«Foi uma loucura após o jogo de Alkmaar» – Entrevista BnR com Miguel Garcia

    – Carreira no Sporting CP –

    BnR: Como se dá a tua passagem para a equipa principal do Sporting?

    MG: Foi através do torneio de Toulon, jogámos muito bem e, como eu tinha jogado a lateral direito no torneio, acabei por ser chamado para essa posição. Aí pensei, vou dar o meu melhor, tentar ficar no plantel e, se não ficar, volto para a equipa B e continuo a trabalhar. Mas consegui agarrar a oportunidade e ficar no plantel.

    BnR: Quem é que te lançou na equipa principal?

    MG: Fernando Santos.

    BnR: Como foste recebido? Quem eram os líderes de balneário?

    MG: Fui muito bem recebido. Os líderes na altura eram o capitão Pedro Barbosa, Sá Pinto, Beto, Rui Jorge, Paulo Bento. Foi no ano em que também contrataram o Ricardo, veio também o Rochemback e o Liedson. Pedro Barbosa foi quem me recebeu, espetacular, um excelente capitão, um grande líder que conseguiu receber muito bem a mim e não só. Lembro-me de Carlos Martins, Paíto, Custódio, jovens que queriam agarrar a sua oportunidade e eles sempre nos ajudaram bastante.

    BnR: Vamos ao dia 5 de maio de 2005?

    MG: (risos) Vamos a isso.

    BnR: Consegues descrever-me como viveste a jogada do teu golo?

    MG: Lembro-me perfeitamente que era o último lance da partida. Toda a gente foi a esse canto e eu pensei “Ok, já sei que é o Tello que vai bater este canto, ele bate ao primeiro poste”. Ele fazia aqueles cruzamentos tensos ao primeiro poste e pensei “Vou tentar a minha sorte”. Acho que a bola é que veio ter comigo (risos), porque eu acho que já estava ali naquela zona. Foi um momento muito emotivo, um momento fantástico, não só meu mas também toda a equipa. Mesmo o jogo em si, foi um jogo de loucos porque entrámos no jogo com a eliminatória na mão, eles marcam, nós marcamos, eles marcam e voltam a marcar no prolongamento. Nós depois terminamos o jogo com o meu golo, que nos apurou para a final. Foi uma loucura, logo após o jogo chegamos a Lisboa e estavam milhares de pessoas à nossa espera no aeroporto. Foi um dos momentos mais lindos que eu presenciei no futebol e no Sporting.

    BnR: Pela televisão é difícil perceber, com que parte do corpo é que rematas?

    MG: Se queres que te diga foi um misto, ombro e cabeça. Ainda bem que foi com esta zona, porque se fosse com a cabeça se calhar a bola saía um bocadinho mais para cima, se fosse com o ombro se calhar ia para baixo. Foi mesmo ombro e cabeça para entrar ali no cantinho.

    Miguel Garcia ficou eternizado como o “Herói de Alkmaar”
    Fonte: Sporting CP

    BnR: Sentes que houve excesso de confiança antes da final da Taça UEFA?

    MG: Na altura jogávamos sempre para ganhar, era um futebol muito ofensivo. Talvez tenha havido algum excesso de confiança após o intervalo, lembro-me de estarmos a ganhar 1-0 ao intervalo e de já estar a pensar onde é que ia festejar o título, talvez tenha sido por isso… Agora é fácil falar mas devíamos ter recuado um bocadinho mais, jogarmos um bocadinho melhor taticamente porque nós queríamos marcar o segundo e o terceiro. Na primeira parte podíamos estar a ganhar dois ou três a zero. Depois, eles marcam um golo de bola parada que dá o 1-1, nós queremos ir para cima sempre com posse de bola e acabámos por, no contra-ataque, sofrer o 2-1 e o 3-1. Foi muito injusto mas o futebol é mesmo assim.

    BnR: Vamos andar uns dias para trás. 33ª jornada do campeonato, jogo decisivo com o Benfica, na Luz. Na tua opinião, no lance do golo há ou não falta do Luisão sobre o Ricardo?

    MG: Na minha opinião é falta claríssima. Porque o Ricardo sai e há ali um contacto, na minha opinião o árbitro só não marca porque estávamos a jogar no Estádio da Luz. Se fosse no nosso estádio teria sido falta. Há contacto e mesmo que não seja dentro da pequena área, que é o que se falava, mas quando há um contacto naquela altura as regras era que existiria falta e nesse caso o árbitro não marcou. E tirou-me um título, a mim, à nossa equipa e a todos os sportinguistas, que era mais do que merecido.

    BnR: Essa época é recordada negativamente porque o Sporting acabou por perder tudo no final. Como se recupera disso?

    MG: A volta aos momentos negativos dá-se voltando a jogar o mais rápido possível, é voltar a jogar outra vez, ganhar outra vez e esquecer esses momentos. Mas, naquele ano, conseguimos esquecer indo de férias para casa e esquecer um bocadinho o futebol. Eu fiz isso e voltei com mais vontade no ano seguinte.

    BnR: Sentes que José Peseiro foi injustamente crucificado?

    MG: Acho que as pessoas que fazem essas críticas deviam era tentar perceber o que é que se passou e como é que lá chegámos. Chegámos lá pela fantástica e excecional gestão do plantel que ele conseguiu fazer com o Sporting, porque se olharmos para os números que lá estavam é difícil gerir 20 e tal jogadores e ele conseguiu fazê-lo muito bem. Não me recordo do Sporting nos últimos anos lutar por dois títulos, um deles europeu, é muito complicado. Não falo de uma Taça de Portugal, uma Taça de Liga, falo de lutar pelo campeonato até à última jornada e ir a uma final europeia. Não me recordo do Sporting ter feito isso nos últimos 20 anos e, se o fizemos, grande mérito foi também do mister Peseiro.

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