Lisboa já tem sol mas cheira a lua

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    O despertador tocou cedo e ouvi o Sporting chamar. Levantei-me; tratei de mim, do cachecol, da stromp do centenário em que tenho estampado NANI e o 18 que ele usava na altura e olhei pela janela: Lisboa já tem sol mas cheira a lua.

    Assim dizia Amália, no seu primeiro verso da célebre Cheira a Lisboa, assim somos também nós: cada vez mais cheios de sol mas ainda próximos demais do escuro que nos faz recordar a lua. Conscientes mas sonhadores, a dificuldade não nos demove e o histórico desfavorável não nos amedronta. O clube que não ganha há quase dez anos no Dragão é o mesmo que mais milhares lá leva consigo. O sentido, perguntam? Vocês sabem lá.

    Um pouco por Portugal acima fomos encontrando outros como nós. De buzina em buzina se foi partilhando o orgulho – que dele só fazem parte aqueles que se orgulham – e, estrada adiante, nem parecia que nos aproximávamos do estádio em que quase nunca ganhamos: havia sempre alguém de símbolo ao peito, algum leão cheio de esperança. É verde, diz-se, não é?

    À medida que chegámos à bonita cidade da Invicta, fomos verificando a cumplicidade entre a polícia local as gentes do Porto, fomos ouvindo pelas portas dos cafés comentar-se que éramos “merecedores da vergonha que somos” e, sem qualquer vontade de resposta imediata, esperámos até ao momento certo para começar a mostrar que vergonha e Sporting nunca estarão de mãos dadas. Subimos umas escadas, entrámos no sector que nos destinaram, colocá-mo-nos entre uma fila de cadeiras e a outra – porque, apesar de até termos entrado cedo, já não havia lugares disponíveis para quem os comprou, nem escadas onde não estivesse alguém – e, sempre com uns braços à frente, umas bandeiras a esconder a bola que rolava, fomos exclamando àquela cidade aquilo de que somos feitos.

    O resto já sabem. O William voltou das férias, o Rui merece-nos tanto quanto nós a ele, o Nani é o melhor em Portugal. O Marco provou, tal como lhe tinha dito num outro artigo para o Bola na Rede, que não há mundos perdidos à 4ª jornada. Nós confundimos os jogadores que a determinado momento deixaram de achar que estavam a jogar fora, mas não o fizemos porque o resultado nos ajudou. Não é essa a essência do apoio, não foi isso que nos ensinaram. Ao senhor que nas redondezas do estádio colocava Sporting e vergonha na mesma frase, um abraço e um esclarecimento: nós crescemos com a convicção de que somos nós a ajudar o resultado e nunca o contrário. Mas você sabe lá…

    No fim, regressámos e Lisboa já tinha lua… mas ainda cheirava a sol.

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    João Almeida Rosa
    João Almeida Rosa
    Adepto das palavras e apreciador de bom Futebol, o João deixou os relvados, sintéticos e pelados do país com uma certeza: o futebol joga-se com os pés mas ganham os mais inteligentes.                                                                                                                                                 O João não escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.