Para ti, Jorge

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    Caro Jorge. Permite-me, apesar da nossa diferença de idades e de nunca ter tido uma interação contigo, que te trate por “tu”. Afinal de contas, supostamente, és um de nós.

    Estou desiludido. Não estou cabisbaixo, não estou revoltado, não estou em modo fatalista. Estou apenas e somente desiludido. E estou desiludido, porque quando o Presidente anunciou a tua vinda para o cargo de treinador, eu – e acredito que a larga maioria do universo leonino – já conhecia o teu pedigree, a tua personalidade (desportiva, pelo menos), e o teu jeito de ser. Já estava a par da tua confiança exacerbada, o teu modo prático e simultaneamente complexo de ver o futebol, o teu conhecimento tático, e as tuas dificuldades linguísticas. Já conhecia a tua inaptidão para contratar laterais esquerdos, já conhecia o teu fetiche por jogadores altos e corpulentos. Já conhecia o teu gosto por jogadores estrangeiros, já conhecia as tuas limitações nos planeamentos de pré-época, já conhecia o teu modo intenso como vives o jogo a partir do banco de suplentes. Não foi, de todo, isso que me desiludiu. Só pode ter ficado desiludido quem não te conhecia.

    Jorge Jesus está na sua terceira temporada como técnico principal do Sporting Fonte: Sporting CP
    Jorge Jesus está na sua terceira temporada como técnico principal do Sporting
    Fonte: Sporting CP

    O que me desiludiu foi algo que já conhecia, de facto, mas que esperava profundamente que não voltasses a fazê-lo em Alvalade: Falo sobre fazer os adeptos de parvos. Falo das tuas declarações depois de algo que não corre bem. Falo dos Palhinhas que não levaram o guião para o jogo. Falo do trânsito, que impediu que tivéssemos mais vitórias na pré-época. Falo das derrotas que só aconteceram porque foste expulso minutos antes do final. Falo da falta de jogadores quando o resultado não é o esperado. E falo, por fim, do Steaua que aparentemente, está ao nosso nível. E isso eu não te admito.

    Quero lá saber se temos dois ou três campeonatos nos últimos trinta anos. Quero lá saber se ainda há pouco tempo estávamos em profunda crise existencial, onde tínhamos de vender jogadores para pagar salários. Quero lá saber dos vouchers, dos mails, dos padres e das missas. Quero lá saber das nossas participações nas competições europeias nos últimos anos. Quero, muito menos, lá saber dos Saraivas, dos Octávios e dos cigarros eletrónicos.

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    Fernando Costa
    Fernando Costahttp://www.bolanarede.pt
    Natural de Braga, e atualmente a trabalhar no Jornal de Notícias, Fernando Costa vai tentando encontrar o seu lugar no jornalismo e no mundo. Apaixonado pelo desporto e por tudo aquilo que o envolve, é na escrita que Fernando encontrou o seu habitat para o explorar. E, ao mesmo tempo, compreendê-lo.                                                                                                                                                 O Fernando escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.