6 jogadores que podem decidir a final da Taça da Liga

    Ninguém apostaria numa final da Taça da Liga entre Braga e o Estoril Praia, mas os deuses do futebol quiseram tornar a competição feita a pensar nuns ao alcance de todos os outros.

    Apenas pela segunda vez na história da Taça da Liga se realizará uma final sem Benfica, Sporting ou Porto. Numa altura em que as cedências aos milhões da Arábia Saudita são cada vez menos uma utopia e em que mesmo o formato da competição está a ser pensado para ser ainda mais elitista, concentrando os mesmos de sempre, vai respirar-se um ar novo em Leiria.

    Reduzir uma qualquer competição a três ou quatro clubes é reduzir também o seu valor e diminuir o peso da sua conquista. A Taça da Liga não é a competição mais conceituada em Portugal e, se para o Braga ou o Estoril Praia, a sua conquista entrará nos livros de história de cada clube, para Benfica, Sporting ou Porto não passariam de dias mais felizes que o normal. Afastar a Taça da Liga dos clubes (de todos eles) é retirar-lhe ainda mais peso.

    Esta noite o Estádio de Leiria não estará tão cheio como há uma semana se poderia prever. Imaginar o mesmo cenário na Arábia Saudita é assustador. Mas os adeptos que lá estiverem terão outro sentimento durante o jogo, celebrarão a conquista como outros eventualmente não a celebrariam. E tanto Braga como Estoril Praia trabalharam para conquistar um lugar que parecia impensável.

    Focando no jogo que, felizmente, ainda é o mais importante, são esperados golos. Tanto o Braga como o Estoril Praia atacam muito melhor do que defendem e têm jogadores superlativos em evidência. Entre os muitos nomes que podem dar uma vantagem a cada um dos clubes, é possível destacar alguns que, pela influência e impacto que tiveram em toda a temporada, mas também no jogo da meia-final, podem resolver o segundo título da temporada em Portugal.

    1.

    Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

    João Moutinho (Braga): A lista não está organizada segundo qualquer ordem específica, mas se assim não o fosse, João Moutinho poderia facilmente fazer o mesmo que faz em campo, antecipar cenários e colocar-se no sítio certo à hora certa.

    Chegou ao Braga como descarte do FC Porto que, com tudo para fechar a sua contratação, preferiu não avançar. Os arsenalistas não desperdiçaram a oportunidade e João Moutinho é cada vez mais um indiscutível no onze de Artur Jorge. Isto aos 37 anos, comprovando que há jogadores que são como o Vinho do Porto… ou como o Vinho de Braga.

    Não assumiu a titularidade no imediato, mas depois de o fazer não mais a largou. A condição física leva a alguma rotação (natural) e cuidado para permitir a João Moutinho manter a intensidade em todos os minutos que disputa. O internacional português continua jogo após jogo a comprovar que a verdadeira intensidade está na cabeça. Lê o jogo antecipa cenários e faz tudo com uma simplicidade muito bonita. Ganha duelos por conseguir estar no tempo certo à hora certa e com bola continua a ter qualidade superlativa. Enquanto o corpo o permitir será sempre um dos mais entusiasmantes jogadores em Portugal. Sabe resistir ao ímpeto de atacar sem pés nem cabeça, guardando a bola para si e fazendo-na circular, mas quando decide acelerar também faz passes que abrem o campo e criam vantagens. É o principal organizador do jogo do Braga conferindo-lhe fluidez e critério constantemente e na meia final da Taça da Liga, tornou-se visível sem se dar por ele.

    2.

    Rodrigo Zalazar
    Fonte: Filipe Oliveira / Bola na Rede

    Rodrigo Zalazar (Braga): Os principais destaques do Braga estão, neste momento, por dentro. Bruma está lesionado, Álvaro Djaló mesmo jogando a partir da faixa, tem funcionado quase como segundo avançado (ou avançado a solo) e Ricardo Horta e Pizzi têm liberdade para jogar por dentro e jogar-se aos três médios do Braga.

    Rodrigo Zalazar, à semelhança de João Moutinho, não pegou de estaca no onze do Braga, mas é um jogador diferenciado nos arsenalistas. Já falhou – e continuará a falhar – mas as vezes em que acerta compensam quaisquer falhas e jogar no risco, a nível ofensivo, tem recompensado os arsenalistas.

    Se começou por jogar como um dos dois elementos do duplo-pivô do Braga, neste momento Rodrigo Zalazar joga praticamente como um terceiro médio, mais avançado no terreno e sem as mesmas obrigações sem bola, principalmente na transição defensiva. Ganha liberdade para aparecer no corredor, compensando os movimentos dos falsos extremos, e aproveita o impulso para ter vantagens na condução. Arrisca no passe no último terço e tem uma meia distância como poucas em Portugal. Artur Jorge demorou um pouco a compreender o diamante que tem em mãos, mas tem sabido retirar o melhor sumo possível do médio.

    3.

    Abel Ruiz Leo Ostigard
    Fonte: Filipe Oliveira / Bola na Rede

    Abel Ruiz (Braga): Um dos momentos mais fortes desta edição da Taça da Liga é o discurso de Abel Ruiz na flash interview depois do golo decisivo diante do Sporting. Um peso que saiu das costas de um jogador que se revelou um ser humano. Importa não esquecer que, antes de pessoas, os craques da bola são jogadores.

    A afirmação de Simon Banza e de Álvaro Djaló retiraram protagonismo a Abel Ruiz no Braga. O avançado perdeu espaço e confiança e não marcava desde outubro. Saltou do banco para dar a vitória num lance definido de forma perfeita (coloca Ricardo Esgaio fora do lance e ataca a bola sozinho depois da movimentação) que mudou radicalmente o jogo.

    Se os homens não se medem aos palmos, os avançados também não se devem medir só pelos golos. Abel Ruiz falha muito em frente à baliza, mas tudo o que oferece à equipa fora da área é de se valorizar. Oferece apoios frontais de qualidade, sabe movimentar-se para arrastar defesas e procura associar-se com os colegas. Tem qualidade técnica em condução e no drible curto e faz tudo com uma estética que impressiona. Pensar no futebol como um espetáculo é também valorizar jogadores como Abel Ruiz que, por muitas imperfeições que tenha no momento de rematar a bola para a baliza, joga no corpo de um cisne. Numa temporada aquém das expectativas, pode ter na Taça da Liga a rampa de lançamento.

    4.

    Daniel Figueira
    Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

    Daniel Figueira (Estoril Praia): Fez a exibição da carreira na meia-final da Taça da Liga. Dani Figueira perdeu a titularidade no campeonato para Marcelo Carné, mas tem aproveitado os jogos nas Taças para brilhar.

    Não é o jogador que mais dá que falar no Estoril Praia, mas as duas defesas que fez na primeira parte diante do Benfica (uma com os pés a remate de Rafa outra depois de uma saída para encurtar o espaço de Di María) merecem a sua presença nesta lista. Levou o jogo para os penáltis com uma defesa do outro mundo e nas grandes penalidades também se destacou. Um guarda-redes suplente sabe que tem de aproveitar todas as oportunidades para brilhar.

    Falta-lhe outra consistência para ser indiscutível. Apesar da brutalidade entre os postes que apresenta, ainda comete alguns erros posicionais que limitam as abordagens. Falta também outra segurança a jogar com os pés e nas saídas aos cruzamentos para dar o salto. Melhorando estes aspetos, Dani Figueira tornar-se-á semana após semana um guarda-redes ao nível do que apresentou na meia-final. Por agora, destacam-se a agilidade, a velocidade nos reflexos e a capacidade na mancha e nos voos. A nível mental está também, certamente, moralizadíssimo e pronto para dizer presente novamente.

    5.

    Mateus Fernandes João Neves Benfica Estoril
    Fonte: Paulo Ladeira / Bola na Rede

    Mateus Fernandes (Estoril Praia): Não estará em campo, quer do lado do Estoril Praia, quer mesmo do lado do Braga, um jogador com um teto tão alto. A evolução de Mateus Fernandes em apenas seis meses deixa água na boca para a carreira do médio.

    Mateus Fernandes sorriu com a vitória com o Braga e que lhe permite disputar a final. Ganhassem os leões e este espaço estaria destinado a Rodrigo Gomes, o mais infeliz da noite. Quanto ao Sporting, olhará para este jogo com especial atenção. Daqui a uns anos o meio-campo do Estoril Praia com Mateus Fernandes e Koba Koindredi pode ser o titular dos leões.

    Na senda dos paralelismos com o Sporting, Mateus Fernandes é o produto mais parecido da academia verde e branca com Matheus Nunes. As semelhanças estão para além do nome. Lateraliza à esquerda, vê o jogo de frente e bate a pressão em condução. Queima linhas em posse e com critério e consegue definir. A capacidade de condução e de posicionamento, para receber a bola sem pressão ou para arrastar jogadores, são as melhores armas de Mateus Fernandes que mostra ainda atributos no passe e qualidade técnica quando em espaços curtos. Sem um médio mais posicional, como o é Jordan Holsgrove, continua a ser o médio que se adianta na pressão pela capacidade de recuperação em momento defensivo. Está talhado ao sucesso.

    6.

    Rafik Guitane
    Fonte: Diogo Cardoso / Bola na Rede

    Rafik Guitane (Estoril Praia): Se o Sporting olhará com especial atenção para o meio-campo do Estoril, o Benfica – se os pesadelos o permitirem – voltará a acompanhar de perto todos os movimentos de Rafik Guitane.

    Desde que aterrou em Portugal que se perceberam em Rafik Guitane qualidades para se afirmar e chegar a patamares elevados. O franco-argelino tem no sangue a qualidade futebolística, o atrevimento e a irreverência do futebol do Norte de África que levou Zinédine Zidane e Karim Benzema a chegar ao estrelato.

    Não terá a companhia de Rodrigo Gomes no corredor, mas já mostrou na meia-final da Taça da Liga que não precisa de muito para provocar estragos. Parte da direita para o centro com a bola colada ao pé esquerdo, aposta no drible e arranja sempre espaço para mais uma finta. O futebol continua a ser dos jogadores e dos fantasistas acima de tudo. Transporta-nos para outro mundo com as malabarices que faz com a bola e acrescentou ao seu jogo o golo. São já seis esta temporada, a mais concretizadora na carreira do extremo que além de alimentar sonhos, também alimenta a máquina goleadora do Estoril Praia.

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