Desta vez, em proveito da ausência de analogias ou comparações provenientes das minhas preferências, considero não estar apto para engrenar mais um texto semanal. O ato de inquirir a razão para tudo isto constituirá uma perda de tempo e uma pergunta à qual eu não estabeleci ou preparei qualquer resposta. Simplesmente, são situações que tendem a acontecer, a cada passo. No fundo, encontro-me perante um problema. Apesar de o significado do termo adquirir um caráter amplo e ambíguo, a designação parece ser a mais correta.
A tese descrita pode redundar num grau elevado de idiotice, mas insisto na explicação. Se repararem, toda a gente já esteve embrulhado num problema que ficou solucionado apenas pela metade. Ou seja, um meio problema. A chave, quando necessária para abrir uma porta, esbarrou no último trinco e, por essa mesma razão, foi parte da resolução. Ao público que deslindou a chave correta, sinceros parabéns e votos de sucesso. Ao público incapacitado, não tenham vergonha; entrem, sentem-se e sirvam-se de uma bebida.
Esquecidas as notas introdutórias, introduzimos o tema pelo qual ninguém espera: o Sporting CP. Ao longo da semana volvida, a editora responsável pela secção depositou temas no habitual grupo, entre os quais “Qual o maior problema do Sporting CP: defesa ou ataque?”. Após a escolha, decidi solucionar hoje, via texto, quais as causas para os problemas visíveis e clarividentes do campeão nacional em 2021/2022.
O verdadeiro contratempo leonino foi, sem margem para qualquer dúvida, o calcar do pé direito no ano 2022 do calendário gregoriano: CD Santa Clara, SC Braga, CS Marítimo e FC Porto conseguiram apontar mais de metade dos golos (nove!) sofridos até à 16ª jornada do campeonato português.
Encarnando o espírito daquele adepto que usa e abusa de desculpas para debater o mau momento que o clube atravessa, argumento com a quantidade de lesões, castigos ou bebedeiras mais encharcadas – porque o Paulinho, por vezes, faz de central – no setor mais recuado do Sporting CP.
A defesa tem andado relaxada, macia como uma pena e com um semblante tão descontraído: a comunidade hippie dos anos 60 que frequentava o Woodstock e outras raves semelhantes mesmo quando adentrava por mundos alternativos através de métodos narcóticos apresentava inépcia na conquista do estado de alma.
Classifique a seguinte afirmação como verdadeira ou falsa. Justifique a sua escolha.
“Ora, solucionado o problema, convém propor à direção a contratação de defesas que possam minimizar estragos. Por isso, ilibamos os meninos da dianteira”. V (a lápis, como se escreve nas frequências).
Errado. (Correção do teste. O aluno contempla a borrada que fez quando se apercebe da nota que obteve e de que o alcance da positiva estaria à distância da resposta correta à pergunta anterior).
O setor atacante é também responsável pelo período “conturbado” que o clube de Alvalade atravessa: irrevogavelmente, Pablo Sarabia chegou de Paris para acrescentar qualidade, pormenor técnico e definição no último terço ao plantel leonino; por sua vez, Paulinho nunca foi o protótipo de Jardel, Liédson ou Acosta – avançados preocupados com a sobrevivência da equipa – e só tem contribuído com perigo e jogadas que morrem no quase;
Pote, menino que habituou mal os adeptos no primeiro ano de leão ao peito, tem adormecido o seu talento antes de anestesiar as linhas quatro ou cinco adversárias; Nuno Santos parece só durar uma metade de uma temporada, Marcus Edwards ainda não está cozido ao ponto de servir belas refeições e Slimani é amor, só que mais velho.
Até à data, o rescaldo é o seguinte: segundo posto na tabela classificativa, oitavos de final da UEFA Champions League com um parcial de 0-5 e meia-final da Taça de Portugal em risco vermelho, com derrota na selva onde o leão repousa. Portanto, estão encontradas as diversas metades de um problema conjunto: o domínio despreocupado, com estrelinha e muito querer do Sporting CP de 2021.
Faltam chaves para abrir alguns cadeados. Iniciemos a caça ao tesouro para as encontrar.