O Futebol cada vez mais parece wrestling. Não, não vou falar de “fariseus”, “samaritanos” ou “pizzas”. Vou falar de um espectáculo de showoffs, combates combinados e discursos ensaiados. Vendo a situação desta forma, quase não dá para perceber se me refiro a um ou a outro desporto, uma vez que cada vez mais estes “ingredientes” se observam em ambos.
Ainda me lembro de, aos fins-de-semana e pela hora de almoço, estar a ver os combates de wrestling comentados pelo “Tarzan” Taborda e ficar impressionado com a paixão com que o mesmo falava desse desporto, convidando qualquer lutador a enfrentá-lo no ringue e dando como certa a sua vitória (sim, Mayweather e McGregor ainda eram crianças, infelizmente). Apesar de eu não poder pôr em causa a valia do comentador dentro dos ringues, por nunca o ter visto lutar, gerava-me alguma estranheza tal confiança num atleta que lutava num desporto com regras tão próprias, que dificilmente outros lutadores aceitariam (isso passou-me depois do combate Mayweather/McGregor). Só conseguiria aceitar toda aquela confiança se o confronto fosse com qualquer outro lutador da mesma modalidade, com todas as regras (ou falta delas) e campeões pré-estabelecidos. Ainda assim, naquela altura o programa entretinha-me e eu via-o regularmente.
Depois de cada emissão juntava-me com alguns amigos, adeptos daquele desporto, a quem eu tentava demonstrar os golpes ensaiados e as cadeiras que surgiam do nada, situações associadas a árbitros que nunca viam as “infracções”, ao que eles retorquiam com a beleza de cada voo, uppercut, quase mostrando total cegueira ou desprezo pelo óbvio.
Acabei por ir perdendo o interesse, ao cansar-me de ver golpes que apenas atingiam o chão do ringue e combates que terminavam quando os intervenientes decidiam ou combinavam que havia chegado o momento de acabar. Bem sei que, neste caso, o que interessa é o espectáculo, e todos sabem que são essas as regras, e todos sabem o que esperar.
Pelo menos no wrestling eles assumem que é só “faz de conta”. Já no futebol, todos sabem que é faz de conta e ninguém o assume.