A linha de cuecas invisíveis lançada por Cristina Ferreira não me sai da cabeça. A informação predou o meu cérebro e apoderou-se de todas as reações encefálicas que dele provêm. E o que tem tudo isto que ver com o Sporting?
Nem quis acreditar quando contemplei a imagem do espaço em branco naquele conjunto trissómico: um espaço para a cueca escura, um espaço para a cueca branca – quem as usa é tão corajoso quanto Sidney Trefusis mal este decide abandonar a amada para se dedicar ao socialismo e a utopias semelhantes – e um espaço vazio onde julguei que pudesse caber a carteira, um smartphone pequeno ou as chaves de casa.
Podem criticar o que bem entenderem. Considero a invenção útil, do ponto de vista prático. Quando dormimos fora de casa e abandonamos a segurança contida numa gaveta, albergue de “tursses” (ou “turces”) como diz a avó Serafina, ao invés de colocarmos a roupa íntima numa mochila e vetarmos diretamente o direito à troça gratuita, dadivamos o próximo com liberdade de expressão e abrimos todo e qualquer espaço para brincadeiras que mais tarde possam surgir. Com ou sem a presença de álcool, evidentemente. O projeto é capaz e promissor, sabem disso tão bem quanto eu.
O assunto prioritário do desabafo não era este. Contudo, não contive o deslumbramento e diz-se que o robotizei. E, aproveitando uma das figuras mais proeminentes do panorama informativo nacional (do marketing, dos negócios, do entretenimento, da moda, das causas e das coisas), teço uma comparação com o Sporting CP em tempos recentes porque era sobre isso que queria realmente discorrer. O facto de se relegar determinado assunto em função de qualquer proximidade com a nudez é tipicamente português.
Se não estão a par, deviam. Até porque se trata de algo classificado como ímpar por mim e por mais meia-dúzia de amigos verdes. No dia 24 de julho de 2022, foi noticiado que o Sporting Clube de Portugal atingiu recordes de quotização na época 2021/2022 e que elevou o número de sócios pagantes. O que acabou de ser escrito simboliza nada mais nada menos do que quase dez milhões de euros no bucho e um total de 90 mil sócios que dizem às mulheres que perderam um x quando se deslocavam no metro.
A interação com os sócios através da modernização dos canais de comunicação e das plataformas digitais foi importante no Guiness das bilheteiras? Talvez. Rúben Amorim, a sua política de contratações e a postura que as suas equipas adotam durante os muitos jogos de cada época foram preponderantes neste parâmetro? Não desminto nem confirmo.
Enquanto Portugal vivia sob a agrura de uma pandemia desconhecida, os profetas do futebol enchiam as entranhas até ao tutano, abriam a boca com esforço redobrado e diziam que o clube de Alvalade iria sofrer um motim. Tinham razão, porque no ano que se seguiu quebrou um jejum de 19 anos e festejou o título número __________ (19/23).
As mesmas almas, após o mérito e o valor atribuído à conquista, profetizaram outra rábula: a de que os leões, regressada a massa adepta ao estádio, não produziriam o mesmo futebol, iam tremelicar à semelhança de onze gajos perdidos na Sibéria ou em Trás-os-Montes, em pleno inverno, e não conseguiriam levar de vencido o adversário pelo facto de o próprio clube não ser unido e não remar todo para o mesmo lado. Acertaram de novo, o jogo diante do AFC Ajax (1-5) é sintomático.
Frederico Varandas e a restante equipa que dirige o clube, apesar de convidados à demissão por vários grupos de adeptos em diversas ocasiões, permaneceu. Despachou (e continua a despachar) entulho que teima em cumprir contratos e comer tudo e não deixar nada. Ao que parece, desinvestiu nas modalidades desde o primeiro dia de trabalho, mas ganhou em casa, fora e pelo caminho nos últimos (quase) quatro anos.
Recentemente, lembrou-se de subir o preço da quota mensal em todos os escalões de atividade e, por incrível que pareça, lucrou com isso porque a família leonina abriu cordões à bolsa e foi anfitriã durante a temporada inteira. Para um clube desunido, sem tarimba para argumentar defronte de SL Benfica e FC Porto e ao nível do SC Braga, com Sobrinhos financeiramente irrequietos, com assaltos ao próprio centro de treinos e com segurança ao nível da existente em Tancos, até que nem está mal.
A Cristina Ferreira vende um par de cuecas e uma amostra de ar por apenas 19,90€. O Frederico Varandas vende “sustentabilidade, formação, investimento e modernização do clube, integridade, dignidade, honra e princípios” no Sporting por mais um euro. Eu tenho dificuldades em vender algo que não uso no OLX.