«Se não for para jogar no Sporting CP, não quero voltar a Portugal» – Entrevista BnR com Luiz Phellype

    – A dor da ausência –

    «Se não for para jogar no Sporting CP, não quero voltar a Portugal»

    Bola na Rede: Como é que ficou decidido que o Sporting CP te ia emprestar novamente, desta vez, ao FC Tokyo?

    Luiz Phellype: Ainda tenho contrato com o Sporting CP, mas soube que não ia ficar lá esta época. Desde que saí do Sporting CP e fui para o CD Santa Clara, tinha em mente que não queria jogar mais em Portugal. Já eram vários anos em Portugal e queria experimentar coisas novas. Foi essa a indicação que dei aos meus agentes. No entanto, naquele momento, precisava de voltar a jogar, porque tinha ficado mais de um ano parado por lesão e o que tinha era o CD Santa Clara. Depois, fui para a Grécia, uma vez que um amigo, que já tinha sido meu treinador, me ligou e disse que precisava de mim lá. Fui e as coisas correram muito bem. Fiz 13 jogos e oito golos. Aí, surgiu o convite do Japão. Achei que era uma boa oportunidade e aceitei sem pensar muito. Se não for para jogar no Sporting CP, não quero voltar a Portugal. 

    Bola na Rede: Desiludiram-te as diferenças entre um clube como o Sporting CP e o CD Santa Clara?

    Luiz Phellype: Não foi conhecer a realidade, foi a forma como saí do Sporting CP. Saí por causa de uma lesão, não porque as coisas não estavam a correr bem ou porque não estava a marcar. Encontrar uma realidade como o CD Santa Clara outra vez, foi difícil. Ainda tinha dores no joelho. Não conseguia fazer tão bem as coisas. O CD Santa Clara não é um clube tão bem estruturado para cuidar da minha lesão, não desmerecendo o CD Santa Clara, pois tentaram fazer o melhor com o que tinham.

    Bola na Rede: Durante o empréstimo ao CD Santa Clara, ainda jogavas com dores?

    Luiz Phellype: Para jogar, tomava um remédio, mas treinava com dores e não conseguia fazer o que normalmente sei fazer. Jogar com dores limita muito, ainda para mais quando se está um ano sem jogar. Não tive muitos minutos e as coisas não funcionaram. Isso mexeu muito com o meu psicológico. Pensava “será que a lesão me vai acompanhar o resto da minha vida?”, “será que já não sou o jogador que era?”. A minha saída para a Grécia foi muito importante. Sair de Portugal e do ambiente que estava a viver foi importante para ver que estava tudo bem. O joelho melhorou e deixei de pensar nisso. Percebi que ainda sabia jogar, que ainda sabia marcar golos. A ida para a Grécia devolveu-me confiança.

    Bola na Rede: Chegaste a procurar apoio psicológico para lidares com a situação da lesão?

    Luiz Phellype: Enquanto estive no Sporting CP, tive consultas com o psicólogo e, depois, no CD Santa Clara também. As coisas estavam muito difíceis. Não estava feliz. O jogador é feliz a jogar. Como não podia jogar, não estava feliz. A lesão mexeu muito com o meu psicológico. Quando cheguei ao Sporting CP, ao nível do campeonato, joguei os últimos oito jogos e marquei oito golos. Vencemos a Taça de Portugal também. Na época em que tive a lesão, em janeiro, já levava nove golos. Então, tinha outros planos. Também queria ter sido campeão português, tal como o Sporting CP foi depois. Também ter jogado a Liga dos Campeões. De repente, vi isso tudo ir por água abaixo por uma coisa que não tive culpa. Sofri bastante com isso. Na minha cabeça, só queria sair de Portugal. No final, estava certo, porque, assim que saí, as coisas começaram a correr bem de novo.

    Bola na Rede: Sentes que o apoio psicológico é importante para a resolução dos problemas que se passam na vida de um jogador de futebol?

    Luiz Phellype: Hoje, vejo que sim. Sempre me disseram que o apoio psicológico é importante, mas como estamos sempre a jogar e a treinar, não parava para pensar nisso. Até que veio a lesão. Fui impedido de treinar e jogar, que era uma coisa à qual não estava habituado. Nunca tinha tido uma lesão séria. Não sabia reagir a isso. De repente, foram nove meses sem pôr o pé no campo. Os jogadores fazem bem em investir nos próprios psicólogos e os clubes também deviam disponibilizar esse apoio aos atletas. No Brasil, durante a minha formação, todos os jogadores tinham que ir ao psicólogo uma vez por semana. Se todos os clubes tivessem psicólogos, as coisas seriam mais fáceis, principalmente para quem joga em clubes grandes onde há mais pressão. Sair sozinho de momentos negativos não é fácil.

    Bola na Rede: Atualmente, já te sentes na plenitude das tuas capacidades?

    Luiz Phellype: Já. Depois de ter deixado de ter dores, as coisas voltaram a florescer. Um jogador sem confiança não consegue fazer nada. Agora, só a jogar é que as coisas vão acontecer.

    Bola na Rede: Em termos desportivos, que balanço fazes da experiência no FC Tokyo?

    Luiz Phellype:  Acho que tem sido bom, apesar de não ter jogado muito. Sinto-me bem nos treinos e nos jogos também. Ainda temos cinco jogos para fazer até acabar o campeonato. Esperamos terminar da melhor maneira possível.

    Bola na Rede: Já pensaste como vai ser o teu futuro quando o campeonato terminar, em novembro?

    Luiz Phellype: Já passei muito tempo da minha vida a fazer planos. Depois da lesão, vi que não adianta fazer planos. Tenho que pensar no momento. O que acontece depois não me interessa. Estou focado no que tenho que fazer agora.

    Bola na Rede: O FC Tokyo demonstrou interesse em ativar a cláusula de compra?

    Luiz Phellype: Ainda não sei. O clube só tem que decidir isso no final do empréstimo. Por enquanto, o feedback que tenho é que gostam e veem qualidade em mim.

    Bola na Rede: O certo é que, em novembro, vais ter que decidir algo em relação ao teu futuro.

    Luiz Phellype: Sim. Quando acabar o campeonato, o FC Tokyo tem um prazo para resolver a situação. Quando souber o que eles querem fazer, penso no futuro e no próximo passo.

    Bola na Rede: Os responsáveis do Sporting CP têm acompanhado o teu trabalho nos vários empréstimos que tens tido?

    Luiz Phellype: Eles acompanham todos os jogadores deles, mas nunca entraram em contacto diretamente comigo. Não mantenho contacto com ninguém da direção nem da equipa técnica do Sporting CP.

    Bola na Rede: Manténs viva a ambição de regressares ao Sporting CP?

    Luiz Phellype: Sinceramente, não sei. Sempre disse que queria voltar e que achava que poderia ser útil. Só que, nestes últimos dois anos, o Sporting CP não se interessou, nem falou comigo para voltar. Tenho contrato com o Sporting CP. Se o Sporting CP precisar de mim, eu vou. Quero fazer aqui o meu trabalho o melhor que puder.

    Bola na Rede: Como foi o início desta época em que estiveste a treinar à parte na Academia do Sporting CP até definires o próximo passo?

    Luiz Phellype: Já me tinha acontecido na época anterior. Estar ali é complicado. Treinamos mesmo ao lado do campo principal. Muitas vezes, acabamos o nosso treino e a equipa está a treinar. Ficava a pensar que poderia estar ali. É difícil.

    Bola na Rede: Foi o mister Rúben Amorim que te comunicou que ias treinar à parte?

    Luiz Phellype: Não. Só me disseram quando é que me tinha que apresentar. A apresentação acho que era dia 10 de julho, mas eu já estava em Portugal no dia 28 de junho. Pedi para começar a treinar mais cedo. A direção deixou e comecei a treinar antes dos outros. Não falei com Rúben Amorim nem com ninguém da equipa técnica.

     

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.