sob a tutela do mesmo vento, os jogadores não atiram a toalha ao chão, correm mais do que os adversários e submetem-nos à sua enorme vontade de vencer, a afeição e a interdependência entre jogador e treinador são transparecidas numa simples flash interview e o adepto “aproxima-se” e “aconchega-se” dos protagonistas da quadra através de iniciativas como o ADN de Leão e INSIDE SPORTING CP.

    Sebastián Coates selou ontem a 15º vitória leonina em 18 jogos, mas o balneário continua a não adentrar por estados de euforia
    Fonte: Bola na Rede

    Não me levem a mal, – nem me leguem alcunhas ao desbarato – mas eu sou do tempo do Keizerball e da conquista da Taça da Liga com Petrovic e André Pinto em campo, da bazófia de Jorge Jesus quando venceu três vezes consecutivas o eterno rival, do plantel integrar laterais esquerdos da linhagem de Evaldo, Paíto e Joãozinho e de José de Pina e outros ilustres serem porta-vozes (em diferentes estações) e estarem sob a tutela da Direção anterior. Ainda acordo de noite – sobressaltado, evidentemente – com Vercauteren, com a meia-final da Liga Europa perdida para o Atlethic Club de Bilbao e com o golo faltoso do Luisão, na Luz, no fatídico ano de 2005.

    Sob a autoridade da minha mira, parece óbvia a obstinação pela persistência da acalmia e pela digestão dos factos históricos.

    Para alguns – incluindo adeptos – a estrada percorrida entre uma gestão financeiro-desportiva ruinosa e um ministrar de um clube perfeitamente estável redunda em míseros metros. Contudo, qualquer comum que perceba o ABC do futebol enxerga o facto de o êxito encarcerar uma maratona de morosa logística: do marketing à estratégia comunicacional interna e externa, da psicologia de balneário às movimentações no mercado de transferências, da fusão entre a solidificação tática e o talento inapto, da ausência do vaticinar de uma época à estrelinha de campeão (temas em voga) …

    O sportinguista não interiorizou nunca o lema “go with the flow” e, devido a essa razão, não sabe comportar-se perante a presença do chavão futebolístico mais famoso: “pensar jogo a jogo”. Com ou sem estrutura, com ou sem equipa, está prescrito vencer. Ninguém é tão exigente com a realização de omeletes quando escasseiam ovos no frigorífico…

    Ah! Da minha largada de redação, pode depreender um dos motivos para o sucesso do Sporting CP. Para mim, a premissa do argumento é falaciosa: seria uma mudança demasiado fugaz para surtir efeito instantâneo…

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    Romão Rodrigues
    Romão Rodrigueshttp://www.bolanarede.pt
    Em primeira mão, a informação que considera útil: cruza pensamentos, cabeceia análises sobre futebol e tenta marcar opiniões sobre o universo que o rege. Depois, o que considera acessório: Romão Rodrigues, estudante universitário e apaixonado pelas Letras.                                                                                                                                                 O Romão escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.