Equipa B: entre as promessas eleitorais e a intenção de extinguir, o que mudou?

    a norte de alvalade

    Não sei o crédito que merecem as notícias que anunciam a intenção da administração do clube em extinguir a equipa B, se não se derem cumprimento a algumas alterações que aquela, alegadamente, pretende introduzir nos regulamentos. Mas a noticia é tudo menos uma surpresa, porque não aparece do nada.

    Nada acontece por acaso e havia já alguns indícios de que algo poderá estar para mudar. O mais forte de todos, que pode ter passado despercebido, foi o artigo do ex-PMAG Eduardo Barroso na sua crónica de “A Bola”, onde advogava que as equipas B, nos actuais moldes, eram mais uma fonte de problemas do que soluções. Sabendo da sua proximidade com a actual administração não podia deixar de lhe dar relevo. É por isso que a notícia não é assim tão estranha como poderia parecer à primeira.

    Ora antes de ir ao que o Sporting alegadamente pretende – acabar com a equipa B se não lhe forem concedidas as alterações pretendidas – é interessante recuar ao que foi prometido aos Sportinguistas em tempo de candidatura, aquando das últimas eleições. Recordo como nota importante que ao tempo vigoravam já os actuais regulamentos.

    (Um parêntesis para uma pequena ressalva: no programa de candidatura de Bruno de Carvalho há uma distinção entre o conceito de “Formação” e “Equipa B” que, na minha óptica, está errada. Vejo a “Equipa B” como a última etapa da formação de jovens jogadores e creio que essa diferença de percepção é capaz de ser uma das razões que poderá estar a arrastar o Sporting para uma tomada de decisão como a anunciada. )

    Na introdução ao programa de candidatura pode-se ler (as que me parecem mais importantes):

    A Formação e a Equipa B manter-se-ão como apostas fundamentais para o nosso presente e futuro.

    17. A equipa B é uma aposta para manter. (página 19)

    E quais são agora as pretensões do Sporting? Segundo as notícias de hoje o Sporting pretende:

    – Reduzir o âmbito da idade sobre a qual assentam a formação dos planteis de sub-23 para sub-21, podendo inscrever até cinco elementos de idade superior.

    – Que se mantenham as actuais condições das Academias para sede dos jogos das equipas B.

    – A possibilidade de acordos com clubes satélites desde que não inscritos na mesma associação.

    As minhas questões, partindo do principio que a noticia do Record, que diz ter tido acesso a uma carta enviada pelo Sporting à FPF, são verdadeiras:

    – O Sporting insiste num modelo de relações externas assente na confrontação, prescindindo do valor da negociação. Já não é apenas uma questão de estilo, é estratégia. Os resultados obtidos terão que ser, no momento oportuno, devidamente contabilizados. Isso é o que realmente deve contar, sendo pouco importante a adesão ou a rejeição desta metodologia. Eu não gosto e duvido que se alcancem resultados práticos.

    – A imposição de cláusulas de forma unilateral como condição sine qua non para participação nos campeonatos vai ser alargada a outros escalões e modalidades e levada até às últimas consequências?

    – Qual é a importância real das cláusulas em causa, ao ponto da actual administração por em causa compromissos assumidos com os Sportinguistas, que estão na sua base programática e que levaram à sua eleição?

    – Qual é a importância real das cláusulas em causa para prescindir da importância estratégica que uma equipa B tem e que a actual administração reconheceu aquando da elaboração do documento ao afirmar no supra-referido documento:

    (…) Ao contrário do que tem sido prática recente, o recurso a jovens criados na formação do Sporting deverá ser uma realidade, à semelhança daquilo que sempre foi tradicional no clube. É incompreensível que um Clube que possui uma das melhores escolas de futebol do Mundo, não aproveite convenientemente em termos desportivos, e por consequência no aspecto financeiro, o enorme investimento anualmente realizado na sua Academia. É bom ter em conta que a FIFA e a UEFA vão a breve prazo alterar as regras do jogo, no que à gestão económica e financeira dos clubes diz respeito, e quem estiver mais bem preparado e já levar uma prática de rigor e de respeito pelos orçamentos, estará em vantagem

    A existência de uma equipa B é de enorme importância para o desenvolvimento sustentado e servirá de ponte entre o futebol júnior e o futebol sénior. Deverá ser absolutamente proibido aumentar o passivo da SAD por via da compra de passes de jogadores, investindo recursos que não estejam disponíveis.

    – Levando a efeito a extinção da equipa B, que alternativa tem o Sporting para fazer crescer de forma sustentada os jogadores que terminarão o período formativo –que não a sua formação – com dezanove anos, conhecendo-se, como se conhecem, as dificuldades actuais de colocação de jogadores emprestados, onde até o SCBraga nos consegue suplantar no número de jogadores naquelas condições a jogar na I Liga?

    – Não é apenas a actuação, ou alegadas intenções, da administração que me deixam perplexidade. Logo, em Vizela, o Sporting disputará uma eliminatória da Taça de Portugal e no lote de convocados não aparece nenhum jogador do actual plantel da equipa B. Marco Silva ao invés de premiar os jogadores que aí têm actuado, mesmo com o pouco brilho que se vem constatando, prefere dar primazia a jogadores que, cada vez que foram chamados, nunca o justificaram. Jogadores como Rabia, Sarr, Héldon, Slavchev quando, por exemplo, os centrais actuais da equipa, Wallyson, Gauld, Iuri, estiveram, no último jogo, num plano mais próximo do que pode ser tido como o seu valor.

    Que mensagem se transmite aos jogadores da equipa B?

    Onde fica o mérito como critério na hora escolher?

    Falar em jogadores como Rabia, Sarr, Héldon e Slavchev quando, ao ler-se documento de candidatura da actual administração, se encontram enunciados como os que deixo abaixo, é caso para perguntar se os seus autores são os mesmos ou que é que os fez mudar tão radicalmente de princípios num tão curto espaço de tempo:

    (…) Quanto menor for o número de jogadores a entrar de novo no plantel, maior será a facilidade de manter rotinas e entendimentos, que consumiram tempo e esforço a conseguir e que são verdadeiramente importantes numa equipa.

    (…) Com a reativação da equipa B, o plantel deverá ser menos numeroso – 20 jogadores.

    Cinco ou seis jogadores, numa escolha cirúrgica, experientes (ter em atenção que no futebol a experiência não está diretamente relacionada com a idade) e capazes de acrescentar valor ao plantel existente, serão suficientes para a construção de uma equipa que possa lutar pelos objetivos de curto, médio e longo prazo do Clube.

    Jogadores estrangeiros não adaptados ao futebol português apenas se forem mais-valias claras. As contratações de jogadores estrangeiros, não adaptados ao futebol português, estará sempre dependente de serem considerados, pelo treinador principal e pela equipa Diretiva, como uma real valia para o reforço da equipa, apoiados em base nos relatórios emitidos pelos departamentos de Scouting e Sociológico. 

    Foto de capa: Facebook oficial do Sporting

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    José Duarte
    José Duarte
    Adepto do Sporting Clube de Portugal e de desporto em geral, especialmente de futebol.                                                                                                                                                 O José não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.