«Se não for para jogar no Sporting CP, não quero voltar a Portugal» – Entrevista BnR com Luiz Phellype

    Professor Neca entrevista À BnR

    Estava o sol a pôr-se em Tóquio e em Portugal nascera há poucas horas. Luiz Phellype, conta, é um jogador na plenitude das capacidades ultrapassada que está a lesão no joelho direito que o afastou dos relvados durante mais de um ano. A falta de espaço no Sporting CP levou-o a três empréstimos consecutivos. Atualmente, joga no FC Tokyo, clube que, em novembro, vai decidir se ativa a opção de compra que tem sobre o jogador. Luiz Phellype garante que só vai voltar a Portugal se for para jogar no Sporting CP.

    – Terra do sol nascente –

    «Os japoneses ficam uma hora depois do treino, quase todos os dias, a melhorar algum aspeto do jogo»

    Bola na Rede: Foste para o Japão em julho. Como tem estado a correr a adaptação?

    Luiz Phellype:  Essa é a parte mais difícil. Fiz a minha carreira toda na Europa, dos 18 aos 28 anos, e aqui é tudo diferente. Acho que já estou adaptado, mas, ao início, era difícil lidar com o fuso horário e com a alimentação, por exemplo. Nas primeiras semanas, estava muito calor aqui e sentia-me muito cansado. Agora, estou melhor, porque também estou a fazer um trabalho diferente com o clube.

    Bola na Rede: Ou seja, o clube está a ajudar-te a minimizar os impactos das diferenças que existem face à Europa?

    Luiz Phellype: Sim. Têm um cuidado especial com todos os estrangeiros e são muito respeitosos. Estava de férias e depois treinei uma semana no Sporting CP durante a pré-temporada antes de vir para aqui. O FC Tokyo já estava a jogar. Faltavam 12 jogos para acabar o campeonato, então eles estavam num ritmo completamente diferente. Aqui, o jogo é mais rápido e, como estava em ritmo de pré-época, foi ainda mais difícil. O clube sabia disso e tentou-me ajudar. Agora, sinto-me bastante melhor.

    Fonte: FC Tokyo

    Bola na Rede: Em que aspetos é que eles te tentaram ajudar mais? Fisicamente?

    Luiz Phellype: Fisicamente e culturalmente. Explicaram-me como é que funcionam as coisas. A forma como os japoneses jogam e treinam é muito diferente. Precisei de me adaptar rápido a isso.

    Bola na Rede: Pode-se dizer que foste bem recebido pelas pessoas.

    Luiz Phellype: Tive amigos que jogaram aqui que me disseram que os japoneses acolhem muito bem e é verdade.

    Bola na Rede: Não foste para aí completamente sem conhecimento do clube e da realidade japonesa.

    Luiz Phellype: Conhecimento do futebol japonês não tinha nenhum, mas outros jogadores disseram-me que era muito bom e que gostavam de estar cá. É uma mudança drástica, mas ajudaram-me bastante.

    Bola na Rede: A população japonesa é conhecida pela ética de trabalho. Também aplicam isso ao futebol?

    Luiz Phellype: Na Europa, quando acaba o treino, ficamos ali dez, 15 minutos, no caso dos avançados, a treinar finalização. Aqui, os japoneses ficam uma hora depois do treino, quase todos os dias, a melhorar algum aspeto do jogo. Não é um pedido do treinador, não é um pedido de ninguém. Eles têm essa cultura que acho muito boa de querer evoluir, de querer fazer as coisas melhor.

    Bola na Rede: Vives em Tóquio, uma cidade que tem mais pessoas do que Portugal inteiro. Ainda não te perdeste por aí?

    Luiz Phellype: O Waze ajuda muito. Mesmo assim, por vezes, perco-me e vou por uma rua errada. É muita gente e são muitos carros. O trânsito é muito difícil. Os japoneses são bastante organizados, mas, mesmo assim, é difícil. Também é complicado entender a língua. Está tudo escrito em japonês, não há nada, pelo menos, escrito em inglês.

    Bola na Rede: Como é que comunicas com os teus companheiros de equipa?

    Luiz Phellype: Não comunico. Eles dizem “bom dia” e “boa tarde” por causa dos brasileiros que já cá estavam. Por mais que tente, não percebo nada de japonês. Eles não falam inglês. É difícil, mas fazem muito esforço para me compreenderem. O clube tem um tradutor, mas para conversar com os outros jogadores tenho que fazer mímica. Falo muito com os brasileiros e, mesmo com os japoneses, estamos sempre a brincar. O futebol é uma língua universal. Dentro do campo entendemo-nos.

    Bola na Rede: Em termos de gastronomia, és apreciador da comida japonesa?

    Luiz Phellype: Gosto de sushi, mas gosto do sushi falso, isto é, o sushi que comemos no Brasil e Portugal, frito, com queijo… O sushi deles aqui é o tradicional e não gosto muito.

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.