«Foi uma loucura após o jogo de Alkmaar» – Entrevista BnR com Miguel Garcia

    – Lesões e o regresso a Portugal –

    BnR: Sais do Sporting para o Reggina mas acabas por não jogar devido a uma lesão grave. O que se passou exatamente?

    MG: A lesão foi no joelho. A pré-época foi muito dura, fomos para as montanhas no norte de Itália e começou-me a doer um pouco o joelho. Eu não quis parar, quis continuar a treinar e a jogar porque era a primeira vez que estava fora do país. Como estava a jogar a titular, não dizia que me doía o joelho para não perder o lugar. Foi um erro tremendo da minha parte, devia ter parado, recuperado e, quando parei, já foi tarde. Lembro-me de ter feito a pré-época toda, fiz oito ou nove jogos e duas semanas antes de começar o campeonato já nem conseguia andar, já coxeava.

    BnR: Aí percebeste que era inevitável a paragem?

    MG: Sim, percebi que não podia continuar assim porque já me doía o outro joelho até. Tive que ser operado, fui para Portugal para recuperar e eles chamaram-me para começar a treinar outra vez passados cinco meses. Mas ainda estava com dores, obrigaram-me a treinar e eu nunca melhorei. Acabei por rescindir amigavelmente e voltei para Portugal para fazer o resto da recuperação.

    BnR: Sentes que as lesões graves que tiveste impediram-te de fazer uma carreira ainda melhor?

    MG: Sinceramente, a lesão nunca vem em boa altura mas se não fosse a lesão se calhar nunca teria voltado a chegar ao mais alto nível, que foi outra final europeia. Se me tivesse mantido em Itália, se calhar continuava no Reggina ou se calhar não jogava e daí saía para uma Segunda Liga. Não faço ideia o que é que me poderia ter acontecido. Aconteceu desta maneira e coube-me a mim dar a volta por cima.

    BnR: Como surge a oportunidade de regressar a Portugal?

    MG: Quando eu saio do Reggina tinha o contrato apalavrado com o Recreativo de Huelva, na altura estava lá o Carlos Martins e o Beto, mas quando saio de Itália ainda estava com dores e não conseguia recuperar. Então, voltei para uma segunda operação, estive mais oito meses parado e perdi esse contrato com o Recreativo de Huelva. A partir daí, comecei a treinar sozinho em Portugal. Fui convidado para integrar o estágio do Sindicato dos Jogadores e então comecei a sentir-me melhor e que conseguia voltar a jogar futebol.

    BnR: O que resultou desse estágio do Sindicato?

    MG: Foi aí que tive a oportunidade de ir fazer duas semanas à experiência no Olhanense, através do Jorge Costa, era na altura o treinador. Graças a Deus que fui porque era uma oportunidade dessas que eu precisava para demonstrar a toda a gente que, apesar de ter sido duas vezes operado ao joelho, continuava em excelentes condições para continuar a minha carreira.

    BnR: Qual a melhor memória da passagem pelo Olhanense?

    MG: O Olhanense foi uma excelente decisão e agradeço a todos os que me deram essa oportunidade. Encontrei uma excelente equipa técnica, espetaculares todos, toda a gente me deixou bastante satisfeito e me deu confiança. Depois, apanhei também um plantel espetacular, jogadores super motivados, porque eles tinham subido à Primeira Divisão, e receberam-me muito bem. O Rui Duarte que era o capitão, o Carlos Fernandes que era dos mais velhos, o guarda-redes Bruno Veríssimo, o Rui Baião. Tínhamos uma excelente equipa, tínhamos na altura também alguns miúdos do FC Porto, o Ventura, o Castro, o Rabiola. Tínhamos uma equipa muito equilibrada por isso é que conseguimos a manutenção na Primeira Divisão.

    BnR: Fazes parte de duas grandes épocas do SC Braga. Na primeira, estiveram muito perto do Benfica de Jorge Jesus…

    MG: Sim, quando vou para Braga vou a meio da época, em Janeiro. O Braga nessa altura estava a fazer um excelente campeonato e acabamos o campeonato a lutar pelo 1º lugar. Jogámos na última jornada contra o Nacional, se nós ganhássemos e se o Benfica empatasse nós éramos campeões, acho que era assim. O Benfica acabou por ganhar o jogo e ficámos em 2º lugar, foi uma época em que fizemos história em Braga, porque o Braga nunca tinha conseguido o 2º lugar.

    BnR: Em 2010/11, chegam à final da Liga Europa. Era uma missão impossível derrotar o FC Porto de André Villas-Boas?

    MG: Não era uma missão impossível mas era uma missão muito complicada, porque apresentavam um futebol muito bom, o Porto ganhou a todas as equipas que lhe apareceram pela frente. Hulk, Falcao, Varela, aquilo era uma máquina de fazer golos mas nós também tínhamos uma equipa fantástica, jogadores que tinham passado por clubes grandes. Na minha opinião, foi o melhor plantel que o Braga teve alguma vez, porque nós conseguimos ir à Liga dos Campeões, a uma final europeia e isso só se consegue com grandes jogadores, grandes pessoas e também com uma gestão muito forte da identidade do Braga.

    BnR: Qual era a grande força desse SC Braga?

    MG: Foram duas épocas muito boas em que nós em casa sofríamos poucos golos. Lembro-me que na Liga Europa, nas eliminatórias, acabámos por não sofrer golos. Liverpool, Dínamo Kiev, Benfica, Lech Poznan, não sofremos golos, só sofremos na Liga dos Campeões contra o Shakhtar, perdemos 0-3, mas quem viu o jogo e quem se lembra, eu acho que nós merecíamos ter ganho. Perdemos 0-3 e merecíamos ter ganho, é difícil dizer isto e acreditar, mas merecíamos. Em casa éramos muito fortes e isso fez-nos chegar novamente ao topo da classificação. Ficámos em 4º mas poderíamos ter ficado em 3º no último jogo, em que perdemos 0-1 em casa. Não jogaram seis ou sete titulares para poupar para a final da Liga Europa, não joguei eu, Sílvio, Paulo César. Foi uma época muito boa, que deu uma motivação e um entusiasmo a todos nós por estarmos sempre a lutar por grandes objetivos.

    BnR: Na meia-final eliminam o Benfica. Saem “vivos” da primeira mão na Luz porque marcam um golo, apesar de perderem 2-1. Como era o ambiente no balneário antes do jogo da segunda mão?

    MG: Nós já tínhamos chegado muito à frente na Liga Europa, chegar a uma meia-final e com um adversário como o Benfica, sabíamos que era muito complicado passar a eliminatória. Na eliminatória anterior com o Dínamo Kiev também tinha sido difícil, antes dessa o Liverpool também muito difícil. Nós acreditámos sempre porque nós já tínhamos passado por esses clubes, tínhamos lá jogadores como eu, Hugo Viana, Custódio, Alan, Artur, que tinham passado por clubes grandes. Sabíamos que não era impossível, já lá estivemos, temos qualidade e em casa somos muito fortes, em casa ninguém nos ganha. Foi assim que conseguimos passar a eliminatória, porque sabíamos que, se fizéssemos um golo, era quase impossível marcarem-nos em casa. Quando marcámos o golo, tivemos a certeza que íamos passar.

    BnR: Que recordações tens do Domingos Paciência?

    MG: Aprendi bastante não só com o Domingos mas também com a equipa técnica, com o Miguel Cardoso e o Rui Santos. Pessoas muito competentes, aprendi bastante no processo defensivo, por isso é que tivemos frutos em termos defensivos, principalmente como referi em casa, raramente sofríamos golos porque treinávamos muito esse processo. Acho que nem em Itália tinha aprendido tanto em termos táticos e defensivos como aprendi no Braga. Isso levou-me a evoluir bastante como jogador e também o ambiente que se vivia lá, entre nós, mesmo equipa técnica, havia muita confiança e entreajuda entre nós todos e isso levou-nos a lutar por objetivos que o Braga nunca tinha lutado anteriormente.

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