Eu sei, eu sei, só nos queixamos quando estamos a perder. Esta é uma frase muito divulgada principalmente por quem está a ganhar, mas que, quando perde também a declama. Isto só comprova que a afirmação é verdadeira, mas que se aplica a todas as cores e não só à verde do Sporting CP.
Há uns dias um “notável” sócio do Sporting veio dizer que com arbitragens destas mais valia não jogar, ou ter esperança de ganhar o que quer que fosse (não foram estas as palavras, mas a ideia é a mesma), o que originou uma resposta imediata do sindicato dos árbitros a defender a “classe” utilizando um argumento que é impossível negar.
A questão é que não é por se estar a defender alguém com um argumento válido que deixa de ser verdade a afirmação que se está a contrapor. Ou seja, dizer que criticar a arbitragem pode incentivar a violência contra os “profissionais” que a exercem não invalida que seja também verdade que há incompetência (dependendo do ponto de vista e da finalidade a que se quer chegar com cada decisão) e negligência no trabalho dos mesmos.
Sabendo todas as pessoas do historial dessa “classe” profissional na ajuda à decisão de campeonatos, seja na forma tentada ou efectiva, ninguém desse ramo pode ter moral para pedir respeito, ainda. Como se costuma dizer, o respeito ganha-se não se pede. Para que se volte a acreditar na mesma terá que haver muito trabalho, mostrar-se idoneidade, profissionalismo, moralidade, imparcialidade nas decisões tomadas no terreno onde decorre o jogo.
É verdade que todos devemos ter consciência que no futebol qualquer palavra pode incendiar emoções e provocar reações indesejadas, mas para que isso não aconteça terão que ser primeiro quem trabalha e tem responsabilidade a fazê-lo bem, ou errando que se perceba que não foi deliberado. Porque depois, quem se sente injustiçado, e percebendo que não haverá nenhuma consequência incisiva (não se resolve com um ou dois jogos sem arbitrar, ou com multas) para quem errou, só tem a opção de expor o seu descontentamento. Afinal foi isso também que fez o sindicato quando veio defender os seus, não foi?
O sindicato quer civismo para com quem comenta o trabalho dos seus associados? Então lutem e criem condições para que os mesmos façam bem o seu trabalho. Aceitem na sua organização apenas profissionais com competência profissional e moral. Se assim não for, terão que aceitar a crítica, assim como as reações que os seus atos provoquem.
O problema é que ninguém sabe nem conhece nenhum árbitro que tenha sido castigado por erros grosseiros repetidos. Aliás, conhecemos alguns, mas apenas porque vieram a público expor o que efectivamente todos sabemos, mas o poder instalado não quer saber.
Não é quem comenta que terá sangue nas mãos quando acontecer algo mais grave. Quem administra e gere o futebol é que, enquanto não deixar de se preocupar apenas com o dinheiro e o número de campeonatos ganhos por uns e outros num desporto que move paixões é que terá que assumir essa responsabilidade.
Mas estamos em Portugal, e assumir responsabilidades é coisa que ninguém conhece, muito menos os que efectivamente têm poder para mudar o estado das coisas. Mas as coisas estão bem como estão, e por isso ninguém se preocupa em mudar, a não ser o que os comentadores podem ou não dizer nos programas de televisão e em entrevistas. Falta saber para quem é que as coisas estão bem como estão.
Como uma vez li na bancada de um estádio, “o VAR só veio mostrar que não é erro…”. Será falta de “classe” ou será apenas azar do Sporting?