Depois de 50 anos sem conquistar uma única Premier League, os adeptos do Chelsea deixaram de sonhar. Porque, conforme se lhes apresentava, o destino parecia ter algo contra eles, e a taça que certifica o seu detentor como o maior do reino de Inglaterra parecia não querer meter os pés na sala de trófeus de Stamford Bridge. Os blues já não conseguiam deixar-se levar pela ilusão, porque esta lhes parecia má conselheira e só lhes trouxe amargo de boca.
O dia 30 de Abril de 2005 não foi diferente. É certo que a mente de cada um dos adeptos blues fervilhava ao pensar que o jogo daquela tarde poderia resultar na matança de um borrego cheio de barbas e pêlos brancos (cinco décadas) e que uma vitória bastava para experimentarem a alegria que os seus antepassados tiveram. 11 pontos era a diferença para o 2º classificado (Arsenal) e 12 eram os pontos em disputa, mas o jogo era fora e o adversário tinha na defesa nomes conceituadíssimos como Fernando Hierro, Vincent Candela ou o experiente Jaaskelainen e na frente prodígios como Jay Jay Okocha e El Hadji Diouf… Para além disso, parecia que aquele dia era uma partida que o destino quis pregar a quem já tanta ilusão criara mas que nada produzira senão lágrimas de desgosto.
O jogo começou, e a equipa parecia descaracterizada. Subitamente insegura de si, como que não merecendo a glória que se avizinhava. A agressividade desnecessária (uma amarelo logo aos cinco minutos) e as hesitações impensáveis de uma defesa que até então se revelara ser um porto seguro eram a prova maior desse desconforto que foi aumentando e se arrastou até ao final da primeira parte, encerrada com um teimoso 0-0. Esperava-se uma revolução à saída dos balneários, mas tal não aconteceu. Parecia não haver comunhão de ideias, uma desorganização ofensiva que impedia os blues de criarem perigo e que prolongou o pensamento de um sonho que nunca viria…
… até que, numa bola pontapeada pelo guarda-redes dos blues a partir da àrea do Chelsea, ganha a meio-campo pelo distintamente loiro da equipa e que caprichosamente sobrou para o número 8 após cabeceamento do ponta-de-lança, os sonhos começaram a parecer possíveis outra vez. Os adeptos levantaram-se das cadeiras impulsionados por um tomo de ilusão que, surpresa, ainda restava. Ele ganhou na raça a um dos mais conhecidos defesas do futebol mundial (Vincent Candela), tirou outro adversário do caminho e, carregando no seu pé direito a força do sacrifício de 50 anos de equipas diferentes, das lágrimas de crianças pelas derrotas da sua equipa, da frustração de todos os que muito viveram mas nada viram o seu querido clube conquistar, disparou para o fundo das redes contrárias. 1-0.
Lampard celebra o golo que marcou o início da era mais gloriosa do Chelsea Fonte: AP/Dailymail
O tempo passara devagar a partir daí e parecia que, a qualquer momento, o sonho que afinal voltara a existir na mente dos adeptos do Chelsea poderia desmoronar-se como tantas vezes acontecera no passado… Mas, 16 minutos volvidos, outra vez o número 8, vindo de trás com uma velocidade impulsionada por toda uma crença renovada de milhares de adeptos, isolado perante o guardião contrário, fintou-o e só teve de encostar para confirmar o fim e o ínicio. O fim do conformismo, da proibição de sonhar, da frustração, da tristeza, da desilusão, da derrota. O início da euforia, das conquistas, do sonho, da ilusão, da vitória.
Começou-se a sonhar em Stamford Bridge a partir daí. Esse fora o primeiro de muitos canecos que viriam a “calhar” na sala de troféus do estádio até hoje, volvidos 9 anos… e tudo graças ao pé direito do número 8. Frank Lampard. Um nome e um número que pertencem juntos, casados pelo Chelsea.
A história dos blues mudou naquela altura em que o futuro capitão visara as redes do Reebok Stadium. Começou uma nova era, a mais gloriosa do Chelsea, e Lampard, com toda uma disponibilidade e entrega que só foram limitadas pelo desgaste dos anos, foi a figura central.
No dia em que anuncia o fim de uma ligação tão bonita e histórica para o mundo do futebol como foi a dele com os blues, é justo recordar os dois golos apontados ao Bolton, que começaram a lenda da camisa azul com o número 8, cravada no coração de cada adepto de futebol.
O Campeão voltou… e o título não escapou. O Atlético Ouriense voltou a sagrar-se campeão nacional de futebol feminino, depois de uma vitória caseira frente ao Clube Albergaria por 3 a 1. Os golos de Manaus (1) e Diana Silva (2) foram o culminar de um objectivo há muito seguido. Em dia de eleições europeias a equipa de Ourém – agora bicampeã – garantiu também a presença nos playoffs para a Champions Feminina do próximo ano. Depois de uma longa e muy disputada temporada, a festa voltou a ser vermelha.
Atlético Ouriense em festa após a conquista do campeonato pela segunda época consecutiva.
Fonte: Nuno Abreu / Notícias de Ourém
Uma longa estrada rumo ao bi
Muito antes do apito inicial, as atletas de Ourém sabiam que estavam obrigadas a ganhar para garantir o título de campeão. A vitória absolutamente fulcral por uma bola a zero sobre o A-dos-Francos na jornada anterior catapultou o Atlético Ouriense para o topo do campeonato, que havia sido liderado pela equipa das Caldas da Rainha praticamente desde o seu começo. Apenas um ponto separava as duas equipas à entrada da sexta e última jornada da fase de apuramento de campeão do campeonato nacional de futebol feminino, mas nem sempre assim o foi.
Ao longo da época 13/14 que agora chega ao fim, muitos foram os obstáculos e adversidades que as atletas de Ourém tiveram de enfrentar. Depois de terem sido eliminadas dos playoffs de acesso à Liga dos Campeões (a passagem é um feito ainda por atingir por uma equipa portuguesa), as campeãs em título fizeram jus à condição e tiveram um início de temporada fulminante, com bom futebol e vitórias expressivas. À sexta jornada da fase regular encontram o A-dos-Francos, equipa recém-promovida que, à semelhança do campeão, mantinha um registo de 5 vitórias em 5 jogos até ao momento. As jogadoras das Caldas saem vencedoras da primeira batalha, e iniciam assim a sua longa liderança no topo do campeonato nacional.
Mas a guerra ainda só há pouco havia começado, e o pior estava para vir. Duas jornadas depois, é o Clube Futebol Benfica que dita a segunda derrota do Ouriense. Numa fase regular de 10 equipas (18 jornadas) e extremamente aguerrida, o Atlético Ouriense somou 7 vitórias e duas derrotas na primeira volta, seguindo em segundo com 21 pontos, menos três do que o primeiro. Depois disso, a equipa orientada por Mauro Moderno voltou a perder por três vezes. A última, novamente com o Clube Futebol Benfica, foi devastadora para as ambições da equipa – cinco a zero, o que deixava o Ouriense a 9 pontos do líder, A-dos-Francos, e remetia a equipa para o quarto lugar, o último de acesso a fase de apuramento de campeão. Era agora mais do claro que algo não estava bem. Desinspirada, a equipa não era a mesma que havia destronado o 1º Dezembro um ano antes, e a revalidação do título começava a fugir a largos passos. Era preciso fazer alguma coisa, e rápido.
A derrota por 5 a 0 em Benfica foi um verdadeiro ponto de viragem para a equipa de Ourém.
Fonte: futebolfemininoportugal.com
Após o desaire em Benfica, Mauro Moderno abandona o comando técnico da equipa. Marco Ramos, treinador das camadas jovens do clube com provas dadas e conhecedor da estrutura do Ouriense, é o substituto. A fase de apuramento de campeão estava apenas a duas jornadas de distância. A situação não era fácil. Em Ourém receava-se que a equipa já fosse tarde demais para um ataque bem-sucedido ao título, com Clube de Futebol Benfica fortíssimo na parte final da fase regular, um Albergaria sempre perigoso e um A-dos-Francos que teimava em não sair da frente do campeonato.
Mas o campeão em título mostrou as suas verdadeiras cores. Sob a liderança de Marco Ramos e com um espírito renovado, o Atlético Ouriense carimbou a passagem à final da Taça de Portugal feminina, a jogar-se dia 7 de Junho no Jamor, e entrou fortíssimo na fase de apuramento do campeão nacional. Depois de ter batido em casa o A-dos-Francos por 1 a 0 e ter finalmente passado para a frente da classificação, seguia-se o jogo da derradeira decisão, desta vez contra o Clube Albergaria. Com o A-dos-Francos a ter de fazer uma complicada deslocação ao terreno do Clube Futebol Benfica, o tão ansiado título estava agora à distância de uma vitória. Era o tudo ou nada, e as jogadoras de Ourém sabiam-no.
O Campeão Voltou
Obrigadas a ganhar para assegurarem o título, o Atlético Ouriense entrou em campo ciente de que ainda nada estava garantido. Organizadas no 4-4-2 losango que tanto as caracterizou ao longo da temporada, as campeãs em título mostraram rapidamente ao que vieram, com Manaus a abrir o marcador logo aos 5 minutos de jogo. A avançada cabo-verdiana, que assinou grandes exibições na recta final da temporada, rematou de ângulo apertado e rapidamente pôs o Ouriense bem colocado para a renovação do título de campeão nacional. Aos 22 minutos, balde de água fria para os que já contavam com uma calma vitória das atletas de Ourém – Andreia Norton empata a contenda para o Albergaria com um potente cabeceamento no coração da área. Ao intervalo, tudo empatado. A ansiedade começava a apoderar-se da equipa do Ouriense, que tinha 45 minutos para garantir o bicampeonato. No segundo tempo, Diana Silva foi a heroína da tarde depois de ter assinado dois golos de belo efeito “à ponta-de-lança”, como se diz na gíria.
Diana Silva rubricou uma excelente exibição na segunda parte do encontro, tendo sido a autora dos dois golos que deram a vitória à equipa de Ourém.
Fonte: Nuno Abreu / Notícias de Ourém
A avançada internacional por Portugal, de apenas 18 anos, foi responsável por um belo chapéu na sequência de um canto aos 66 minutos e mostrou uma frieza aterradora ao finalizar uma jogada de contra-ataque aos 79. No final, até podiam ter perdido (o A-dos-Francos perdeu por 2 a 0 em casa do Clube Futebol Benfica), mas vale a pena ver e rever os melhores momentos do jogo que consagrou o Atlético Ouriense como campeão nacional de futebol feminino pela segunda vez consecutiva. E como no futebol é sempre melhor ver do que ler, deixo o leitor com a reportagem que o tvfatima.com fez do jogo entre Ouriense e Albergaria.
A festa que se seguiu foi imensa. Num clima de euforia e felicidade, a equipa e os adeptos do Ouriense celebraram intensamente a conquista do campeonato depois de uma época longa e muito disputada. Logo após o final do jogo o treinador Marco Ramos, um dos grandes responsáveis pela revalidação do título, revelou ao Bola na Rede estar orgulhoso pela conquista e enalteceu o esforço das jogadoras do Ouriense.
Também ao Bola na Rede, e em pleno clima de festa, a capitã Ana Valinho relembra a excelente prestação da equipa na segunda fase do campeonato e prevê uma final difícil no Jamor frente ao Clube Futebol Benfica.
De todos os gritos e cânticos entoados durante a festa do bi – e acreditem que foram muitos e vociferados a alto e bom som – houve um em particular que se destacou: “ O Campeão não Morreu, o Campeão não Morreu!” Pessoalmente, e depois de ter acompanhado a temporada do Ouriense desde o início, diria mais. Não só não morreu, como está vivo e recomenda-se. Depois da euforia, a próxima paragem é o Jamor, com a Taça de Portugal e a dobradinha em mente. Espera-se um grande encontro entre estas duas equipas para fechar com chave de ouro aquela que foi uma das temporadas mais bem disputadas do Futebol Feminino Nacional. Quanto ao Campeão, perdão, Bicampeão, está de volta e mais forte do que nunca. Em apenas 3 épocas a equipa feminina do Atlético Ouriense conseguiu a promoção para o escalão principal, venceu-o em ano de estreia e consolida agora a sua posição com boas hipóteses de levar também a taça. Se a direcção do clube mantiver a aposta no futebol feminino nos anos que se seguem, quem sabe até onde esta equipa poderá chegar. Afinal, a qualificação para a Champions é já daqui a uns meses…
Logo após o apito final, o treinador Marco Ramos é levantado pelas jogadoras que celebram a conquista.
16 jogos, 8 vitórias, 4 empates, 4 derrotas, 27 golos marcados e 12 sofridos. Foi este o registo da Costa Rica na fase de qualificação da CONCACAF, suficiente para a selecção se consagrar como a defesa menos batida da quarta fase de qualificação (os melhores emblemas daquela região do globo participam apenas nas duas últimas). Aproveitando o facto de terem encontrado uma débil selecção do México, os “Ticos” – uma das alcunhas da equipa costa-riquenha – carimbaram o apuramento directo a duas jornadas do fim.
Tendo participado pela primeira vez num Campeonato do Mundo em 1990 (oitavos-de-final, a sua melhor classificação), a Costa Rica fará a terceira aparição nos últimos 4 mundiais (2002, 2006 e este ano). Concluiu o apuramento no segundo postocom 18 pontos, a quatro dos EUA e com um de vantagem sobre as Honduras. Ao longo da caminhada para o Brasil, os resultados mais sonantes foram as vitórias caseiras contra os EUA e contra o México (3-1 e 2-1, respectivamente). Actualmente, a “tricolor” ocupa o 34º posto no ranking da FIFA.
O país
A Costa Rica é uma das nações mais estáveis e desenvolvidas da América Latina. O país fica localizado entre a Nicarágua e o Panamá, numa zona particularmente montanhosa e florestada. Tem cerca de 4,5 milhões de habitantes e a sua capital é San José. Independente face a Espanha desde 1821, a Costa Rica possui uma democracia parlamentar consolidada desde há largas décadas, realidade apenas importunada pela curta ditadura de Federico Tinoco (1917-19) e pela guerra civil de 1948. Findo esse raro conflito, a Constituição determinou o fim das Forças Armadas nacionais, fazendo da Costa Rica um dos poucos países sem exército a nível mundial. Até Maio passado, a presidência estava a cargo de uma mulher.
Pontos de contacto com Portugal
Há três: são eles Randolph Galloway, Guilherme Farinha e os Jogos Olímpicos de 2004. O treinador inglês foi seleccionador da Costa Rica por breves momentos em 1946, passando mais tarde pelo Sporting (onde conquistou o tri-campeonato entre 1951 e 1953) e pelo V. Guimarães; Farinha é um treinador português radicado na Costa Rica, onde treina o Carmelita, tendo também conquistado o bi-campeonato com o Alajuelense; por último, nas Olimpíadas de Atenas, as selecções sub-23 portuguesa e costa-riquenha defrontaram-se na fase de grupos, jogo que resultou num incrível 4-2 favorável aos americanos. Umaña, Junior Díaz (do lado costa-riquenho), Bruno Alves, Ricardo Costa, Raul Meireles, Hugo Almeida e Cristiano Ronaldo (por Portugal) são os atletas comuns às selecções de 2004 e de agora.
Expectativa para o Mundial
Sejamos sinceros: de entre as 32 finalistas, a Costa Rica é, muito provavelmente, a selecção com menos hipóteses de passar a fase de grupos. Não só devido ao leque limitado de opções à disposição do seleccionador, mas também pelo facto de ter tido o azar de calhar no chamado “grupo da morte”. Os “Ticos” irão defrontar, por esta ordem, o Uruguai, a Itália e a Inglaterra – três selecções campeãs do Mundo que se mantêm muito fortes e que têm legítimas aspirações de chegar longe na prova. Ainda assim, se tivesse de apostar, diria que os dois adversários contra quem a Costa Rica pode conseguir pontos (mas nunca a vitória…) são a Itália e a Inglaterra, embora seja muito complicado. E o facto de Álvaro Saborío, o melhor marcador na fase de qualificação (8 golos), ter contraído uma lesão que o afastará do Brasil também não ajuda.
Mas a ausência do defesa-esquerdo do Everton Bryan Oviedo, igualmente por lesão, é a que mais preocupa. O dinâmico lateral poderia emprestar à equipa a qualidade e a experiência de futebol europeu – características que, desta forma, são da responsabilidade de jogadores como o guarda-redes Keylor Navas (Levante), o lateral-esquerdo Junior Díaz (Mainz), o médio Christian Bolaños (Copenhaga), o avançado Joel Campbell (Olympiakos) ou o craque Bryan Ruiz (PSV). No futebol não costuma haver certezas, mas neste grupo D há duas verdades (quase) absolutas: uma delas, incontornável, é que pelo menos uma das três selecções mais fortes irá soçobrar logo nos grupos; a outra, praticamente certa, é que a Costa Rica não conseguirá o apuramento para a fase seguinte. Contudo, os jogadores estarão conscientes das dificuldades e, mais do que ninguém, decerto também desejosos de que os jogos comecem, porque a oportunidade de disputar a competição mais importante do planeta não surge mais de um par de vezes na vida de um futebolista.
OS CONVOCADOS
Guarda-redes: Keylor Navas (Levante/ESP), Patrick Pemberton (Alajuelense/CRC) e Daniel Cambronero (Herediano/CRC)
Defesas: Johnny Acosta (Alajuelense/CRC), Giancarlo Gonzalez (Columbus Crew/EUA), Michael Umaña (Saprissa/CRC), Oscar Duarte (Club Brugge/BEL), Waylon Francis (Columbus Crew/EUA), Heiner Mora (Saprissa/CRC), Junior Diaz (Mainz 05/ALE), Cristian Gamboa (Rosenborg/NOR) e Roy Miller (New York Red Bulls/EUA)
Médios: Celso Borges (AIK/SUE), Christian Bolanõs (Copenhaga/DIN), Esteban Granados (Herediano/CRC), Michael Barrantes (Aalesund/NOR), Yeltsin Tejeda (Saprissa/CRC), Diego Calvo (Valerenga/NOR) e Jose Miguel Cubero (Herediano/CRC)
Avançados: Bryan Ruiz (PSV/HOL), Joel Campbell (Olympiakos/GRE), Randall Brenes (Cartaginés/CRC) e Marco Ureña (Kuban Krasnodar/RUS)
A ESTRELA
Bryan Ruiz, estrela e capitão dos “Ticos” Fonte: bryanruizcr.com
Poucos jogadores com 1,88m e um físico imponente tratam a bola como Bryan Ruiz. Em tempos associado ao Benfica e presente na lista de craques que Paulo Futre apresentou no célebre discurso da candidatura de Dias Ferreira à presidência do Sporting, o médio-atacante agora no PSV é, sem qualquer dúvida, o jogador em que os costa-riquenhos depositam mais esperanças. O seu futebol técnico, perfumado e esclarecido foi sendo aprimorado ao longo dos tempos, garantindo-lhe a presença no primeiro Mundial aos 28 anos. Na era pós-Paulo Wanchope (tido como o melhor futebolista que a Costa Rica alguma vez produziu), é Bryan Ruiz quem assume a batuta e dá substância às palavras partilhadas por um país inteiro, que estarão inscritas no autocarro da equipa: “A minha paixão é o futebol, a minha força é o meu povo, o meu orgulho é a Costa Rica”.
O TREINADOR
Jorge Luis Pinto Fonte: Zerozero
No comando da equipa desde 2011, Jorge Luis Pinto foi capaz, ao contrário do que tinha acontecido na sua primeira experiência enquanto seleccionador da Costa Rica (em 2004/2005, sem sucesso), de montar um grupo sólido e que conseguisse unir o país à sua volta. Aos 61 anos, o treinador colombiano, que falhou a qualificação para o Mundial 2010 com o seu país, tem em mãos aquela que será provavelmente a melhor geração de sempre de jogadores costa-riquenhos e também a que tem maior experiência europeia. Ainda assim, era difícil ter tido mais azar no sorteio do grupo. Para tentar contrariar a superioridade evidente dos adversários, Pinto precisará, antes de mais, de fazer duas coisas: corrigir a defesa de bolas paradas e tornar a equipa mais compacta, intensa e solidária, nomeadamente procedendo a uma aproximação dos sectores entre si quando não tem a posse da bola.
O ESQUEMA TÁTICO
O seleccionador deve apostar num 3-4-2-1 que, na prática, se transformará num 5-2-2-1: os alas não deverão subir muito, ainda para mais tendo em conta a ausência de Oviedo (Junior Díaz, jogador de cariz mais defensivo, deverá ocupar o seu lugar). No entanto, se se apresentar sem um pivot defensivo declarado, a equipa pode perder algum equilíbrio no sector recuado e expor em demasia os frágeis centrais. É exactamente por isso que o jovem trinco Yeltsin Tejeda tem vindo a ganhar importância na “tricolor”, uma vez que tanto Christian Bolaños (também fez vários jogos no meio) como Celso Borges não costumam ajudar muito a defender. Aliás, a equipa mantém por norma uma distância considerável entre sectores, o que não facilita as coisas na hora de proteger a baliza. Por outro lado, um meio-campo com apenas dois homens na zona central permitirá à Costa Rica colocar mais opções no ataque – no fim de contas, sem golos marcados não há vitórias. Lá na frente, a irreverência de Joel Campbell (veloz e difícil de marcar, gosta de cair nas alas e de abrir espaço para os companheiros) poderá permitir as entradas de Bryan Ruiz e de Bolaños, ou até mesmo de Borges. A Costa Rica privilegiará certamente um modelo de contra-ataque.
O PONTO FORTE: FIABILIDADE ENTRE OS POSTES
Keylor Navas, o melhor guarda-redes da Liga Espanhola em 2013/2014 Fonte: Liga BBVA
Após duas temporadas em que praticamente não jogou, o guarda-redes do Levante Keylor Navas agarrou a oportunidade no início da época e foi escolhido pela Liga BBVA comoo melhor guardião do campeonato espanhol, à frente de nomes como Victor Valdés, Thibaut Courtois ou Diego López. Um dos principais responsáveis pela época tranquila que a equipa valenciana realizou (10º lugar), Navas é possuidor de uma elasticidade e de uma bravura notáveis que o podem projectar para voos mais altos já no próximo período de transferências. Com a cotação em alta, o dono das redes costa-riquenhas também foi importante em vários jogos da fase de qualificação.
Nota também para Christian Bolaños (tecnicista e um dos jogadores mais esclarecidos), Bryan Ruiz (inteligência e virtuosismo de nível internacional) e Joel Campbell (esteve no Olympiakos por empréstimo do Arsenal e é a maior promessa da Costa Rica), que serão os homens mais adiantados e devem ser igualmente tidos em conta. É curioso constatar que os dois últimos teriam, muito provavelmente, lugar na frente de ataque da selecção portuguesa…
O PONTO FRACO: SOLIDEZ DO EIXO DEFENSIVO
Não obstante a qualidade na baliza, o sector mais recuado dos “Ticos” é a prova de como o futebol não é só estatística: apesar de ter sido o conjunto menos batido da última ronda da fase de qualificação (7 golos sofridos, menos um do que os EUA), a Costa Rica sempre denotou bastantes dificuldades em manter uma defesa sólida e organizada, nomeadamente nas bolas paradas. A falta de tarimba europeia dos defensores é uma realidade (jogam quase todos no campeonato local ou nos EUA), pelo que não é difícil adivinhar que o esquema com três centrais que Pinto montou tem como objectivo tentar disfarçar as debilidades no sector mais recuado. Resta saber se, mesmo a jogar em superioridade numérica face aos ataques, a defesa costa-riquenha vai conseguir manter a concentração exigida. Qualquer surpresa que esta selecção queira fazer no Brasil terá de sustentar-se numa retaguarda consistente, algo que parece não existir. E dificilmente Keylor Navas conseguirá defender tudo…
A época 2013/2014 foi um sonho para os reds. Não disputaram nenhuma competição europeia nem conquistaram nenhum título, mas voltaram a sonhar. Sonharam que podiam voltar a vencer a Premier League e a estar entre os grandes. No fim, falharam. Mas todo o trabalho não pode ser esquecido. O ponto alto? O regresso assegurado do Liverpool à Liga dos Campeões na próxima época. Ah! E a legitimidade de continuar a sonhar.
Com uma equipa jovem liderada pelo veterano Steven Gerrard, os pupilos de Brendan Rodgers foram a surpresa da Premier League na época transacta. Mas terão sido apenas a equipa surpresa ou terá sido o regresso à luta pelos títulos? Há muito que o Liverpool era afastado como candidato a vencer a Liga Inglesa, estabelecendo como objectivos a classificação para a Liga dos Campeões e a conquista de uma taça nacional. Algo manifestamente insuficiente para um clube com um passado glorioso como o do Liverpool. Mas o cenário mudou. Brendan Rodgers contratou os jogadores certos e incutiu-lhes uma cultura táctica de excelência. Tirou o melhor de cada um deles e conseguiu colocar o Liverpool na disputa pelo título até ao final do campeonato, acabando por ser distinguido com o prémio de Treinador do Ano.
Os reds terminaram em segundo e qualificaram-se para a Liga dos Campeões. Mas como vai ser a próxima época? Os residentes de Anfield estarão com imensas expectativas para a época que se avizinha. A tarefa não será fácil. Agora, há que juntar às provas nacionais uma competição europeia em que, com toda a certeza, o Liverpool quererá fazer boa figura e recuperar o seu prestígio. Rodgers mantém-se, o que é muito bom para trazer estabilidade ao clube. Mas Suaréz, um dos grandes motores da equipa – inclusive, galardoado com a Bota de Ouro -, poderá sair. Para além da possível saída do uruguaio, o capitão, Steven Gerrard, começa a vacilar. A idade começa a pesar e não se sabe até que ponto ele poderá continuar a actuar ao mais alto nível. Contratações têm de ser feitas para que o Liverpool possa manter o rendimento e, por fim, presentear os adeptos com os títulos que tanto desejam.
Gerrard e Rodgers são dois pilares fundamentais que se mantêm para a próxima época Fonte: Sky Sports
Os reds têm legitimidade para sonhar. Mas há que manter os pés nos chão. Uma equipa campeã não se constrói da noite para o dia. Há que introduzir alguma maturidade no plantel – jogadores mais experientes, para incutir disciplina e rigor aos jovens talentos. Brendan Rodgers tem todos os ingredientes para (re)colocar o Liverpool entre os grandes. Especialmente, caso se verifique a saída de Suaréz, com o orçamento que terá. O calendário será mais pesado. Um maior número de soluções é necessário. Assim, com uma boa gestão ao longo da época, com o apoio dos incansáveis adeptos e com a mesma sede de vencer, penso que o Liverpool poderá manter-se no topo na próxima época.
Gerrard, apesar da idade, conseguirá com certeza transmitir a paixão pelo clube e ir, assim, atrás da medalha que tanto deseja: a da Premier League. Há que começar a delinear a próxima época e estabelecer objectivos concretizáveis, que possam dar bases a este Liverpool de ambições renovadas. Na minha opinião, na próxima época vamos ter de novo o Liverpool entre os habituais candidatos ao título e ainda podemos esperar uma boa campanha europeia de uma equipa que regressa à Champions de orgulho ferido e com vontade de fazer todo um público esquecer estes anos de ausência.
A selecção da Bélgica disputou o seu primeiro jogo a 1 de Maio de 1904, tendo empatado 3-3 com a sua congénere francesa. Em 1906 foi apelidada de Red Devils (“diabos vermelhos”) pelo jornalista Pierre Walckiers, depois de uma vitória por 3-2 sobre a Holanda, em Roterdão. O ouro olímpico obtido em 1920 é um marco do seu percurso. No entanto, esta não é uma selecção de top internacional – volta à fase final de uma grande competição 12 anos depois (teve a última participação em 2002). A selecção belga esteve presente em 11 Campeonatos do Mundo, sendo que entre 1982 e 2002 participou em 6 edições consecutivas, tendo alcançado a sua melhor classificação (4º lugar) no Mundial de 1986, no México. Em termos de Campeonatos da Europa, já obteve um 2º lugar (1980, em Itália) e um 3º lugar (1972, na Bélgica). A década de 80 constituiu uma fase de grande prestígio internacional – uma geração de jogadores onde pontificavam, por exemplo, Eric Gerets, Jean Marie Pfaff ou Frank Vercauteren esteve em destaque. Actualmente, encontra-se posicionada em 12º lugar no ranking FIFA, mas o apuramento para esta fase final alcançado de forma categórica concedeu-lhe o estatuto de cabeça-de-série para o sorteio. Integra o grupo H, juntamente com a Argélia, a Rússia e a Coreia do Sul.
O seleccionador da Bélgica, Marc Wilmots, divulgou a 13 de maio de 2014 a lista de 24 jogadores pré-convocados para o Campeonato do Mundo de 2014. Até 2 de junho, terá que ser enviada a lista final de 23. Não há grandes surpresas nesta lista final, já que se contém os jogadores que foram habitualmente utilizados durante o apuramento. Salienta-se a inclusão de 4 guarda-redes, por prevenção, uma vez que Casteels e Proto se encontram em fases adiantadas de recuperação de lesões graves. Também se destaca o interesse do seleccionador em renovar a equipa, ao colocar dois jovens avançados de 19 anos, Divock Origi, do Lille, e Adnan Januzaj, do Manchester United. O primeiro para substituir, por lesão, o excelente avançado do Aston Villa, Christian Banteke, titular indiscutível desta selecção. Já o segundo, Januzaj, foi mesmo o caso mais mediático, uma vez que optou por representar a Bélgica, país onde nasceu, mesmo sendo filho de pais albaneses e kosovares e tendo sido também sondado para representar a Inglaterra (embora, neste caso, tivesse de esperar até 2017 para cumprir as regras da federação que obrigam a um período de residência de cinco anos em Terras de Sua Majestade).
OS CONVOCADOS (Pré-Convocatória de 24 elementos – a ser reduzida em breve)
Guarda-redes: Thibaut Courtois (Atlético Madrid/Esp), Simon Mignolet (Liverpool/Ing), Silvio Proto (Anderlecht) e Koen Casteels (Hoffenheim/Ale).
Defesas: Vincent Kompany (Manchester City/Ing), Thomas Vermaelen (Arsenal/Ing), Jan Vertonghen (Tottenham/Ing), Toby Alderweireld (Atlético Madrid/Esp), Daniel van Buyten (Bayern Munique/Ale), Nicolas Lombaerts (Zenit São Petersburgo/Rus), Anthony Vanden Borre (Anderlecht) e Laurent Ciman (Standard Liege).
Médios: Marouane Fellaini (Manchester United/Ing), Axel Witsel (Zenit São Petersburgo/Rus), Steven Defour (FC Porto/Por), Moussa Dembelé (Tottenham/Ing), Kevin de Bruyne (Wolfsburgo/Ale) e Nacer Chadli (Tottenham/Ing).
Avançados: Romelu Lukaku (Everton/Ing), Eden Hazard (Chelsea/Ing), Dries Mertens (Nápoles/Ita), Adnan Januzaj (Manchester United/Ing), Kevin Mirallas (Everton/Ing) e Divock Origi (Lille/Fra).
A ESTRELA
Eden Hazard Fonte: Daily Record
Podem identificar-se várias figuras na equipa – desde a classe do central e capitão de equipa Kompany (um dos esteios do campeão em Inglaterra, Manchester City, e um dos melhores centrais do mundo), passando pela capacidade física e de pressing dos médios Witsel, Dembélé e Fellaini (autênticos motores desta seleção), até à irreverência, imprevisibilidade e qualidade dos jovens avançados Lukaku, Januzaj ou Hazard. Centro a minha atenção neste último, especialmente depois dos comentários do técnico do Chelsea, José Mourinho (“um dos jogadores mais bem pagos do plantel deve render mais e ser mais consistente”). Este poderá ter sido o rastilho para Hazard querer dar uma resposta à altura no Campeonato do Mundo do Brasil. É um extremo jovem, inteligente, com larga margem de progressão, rápido, explosivo, muito evoluído tecnicamente, forte no um contra um, garantindo a posse de bola ou criando desequilíbrios através de combinações ou de passes de ruptura em acções individuais. Consegue aliar o talento à objectividade no último terço do campo, finalizando com qualidade e distinguindo-se como melhor marcador do Chelsea na época que agora terminou. Tem vindo, também, a melhorar a sua participação na organização defensiva da equipa, colocando as suas capacidades individuais ao serviço do colectivo, conferindo-lhe a dimensão de estrela nesta selecção. Foi distinguido pela Associação de Jogadores Profissionais de Inglaterra como o jogador jovem do ano.
O TREINADOR
Marc Wilmots Fonte: Fox Sports
Marc Wilmots: tem 45 anos de idade e fez carreira como jogador de futebol, avançado, especialmente na Alemanha, onde representou durante vários anos o Schalke 04, clube onde terminou a sua carreira e onde se sagrou campeão, tendo também vencido a Liga Europa. Como internacional representou a sua selecção por 70 vezes, tendo participado em 4 Campeonatos do Mundo de Futebol – o último em 2002 (organizado por Coreia e Japão) -, tendo capitaneado a sua selecção com 33 anos de idade na última participação da Bélgica em Campeonatos do Mundo de Futebol. É, portanto, uma figura emblemática do futebol belga da década de 1990. Começou a sua carreira de treinador no Schalke 04, tendo assumido o cargo de selecionador nacional em 2012, depois de 3 anos como treinador adjunto e pode dizer-se que é um dos responsáveis pela renovação do futebol belga.
A seleção belga organiza o seu modelo de jogo num 4-2-3-1 assente numa defesa de 4 jogadores experientes e seguros e um meio-campo de combate, com dois médios com características mais defensivas e três médios ofensivos com muita qualidade, a que se junta um avançado jovem e possante, conferindo velocidade e irreverência ao seu ataque. A capacidade técnico-táctica dos seus jogadores, especialmente do meio-campo para a frente, também lhe permite abordar o jogo num 4-4-2, colocando Witsel e Fellaini como médios mais recuados e dando a Hazard e De Bruyne ou Mirallas a responsabilidade de fechar os corredores laterais do meio-campo, com dois pontas-de-lança bastante móveis como são Lukaku e Mertens.
O ESQUEMA TÁTICO
O PONTO FORTE
A experiência de grande parte dos seus jogadores nas melhores ligas de futebol (especialmente na Premier League e na Bundesliga), é a grande mais-valia desta selecção, que conjuga a maturidade, especialmente no sector mais recuado, com a capacidade física e qualidade técnica dos seus jovens jogadores do meio-campo para a frente. É uma equipa segura a defender e com grande capacidade de pressão no meio-campo adversário. Apresenta semelhanças com o estilo de jogo da selecção holandesa, com um futebol envolvente, assente na posse de bola e no domínio do jogo, dando protagonismo aos seus excelentes médios e avançados.
O PONTO FRACO
A irreverência e a juventude poderão ser, no entanto, um ponto fraco da equipa no processo ofensivo. Não apresentam nenhum avançado experiente e consagrado. Por outro lado, a ausência de laterais ofensivos pode condicionar o desenvolvimento do seu futebol, especialmente nos jogos com equipas à partida menos fortes (equipas fechadas, com marcação muito apertada sobre os avançados), o que acontece logo na fase de grupos.
Uma excelente campanha de apuramento (8V, 2E, 0D, com 18 golos marcados e apenas 4 sofridos; 26 pontos em 30 possíveis e com 9 pontos de vantagem sobre o segundo classificado) justifica que esta seja uma selecção a ter em conta – esta geração já é considerada a melhor de sempre do futebol belga. É constituída por jovens futebolistas com grande qualidade, a jogar nos melhores clubes europeus, aos quais se juntam alguns jogadores com grande experiência (entre eles, Daniel Van Buyten, Vincent Kompany, Thomas Vermaelen ou Jan Vertonghen) que transmitem segurança desde a retaguarda e dá liberdade aos mais novos para espalharem o perfume do seu futebol ofensivo.
Tendo na fase de grupos um conjunto de equipas que parecem acessíveis (Rússia, Argélia e Coreia do Sul), tem boas perspectivas de apuramento para os oitavos-de-final, em princípio ocupando com a Rússia uma das duas vagas. O previsível apuramento para os oitavos de final faz desta selecção, como de todas as outras que chegarem a esta fase a eliminar, uma das potenciais candidatas ao pódio. O percurso dependerá muito da qualidade dos adversários que forem encontrando – recordo que se a Bélgica passar a fase de grupos vai encontrar uma selecção proveniente do grupo de Portugal -, mas também da gestão emocional e física dos jogadores na sucessão de jogos que terão pela frente. Parece certo que a maturidade desta selecção surgirá no próximo Campeonato da Europa (2016) ou no próximo Campeonato do Mundo (2018); no entanto, uma boa prestação já nesta edição não surpreenderá ninguém.
Certo dia, Ricardo Garrido, colunista do Brasil Post, escreveu que “a vida é um longo intervalo de quatro anos entre as Copas do Mundo”. Se assim for, o Japão apenas nasceu em 1998 mas, a partir daí, tem somado interessantes episódios… Quando a selecção japonesa desembarcar no Brasil, estará prestes a carimbar a quinta presença num Campeonato do Mundo. E de forma consecutiva, o que, além de assinalável, atesta a evolução do desporto-rei por bandas orientais – em 1998 e 2006, os “samurais” quedaram-se pela fase de grupos, tendo, em 2002 e em 2010, chegado aos oitavos-de-final.
Depois disso, e fora do contexto Mundial, mas já com Alberto Zaccheroni ao leme, venceram a Taça Asiática, em 2011, e o East Asian Football Championship, em 2013, prova em que foram apenas utilizados jogadores a competir no campeonato japonês. A fase de qualificação para o Brasil’2014 foi tranquila: entrando apenas em competição na terceira fase da zona asiática, o Japão qualificou-se em 2º lugar, perfazendo 10 pontos em 6 jogos (só atrás do Uzbequistão), e já ulteriormente, na quarta fase, em 8 partidas, amealhou 17 pontos (ficando à frente da Austrália), tendo, ainda, o mérito de ter sido a primeira nação a garantir a presença em terras de Vera Cruz.
É indesmentível – no que ao futebol diz respeito – que a realidade nipónica tem evoluído de forma considerável. A isso não pode ser alheio o facto de ter tido a possibilidade de acolher a ‘Copa do Mundo’, em 2002, em parceria com a Coreia do Sul. A organização desse certame catapultou a modalidade enquanto espectáculo, gerou a angariação de novos públicos e, por consequência, transformou meros curiosos em verdadeiros fãs da modalidade. Mais do que isso, atentando apenas para o interior das quatro linhas, não deixa de ser assinalável que um país cuja liga profissional (J-League) apenas fora criada em 1993 e de cujo lote de convocados em 2002 apenas constavam quatro elementos que competiam externamente, tenha conseguido crescer ao ponto de, hoje, ter inúmeros craques a competir nos melhores campeonatos do mundo e granjeie um respeito que fora conquistado a pulso – mesmo que o 47º lugar no ranking FIFA não se coadune com a real valia deste conjunto.
De facto, quem tiver assistido à última Taça das Confederações, em 2013, no Brasil, não poderá ter deixado de se sentir atraído pelo futebol positivo e rendilhado que a selecção nipónica apresentou. É certo que, para a história, ficarão, indesmentivelmente, os números – três derrotas frente a Brasil (3-0), Itália (4-3) e México (2-1); porém, para os fãs e amantes do jogo, sobra a certeza de uma equipa com excelentes executantes (designadamente ao nível do meio-campo) e que, com bola, se sente imensamente confortável. Tratando-a sempre bem, diga-se.
OS CONVOCADOS
Guarda-redes – Eiji Kawashima (Standard de Liège), Shusaku Nishikawa (Urawa Reds) e Shuichi Gonda (FC Tóquio).
A selecção japonesa não tem nenhum jogador do outro mundo. Porém, tudo o que de bom conseguir vai depender da tríade Honda-Kagawa-Okazaki. Se estes três estiverem em dia ‘sim’ qualquer adversário se arriscará a passar mal – pela vertigem, pela imprevisibilidade, pela inteligência nos movimentos e pela qualidade técnica que os três, individual e colectivamente, têm em doses acima da média. De todo em todo, jogando mais pelo centro ou pela esquerda, Keisuke Honda apresenta potencial para ser a figura mais proeminente da equipa: capacidade de desequilíbrio, visão de jogo, irreverência e poder de finalização não faltam. Se a tudo isto o número 10 do AC Milan e 4 dos ‘Samurais’ aliar consistência e plena entrega, o Japão pode sorrir no Mundial.
O TREINADOR
Alberto Zaccheroni Fonte: thestar.com
Quando pegou na equipa nipónica, em 2010, o primeiro impulso de Alberto Zaccheroni foi implementar o (seu preferido) 3-4-3. Com isto se diz tudo: ‘Zach’ não é o habitual técnico italiano, com um pensamento cauteloso ou com laivos de catenaccio; ao invés, gosta que as suas equipas joguem com os olhos postos na frente, e este Japão, para o bem e para o mal, é o exemplo acabado disso mesmo – o treinador italiano, por ter criado uma selecção competitiva e que joga um futebol apaixonante, é, hoje, admiradíssimo pelo povo japonês. Aos 61 anos, depois de ter passado por Udinese, AC Milan (por quem venceu a Serie A, em 1999/2000), Lazio, Inter e Juventus, vai estrear-se num Mundial.
O ESQUEMA TÁTICO
O PONTO FORTE
A tríade Honda-Kagawa-Okazaki, que simboliza na perfeição o futebol rápido e atraente do Japão, com velocidade, qualidade técnica e trocas posicionais constantes; o meio-campo que, com Endo e Hasebe, é sólido e sabe fazer chegar a bola aos homens que podem desequilibrar; os laterais Uchida e Nagatomo, que se incorporam facilmente no processo ofensivo, dando grande largura ao jogo japonês.
O PONTO FRACO
A inconsistência e insegurança defensivas patentes em erros clamorosos transformados em golos, como aconteceu na última Taça das Confederações, diante de Itália e México, e no amigável frente à Holanda no fim de 2013; a imensa dificuldade ao nível do jogo aéreo, evidente nos inúmeros golos sofridos fruto de cabeceamentos (principalmente em bolas paradas); a falta de verdadeiras soluções alternativas, mormente ao nível dos elementos do meio-campo.
Incorporado no grupo C, juntamente com Colômbia, Costa do Marfim e Grécia, o Japão estará claramente na luta pelo apuramento. Sendo uma equipa excitante, com a capacidade de se metamorfosear dentro do próprio jogo e repleta de individualidades interessantes (Okazaki, por exemplo, chega num excelente momento de forma), pode almejar, num dia bom, a vencer qualquer adversário. Todavia, terá também saber de olhar para ela própria, dotar-se de um verdadeiro killer instinct – que, muitas vezes, lhe tem faltado e atraiçoado – e, jogando com o jogo, utilizar a posse de bola de forma mais racional e eficiente.
Zaccheroni já traçou o objectivo e esse passa, nas suas palavras, por apresentar uma equipa de futebol atraente, sem estabelecer até onde poderão ir os seus pupilos. ‘Zach’ esperará que os jogadores tenham crescido com os erros cometidos em momentos passados para, pensando jogo a jogo e encarnando o slogan escolhido para o Mundial – “Samurais, é a altura de lutar” –, o Japão, no Brasil, se transformar na mais bela surpresa da Copa.
Ora, não sendo eu um profundo conhecedor da selecção iraniana, farei os possíveis para deleitar os mais ávidos fãs do país orientado pelo nosso bem conhecido Carlos Queiroz. Numa qualificação sofrida, a turma de Queiroz estava obrigada a não falhar nos últimos três jogos… e não o fez: conseguiu somar três vitórias, duas pela margem mínima, colocando em delírio os mais de 65 milhões de pessoas que tomaram as ruas de assalto para os festejos.
Não sendo um país amplamente conhecido pelo seu futebol, o Irão parte para este Mundial do Brasil completamente sem pressão. Num grupo relativamente difícil – com Argentina, Bósnia Herzegovina e Nigéria – o sonho de passar pela primeira vez da fase de grupos parece um tanto ou quanto distante. Contudo, os iranianos acreditam que podem fazer uma gracinha com Queiroz ao leme, mal-amado aquando da passagem pela turma das Quinas. O português acredita que pode ter uma prestação que orgulhe a nação. Sem praticar um futebol brilhante na fase de qualificação, o Irão tem que elevar o seu nível de jogo se pretende levar de vencida qualquer das equipas do seu grupo. Se, de facto, sonham com a passagem à fase seguinte, o primeiro jogo frente à Nigéria poderá provar-se decisivo.
A nação iraniana deposita as esperanças da tal gracinha no ponta-de-lança Reza Ghoochannejhad (Gucci), que provou ser decisivo na qualificação com três golos nos três jogos da morte. É unânime que Queiroz fez um bom trabalho com a selecção da antiga Pérsia. Contudo, nem tudo foram rosas para o treinador português, que durante a qualificação teve de descartar o seu guarda-redes titular por alegados problemas pessoais – Queiroz afirmou numa entrevista à FIFA que foi uma decisão complicada mas necessária para que pudesse transmitir a mensagem de que nenhum jogador está acima da equipa. Resta saber se o colectivo de Queiroz está à altura desta competição, sendo que o historial não favorece os iranianos – somam apenas uma vitória (histórica) sobre os EUA por 2-1 e dois empates contra a Escócia e Angola em Mundiais. De resto, só derrotas.
OS CONVOCADOS (24 elementos)
Guarda-redes: Daniel Davari (Eintracht Braunschweig/Ale), Rahman Ahmadi (Sepahan Isfahan) e Alireza Haqiqi (Sporting de Covilhã/Por).
Defesas: Hossein Mâhini (Persepolis), Jalal Hosseini (Persepolis), Ehsan Hajsafi (Sepahan Isfahan), Amir Hossein Sadeghi (Esteghlal), Hashem Beykzadeh (Esteghlal), Khosroo Heidari (Esteghlal), Ahmad Alenemeh (Naft Tehran), Mohammad Reza Khanzadeh* (Zob-Ahan Isfahan), Pejman Montazeri (Umm Salal SC/Qat) e Steven Beitashour (Vancouver Whitecaps FC/Can).
(*chamado de prevenção, em virtude da lesão de Beykzadeh)
A ESTRELA
Javad Nekounam Fonte: Footballerpics.com
Com a saída de Mahdavikia, Javad Nekounam ocupou o seu lugar e assumiu a mesma preponderância no onze iraniano. Embora seja Gucci o marcador de serviço, Nekounam é uma espécie de talismã para esta selecção e é o principal motor de jogo da equipa – marca golos importantes com alguma regularidade e é um jogador de grandes momentos.
O TREINADOR
Carlos Queiroz Fonte: Getty Images
Depois de uma campanha desapontante ao leme da selecção portuguesa, marcada por problemas entre jogadores e treinador, assumiu este desafio de treinar o Irão e até agora não tem desiludido. Incutiu nos jogadores uma noção táctica não verificada até então e evoluiu imenso os processos defensivos da equipa.
O ESQUEMA TÁTICO
O PONTO FORTE
A solidez defensiva desta equipa iraniana é algo a ter em conta: em 16 jogos na fase de qualificação conseguiram evitar que as suas redes balanceassem por 10 ocasiões. 10 jogos sem sofrer golos é obra. Veremos se conseguem manter a concentração na defesa no Brasil.
O PONTO FRACO
Se a defesa é ponto forte, o ataque é o pólo oposto – dependem demasiado da inspiração de Gucci nos momentos decisivos, e, se querem sonhar, têm de concretizar melhor.
É arriscado, sim. Dado o historial desta rubrica e a minha recente entrada na equipa do Bola na Rede, escolher um jogador como Philippe Coutinho (de apenas 21 anos e ainda no começo da sua carreira) para o meu primeiro Jogadores que Admiro é sem qualquer dúvida um começo ousado.
Porquê Coutinho e não outro? Porquê agora e com que ‘bases’? São estas algumas das perguntas a que tentarei responder nós próximos parágrafos, enunciando da melhor forma possível os factores que levaram o jovem brasileiro ao topo do futebol mundial de camisola vermelha ao peito em pleno Anfield Road.
Não fosse o ‘resgate’ de um grande do futebol mundial e a história de Philippe Coutinho poderia ser bem diferente. Desvalorizado num Inter de Milão que precisava de talento, apesar de em 2010 o então presidente Maximo Moratti o ter apontado como o “futuro do clube!”, o médio ofensivo foi ‘deixado’ para o Espanyol e viu depois o renovado Liverpool de Brendan Rodgers apostar no seu talento, que se viria a revelar fundamental no ataque ao tão desejado (e quase obtido) título na Premier League. Vamos a números: criou 70 oportunidades de golo na Liga Inglesa (34 só em 2014), marcou 7 golos (a que se adiciona 1 na taça) e fez 7 assistências.
Coutinho é o novo “menino bonito” de Anfield Fonte: football365.com
Apesar da tenra idade, Coutinho faz parte de um restrito lote de jogadores que impressiona pelo exímio domínio de bola e pela capacidade de reação e pela magia com que encanta todas as testemunhas do encontro. Coloquem-se estas condições a um jogador perante bancadas vazias ou num campeonato de países de segunda linha e de pouco valerá. Mas Philippe fá-lo em Anfield Road, todas as semanas lotado e sob um memorável “Walk On, Walk On, With Hope, In Your Heart”. Philippe fá-lo na Premier League, frente aos melhores do mundo, com os melhores do mundo: é que, mesmo com jogadores como Luís Suarez, Daniel Sturridge ou Steven Gerrard (todos eles bem mais velhos e experientes) no mesmo lado do campo, consegue ainda assim destacar-se.
Sem querer entrar no mundo das previsões, imagine-se onde estará o jogador brasileiro daqui a cinco, seis, sete anos. Com toda uma carreira pela frente e já por dentro da estrutura base do clube de Liverpool. Coutinho disputará a Champions League em 2014/2015, tendo aqui mais uma oportunidade de brilhar pela Europa fora.
Mundial em casa mas… na televisão
É uma triste e inconformável realidade: Philippe Coutinho fará parte de um restrito lote de jogadores que se encontram na inexplicável categoria de ausentes do Mundial de Futebol 2014. Terá como companhia Kaká, um dos jogadores mais experientes e adorado pelos adeptos canarinhos. Mas se Kaká leva já 32 anos às costas e está longe dos seus melhores dias, Coutinho nasceu para o futebol há pouco mais de um par de anos e poderia vir a ser sangue fundamental para o Brasil.
Seria sangue obrigatório, a meu ver, mas Scolari assim não o entendeu. E que não me interpretem mal – todo o plantel da equipa da casa é uma autêntica ameaça, mas com Coutinho a música seria outra. Os tambores marcariam o ritmo a que avançaria no campo e combinaria com Hulk e Neymar de ambos os lados até colocar a bola em Fred. Muitos ‘Gooooooool’ seriam gritados por sua causa.
Se Filipão não o quis, Anfield continuará a apoiá-lo incansavelmente sempre que vestir de vermelho . Afinal, You’ll Never Walk Alone.
Fugir dos traumas é algo inútil. Mais tarde ou mais cedo, eles voltam para nos atormentar. Assim, é melhor aceitar a sua existência do que negar que algo que nos transtornou. Como aquele dia em que um cabeceamento letal que tapou a boca a 10 milhões de vozes eufóricas e prontas a celebrar a primeira conquista do seu país. Charisteas marcou, de forma indelével, a longa história futebolística do nosso país e a Grécia vencia o Europeu que supostamente seria nosso. Como portugueses, seria inútil recalcar essa memória. Pelo contrário, deve ser essa a nossa fonte de inspiração, o balde de tinta que iremos usar para escrever uma história ainda mais bonita, começando na imposição da derrota a quem nos fez chorar. Não por se tratar de uma vingança, mas sim para aprendermos a lidar com a imagem mais triste de toda a história dos encontros da nossa seleção.
Sem o auxílio de Cristiano Ronaldo mas cientes do que significava um duelo com os gregos, o onze português montado por Paulo Bento num 4x4x2 com algumas opções menos regulares (Eduardo, Ricardo Costa, André Almeida, William Carvalho, Varela e Éder foram as novidades) entrou em campo encarnando o espírito de quem estava disposto a lutar contra os demónios que os deuses gregos deixaram cá plantados há coisa de dez anos atrás, com Éder e Nani ao leme de um grupo aparentemente disposto a vestir a pele de caça-fantasmas, estando ambos nas três ocasiões de perigo (Éder, primeiro, Bruno Alves e Ricardo Costa depois) que a seleção conseguiu criar junto das redes gregas nos primeiros sete (!) minutos, todas através da exploração do jogo àereo grego.
A situação não piorou desde aí para os gregos (em máxima força, entrando com o onze inicial que muito provavelmente vai começar o Mundial), mas manteve-se a toada de domínio luso, beneficiando de algum desacerto adversário na bola longa (recurso mais utilizado pelos helénicos na tentativa de visar as redes nacionais) e da postura expectante adoptado pelos orientados por Fernando Santos, que iam cedendo perante uma frente de ataque bastante dinâmica e que beneficiou das incursões dos alas (Varela e Nani) para o centro. Também aa mobilidade dos dois pontas-de-lança (Éder e Hélder Postiga) ajudou a trazer o jogo para a zona ofensiva de Portugal.
Porém, a superioridade nacional não foi capitalizada em golos, e a partir da meia hora de jogo pareceu começar a notar-se algum cansaço na exploração da muralha grega. Não se baixaram os braços mas foi notório o maior distanciamento e entre os jogadores da frente e uma inspiração decrescente que se traduziu na falta de produtividade nacional até ao intervalo, tornando o último quarto-de-hora da primeira parte um autêntico festival de bocejos.
Nani foi o melhor jogador do lado português Fonte: ASF
No regresso dos balneários, Paulo Bento trocou de guarda-redes (entrou Beto) e de ponta-de-lança (Postiga deu lugar a Hugo Almeida), mas foi noutra alteração tática que esteve alicerçada uma mudança de atitude dos jogadores portugueses face aos últimos quinze minutos da primeira parte– maior apoio dos laterais no processo ofensivo. André Almeida apoiou Varela quando solicitado e João Pereira fez com Nani uma dupla bastante perigosa no flanco direito, o que se traduziu num jogo mais “elétrico”, disputado ainda mais encostado à baliza grega. Contudo, não houve consequências de maior no resultado e, mais uma vez, pareceu ser de sol de pouca dura a vontade dos jogadores portugueses, voltando o jogo a cair num espetáculo enfadonho que ia sendo cada vez mais propício a bocejos…
… até aparecerem Gekas e Fetfatzidis. Os jogadores gregos que substituiram as referências Samaras e Mitroglu, dotaram o jogo de maior velocidade, explorando um aparente desgaste do meio-campo português (William Carvalho, por exemplo, queixou-se de cãibras), mesmo reforçado por Rúben Amorim (substituiu Éder, fazendo a seleção regressar ao habitual 4x3x3). Gekas deu maior virtuosismo ao ataque grego e Fetfatzidis, assente na garra e na crença, beneficiou da passividade de André Almeida para causar a situação de maior perigo para as redes portuguesas.
Os gregos galvanizaram-se e o jogo terminou partido, com tempo para mais duas situações de perigo para ambos os lados – Beto saiu em falso, e a bola quase sobrava para um jogador grego, não fosse a intervenção de Ricardo Costa, autor de um cruzamento-remate já nos descontos, que terminou na trave.
A ausência de Cristiano Ronaldo, João Moutinho ou Pepe não justifica uma exibição tão pálida da seleção nacional perante uma equipa grega que não é superior à espécie de Portugal B que Paulo Bento levou para o relvado do Jamor.
Seria de esperar mais garra, mais atitude, não só por se tratar de um jogo que muito dizia a todos os amantes da seleção portuguesa, entre eles Eusébio e Mário Coluna “a ver” o encontro (foram colocadas imagens gigantes dos dois colossos do futebol nacional ocupando bancadas opostas), mas também para se alterarem as probabilidades de utilização de cada um dos jogadores previsivelmente menos utilizados por Paulo Bento no Mundial 2014.
Uma de duas coisas é certa: ou ficou provada a pouca profundidade da equipa nacional ou é urgente a mudança de atitude nos nosso jogadores.
A Figura
Num jogo a “preto-e-branco”, sobressairia sempre que soubesse pintar. E Nani foi um deles. O extremo do Manchester United foi o jogador que mais desequilíbrios provocou no ataque nacional, destoando da inércia e da apatia dos seus companheiros.
Sempre que tocava na bola, sentia-se um certo frenesim vindo das bancadas e que não eram da exclusiva responsabilidade da popularidade do craque.
O Fora-de-Jogo
A falta de atitude portuguesa foi por demais evidente, tornando o jogo bastante amorfo (por ser a equipa que, previsivelmente, mandaria no jogo), ao ponto de o dotar de maior eficácia que um comprimido para dormir.
No último Campeonato do Mundo na África do Sul, a Grécia qualificou-se, ganhou apenas um jogo e foi prontamente eliminada da competição na primeira ronda. E, no entanto, foi a equipa grega com mais sucesso em fases finais da história dos Mundiais. Desde que participa em fases finais de campeonatos do mundo, a Grécia nunca se conseguiu impôr. Em 1994, na sua primeira aparição, não marcou um único golo e perdeu os três jogos na fase de grupos, tendo registado um goal average de 10-0. Desde sempre, a Grécia nunca teve grandes estrelas no seu plantel, mas, mesmo assim, conseguiu ganhar o Campeonato Europeu de 2004, batendo o anfitrião, Portugal, por 2 vezes. Esta equipa, hoje em dia, é ainda muito forte a nível defensivo e até convém relembrar as palavras do selecionador alemão, Joachim Löw, antes de defrontar os gregos, em que afirmava que enfrentar a seleção de Fernando Santos era como “comer pedra”.
A Grécia estará no grupo C do campeonato com a Costa do Marfim, Colômbia e Japão, sendo provavelmente o mais equilibrado de todos. O estilo defensivo dos gregos poderá mesmo vir a ser determinante para seguir em frente para as fases a eliminar da competição, nas quais poderá encontrar a Itália ou a Inglaterra, seleções essas que não devem meter medo à equipa da Grécia. Os gregos estão bem classificados no ranking da FIFA e o seu lugar no top-10 de seleções só foi alcançado graças a muito trabalho e muitas vitórias.
Para o treinador da Grécia, Fernando Santos, que irá abandonar a equipa no final do campeonato, a meta é muito clara: “O primeiro objetivo é passar a fase de grupos. Depois logo se verá“, referiu o técnico português, que, em 2012, levou a Grécia aos quartos-de-final do Campeonato Europeu: “Não vamos ao Brasil passar férias. Esta é a nossa terceira aparição num campeonato do mundo e queremos seguir em frente pela primeira vez“.
O experiente treinador português, quando anunciou os 23 convocados para o Brasil, apresentou algumas surpresas no lote de escolhidos. Desde logo nas escolhas do médio Panayiotis Tachtsidis e do guarda-redes Panayiotis Glykos, em detrimento de nomes como o avançado Stefanos Athanasiadis e o defesa Avraam Papadopoulos. E fez ainda questão de realçar a importância de jogadores experientes como Loukas Vyntra e Kostas Katsouranis.
Os outros 5 membros retirados da primeira lista de 30 pré-convocados, para além de Athanasiadis e Avraam Papadopoulos foram Alexandros Tzorvas, Nikos Karabelas, Costas Fortounis, Dimitris Papadopoulos e Nikos Karelis. Para além destas ausências, por lesão, Fernando Santos ficou ainda privado de utilizar o defesa central do Schalke 04 Kyriakos Papadopoulos, devido a lesão.
O avançado do Fulham Kostas Mitroglou, apelidade carinhosamente pelos adeptos como “Mitrogoal”, é a grande figura da equipa. Marcou 3 dos 4 golos da Grécia frente à Roménia, no playoff de apuramento, e, antes de se ter transferido para o Fulham, era o homem-golo do Olympiakos.
O “Pistolero” marcou 41 golos em 84 presenças pela equipa grega e tornou-se no primeiro jogador da Grécia a marcar um hat-trick na Liga dos Campeões, em outubro de 2013, frente ao Anderlecht. Na temporada de 2013-2014 marcou 17 golos em 19 presenças pelo Olympiakos, ajudando-os a sagrarem-se campeões novamente.
Mitroglou assinou um contrato de 4 anos e meio com o Fulham, em janeiro deste ano, numa verba de aproximadamente 12 milhões de euros. No então, e infelizmente para o jogador, sofreu um grave lesão no joelho, que lhe tem limitado as presenças na equipa inglesa.
Relativamente ao seu desempenho na seleção, Mitroglou tem sido aposta regular de Fernando Santos até hoje, muito embora só tenha conseguido marcar um golo na fase de grupos (o que se deve em grande parte ao esquema algo conservador do treinador português). No entanto, o avançado do Fulham é muito importante a segurar a bola e a fazer a ligação entre o meio-campo e o ataque da Grécia.
Desde 2009, altura em que se estreou pela Grécia, Mitroglou já somou 28 internacionalizações, tendo feito o gosto ao pé por 8 vezes. E, numa equipa tão direcionada para o coletivo, Mitroglou tem sido um dos elementos mais consistentes no plantel.
O TREINADOR
Fernando Santos Fonte: Getty Images
O treinador português Fernando Santos transformou uma equipa condenada, que vivia do sucesso alcançado no Europeu de 2004, numa seleção coesa e de presenças habituais nas fases finais das competições de seleções. Desde 2010, quando pegou na equipa, Santos tem um registo positivo impressionante de 24 vitórias, 13 empates e apenas 5 derrotas, sendo que dois desses desaires foram em jogos amigáveis em que usou jogadores mais jovens e inexperientes.
Fernando Santos esteve, inclusivamente, invicto nos primeiros 15 meses enquanto selecionador, feito que lhe permitiu qualificar-se facilmente para o Euro’2012 (onde perdeu, como já foi referido, para a Alemanha nos quartos-de-final).
O treinador português tem feito a sua carreira entre Portugal e a Grécia, tendo já passado por vários clubes como o FC Porto, Benfica, Sporting, AEK, Panathinaikos e PAOK de Salónica.
Apesar de não ter muitos títulos na sua carreira, Fernando Santos ficou conhecido na Grécia por salvar equipas que estavam em graves dificuldades financeiras e desportivas. O mesmo se aplicou ao seu trabalho na seleção grega, em que pegou na equipa, depois da fraca campanha no Mundial’2010 e colocou-a a jogar bom futebol e a ter resultados positivos.
Ele conseguiu manter o estilo sólido a nível defensivo do seu antecessor, Otto Rehhagel, mas imprimiu na equipa algumas mudanças inovadoras e ao seu estilo, como o investimento em jovens de qualidade e que já mereciam uma oportunidade, bem como a aposta recorrente em 3 avançados. Os fãs adoram-no e ele adora os gregos.
“Nunca senti nada assim. Os gregos acolheram-me como um deles”, referiu Fernando Santos, logo após a qualificação para o Mundial. Os jogadores festejaram com ele, ele chorou e falou para a comunicação social, em grego, pela primeira vez.
O ESQUEMA TÁTICO
Apesar de Fernando Santos alterar o alinhamento da equipa durante certos jogos, o 4-3-3 é o seu esquema tático preferido, tal como a titularidade de Orestis Karnezis entre os postes e todo o setor defensivo. No meio-campo, sim, é que residem as principais dúvidas.
Kostas Katsouranis e o médio Yannis Maniatis aparecem como favoritos para ocupar duas das três posições disponíveis no centro do terreno. A outra vaga é talvez a maior incógnita, pese embora o facto de Alexandros Tziolis levar alguma vantagem em relação ao experiente Karagounis e a Andreas Samaris.
Na frente de ataque, Dimitris Salpingidis foi um dos principais responsáveis pelo vitória da Grécia no playoff frente à Roménia, a par do já referido Kostas Mitroglou. E, claro, é impossível imaginar esta equipa da grécia sem o poderoso Yorgos Samaras.
O PONTO FORTE
Provavelmente nenhuma outra equipa do Mundial apresenta um espírito coletivo tão forte quanto o da Grécia. Desde 2004, quando levantou o troféu, que a Grécia consegue aliar uma defesa sólida e um grupo de jogadores bastante disciplinados, que funcionam como uma máquina perfeitamente oleada e em ótimas condições.
A defesa continua muito forte e nem o estilo de jogo mais aventureiro de Fernando Santos, em relação a Otto Renhagel, fez cair essa característica. Na qualificação para o Mundial’2014, a Grécia apenas sofreu 4 golos na fase de grupo, apesar de ter implementado um sistema de rotatividade na sua defesa por 4 ocasiões. E três desses golos foram sofridos na derrota com a Bósnia (3-1), o que quer dizer que a Grécia sofreu apenas um golo nos outros 9 jogos. No entanto, é necessário que a equipa saiba balancear melhor a sua defesa com um ataque mortífero, de modo a ter condições para ultrapassar a fase de grupos.
O PONTO FRACO
Num grupo que inclui a Colômbia, Japão e a Costa do Marfim, a defesa da Grécia terá a sua quota parte de trabalho normal para cumprir e tentar, ao mesmo tempo, explorar as melhores ocasiões para marcar. A grande dificuldade desta equipa é mesmo a falta de uma filosofia atacante, que dificultará bastante a tarefa dos gregos para vencer os encontros. A maior esperança da Grécia é mesmo contar com uma defesa forte e um Mitroglou recuperado e em boa forma física.