– Road Rage –
“Queriam que saísse sem cobrar o contrato e isto as pessoas não sabem”
BnR: Trocas o Sporting pelo Bétis no final da temporada 2006/07. Não obstante a pressão que sofrias em Portugal, também já disseste que o fator financeiro foi decisivo, mas, se voltasses atrás, fazias as coisas de forma diferente. Em que medida?
RP: Tinha ido para Inglaterra. Se seria melhor ou pior? Não sei. Vou confessar-te algo que ainda não disse a ninguém: em janeiro de 2011, estive para pôr o ponto final na minha carreira. Foram momentos muito difíceis os que passei, os últimos tempos em Sevilha, com seguranças privados na escola do meu filho, a andar acompanhado por gente contratada sem a minha família saber… não os queria assustar, mas fui ameaçado de muitas coisas. Queriam que saísse sem cobrar o contrato e isto as pessoas não sabem. O futebol tinha-me desiludido tanto… fui com umas expetativas gigantes para um clube também ele gigante, com uns adeptos fenomenais que carregam aquela equipa ao colo e deparei-me com condições de trabalho que não eram condizentes com a dimensão do clube. Estive quase para deixar o futebol.
BnR: Eriksson trocou-te as voltas e levou-te para Leicester, onde redescobriste a paixão por jogar futebol. Pela tua experiência, em que é que o futebol inglês é diferente dos demais?
RP: O tempo que lá vivi serviu para perceber que era o país e o futebol com os quais mais me identificava e onde se dá um valor tremendo aos jogadores. Apesar de ter sido o “carrasco” de Inglaterra, trataram-me nas palmas das mãos, porque eles adoram os atletas.
BnR: Regressas a Portugal e, sem ter certezas em relação à recuperação completa do teu ombro, assinas pelo Vitória FC. É verdade que, nessa época, ajudaste colegas que estavam com dificuldades financeiras?
RP: Antes de te responder, deixa-me fazer uma justa homenagem ao António Gaspar. Cheguei ao pé dele a chorar e perguntei-lhe se lesão que contraíra em Inglaterra era o fim da minha carreira, porque só voltaria a jogar se ficasse a 100%, e ele olhou para mim e disse “Queres voltar a jogar? Então vou pôr-te a voltar a jogar” e pôs.
É verdade que ajudei. Não só eu, mas mais alguns elementos da equipa. Voltaria a fazê-lo e, ao ajudá-los, também ajudámos o clube e o Presidente, que depois nos atraiçoou.
BnR: Na época seguinte, o convite para te juntares ao Olhanense foi-te feito na praia por Sérgio Conceição?
RP: É verdade! Estava na praia, em Tavira, a falar com o Carlos Pereira e com o Sérgio, e surgiu em conversa “Epá, como é? Queres continuar a jogar?”. E aconteceu. O Sérgio era um atleta com o qual sempre me identifiquei – o caráter, a vontade, a irreverência – e eu pensei “Bom, está aqui uma pessoa que me vai estimular novamente e com quem me identifico”. Foi na hora!