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Força da Tática: Os riscos e defeitos do Sporting de Marco Silva

força da tática
Novembro de 2014: o mês em que tanto se afirma que o Sporting pratica o melhor futebol de Portugal como que tem o campeonato perdido. Declarações antagónicas mas, mais do que isso, demasiado extremistas – jogar o melhor futebol é relativo porque o jogo se divide em vários momentos que ora o Sporting domina, ora não; ter o campeonato perdido, quando faltam 26 jornadas, também será uma constatação precipitada. Mas que equipa, defeitos e virtudes tem Marco Silva ao seu dispor para provocar tais reacções? Hoje, centrar-me-ei nos defeitos do Sporting. Na próxima semana, falarei das suas qualidades.

Em comparação com a equipa de Leonardo Jardim, este Sporting é muito mais arrojado. Em todos os momentos, Marco Silva assume ideias mais arriscadas – deverá ser essa a causa dos extremos protagonizados por esta equipa, ora demasiado boa, ora demasiado má. Atacar bem e defender mal não são consequências independentes mas há uma grande margem para conseguir ajustar os erros defensivos sem perder a irreverência e as dinâmicas do momento ofensivo. Simplificando, o Sporting também defende pior porque quer atacar melhor, mas os defeitos dos verde-e-brancos não se esgotam nesta causa-efeito.

A linha (?!) defensiva e a corda que falta a Marco Silva

O principal problema do Sporting 2014/2015 tem sido, indiscutivelmente, a linha defensiva que joga à frente de Rui Patrício. Muito se fala – e bem! – da falta de qualidade dos centrais do Sporting, mas aquilo que tem de se começar a analisar é a forma como se comportam os mesmos. Mais do que se erram ou não um passe, um desarme ou uma qualquer outra acção individual onde o treinador pouca ou nenhuma influência tem, os comportamentos colectivos da linha defensiva do Sporting roçam o aleatório e este é o mais urgente dos problemas a solucionar. O constante espaço entre os dois centrais ou entre os centrais e os laterais leva a pensar que este é um momento do jogo que Marco Silva deixa ao improviso dos seus defesas e, se assim for, não há qualquer hipótese do Sporting vir a ter um sucesso consolidado. A defesa zonal é a mais eficiente das formas de defender mas também a mais exigente para o treinador: requer tempo e, sobretudo, repetições atrás de repetições até que tudo fique bem automatizado. Claro que quanto mais fracos são os executantes, mais trabalho terá o treinador. Um método simples de se entender é o da corda: se os quatro defesas imaginarem que existe uma corda a ligá-los, os seus movimentos serão sempre uniformes e o espaço entre eles desaparecerá porque assim que o lateral esquerdo a puxe para a linha lateral, o central do seu lado cobrirá de imediato o espaço deixado vago e esta sucessão repetir-se-à até ao lateral direito que fechará o espaço interior anteriormente ocupado pelo central do seu lado. No fundo, trata-se de um jogo de ajustes e coberturas que ajudariam a solucionar parte dos problemas do Sporting e que reduziriam as hipóteses dos adversários penetrarem pela linha defensiva leonina.

Repare-se na distância entre Sarr, que sai na contenção a Salvio, e Maurício que não fecha o espaço interior. Outros lances como o 2º golo do Schalke em Alvalade também serviriam de exemplo
Repare-se na distância entre Sarr, que sai na contenção a Salvio, e Maurício que não fecha o espaço interior. Outros lances como o 2º golo do Schalke em Alvalade também serviriam de exemplo

O controlo (ou falta dele!) da profundidade

Este é um sub-problema da linha defensiva do Sporting: importa esclarecer este pormenor para que não se confundam os dois pontos. É que se a linha defensiva leonina é o principal problema da equipa, e é de facto, dentro das suas funções é o controlo da profundidade onde mais sofrem os defesas de Marco Silva. Por controlo da profundidade entendemos o defender o espaço nas costas dos defesas. Aqui é onde entra o risco das ideias do treinador português: Marco Silva quer pressionar alto e, por isso, tem de subir a defesa para evitar espaço entre sectores. Só ainda não consegue defender a distância que coloca entre a sua última linha e a baliza de Patrício. E se os espaços entre centrais e laterais ou entre os próprios centrais são facilmente corrigidos, o controlo da profundidade é provavelmente o aspecto defensivo de maior complexidade. Envolve demasiadas variáveis que obrigam os próprios jogadores, na altura, a entender o contexto que os obriga a comportarem-se de múltiplas formas distintas. Se o adversário com bola estiver pressionado (com uma contenção), a linha defensiva não desce porque o adversário não vai conseguir fazer um passe a procurar a profundidade; se o adversário estiver livre e sem qualquer oposição, os defesas têm de recuar de forma a garantir que têm espaço e tempo de interceptar um passe feito para as suas costas. Mas de nada serve um defesa descer e o outro não: é esta a complexidade – ou se comportam todos de igual forma ou o problema continuará. Se um descer e os outros ficarem, o fora-de-jogo não é accionado e o espaço está gerado. Se descerem três e um ficar, continua a haver um espaço aberto pelo defesa que não agiu em conformidade com os seus colegas.

Neste momento do jogo, tem valido ao Sporting a principal qualidade de Rui Patrício: o 1×0 em que é exímio. O internacional português é dos melhores guarda-redes do mundo a sair aos pés do adversário e a fazer a mancha. Assim se explica a notoriedade que Patrício tem assumido nesta época. Mas, se pensarmos, Patrício acaba por solucionar muitos dos problemas que também poderia contribuir para evitar. Tivesse o guarda-redes do Sporting a competência para sair da baliza como tem, por exemplo, Neuer, e não seriam muitos os lances de avançados isolados resolvidos à nascença? Claro que Neuer é de outro mundo, mas Patrício poderia e deveria assumir outra preponderância nestes momentos. Repare-se na quantidade de vezes em que o Chelsea, num só jogo, consegue explorar a profundidade da defesa leonina:

A falta de qualidade dos centrais e… o arriscar pouco

Depois de tanto falar da coragem de Marco Silva… eis que chega a hora de lhe apontar um pormenor em que poderia arriscar mais. A falta de qualidade individual dos centrais do Sporting é notória e por certo que o treinador português terá noção, tão ou mais clara do que qualquer adepto, dessas mesmas limitações dos seus centrais. Num outro artigo já abordei a importância dos centrais nos modelos de jogo ofensivos e que se querem dominadores, como o do Sporting. Ora, sendo peças tão importantes e estando à vista de todos que os centrais leoninos (Sarr e Maurício) são perfeitamente incapazes de dar as respostas às exigências de Marco Silva, por que não tentar uma adaptação? Falo de Oriol Rosell. O trinco espanhol é um jogador que se destaca pela inteligência, que já vimos tão importante nos centrais, e que lhe alia uma capacidade técnica mais do que suficiente para a posição em questão. Não sendo especialmente forte ou agressivo, também não é fraco nem macio e, mesmo que fosse, os fortes e duros Maurício e Sarr já provaram vezes suficientes que não são esses atributos que definem a valia do central que deve jogar ao lado de Paulo Oliveira. Neste caso, é mais arriscado experimentar Rosell ou insistir em Maurício/Sarr… ?

Não merecerá Rosell mais oportunidades se comparado com Sarr, na foto, ou Maurício, fora dela? Fonte: Sporting
Não merecerá Rosell mais oportunidades se comparado com Sarr, na foto, ou Maurício, fora dela?
Fonte: Facebook Sporting

O eclipse de William Carvalho

William Carvalho foi, na época passada, o melhor jogador do Sporting e a solução para (quase) todos os males que o muito rígido modelo de jogo de Leonardo Jardim originou. E é exactamente por aí que se inicia a mudança: ao contrário de Leonardo Jardim, Marco Silva adoptou um modelo extremamente fluído em que cada jogador tem de assumir uma maior zona de acção. E, se de forma geral concordo com a fluidez imposta, em relação ao melhor trinco do campeonato considero que o que lhe tem sido exigido é oposto ao que de melhor pode oferecer. Já dizia Cruyff que quanto mais espaço temos para defender, pior o faremos. É uma lógica simples e inequívoca. O que Marco Silva quer, com a pressão alta e a vontade de recuperar a bola o mais rapidamente possível, exige de William que defenda uma zona muito maior, principalmente se o adversário conseguir ultrapassar a primeira zona de pressão. Quantas vezes viu William a defender em espaços altíssimos? Hoje, o Sporting defende em 4x4x2 com João Mário a juntar-se ao avançado na primeira linha. Mas não foi isso que mudou, André Martins já o fazia com Jardim. O que mudou foi o local do campo em que essa pressão acontece – bem mais acima no terreno, o que leva Adrien e William a defenderem uma zona substancialmente maior e, por isso, a terem mais dificuldades nesse momento. Não se enganem: o Sporting pressiona muitíssimo bem! Já fez muitos golos proporcionados por essa pressão (Benfica, Belenenses, Porto 2x, etc) e muitos outros ficaram por marcar. O problema surge quando a pressão é ultrapassada. Cabe ao treinador entender se vale, ou não, os riscos assumidos.

Nos aspectos não mencionados em cima o Sporting não é perfeito. Também não lhe é exigido que o seja pura e simplesmente porque ninguém no campeonato português o é. Mas em praticamente todos os outros momentos o Sporting ou é o melhor conjunto do campeonato ou é tão bom quanto o melhor. Por isso se diz que joga o melhor futebol de Portugal: aquilo em que é melhor é aquilo de que as pessoas mais gostamMas aquilo em que é pior é o que faz as equipas serem capazes de ganhar provas de regularidade.

Foto de capa: Facebook Sporting

O Passado Também Chuta: Ângelo Martins

o passado tambem chuta

Quero falar do Ângelo Martins. Como muitos se recordam e outros tantos sabem, foi jogador do Benfica. Pertenceu ao Benfica bicampeão da Europa e pertenceu ao grupo que vinha dos anos 1950. Mas não é deste Ângelo que quero falar; quero falar do outro, do que fabricou na ilha de madeira no Campo Grande muitos, muitos jogadores de grande nível. Foi polémico ainda antes de chegar ao Benfica. Um problema de duplicidade de contratos irradiara-o do futebol. No entanto, quando tinha 20 anos e andava de farda em Santarém, o Benfica lembrou-se dele, lembrou-se daquele miúdo que comia a relva a jogar pelo Académico e que o FC Porto tanto cobiçava. O Benfica solucionou a questão da sua irradiação, e incorporou-se, novamente, no mundo do futebol. Foi um privilegiado, teve grandes companhias assim que chegou em 1950. Foi colega, entre outros, do Rogério e do Félix e acabou a meio da década de 1960 na companhia do Eusébio e do Simões, tendo pelo meio a companhia de jogadores como o José Águas, o Costa Pereira ou o Germano.

Mas eu quero o outro Ângelo, quero aquele que treinou nos juniores do Benfica um colega de colégio meu, o Casquinha, e que fabricou craques sem parar. Dois dos melhores jogadores que pisaram os relvados portugueses depois da época dos bicampeões passaram pela sua cátedra: Fernando Chalana e Humberto Coelho. No entanto, a capacidade de um treinador de formação não se mede, exclusivamente, pelas estrelas que projeta; mede-se pelo número de jogadores que, não sendo estrelas, chegaram a bom nível. Os craques, durante anos, podem não aparecer, no entanto, jogadores com bom nível aparecem se alguém os sabe formar e alentar. Era mais que menino e moço quando ia muitos domingos pela manhã ao Campo Grande, um campo que era do Sporting mas, devido a acordos passados, era desfrutado pelo Benfica. Vi o Nené jogar os primeiros 45 minutos pelo Benfica, vi o Humberto Coelho comandar a defesa dos juniores do Benfica, vi o Raul Águas, o Manuel José, o Camolas, o Vieira, o Arcanjo, o Guerreiro, vi o irmão do Eusébio, o Jujú, jogar também os primeiros 45 minutos pelo Benfica; vi-os e também vi muitos mais, e quem estava no banco, quem estava na cátedra: Ângelo.

Estou a dar nomes, mas alguns leitores podem perguntar-se: e então o Jordão, o Alves, o Vítor Martins, o Artur?… Sim, sim, também esses e mais, muitos mais. O Rachão, que era um médio que arrasava, tal como o Manuel José, nos juniores do Benfica. Passou pelas mãos do Ângelo, também, o Shéu, que foi um trinco sensacional. O Benfica, no tempo do Ângelo, não só alimentava a sua equipa de seniores; das suas camadas saíram jogadores que brilharam a grande altura noutras equipas como, por exemplo, o Guerreiro e o Arcanjo no Vitória de Setúbal. Tanto um como outro conheceram a equipa das quinas.

Hoje o Benfica procura outros alimentos; não sei se faz bem ou mal mas não gosto. Aqueles juniores, quando passavam a seniores, se tinham o caminho barrado, iam para outros clubes mas continuavam a pertencer à casa. A massa associativa alegrava-se dos seus êxitos. O Ângelo Martins, além de um craque como jogador que tinha a garra benfiquista, foi um mestre maiúsculo. E foi humilde, nunca se abraçou aos louros; dizia que o grande mérito era dos jogadores e fundamentalmente do Benfica.

Foto de capa: Sara Matos

Votações BnR: Manuel Neuer entre os três finalistas à Bola de Ouro

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Encerrou-se hoje uma nova votação no Bola na Rede destinada a escolher o 3.º nomeado à Bola de Ouro, para além dos crónicos candidatos, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Os leitores do nosso site já decidiram:

votaçao

Manuel Neuer, guarda-redes do Bayern Munique, foi o eleito dos votantes com 34% dos votos. Em segundo lugar ficou Di María, do Manchester United, com 23% e em terceiro Arjen Robben, extremo que também representa os alemães do Bayern, com 13%. Concordam com a escolha? Teremos, neste ano, um trio de finalistas composto por Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Manuel Neuer?

Entretanto, no nosso site está disponível uma nova votação (lado esquerdo da nossa sidebar). Podem, desde já, escolher aquele que acham que vai ganhar a Bola de Ouro deste ano, destinada ao melhor treinador do ano. Têm 10 opções e podem escolher o vosso favorito. A votação encerra no final deste mês.

Boas votações!

Foto de Capa: Flickr (Anas Alsaidy)

Ádrian López, o respigador

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a minha eternidade

Com uma sucessão de planos cinematográficos aos quadros de Millet, Breton e Hédouin se inicia o filme “Les glaneurs et la glaneuse”, que, na tradução portuguesa, significa “Os respigadores e a respigadora”. Inspirando-se principalmente num quadro de Jean-François Millet, “The gleaneurs” – que traduzindo para português significa “Os respigadores” –, a cineasta belga Agnès Varda, um dos rostos mais icónicos da Nouvelle Vague francesa, centra a sua observação sobre o respigar contemporâneo. Historicamente, o acto da respiga dava-se no final das colheitas agrícolas, quando se procuravam as espigas que ficavam pelo caminho nas searas e não podiam ser desperdiçadas, sendo por isso procuradas com avidez para a sua recolecção.

Os respigadores actuais, retratados neste brilhante documentário cinematográfico, são pessoas, na sua maioria muito podres e mendigos, que apanham do chão para não desperdiçar, que rebuscam nas sobras dos mercados, que procuram restos nos caixotes do lixo para comer. O que esta realizadora nos mostra com mestria é que estes respigadores da sociedade contemporânea não são muito semelhantes àqueles que aparecem nas pinturas da respiga que se vêem nos museus. Apesar das parecenças no acto de “dobrar espinhas” e de se baixarem para apanhar do chão, existem, no entanto, motivações muito distintas para tal acto na contemporaneidade. Outrora para aproveitar e não desperdiçar; hoje, maioritariamente, por fome. A própria realizadora torna-se uma respigadora, com a sua pequena máquina digital: vai “respigando” imagens, entrelaçando planos melancólicos e alegres, enquanto apanha resquícios da terra. Este filme demonstra a sociedade antitética em que vivemos, consciencializando os espectadores para o seu desperdício quotidiano, mas também para a perspicácia humana em aproveitar, em transformar, em nunca desperdiçar.

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Agnès Varda, cineasta belga e autora de “Os respigadores”
Fonte: cultura.estadao.com.br

Ádrian López chegou ao Futebol Clube do Porto vindo do Atlético de Madrid, a equipa sensação da época passada, campeã espanhola e finalista da Liga dos Campeões. Nos colchoneros não era habitualmente titular, mas foi um jogador extremamente importante na campanha soberba dos madrilenos, tendo contribuído positivamente em muitos jogos. Agora este jogador vem sendo desconsiderado pelas suas exibições cinzentas. A comunicação social tem sido implacável nas críticas e os adeptos portistas têm pelo asturiano uma grande intolerância, como se viu no último jogo, onde foi bastante assobiado pelos adeptos visitantes, que não ficaram agradados com mais uma exibição paupérrima deste avançado, desta feita diante do Estoril-Praia.

O principal problema da entrada de Ádrian na equipa do Porto não pode ser visto apenas pela comparação directa, individual e posicional, com o colega que substitui. Os efeitos nefastos da sua entrada em campo não se prendem pelo défice de qualidade em relação ao concorrente directo que senta no banco. Quando Ádrian entra, o sistema muda. Mais gravoso ainda, arrasta consigo uma alteração basilar no modelo de jogo. Não acho Ádrian López mau jogador; antes pelo contrário, reconheço-lhe grandes qualidades como futebolista profissional. Com a sua inclusão em campo, o Porto abandona o tradicional 4x3x3, passando a explanar-se num 4x4x2, com o nuestro hermano como segundo avançado. Este sistema e este posicionamento específico, no apoio ao ponta-de-lança, até favorecem as características do espanhol. No Atlético de Madrid, Ádrian também era segundo avançado e jogava num sistema de 4x4x2. As divergências estão na distinta interpretação do sistema, originando um modelo com dinâmicas divergentes. O Atlético de Madrid jogava em bloco baixo, procurando sair em contra-ataques rápidos. Outra diferença está também no ponta-de-lança com quem emparelhava. Uma coisa é jogar com Jackson Martinez que recua e procura apoios para jogar com a equipa, outro enquadramento é jogar com Diego Costa, que procura a profundidade. Em Madrid, Ádrian era, na maioria dos casos, segundo avançado e procurava invadir o espaço central em velocidade, acompanhando os raides de Diego Costa. Está, portanto, habituado a jogar em ataque rápido com adversários expostos e em recuperação. No Porto, tem de jogar em ataque posicional e continuado, numa troca de bola pausada e apoiada.

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Ádrian López foi decisivo no Atl. de Madrid mas tarda em confirmar as suas qualidades no FC Porto
Fonte: Facebook oficial de Ádrian López

Lopetegui está a ser muito atencioso com o avançado espanhol. Percebe que é em 4x4x2 que este jogador mais rende e, por isso, altera o sistema para tentar retirar rendimento máximo do seu pupilo. Mas, com esta atitude benevolente para com o seu jogador, está o prejudicar todo o colectivo, rotinado para jogar com três médios. Com a sua entra em campo, a equipa fica descompensada na perda de bola e desligada nos movimentos ofensivos. O ex-Atlético de Madrid não consegue ser médio, não tem ainda movimentos de avançado, é incapaz de ganhar segundas bolas e não consegue fazer ainda qualquer tipo de ligação positiva com os colegas. Sendo mais preciso, em momento defensivo, o Porto fica arrumado em 4x4x2, sem capacidade de pressão e ocupação de espaços a meio-campo. Em momento ofensivo, os “azuis e brancos” comportam-se em 4x4x1x1, ficando o espanhol num nenúfar isolado, estático, só, incomunicável.

Vejo Ádrian e faz-me lembrar um pouco Varela, jogadores semelhantes na arte da “respiga”. Não são atletas que criem espaço para os outros, são incapazes de abrir crateras nas defensivas adversárias com passes no espaço, não desequilibram desde a faixa se forem os elementos mais procurados para uma acção fantasista. Ádrian, como Varela, brilham mais quando procuram os “restos”, as “migalhas” deixadas pelas acções dos seus companheiros. Penso nas parcerias do “Drogba da Caparica” com Hulk e do espanhol com Diego Costa. Depois das acções destes dois furacões futebolísticos, com as suas arrancadas fulminantes, utilizando uma força imparável e um remate portentoso, apareciam em ajuda, estes dois jogadores (Ádrian e Varela), que “brilham quando são sombra”. Varela mais tecnicista, melhor no drible e no cruzamento; Ádrian um pouco mais interior – são, no entando, jogadores similares nessa inteligência que têm, não para criar jogo, mas para lhe responder. Não são originais, não são estrelas a desequilibrar do nada; são sim exímios em reutilizar o génio de terceiros, finalizando jogadas que outros desperdiçaram.

Lopetegui percebe a capacidade respigadora de Ádrian em 4x4x2: é aí que o atacante espanhol sacia a sua fome futebolística. Mas julgo que o treinador deve sacrificar o melhor futebol de Ádrian em benefício do colectivo. Se o quiser colocar em campo, talvez seja mais seguro no 4x3x3 habitual, junto a uma das faixas (preferencialmente a esquerda). Embora nesse posicionamento, o espanhol não consiga pôr em prática o seu melhor futebol, terá a companhia de uma equipa mais rotinada. A inteligência, o desenrasque e a sagacidade de um hábil respigador como Ádrian são características que permitirão (se bem enquadradas tacticamente pelo treinador) alguma contribuição positiva para o grupo.

Foto da capa: Facebook oficial de Ádrian López

Entre o mal e o bem

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coraçãoencarnado

Bem-vindos a mais um “Coração Encarnado”. Esta semana vou tentar falar um pouco de tudo, na tentativa de tocar os pontos essenciais que na minha opinião afectam alguns benfiquistas. 

Começando pelo menos bom: aquele jogo da Choupana deu para roer demasiadas unhas. Tal como o meu homónimo Francisco Vaz de Miranda escreveu no rescaldo desse mesmo jogo, “um Benfica eficaz e a jogar q.b. foi suficiente para trazer os três pontos da Choupana.” Pois é, aquela segunda parte deu para muitos gritos, murros e quase um computador partido. Um Benfica sem chama, cansado, e o pior de tudo, sem meio-campo. Era aí mesmo que queria chegar: ao nosso meio-campo, ou à falta dele. A inexistência deste sector leva-nos a ter cada vez menos bola, a perder eficácia na forma como lidamos com ela quando a temos, e pior do que tudo, leva a que jogadores como Enzo ou Talisca não possam dar tudo o que têm (pois é, mesmo com o nosso Rivaldo a marcar por todos os lados eu acredito que, com um meio-campo sólido, o “miúdo” poderia ter bem mais liberdade na frente). Mas não me fico por aqui; como disse anteriormente, Enzo é um dos maiores prejudicados desta realidade: o argentino anda muitas vezes perdido em campo, sem saber onde tem de compensar; por fim, Enzo anda demasiadas vezes a ter de funcionar como “número seis”, tal é a incapacidade de jogadores como Samaris. E apesar de tudo o que tenho ouvido, a verdade é que não vejo forma de solucionar este problema e por isso confesso que estou preocupado – e cada vez mais focado na data em que Sílvio e Fejsa voltam aos relvados – esses sim, serão os grandes reforços de Inverno.

Em seguimento dos meus últimos comentários, não poderia deixar de referir que quando Eliseu voltar aos relvados sou da opinião que deve ser André Almeida a ocupar a posição de trinco, de forma a dar mais liberdade e coerência durante o jogo a Enzo. Esquecendo a segunda parte do último Domingo, foquemo-nos no que aí vem (até porque ganhámos dois pontos aos nossos rivais directos… sorriso de líder, lá está ele outra vez).

A partida na Choupana foi uma verdadeira "luta" para o Benfica Fonte: Facebook do CD Nacional
A partida na Choupana foi uma verdadeira “luta” para o Benfica
Fonte: Facebook do CD Nacional

Prosseguindo nesta caminhada, queria deixar uma palavra ao mister: algo tem de ser feito naquele meio-campo e claramente Talisca não é o homem certo para jogar a “oito”. Percebo que a limitação de opções seja uma realidade, mas há muito mais a fazer: Samaris trabalha com a equipa há mais de três meses, como é possível que não tenha sequer ideia do que são as rotinas da sua posição? Mais, se puseres (Jesus, deixa-me tratar-te por tu) o Enzo a trinco, por que não dar uma oportunidade ao Samaris ou ao Cristante para jogarem mais à frente no meio-campo? Têm treinado assim tão mal? Finalmente, sempre que Eliseu não puder ajudar, por que não meter André a “seis” e dar mais uma oportunidade a Benito? Bem sei que aquele jogo em Covilhã deixou muito a desejar, mas mesmo assim parece-me mais prudente do que simplesmente jogar sem meio-campo como aconteceu na semana passada. Uma palavra de alento para o mister, que no fim do jogo da Choupana foi criticado pela entrada de Samaris – na altura concordei com a alteração, pena que o grego (mais uma vez) não tenha correspondido. 

Agora vamos animar um pouco mais o tema. Falar de Júlio César, esse Guardião com G grande. Bem-vindo, campeão; quero que sejas o meu anjo da guarda para sempre. Tudo o que fazes, fazes bem! Sinto-me bem mais seguro e já não tremo nos cantos defensivos. Continua a trabalhar e não te esqueças: todos os dias massagem nessas costas… 

E o que vem no fim sabe melhor. Liderança. Sorriso de líder. Continuamos com isso tudo, apesar das fracas exibições. Benfiquistas, não ouçam o que por aí anda a ser dito porque, falo por mim, eu quero é sorrir no fim e a verdade é que o nosso caminho está a ser traçado. Estamos em boa posição de passar na Liga dos Campeões (o nosso Coração Encarnado vai aquecer aquela Rússia e já estou a ver Talisca a “metê-la” no ângulo outra vez). Quero-vos preocupados, mas com a equipa. Com receio, mas sem medo. Com consciência dos problemas que ultrapassamos, mas com sorriso de líder durante o dia todo. E por fim, com a noção de que nenhum de nós olha para cima, de que já estamos habituados a jogar (muito) mais a partir de Janeiro e de que por enquanto temos muito mérito na caminhada percorrida.

Uma palavra de apoio para todos os familiares e amigos do corajoso José Luís Vaz, que após cinco décadas a trabalhar de corpo e alma para a instituição do Sport Lisboa e Benfica nos abandonou na tarde de ontem. Um abraço caloroso, com a esperança e o foco no próximo jogo da Taça com o Moreirense. Vejo-vos no próximo Sábado.

Foto de capa: Flickr (Tom Brogan)

O reino do leão já não é o que era?

porta

Nos 20 meses de liderança de Bruno de Carvalho muito mudou para melhor no Sporting. Quer se goste ou não do estilo, da forma de estar e do discurso do presidente leonino, a verdade é que BdC transformou um clube partido e sem futuro numa estrutura organizada e com um rumo definido.

Muito foi dito e realçado sobre a nova vida que a entrada desta nova direcção deu ao Sporting, a reestruturação financeira, a boa relação com os adeptos e sócios do clube e os bons resultados da equipa sénior de futebol. No entanto, algo parece ter-se perdido pelo caminho, algo importante e que orgulha todos os Sportinguistas; refiro-me à formação do clube.

A época passada, a primeira completa durante a presidência de BdC, foi um desastre a nível de resultados nas camadas jovens. Depois de em 2012/2013 o Sporting ter vencido o Campeonato em Juvenis e Iniciados, o Sporting não conseguiu vencer nenhum título na temporada transacta. O responsável máximo da Academia do Sporting, Virgílio Lopes – homem da confiança do presidente e antigo jogador do clube – depara-se neste momento com uma enorme crise em Alcochete; e cada vez mais surgem críticas sobre o seu método de trabalho e a forma como abordou a formação do clube.

Ao longo dos últimos dois anos a saída de treinadores e elementos ligados à formação tem sido uma constante, várias personalidades ligadas ao passado recente de conquistas leoninas já não fazem parte do elenco da Academia e outros passaram a desempenhar novas funções, como por exemplo José Lima. Entre tantas trocas e ajustes, o Sporting parece ter perdido qualidades e não lidera a classificação em nenhum escalão, sendo que em juvenis os leões ocupam um decepcionante quarto lugar da tabela classificativa.

Virgílio Lopes tem vários problemas para resolver na Academia de Alcochete Fonte: Sporting.pt
Virgílio Lopes tem vários problemas para resolver na Academia de Alcochete
Fonte: Sporting.pt

Mais preocupante do que os resultados é a falta de qualidade aparente dos jovens leoninos. O Sporting, clube formador de excelência e (ainda?) principal referência a nível nacional parece estar a perder a capacidade de polir as suas pérolas e algumas delas já foram “roubadas” pelos principais rivais. Este ano todos os adeptos Sportinguistas podem assistir à maioria dos jogos das camadas jovens através do canal do clube, mas muito frequentemente são presenteados com exibições deploráveis, mesmo contra equipas teoricamente mais fracas, como Torrense, Estoril, Sacavenense ou Beira-Mar de Almada.

A presença dos juniores do Sporting na UEFA Youth League foi também um autêntico desastre. Derrotas contra Schalke, goleada sofrida na recepção ao Chelsea e respectiva eliminação da competição na fase de grupos são a prova de que este Sporting está muito longe daquele que encantou em duas edições consecutivas da NextGen Series.

O Sporting vive nesta altura um momento de decisão; tem de encontrar de novo o caminho para os seus valores e para algo que faz parte da identidade do clube. A formação sempre foi um dos maiores orgulhos leoninos, e imperativamente tem de o continuar a ser. Bruno de Carvalho gosta de se rodear de elementos da sua confiança e que partilhem os seus valores – o que é louvável – mas precisa de que esses mesmos elementos reúnam qualidade e experiência. Não questiono o Sportinguismo nem a vontade de ajudar o clube em pessoas como Virgílio Lopes, mas tenho de questionar a sua capacidade para ocupar o cargo.

É certo que basta ao Sporting qualificar-se em segundo lugar para ter acesso à fase final dos respectivos campeonatos nacionais, mas ainda assim o Sporting dificilmente poderá assumir-se como o principal favorito à vitória em cada um dos escalões de formação. Mais preocupante e complicado será os leões conseguirem ser de novo a principal referência da formação nacional.

Portugal 1-0 Arménia: Vitória às três tabelas!

cab seleçao nacional portugal

Portugal alcançou hoje uma vitória tão importante quanto suada frente à Arménia. Dos arménios, que haviam estado em vantagem nos jogos diante da Sérvia (1-1) e Dinamarca (2-1), não se esperavam que facilidades. Aos portugueses pedia-se que controlassem, dominassem e ganhassem o jogo.

Fernando Santos, que continua 100% vitorioso em jogos oficiais, procedeu a três alterações em relação ao onze do jogo com a Dinamarca – o luso-francês Raphael Guerreiro saltou para o lugar do lesionado Eliseu na lateral-esquerda, Bosingwa roubou o lugar de lateral-direito a Cédric e Hélder Postiga regressou à titularidade, remetendo William Carvalho para banco. Se as duas primeiras mexidas pouco impacto tiveram na dinâmica da equipa – embora Raphael e Bosingwa pareçam melhores opções do que Eliseu e Cédric -, a substituição de um médio defensivo (William) por um ponta-de-lança (Postiga) revolucionou o esquema táctico.

Fernando Santos continua a acreditar que Ronaldo deve jogar zona central – hoje, em vez do 4-4-2 losango com Danny e Ronaldo na frente de ataque, tivemos um 4-2-4 com a dupla Tiago/Moutinho a assumir a responsabilidade de fazer o a ponte entre a defesa e um ataque em que Danny partia da esquerda e Nani da direita para apoiar os dois melhores marcadores da selecção portuguesa em actividade – Ronaldo e Postiga.

Postiga rendeu William no onze  Fonte: FPF
Postiga rendeu William no onze
Fonte: FPF

A selecção de Henrikh Mkhitaryan e companhia entrou em campo preparada para discutir o jogo e durante os primeiros vinte minutos o número de ataques, de remates e de ocasiões de perigo foi repartido. Fechando muito bem o meio, partindo com critério e velocidade para o contra-ataque e beneficiando da falta de acerto no passe dos portugueses, os visitantes começaram por chegar com bastante frequência à baliza de Rui Patrício – uma tendência que se foi esfumando ao longo da partida.

Ao intervalo, Portugal já merecia estar vantagem pelo número de oportunidades criadas e e já se podia queixar de uma grande penalidade clara que ficou por assinalar sobre Danny. Na segunda parte, o domínio de Portugal foi mais intenso, mas Portugal continuava sem conseguir encontrar-se verdadeiramente. Jamais foi avassalador, nunca conseguiu mostrar um fio de jogo, raramente construiu uma jogada com “cabeça, tronco e membros”. Nem os livres de Ronaldo – todos embatendo na barreira – davam alento às bancadas.

Quase quatro anos depois, Bosingwa regressou à selecção... e parece ter agarrado o lugar  Fonte: FPF
Quase quatro anos depois, Bosingwa regressou à selecção… e parece ter agarrado o lugar
Fonte: FPF

Foi já com Éder e Quaresma em campo que a turma de Fernando Santos se mostrou mais incisiva. O “cigano” empurrou Nani para o meio e trouxe algum rasgo ao ataque de Portugal. Foi dos seus pés que nasceu o lance do golo – investiu sobre o adversário pelo lado direito da grande área, rematou para defesa apertada do capitão arménio, a bola ressaltou nos pés de Nani e foi parar a Ronaldo, que, à segunda, acabou mesmo por apontar o 52.º golo com a camisola da selecção e o 23.º em Campeonatos da Europa, sagrando-se assim o melhor marcador de sempre da competição (incluindo fases de apuramento e fases finais), destronando o eterno ponta-de-lança dinamarquês Jon Dahl Tomasson.

Até final, nota para duas oportunidades perdidas por Éder – a primeira, a cruzamento de Ronaldo, foi tão escandalosa que não se pode falhar; a segunda, na sequência de um canto de Quaresma (sim, o Quaresma conseguiu marcar um canto soberbo!), resultou num míssil ao poste esquerdo da baliza de Berezovsky –, para a entrada de William Carvalho em campo para o lugar de Nani aos 87’ – só a partir daí Portugal começou a jogar no “antigo” 4-3-3 – e para mais dois penalties favoráveis a Portugal que o jovem árbitro grego Anastasios Sidiropoulos não viu.

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Com o golo de hoje, Ronaldo bateu mais um recorde e deu tranquilidade à equipa
Fonte: FPF

Notas finais: Ricardo Carvalho, um monstro no jogo com a Dinamarca, cometeu alguns erros e podia mesmo ter sido expulso perto dos 90′; Bosingwa continua a ser, aos 32, um autêntico “tractor” e disse “presente” de forma bastante veemente; Tiago e Moutinho, dois médios muitíssimo experientes e completos, tiveram alguma dificuldade para gerir o meio-campo, uma vez que se encontravam quase sempre em desvantagem numérica (o jogador do Atlético de Madrid falhou demasiados passes, especialmente na primeira metade), mas subiram de rendimento no segundo tempo; Nani melhorou quando passou para a zona central; Danny trata muito bem a bola e tem provado que merece ser aposta; Ronaldo, apesar do golo, esteve desinspirado, falhou muitos passes, não acertou com os remates e tomou várias decisões disparatadas; o ataque português precisa de algumas rotinas – a descoordenação entre os seus elementos foi evidente durante quase todo o jogo.

Em suma, este foi um jogo foi aborrecido e mal jogado durante a maior parte do tempo. Portugal continua inconsistente e há vários meses – porventura desde o duelo com a Suécia – que não arranca uma exibição “de encher o olho”. Valeram (novamente) os três pontos, porque, na verdade, esta foi uma vitória às três tabelas. Veremos como se comportam os “nossos” meninos contra a poderosa Argentina em Old Trafford, num jogo que nada decide.

Quaresma tem correspondido à confiança que Fernando Santos deposita em si  Fonte: FPF
Quaresma tem correspondido à confiança que Fernando Santos deposita em si
Fonte: FPF

A Figura

Ricardo Quaresma – entrou e decidiu… outra vez. Depois sair do banco para cruzar para a cabeça de Ronaldo em Copenhaga, hoje construiu a jogada que resultou no golo de recarga do capitão português. Trouxe imprevisibilidade e magia ao último terço, desequilibrou quase sempre que tocou na bola e merece, por isso, um rasgado elogio. Também o estreante Raphael Guerreiro e o regressado Bosingwa se exibiram em bom plano e merecem destaque positivo.

O Fora-de-Jogo

Hélder Postiga – ainda longe da sua melhor forma (e todos sabemos o que vale Postiga na sua melhor forma), lutou como sempre mas nunca conseguiu acrescentar grande coisa ao jogo de Portugal. Andou sempre perdido em campo. Até Éder, que tem 0 golos em 15 jogos pela selecção, fez muito mais do que o ponta-de-lança do Deportivo.

Foto de capa: Facebook das Seleções de Portugal

O fenómeno Brahimi

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Fenómeno era o adjetivo dado a Ronaldo Nazário de Lima, o Bola de Ouro brasileiro e um dos melhores avançados da história do futebol! Atualmente surgiu um novo fenómeno no futebol: ياسين إبراهيمي, mais conhecido por Yacine Brahimi, o argelino que tem encantado Portugal, a Europa e o Mundo.

Desde cedo que Brahimi esteve na mira dos mais atentos graças à sua boa performance nos campeonatos jovens franceses e, naturalmente, sobre ele recaíam grandes expetativas! Fruto das suas boas exibições, foi convocado para as seleções francesas mais jovens, tendo ainda participado num Torneio de Toulon e num Europeu sub-19! Mais ainda: só não participou num Europeu sub-21 porque a seleção gaulesa perdeu o jogo do play-off de qualificação. Por conseguinte, Brahimi chegou a chamar a atenção do Arsenal; porém, por uma ou outra razão, a transferência acabou sempre por não se realizar. Em 2012, abandonou o Rennes, de Franç,a rumo ao Granada, de Espanha – e já na altura era “um pecado” este jogador ingressar no referido clube, dadas as suas qualidades acima da média.

Espalhou a sua magia nos relvados espanhóis, tendo alcançado o título de maior desequilibrador na última temporada, com uma média superior a cinco fintas por jogo (batendo Messi e Cristiano Ronaldo). Durante este período, Brahimi, cuja nacionalidade é franco-argelina, recebeu o convite para representar a seleção africana e aceitou (essa escolha tardia justifica que, aos 24 anos, apenas tenha realizado 13 jogos pela seleção Argelina). Toda esta ascensão na sua carreira levou Brahimi ao Mundial do Brasil 2014. No Brasil, Brahimi voltou a demonstrar as suas imensas qualidades, ajudando o seu país a chegar aos oitavos de final da Copa, ficando muito próximo de eliminar a futura campeã, Alemanha.

Após todo este percurso de crescimento e evolução, foi elevado o número de equipas que demonstrou interesse por este jogador – destacam-se o Real Madrid, que acabou por contratar James Rodriguez; o PSG, que estava na dúvida entre Brahimi e Di Maria (e que acabou sem nenhum destes jogadores); e o FC Porto, que, possivelmente com a ajuda de Ghilas, convenceu o argelino a rumar ao Dragão.

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Brahimi tem sido o maior dos destaques portistas nesta época
Fonte: fcporto.pt

A nova estrela do FC Porto tem sido claramente a grande figura do plantel de Lopetegui e um dos nomes em destaque no Campeonato português. Na Liga dos Campeões, Brahimi tem encantado o público, tendo sido crucial no apuramento da equipa azul e branca para a próxima fase. Para além disso, conseguiu ser o primeiro jogador africano a marcar três golos num jogo da prova milionária.

Atualmente, Brahimi encontra-se entre os candidatos a melhor jogador africano, a melhor jogador africano para a BBC e é grande candidato a melhor jogador da CAN2015. Diariamente é alvo de um conjunto notícias da imprensa dos quatro cantos do mundo e são muitos os colegas de profissão que não poupam elogios ao argelino. Brahimi convence pelas suas fintas, pelos seus golos, pela forma como é capaz de tirar o melhor rendimento dos seus colegas e também pela sua humildade.

A maior curiosidade em redor deste fenómeno é o “ataque islâmico” às redes sociais do FC Porto. Independentemente da notícia publicada pelo FC Porto, são milhares os fãs que deixam os seus comentários, não a comentar o conteúdo da notícia, mas a elogiar Brahimi – “Brahimi <3” é, por norma, o comentário mais frequente. Teria a sua graça o clube publicar uma notícia falsa que relatasse que o FC Porto tinha perdido por muitos golos a zero e Brahimi tinha sido expulso, e observar quais os comentários que iriam surgir! Sendo árabe, o povo argelino é conhecido pela sua adoração fanática aos seus ídolos, ao seu Deus; deste modo, falar de Brahimi é quase elevar um jogador de futebol a um patamar de adoração divino.

Por todos os motivos supramencionados, Brahimi é inegavelmente uma grande contratação do FC Porto! Este jogador não permanecerá de Dragão ao peito por muito tempo; todavia, poderá ser um dos jogadores mais rentáveis ao FC Porto, à semelhança de Ricardo Carvalho, Deco, Pepe e, mais recentemente, Mangala, Hulk, Falcao e James. É igualmente certo que terá sido uma das maiores apostas involuntárias da história no que concerne ao marketing, não tivesse Brahimi despertado o mercado árabe. E, por fim, graças ainda a este fenómeno, o FC Porto ganha dia após dia adeptos nos quatro cantos do mundo.

Foto de capa: fcporto.pt

Uma família de Campeões

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cab desportos motorizados

O Mundial de Motociclismo deslocou-se até à Comunidade Valenciana para o último grande prémio da temporada, onde a festa estava já garantida. Foram 197.000 adeptos das duas rodas a marcarem presença, no total dos três dias de prova. Um número exorbitante para os portugueses, mas que em Espanha é mais do que habitual. E num fim-de-semana em que a chuva poderia ser uma presença constante. Imaginem se o sol tivesse aparecido.

Das três classes existentes na competição- moto3, moto2 e MotoGP- só a classe mais baixa ainda não tinha campeão do Mundo. Algo que teria, obrigatoriamente, de mudar. E mudou. Tanto Jack Miller como Alex Marquez tinham a festa preparada. Mas foi o espanhol que levou a melhor.

Num ano em que o campeonato esteve ao rubro em todas as classes, eram muitos os assuntos que se poderiam abordar nesta retrospectiva do mundial. Mas a festa das duas rodas terminou com a festa dos dois irmãos que conquistaram os títulos das respectivas categorias: Marc Marquez em MotoGP, Alex Marquez em Moto3.

Falar do apelido «Marquez» é falar de campeões. Contam já com cinco títulos e o ano de 2014 foi de ouro para os dois irmãos que têm uma paixão comum: as duas rodas.

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Os dois irmãos têm uma paixão comum: as duas rodas
Fonte: instagram.com

Na classe rainha, o miúdo que corre como se de um veterano se tratasse (ainda que os mais críticos do piloto espanhol possam alegar falta de responsabilidade na sua pilotagem agressiva) sagrou-se campeão no grande prémio do Japão.

Em Moto3, Alex Marquez foi a aposta da Honda e da KTM para atacar o Mundial. Jack Miller foi o seu adversário mais directo ao longo dos meses e quase iniciou uma campanha «Anti irmãos Marquez». O australiano chegou a criticar o estilo agressivo de pilotagem de Alex, que tal como o irmão Marc não tem medo de arriscar e leva cada corrida até ao limite.

No final, na última corrida, Miller subiu ao mais alto do pódio mas o segundo lugar levou Alex Marquez a conquistar o Mundial de Moto3. O golpe final estava dado e foi visível o sentimento de frustração na cara de Miller.

Mas sejamos sinceros nesta análise… Para ser campeão do Mundo em qualquer categoria do Mundial é preciso algo mais do que talento, coisa que aos irmãos Marquez não falta. É preciso uma estrutura sólida, uma capacidade fora do normal para lidar com a pressão de cada grande prémio, e uma moto que esteja desenvolvida o suficiente para se destacar da concorrência. E todos estes pré-requisitos estão no seio da família Marquez.

É normal que os irmãos sejam acusados de demasiada agressividade, mas são ambos jovens e não querem saber dos limites. E isso é visível nos títulos conquistados este ano.

Marc «arrumou» com a concorrência na primeira metade do campeonato e soube gerir de forma inteligente – ainda que tenha cometido alguns erros que lhe custaram a vitória – a vantagem que tinha. Não satisfeito com o alcançado, foi quebrando recordes atrás de recordes. Parecia que não havia impossíveis para o espanhol.

Já o seu irmão Alex, a competir na classe mais baixa do Mundial onde a exigência é igualmente elevada, só conseguiu alcançar o título na última corrida. Um autêntico teste à capacidade de concentração do espanhol que não vacilou e venceu.

Encontrados os campeões, é tempo de pensar já na próxima temporada que conta com o regresso da Suzuki e da Aprilia à grelha de partida da classe rainha. Os primeiros testes da pré-temporada de 2015 já começaram; contudo, é demasiado cedo para fazer previsões. Só os testes de Inverno nos darão dados que permitem fazer alguma futurologia sobre como será a temporada de 2015.

As duas rodas vão para a garagem, mas prometem voltar. E nós também!

A vontade de Frederico Gil

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cab ténis

O tenista português Frederico Gil colocou recentemente uma fotografia no seu perfil do Facebook afirmando que “a vontade continua” e que está em “exames médicos e físicos para preparar a próxima temporada”.

Falar de Frederico Gil é quase o mesmo que falar de Vanessa Fernandes ou Fábio Paim, dando exemplos de outros desportos. Nós sabemos que o talento está lá, a vontade de triunfar também; só não sabemos quando estarão novamente mentalmente preparados para os esforços da competição.

Quem fala negativamente de Frederico Gil pode ser mal entendido em Portugal. Eu não o quero ser. Cresci com Frederico Gil, joguei ténis federado enquanto Frederico Gil era a grande estrela portuguesa e fiquei mais vezes acordado para ver Frederico Gil do que para ver João Sousa. Tenho pelo tenista sintrense um carinho especial, mas a verdade é que se o ténis português muito nos deve, nós também o podemos “pressionar”, no bom sentido, a voltar a ser o que era.

Isto porque o ténis português precisa de um jogador como o Frederico Gil. De alguém que sabe o que é estar no topo e estar em baixo, de alguém que sabe o que é transportar a esperança de um país às costas. Quem não se lembra do que vibrámos na final do Estoril Open, quando nesse mesmo dia o Benfica foi campeão? A tarde foi passada a vibrar com o ténis. O ténis português.

Para além do que Frederico Gil representa para o comum dos adeptos portugueses de ténis, o tenista é também um activo importante para os agentes e promotores do ténis em Portugal. Em 2010 salvou o Estoril Open mais caricato de sempre a João Lagos, e agora, pontuando pelos Futures realizados em Portugal, vai distribuindo simpatia e experiência pelos torneios recentemente criados em Portugal.

Frederico Gil representa para o ténis português o início daquela que pode vir a ser a verdadeira geração de ouro. A geração de João Sousa e Gastão Elias, e numa outra, a de Frederico Silva, e este outro Frederico, o Gil, é o “pai” de toda esta geração moderna do ténis português, que tem mostrado saber dar passos sólidos que a leve a patamares mais elevados.

O finalista do Estoril Open tem certamente muito a dar ao ténis quando decidir “encostar a raquete”, mas a julgar pela sua vontade de jogar ainda terá certamente algo a dar dentro dele, embora, e isto são factos, completar o ano de 2014 com uma vitória num future e uma meia-final não seja um indicador francamente positivo para alguém que já conquistou tanto como Frederico Gil.

Veremos então o que reserva o ano de 2015 ao tenista português.