As Honduras, ou La H, como são conhecidos, partem para o seu segundo Mundial consecutivo e para o terceiro da sua história, depois da estreia em 1982, no Mundial realizado em Espanha. Nas suas duas participações, a formação das Caraíbas ficou pela fase de grupos. A nível de provas continentais, a melhor prestação é a vitória em 1981 da Gold Cup. Em 2001 participaram na Copa América, em substituição da seleção argentina, e obtiveram um brilhante terceiro lugar. Nas competições da UNCAF – que reúne Guatemala, Honduras, Costa Rica, El Salvador, Panamá, Nicáragua e Belize –, a formação hondurenha já venceu por três vezes, em 1993, 1995 e 2011.
A nível geográfico, este país é cerca de 20 mil quilómetros maior do que Portugal, mas tem menos habitantes do que o nosso país, contando com cerca de sete milhões e oitocentos mil habitantes.
Mas, voltando ao futebol, que é o que nos interessa, as Honduras são o 30º colocado do Ranking FIFA – em conjunto com a Sérvia –, sendo a terceira seleção da CONCACAF (América Central, do Norte e Caraíbas). No Brasil, vão medir forças com Suíça, Equador e França, no grupo E.
OS CONVOCADOS
Guarda-Redes – Noel Valladares (Olimpia), Donis Escober (Olimpia), Luis López (Real España).
Defesas – Maynor Figueroa (Hull City), Víctor Bernárdez (San José Earthquakes), Osman Chávez (Quingdao Jonoon), Juan Pablo Montes (Motagua), Arnold Peralta (Rangers), Bryan Beckeles (Olimpia), Emilio Izaguirre (Celtic), Juan Carlos García (Wigan).
Médios – Wilson Palacios (Stoke City), Roger Espinoza (Wigan), Luis Garrido (Olimpia), Jorge Claros (Sem equipa), Andy Najar (Anderlecht), Boniek García (Houston Dynamo), Mario Martínez (Real España), Marvin Chávez (Colorado Rapids).
Avançados – Carlo Costly (Real España), Jerry Bengtson (New England Revolution), Rony Martínez (Real Sociedad de Honduras), Jerry Palacios (Alajuelense).
A ESTRELA
Emilio Izaguirre Fonte: celebrityhairstylez.com
Apesar de não ser fácil destacar um jogador para ser a estrela da formação hondurenha, o nome de Emilio Izaguirre acaba por ser o mais consensual, quando comparado com Wilson Palacios. O lateral esquerdo do Celtic, com 28 anos (feitos a 10 de maio), é um jogador ofensivo e foi considerado na temporada de 2010/2011 – a de estreia neste país – o melhor jogador do campeonato escocês.
Emilio, como é mais conhecido, conta com 65 jogos por La H, tendo marcado um golo. Começou a carreira profissional no Club Deportivo Motagua em 2004, então com 17 anos. Com este clube hondurenho ganhou o Torneo de Apertura da temporada 2006/2007. Neste mesmo ano ganhou ainda a Copa Interclubes de la UNCAF, ano em que se disputou pela última vez este torneio, que reunia os campeões dos países pertencentes a esta associação.
Em 2010 mudou-se para a Escócia, onde é um titular frequente no Celtic. Sendo o clube escocês o crónico campeão do seu país desde a falência do Rangers, Izaguirre já conquistou três campeonatos e duas taças da Escócia nos quatro anos em que se encontra no país, tendo perdido o título mais importante apenas no ano da sua estreia, quando o Rangers se despediu dos títulos.
A grande revelação desta seleção pode vir a ser Andy Najar. Este médio, de 20 anos, é provavelmente o jogador com mais técnica desta seleção e pode vir a surpreender.
O TREINADOR
Luis Fernando Suárez Fonte: winsports.co
O selecionador das Honduras é Luis Fernando Suárez. Este colombiano, de 54 anos, vai para o seu segundo Mundial, depois de em 2006 ter ido como selecionador do Equador, tendo levado esta seleção aos oitavos de final. A nível de seleções, teve uma primeira passagem pelo Equador entre 1995 e 1998, como adjunto; foi ainda adjunto na Colômbia em 1999, tendo ganhado nesse mesmo ano o Torneio de Toulon, sendo assim a primeira grande conquista na Europa de uma seleção colombiana.
A nível de clubes, treinou maioritariamente no seu país e no Equador, tendo também passado pelo Peru. Apenas conseguiu um título de campeão, quando ganhou na Colômbia, em 1999, aos comandos do Atlético Nacional.
O ESQUEMA TÁTICO
O PONTO FORTE
O ponto forte desta seleção é o seu jogo coletivo. Uma defesa sólida e um ataque competente podem fazer com que criem dificuldades a várias seleções.
O PONTO FRACO
O ponto fraco tem de ir para a falta de experiência que muitos destes jogadores apresentam. Jogar em campeonatos pouco competitivos vai trazer consequências.
Em jeito de conclusão, penso que vai cumprir-se o ditado “não há duas sem três”, ou seja, a seleção hondurenha voltará a ser eliminada na fase de grupos. Mas, apesar disso, uns dias inspirados da sua parte, assim como uns jogos mais fracos do adversário, podem levar La H a passar a fase de grupos. Afinal, qualidade não falta. Falta é a experiência dos jogadores ao mais alto nível.
Penso que tive uma tarefa mais facilitada do que os meus colegas. Afinal, o Brasil é a seleção mais titulada do mundo. A melhor constelação do cintilante universo. É (sempre e de forma crónica) candidato a vencer qualquer coisa. E, a jogar em casa, esta Copa não será exceção.
Cinco estrelas brilham no escudo da Confederação Brasileira de Futebol. É o penta. 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Mais duas finais em que o “escrete” não conseguiu vencer. Uma delas foi precisamente em casa, perante o Uruguai, nos idos anos 50. Na altura, a tragédia foi apelidada de “maracanaço”. O mítico estádio, que de resto será palco de nova final – volvidos agora precisos 64 anos –, presenciou aquela fatídica tarde em que bastava à “canarinha” um empate. Pior ainda: o Brasil esteve a vencer e os 200 mil presentes no anfiteatro carioca ficaram com o grito de campeão entalado na garganta. Aquela Copa foi dura. Mas talvez tenha servido para o gigante lusófono ter tirado várias ilações.
O Brasil, como país organizador, está inserido no grupo A. Terá de enfrentar a Croácia, no jogo de abertura; o México e por último os Camarões. Equipas tenazes, mas se a “canarinha” não tem condições para passar este grupo, então não pode, sequer, aspirar a nada. O gigante sul-americano é ainda o quarto colocado no ranking da FIFA.
É preciso adicionar mais um facto curioso: nunca nenhuma seleção europeia venceu um Mundial na Terra Nova. O contrário já se verificou: os canarinhos triunfaram pela primeira vez na Suécia, em 1958. Foi a estreia dos reis Pelé e Garrincha. Os homens do Velho Continente não se costumam dar muito bem em terras americanas…
O Brasil vai tentar o impensável: erguer a coroa mundial pela sexta vez. Homens simples, trajados com o manto sagrado, vão querer dar uma alegria a milhões de corações. E quando o Brasil entrar em campo, não serão aqueles “onze” amarelinhos apenas que estarão no jogo: a pátria brasileira vai calçar as chuteiras e erguerá bem alto a voz, dizendo: “Esperem por mim! Vou ajudar-vos a vencer!”.
OS CONVOCADOS
Guarda-redes – Jefferson (Botafogo), Júlio César (Toronto) e Victor (At. Mineiro).
Defesas – Dante (Bayern Munique), David Luiz (Chelsea) Henrique (Nápoles) e Thiago Silva (PSG), Daniel Alves (Barcelona), Maicon (Roma), Marcelo (Real Madrid) e Maxwell (PSG).
Médios – Fernandinho (Manchester City), Paulinho (Tottenham), Ramires (Chelsea), Willian (Chelsea), Hernanes (Inter), Luiz Gustavo (Wolfsburgo) e Oscar (Chelsea).
Avançados – Bernard (Shakhtar Donestk), Fred (Fluminense), Hulk (Zenit), Jô (At. Mineiro) e Neymar (Barcelona).
A ESTRELA
Neymar Fonte: foxsportsasia.com
No Brasil não se pode falar exatamente de uma estrela. Em todas as gerações há sempre mágicos em campo. E aos magotes. Claro que Neymar é o jogador mais mediático. Mas a defesa do “escrete” está fortíssima. O meio-campo é de craques. O ataque igualmente.
O TREINADOR
Luiz Felipe Scolari Fonte: conmebol.com/
Luiz Felipe Scolari: um amigo, um pai da equipa. Não tenhamos dúvidas de que as equipes de Scolari são famílias. O gaúcho ranzinza mostra tenacidade nas conferências de imprensa. Mas no balneário é um homem terno. E aí reside a grande força do Brasil. A união da equipa. A união de um povo com 200 milhões de almas. Se a locomotiva chamada Brasil for dentro dos carris e sem percalços, torna-se imparável até ao destino final. Afinal de contas, o ex-técnico da seleção portuguesa sabe o que é ser campeão do mundo.
O ESQUEMA TÁTICO
Assim, como em termos históricos foi o poderoso Brasil a inventar o sistema tático 4-3-3, penso que se irá apresentar com esse formato. Scolari já o utilizava na Seleção das Quinas. Júlio César deverá ser o titular. Experiente, talentoso e embora esteja numa liga inferior – convenhamos que o campeonato norte-americano não será dos mais atrativos – estará pronto para a alta roda mundial. Pese embora esse facto, Jefferson está numa momento inacreditável e na baliza poderá haver surpresas neste aspeto.
Na defesa também não haverá muito que enganar. David Luiz e Thiago Silva parecem-me escolhas óbvias. Penso que Luisão, devido à experiência e à brilhante época que fez, seria melhor escolhido do que Henrique, por exemplo. Mas escolhas são escolhas. E a vida é feita de opções. A lateral-direito jogará Daniel Alves. Na esquerda, o congénere Marcelo. Em Espanha são rivais. Aqui serão família.
O meio-campo é onde, normalmente, se ganham os jogos. Não me admiraria de ver Fernandinho a trinco e Ramires como médio estilo número oito. Óscar jogará de caras. Willian, Paulinho e Hernanes são um bom banco. Luiz Gustavo também. Na frente, o indiscutível Neymar, o homem-golo Fred e Hulk, que deverá fechar o ataque, embora Bernard também seja um grande executante. Jô será muito importante em partidas que estejam difíceis de desbloquear para o Brasil.
O PONTO FORTE
O ponto forte do gigante amarelo é a força deste coletivo. O time é equilibrado; a estrutura é balanceada. O Brasil tem sempre um estilo de jogo ofensivo. A única vez em que não terá apresentado tal formato (o que valeu várias críticas ao então selecionador José Carlos Parreira, atual adjunto de Scolari) foi na Copa de 1994: curiosamente o Brasil venceu. “Ai é? Nós damos espetáculo e vocês é que ganham? Então esperem lá!”. E o Brasil venceu mesmo. Portanto, a união faz a força e parece-me que este lote brasileiro está pronto para o que der e vier.
O PONTO FRACO
A jogar a Copa em casa, a pressão será enorme. Jornalistas, adeptos, enfim. O Brasil é sempre obrigado a vencer, independentemente de onde for a competição. Mas desta vez será pressão acrescida. Quiçá resida aí o grande calcanhar de Aquiles do “escrete”.
Luís Filipe Vieira deu, há poucas horas, uma entrevista à RTP. A grande dúvida nesta entrevista era saber se Jorge Jesus ia continuar no Benfica ou não. O presidente do Benfica começou com uma postura defensiva, afirmando que Jesus tem contrato com o Benfica por mais uma época, uma resposta que não dava a certeza sobre a continuidade do treinador. Depois de alguma insistência, acabou mesmo por confirmar a continuidade de Jorge Jesus: “Será o treinador da próxima época”, afirmou o presidente, mostrando a confiança no técnico que levou o Benfica a conquistar três títulos esta época. Além disso, garantiu que Jesus recusou uma oferta de um grande clube europeu, ainda que não tivesse confirmado tratar-se do AC Milan, o nome mais falado nos últimos dias.
Numa conversa em que vários assuntos foram abordados, Luís Filipe Vieira, que tem sido apontado por muitos como um dos principais pilares do sucesso desta temporada por ter segurado Jorge Jesus quando mais ninguém acreditava no projecto, disse que a base desta época foram os jogadores, uma vez que “são eles que decidem o jogo em campo”, e o treinador. A sua única responsabilidade é “criar condições para o sucesso”. Este é o discurso que se esperava, estando o Benfica unido como está. Porém, não esqueceu o momento em que teve de ir ao balneário falar com os jogadores depois do empate em casa com o Arouca, assumindo que esse foi um momento de viragem. Ainda sobre os jogadores do Benfica, admitiu que ia tentar a contratação de Siqueira, mas apenas se tal se inserisse na realidade salarial do clube. Luís Filipe Vieira, apesar do interesse de vários clubes nos jogadores benfiquistas, afirma que o departamento de scouting, liderado por Rui Costa, está mais do que apto a encontrar soluções. Ainda assim há que dar mérito ao homem que segurou um treinador que não tinha o apoio de mais ninguém.
Questionado sobre se é preciso ganhar uma prova europeia para acabar com o domínio do FC Porto, o presidente do Benfica recusou comparações com o clube azul-e-branco, mas não deixou de mostrar a forma como o Benfica subiu no ranking da UEFA desde a sua chegada, do 124.º lugar até ao 5.º, o que demonstra que “quem trabalha assim está mais perto de ganhar, e é isso que interessa no Benfica”. O domínio do Benfica não pode passar só por subidas do ranking. Esta é uma pergunta feita demasiado cedo. Só daqui a um ou dois anos, se o Benfica continuar a vencer, é que poderemos ver se a hegemonia do Porto pode ser quebrada. Até porque falta cultura de vitória ao Benfica e o Porto já mostrou que sabe responder em momentos de crise.
Jesus e Vieira – uma ligação que se irá manter, pelo menos, por mais um ano Fonte: ASF
O passivo do Benfica foi também um dos assuntos desta entrevista – um passivo que não é o maior do futebol português, segundo as palavras do presidente. Sem querer dizer qual o clube que possui o maior passivo, Vieira afirmou que “o Benfica, como grande empresa que é, tem um passivo de grande empresa, a rondar os 400 milhões; todas as grandes empresas têm passivo“, mas não deixou de relembrar como era o Benfica quando chegou e como está o Benfica agora: com um estádio que acolheu a final da Liga dos Campeões, piscinas, pavilhões, centro de estágio, museu, um canal televisivo e um ativo maior do que o passivo.
A entrevista abordou também o atual estado do futebol português e a relação com Sporting e Porto. Vieira apelou a um entendimento entre os três grandes do futebol português, mas ainda assim não mostrou disponibilidade para conversar com Pinto da Costa. “Posso garantir que farei parte de uma solução para o futebol mas não me obriguem a sentar-me na mesma mesa com uma solução que eu não acredito”. Quanto a um possível apoio a Fernando Seara (o antigo presidente da Câmara de Sintra apresentou a sua candidatura à Liga de Clubes), o líder benfiquista afirmou que é cedo para pensar nisso e que estará disponível para ouvir todos os candidatos. De resto, o lar para ex-atletas do Benfica e a Benfica FM, projetos ainda por realizar no Benfica, são objetivos a ser concretizados ainda no seu mandato.
O Unión Deportiva de Las Palmas, clube da ilha de Gran Canaria que milita na Liga Adelante, está a um passo de conseguir a qualificação para disputar o play-off de acesso à subida a Liga BBVA.
O clube, fundado em Agosto de 1949 como resultado da fusão de cinco clubes locais, é um dos históricos da primeira divisão, com trinta e uma presenças (tendo terminado no top 5 por quatro ocasiões), já finalista da Taça do Rei uma vez e semi-finalista da prova em duas ocasiões. Até 1990, ano em que até contou nas suas fileiras com o actual treinador do FC Porto, Julen Lopetegui (na altura emprestado pelo Real Madrid), o clube apenas havia passado uma dezena de vezes pela segunda divisão. De resto, viveu a sua época dourada na década que correspondeu ao período de 1968-1978, onde alcançou os maiores feitos. Depois dos anos 90, o clube desceu à divisisão secundária e entrou numa espiral negativa que o levou inclusivé à segunda divião B por onde andou vários anos, com um pequeno interregno entre 2000-2002 em que voltou fugazmente à primeira divisão.
Durante a última década o Las Palmas tem tentado conseguir impôr-se na segunda divisão para tentar o aceso, directamente ou via play-off, à primeira divisão, mas a falta de orçamento e de um plantel consequentemente forte e experiente têm dificultado bastante a tarefa. No último ano, o clube, que até contava com bons valores, como Vitolo (hoje no Sevilha) ou Thievy (emprestado pelo Espanhol e hoje no West Bromwich), conseguiu a 6ª posição, o que lhe possibilitou o acesso ao play-off, mas foi eliminado imediatamente.
Aos 38 anos, Valerón pode levar o Las Palmas ao topo do futebol espanhol Fonte: defensacentral.com
Porém, este ano o clube conta com um trunfo importante. Um trunfo de categoria e experiência: Juan Carlos Valerón. Valerón foi formado nas camadas jovens do clube canário, onde começou naturalmente a dar nas vistas pela sua enorme qualidade de passe e organização. Em 1996 estreou-se na segunda divisão com o Las Palmas, depois de ter ajudado o clube a subir da segunda divisão B, e dividiu o balneário com Turu Flores e Manuel Pablo, que posteriormente viria a ser seu companheiro no Deportivo. Aos 21 anos chegou à primeira divisão defendendo as cores do Mallorca e no ano seguinte, depois de uma assombrosa temporada, transferiu-se para o Atlético de Madrid, onde passou duas temporadas. A partir daí jogou treze épocas no Deportivo, vencendo uma Copa do Rey e duas Supercopas de España e chegando a uma meia-final da Champions League. Pelo meio, 46 presenças e 5 golos na seleção espanhola.
Dezasseis anos depois, o filho pródigo voltou a casa. Actualmente com 38 anos, tem sido com ele que o clube tem conseguido alcançar os resultados esperados. Em 40 jornadas jogou em 39 jogos, tendo sido titular em 35 deles. Todo o futebol do Las Palmas é pensado, pautado e distribuído por Valerón, que, embora não contando com a velocidade de outros tempos, continua a ter a sua visão de jogo, a qualidade de último passe e a frieza bem vincadas. Depois de anos de juventude talentosa, será com a experiência de Juan Carlos Valerón que voltaremos a ver o clube insular na primeira divisão?
“Dentro de 10 ou 15 anos vão continuar a falar de nós como falaram da geração de Viena”. É certo que sim… Faz hoje, precisamente, dez anos que estas palavras foram proferidas. O menino que andara no Leça e no Vitória de Setúbal, portista de gema, levantava, ao lado de todos os restantes heróis de Gelsenkirchen, a Taça da Liga dos Campeões. Prospectivas as palavras de Ricardo Carvalho, numa mescla de orgulho e felicidade, logo após o soltar de um “não acreditava que fosse possível”.
Volvidos dez anos, acredito que foi possível mas completamente improvável… Só uma conjuntura verdadeiramente excepcional permitiu juntar (e manter) numa só equipa a alma e o portismo de Vítor Baía e Jorge Costa; a sobriedade de Pedro Emanuel; a fiabilidade de Nuno Valente e Pedro Mendes; a imensa competência de Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho; a classe de Costinha e Alenitchev; a inesgotável capacidade de luta de Derlei e Maniche; a irreverência de Carlos Alberto; o cheiro a golo de McCarthy; a infindável magia de Deco; e o génio de José Mourinho. Foram todos estes ingredientes que fizeram daquele FC Porto (2003/2004) uma máquina de futebol. Uma máquina que crescia a cada dificuldade, encontrando nos constantes desafios a sua força motriz e, sempre seguro de si, sabendo avançar, vencendo e convencendo.
Mourinho e Deco: quiçá, os dois maiores obreiros da glória europeia Fonte: chelseabrasil.com
Aquela noite de 26 de Maio de 2004, na impronunciável Gelsenkirchen, na Alemanha, foi apenas o selar de um percurso absolutamente brilhante, arrebatador e que fez prova viva de que não eram precisos ‘Galácticos’ para se ser o Rei da Europa. As palavras de Ricardo Carvalho, naquele momento, ganham, hoje, outra dimensão: em toda a história da Liga dos Campeões (desde 1992/1993), fora do contexto dos Adamastores financeiros (Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França), apenas duas equipas conseguiram vencer a Champions – Ajax e FC Porto. Por isso, o feito que hoje celebra uma década não tem real comparação com mais nenhum atingido por qualquer outra equipa portuguesa – nem mesmo o do Prater, em Viena, em 1987.
Recordar hoje aquele jogo diante do Mónaco, confortavelmente vencido por 3-0, é um exercício de memória mas, sobretudo, de gratidão. Por tudo o que já foi dito, dificilmente outra equipa fora do pesado circuito financeiro terá capacidade para se impor como fez aquele FC Porto. E ainda que possa parecer paradoxal, aquela equipa montada e criada por José Mourinho tinha algo que nem o cheque mais chorudo pode comprar: alma, compromisso, certeza e confiança em si mesma em doses (talvez) desmesuradas.
Os craques que vinham de vencer de forma épica a Taça UEFA tinham uma imensa sede de vitória, uma inabalável segurança, e, por isso, queriam jogar contra o Real Madrid dos ‘Galácticos’; e, por isso, venceram com categoria no dificílimo Velodróme, depois de estar a perder; e, por isso, nunca desesperaram nem se descaracterizaram em Old Trafford, até ao inesquecível golo de Costinha nos descontos; e, por isso, depois do amargo nulo com o ‘Depor’, no Dragão, fizeram uma exibição irrepreensível no Riazor e derrotaram um conjunto que, até então, não tinha sofrido qualquer golo em casa. Por tudo e por todos, se diz que o estádio do Schalke 04, há dez anos, apenas assistiu à natural glorificação de uma equipa que soube sempre ser ela própria, em qualquer estádio, perante qualquer adversário, vulgarizando todas as estatísticas e probabilidades, fazendo do topo da Europa o seu sonho. Gelsenkirchen é o símbolo disso mesmo: do futebol que encantou o Velho Continente enquanto o devorava.
Para além de vencer a Champions, Vítor Baía foi eleito o melhor guarda-redes da Europa Fonte: imortaisdofutebol.wordpress.com
Enaltecer o orgulhoso passado é dever dos amantes de um clube; saber tirar ilações para o futuro é uma obrigação dos responsáveis. Por mais difícil que seja replicar o contexto daquela época, é bom ter noção de como foram atingidas as épocas de maior sucesso da história do FC Porto. Esse exercício talvez tenha sido, por vezes, descurado de tão racional que seja – de todo em todo, é necessário fazê-lo. Hoje, porém, é dia de recordar e revisitar o expoente máximo do sentimento que um adepto pode atingir. Com toda a emoção, com arrepios, com pele de galinha, com lágrimas quiçá. Mas com certeza… Com a certeza de que foi possível e de que a História jamais apagará a inesquecível noite de 26 de Maio de 2004 – a do epílogo, com chave de ouro, de duas épocas de outra dimensão, de outro planeta, de outro futebol. A noite da conquista da Champions. Ou, como disse Paulo Ferreira, “uma coisa do outro mundo”.
“Que bonito é, que bonito, que bonito…! As bandeiras estão desfraldadas ao vento… Nós queremos agradecer aos Deuses do Futebol esta felicidade que nos enche a alma, que põe um país parado, um país emocionado! É golo do PORTO! Foi ele, balançou a rede, finalmente aparece o toque de génio e aparece o segundo do Porto!”
À jornada 33 da Premier League, o Sunderland parecia completamente condenado à descida. A equipa dividia o último lugar com o Cardiff City, somando 29 pontos; apresentava um futebol completamente desprovido de agressividade; a última vitória do conjunto orientado pelo uruguaio Gustavo Poyet remontava a nove jornadas atrás; e o calendário prometia trazer mais nuvens negras no horizonte, visto que no espaço de uma semana a equipa teria de enfrentar três equipas do Top 5 da Premier League: uma delas a protagonizar um campeonato impressionantemente regular, estando a disputar a última vaga da Liga dos Campeões com o Arsenal – Everton; as outras duas, em duelo direto pela conquista da competição e as quais o Sunderland teria de visitar – City no Etihad (onde, até então, só havia perdido três pontos para o Chelsea) e Chelsea em Stamford Bridge (local de invencibilidade desde há 77 jogos até então para José Mourinho enquanto treinador dos blues).
Primeiro o Everton, no Stadium of Light. A equipa mostrou uma coesão defensiva que surpreendeu, entrando com uma personalidade e uma organização notáveis para uma formação que fora goleada por 5-1 na jornada anterior. Parecia ter rompido completamente com a identidade deixada nos jogos anteriores; o Sunderland da jornada 34 era outra equipa. Manteve o adversário no seu campo e, para além de evitar o primeiro golo dos tofees, ainda conseguiu criar mais oportunidades do que o adversário… até um pormenor fazer a diferença. O experiente Wes Brown comprometeu a equipa com um auto-golo a 15 minutos do final, parecendo fazer desmoronar toda a construção de um resultado positivo. Porém, a equipa não foi abaixo e no que restou do encontro só deu Sunderland. Isto foi suficiente para dar moral à equipa nos jogos que se avizinhavam, mesmo que estes tivessem dificuldade muito mais acrescida. O que mudou? Poyet não inventou, regressou ao 4x2x3x1 em posse e 4x5x1 sem ela, devolvendo experiência (O’Shea e Wes Brown) ao eixo central da defesa; dotou o meio-campo de um pensador de jogo (Collback) e apostou na exploração dos flancos, com a irreverência de Borini e Johnson, apoiados por Alonso e Bradsley. A partir deste jogo, as coisas mudaram e o reflexo disso mesmo está na forma como a equipa abordou as batalhas que tinha pela frente:
1) primeiro, no Etihad, soube conter a equipa do City no seu meio-campo, mantendo a organização defensiva mesmo depois de consentido o primeiro golo e, mais tarde, graças a uma substituição bastante feliz (Sebastian Larsson cedeu o lugar a Giacherinni, autor de duas assistências) e à inspiração de um miúdo que Poyet conseguiu potenciar com jogo psicológico (Wickham), o Sunderland conseguiu silenciar o estádio daquele que viria a ser o campeão de Inglaterra, dando a volta ao marcador em 10 minutos (dois golos de Wickham). Viria a consentir o 2-2, mas estava à vista a continuidade do trabalho tático iniciado no fim-de-semana anterior.
Borini marcou e consolidou o final da série de 11 jogos sem vencer do Sunderland na época em curso. Fonte: Daily Star
2) Depois, em Stamford Bridge, num jogo em que a equipa do Sunderland parecia condenada a não vencer, dando continuidade a uma série de 11 jogos sem conhecer o sabor da vitória. Uma hipótese que pareceu ainda mais real quando Eto’o, aos 12 minutos, inaugurou o marcador… mas, mais uma vez, a solidariedade do eixo central defensivo, ajudado pelo operário Lee Cattermole, e a irreverência do menino Wickham deram frutos, logrando-se o empate passados seis minutos (da autoria do “míudo”), empate que foi mantido até ao minuto 82, altura em que o Sunderland beneficiou de uma grande penalidade. Borini marcou e consolidou o final de duas séries impressionantes: a da invencibilidade de Mourinho enquanto treinador do Chelsea a jogar em casa e a do Sunderland sem vencer na época em curso. Assim, num momento tão vulgar como a marcação de uma grande penalidade, o impensável acontecia, as odds alteravam-se drasticamente e dava-se início à melhor fase do Sunderland durante a temporada, já que, ao contrário do que já acontecera anteriormente na temporada, os Black Cats foram regulares e não ficaram por aqui, mantendo uma regularidade impressionante, evidenciada nas três vitórias consecutivas alicerçadas num desempenho defensivo notável: não sofreu qualquer golo ante Cardiff, Manchester United (sim, ganhou em Old Trafford!) e West Bromwich Albion.
Perante a proximidade do abismo em que se encontrava o Sunderland, com seis jornadas para disputar, muito poucos seriam os analistas (e até adeptos do clube) que vaticinariam um final como aquele que se verificou no Stadium of Light, quando foi garantida a permanência dos Black Cats (2-0 ao WBA, com um jogo por disputar).
Transportando esta realidade para Portugal e outros países latinos, é facilmente concebível um cenário em que a emoção tomasse conta das altas instâncias desportivas do clube em questão e que estas se apressassem na procura dos efeitos benéficos que uma chicotada psicológica pode trazer. Contudo, Poyet mudou o paradigma e, não ignorando o excelente trabalho psicológico que foi feito (especialmente com Connor Wickham), é justo reconhecer que a performance de sonho que o Sunderland exibiu no último suspiro do campeonato inglês (que deve ser exemplo para equipas e clubes em situação de descida espalhados pelo mundo) teve na sua base uma chicotada… tática.
UEFA Women´s Champions League: Tyreso FF 3-4 Wolfsburg
Num estádio do Restelo bem composto para um jogo de futebol feminino, Tyreso e Wolfsburg jogavam a oportunidade de entrar na história do futebol feminino. Para as suecas do Tyreso, que têm na sua equipa a melhor jogadora do mundo, Marta, era uma oportunidade de conseguir vencer a Liga dos Campeões pela primeira vez (para a jogadora, a oportunidade de conquistar o troféu pela segunda vez). O clube nórdico atravessa uma grave crise financeira e vai perder várias jogadoras, incluindo a brasileira. Do outro lado estava o campeão em título, o Wolfsburg. As alemãs surpreenderam no ano passado ao vencer o favorito Lyon e tinham a oportunidade de vencer o troféu pela segunda vez na sua história.
Depois de um espetáculo de abertura bem conseguido era tempo de disputar o jogo decisivo. A primeira parte foi fraca, uma vez que ambas as equipas jogaram na expectativa. Ainda assim, o sinal mais vai para o Tyreso. Foi sempre mais perigoso e soube aproveitar as (poucas) oportunidades para ficar em vantagem, frente a um Wolfsburg sem ideias dentro de campo e que apenas obteve uma oportunidade – um mau corte da defesa sueca que ia dando em auto-golo. O Tyreso acabaria por marcar dois golos seguidos no primeiro tempo. O primeiro surgiu pela inevitável Marta, que numa arrancada fantástica deixou três jogadoras para trás e inaugurou o marcador. O segundo apareceu quando ainda se comentava nas bancadas o grande golo de Marta: Christen Press, depois de um excelente trabalho na ala, cruzou para Veronica Boquette facturar. Em poucos minutos o Tyreso parecia caminhar a passos largos para a conquista da Champions League. Um resultado justo ao intervalo – as suecas estiveram sempre mais perto do golo do que as alemãs, mas a qualidade de jogo era baixa.
O Restelo teve uma boa casa para a final Foto: Rodrigo Fernandes
Mas quem pensava que o futebol feminino é sempre assim enganou-se. A segunda parte foi de grande qualidade e de grande emoção. Um golo do Wolfsburg logo a abrir a segunda parte, num cabeceamento de Alexandra Pop, deu o mote para a reacção alemã. O Wolfsburg apresentou-se de forma completamente diferente da primeira parte. Para se ter ideia, em apenas cinco minutos, as alemãs tiveram mais oportunidades do que em toda a primeira parte. O golo, uma bola cortada em cima da linha e uma oportunidade desperdiçada na cara do guarda-redes mostravam a vontade do Wolfsburg de dar a volta ao resultado. E quem trabalha consegue resultados: aos 52 minutos veio o golo do empate. Martina Muller, frente à guarda-redes, empatou e voltou a pôr as duas equipas em igualdade. O que parecia uma final já quase decidida voltou a ser um jogo emocionante. Os papéis tinham-se invertido: o Tyreso era agora uma equipa sem ideias, surpreendida pela grande entrada do Wolfsburg. Mas quem tem Marta nunca está muito tempo apagado do jogo. A jogadora cinco vezes Bola de Ouro foi a grande atracção da final. Cada vez que tocava na bola levava o público ao delírio, cada lance mágico dela tirava olés da bancada, e não é de espantar que todos os cartazes tivessem escrita uma mensagem a pedir a sua camisola. Aos 56 minutos houve um momento de magia: Marta, dentro da pequena área, tirou uma adversária do caminho e colocou a bola no ângulo. Um grande golo de uma grande jogadora que deixou as bancadas de boca aberta. Os primeiros dez minutos do segundo tempo, de pura emoção, espectáculo e qualidade, acabavam, assim, da melhor maneira.
O jogo baixou de ritmo com o 3-2, mas aos 68 minutos Verena Faißt voltou a empatar o encontro para a equipa alemã. O ritmo manteve-se sempre elevado, mesmo sem qualidade no jogo. Martina Müller, a 10 minutos do fim, fez o 4-3 com que o jogo chegou ao final, apesar de o Tyreso ter tentado sempre voltar à igualdade, mais com o coração do que com a cabeça.
Este foi um resultado que premiou a boa segunda parte do Wolsfburg, apesar de a equipa sueca merecer pelo menos uma ida ao prolongamento.
Reportagem elaborada por André Conde e Rodrigo Fernandes
Já te conhecia do Real Madrid e admirava-te. A tua chegada ao Benfica foi para mim uma felicidade e só podia esperar o melhor. Confirmaste-o. Ao lado de Luisão formaste um muro. Arriscava mesmo dizer: uma parede. Marcaste golos e afirmaste-te como um dos melhores centrais a actuar em Portugal e um dos grandes da Europa. Após este fantástico “triplete”, após esta época fantástica, as portas das grandes ligas abriram-se para ti. Mostraste garra e amor ao clube. Mostraste potencial para poder actuar, não entre os grandes, mas sim entre os enormes deste mundo que vive vergado ao deporto-rei.
A época terminou. A próxima época começa a ser traçada. O glorioso abre-te as portas para ficares, e os gigantes abrem-te as portas de saída da Luz. E tu? Dizes que queres o Zenit. Falou-se em Manchester, Barcelona e até num regresso a Madrid. E tu sabes que eras capaz de te impor entre os grandes. De construir uma nova parede com o Sérgio Ramos ou com Piqué. E tu escolhes ir para o Zenit. O teu agente afirma que escolheste o Zenit. Porquê? Porquê passar ao lado dos grandes palcos? Das grandes ligas? Dos grandes jogadores? Porquê perder a oportunidade de aprender com os melhores e ganhar ainda mais? Porquê perder a oportunidade de ganhar o que ganhaste e o que podias ter ganho no Benfica? Pelo dinheiro? És novo. Tens tempo de aos 34 ires dar uns toques para a MLS ou para os Emirados Árabes Unidos. Mas agora, aos 27 anos? No pico de forma? Já com experiência acumulada, venderes-te? Passares ao lado de uma carreira ainda com tanto para dar… Porquê? Witsel e Hulk não te serviram de exemplo?
Garay, fica! Fonte: vivaobenfica.wordpress.com
Não me venhas com conversas de quereres abraçar este novo projecto. Porque duvido que esse projecto vá a lado algum. Tu mereces mais. Fica ou parte. Mas fá-lo em consciência. Escolhe uma liga ao teu nível. O campeonato russo é tão pouco para ti. Enche-te os bolsos, é certo. Mas sempre te vi como alguém que joga por amor ao jogo. Com raça, amor e ambição. Um jogador à Benfica. Um jogador com espírito e alma.
Garay, não vendas os teus dotes. Não vendas a tua carreira. Tu podes mais. Basta quereres. Primeiro ama o que fazes. O dinheiro logo vem.
Desejo-te o melhor futuro do mundo. Vais ser grande. Maior do que já és. Marcaste o Benfica e os benfiquistas. Nunca te esqueceremos, apenas pedimos que jogues por amor e não por dinheiro. O futebol precisa da tua raça.
1) É sabido que os Sportinguistas são frequentemente chamados de “chorões”, “calimeros”, “antis”, etc. por parte dos adeptos do Benfica. Não vou discutir a justeza dessas afirmações, que considero não só despropositadas como também potencialmente perigosas, porque varrem para debaixo do tapete a necessidade de uma discussão séria sobre o futebol português. Mas a realidade é que a imagem de pessoas despropositadamente contestatárias está, infelizmente, muito associada aos adeptos do Sporting.
Foi, por isso, com curiosidade que constatei, depois da final da Liga Europa, que grande parte das considerações de adeptos benfiquistas sobre o jogo falavam quer do Sporting (porque muitos Sportinguistas apoiaram o Sevilha) quer da “cabala” montada por Michel Platini e pela UEFA contra eles (porque, servindo-me de um “argumento” que tantas vezes oiço quando aponto em conversas os erros dos juízes em prejuízo do Sporting, “descarregaram nos árbitros o facto de não terem sido capazes de ir para cima do adversário e marcar mais um golo do que ele”).
Sobre a relação entre Benfica e Sporting, o que se passa é que existe uma rivalidade. É, portanto, normal que a maioria dos sportinguistas não torça pelo Benfica, tal como o contrário também acontece. É assim entre os rivais de todo o mundo. O Benfica, lamento dizê-lo, não é nenhum caso excepcional nem despoleta nos Sportinguistas outro sentimento que não seja a rivalidade – a mesma que os benfiquistas também nutrem pelos adeptos leoninos. Já sobre Platini e a UEFA, pede-se um pouco mais de coerência a quem ridiculariza o Sporting por estar na linha da frente da luta pela transparência do futebol português – nas devidas instâncias, não nos jornais e em bocas desorientadas contra a UEFA. O aparecimento do Movimento Basta (organização na qual, note-se, não me revejo a 100%) foi criticado por muitas das mesmas pessoas que, depois de Turim, subscreveram uma petição “contra a UEFA” (quase 25 000 assinantes) e que chegaram ao ridículo de tentar convocar uma “manifestação” para o dia da final da Champions. A estas pessoas, repito, pede-se maior coerência.
2) Depois de uma lista de 30 pré-convocados claramente provocatória, a escolha final de Paulo Bento até pareceu quase pacífica. Mas há escolhas que têm de ser debatidas. As mais escandalosas, falando agora dos 30 pré-convocados, são as inclusões de André Almeida, André Gomes, Ivan Cavaleiro e João Mário – opções que se tornam ainda mais incompreensíveis quando há jogadores melhores que ficaram de fora. Cédric (cuja ausência dos 23 até perceberia, mas dos 30 nunca, ainda para mais quando é preterido em detrimento de André Almeida) e Adrien são os casos mais gritantes; nunca me passaria pela cabeça convocar Carlos Mané, mas se Cavaleiro lá está então a presença do extremo do Sporting teria feito muito mais sentido. Para que se tenha uma noção das coisas, nada melhor do que deixar os números falar: no que diz respeito ao campeonato, Mané (o menos utilizado dos 3 sportinguistas) fez 843 minutos; os atletas do Benfica, todos somados, perfizeram 1308.
Que não se pense que estou a dar primazia aos meus gostos pessoais. Simplesmente, os Sportinguistas não têm culpa de que os casos mais estranhos a nível de ausências envolvam jogadores do seu clube… Foi assim com Manuel Fernandes em 1986 (marcou 30 golos no campeonato), com Moutinho em 2006 e 2010 e repete-se agora com estes três atletas. Se Bento teve a decência de prescindir de Gomes e de Cavaleiro, confesso que não consigo perceber a ida de André Almeida. Mesmo tendo em conta a lesão de Sílvio, o 34 do Benfica teria, pelo menos, Miguel Lopes, Antunes e Cédric claramente à sua frente. É certo que a polivalência deve ser um argumento a considerar (e Lopes também faz os dois flancos), mas apenas se estivermos a falar de jogadores que mereçam estar sequer a ser comparados. Não deve servir nunca para sustentar que jogadores suplentes (André Almeida começou a jogar em Abril) e que pouco se destacaram passem à frente de quem merecia realmente ser chamado.
É certo que o seleccionador tem sempre a última palavra, mas algumas das opções de Paulo Bento são difíceis de compreender Fonte: Zerozero
Já Adrien é o exemplo de como uma carreira pode ser comprometida duas vezes pelo mesmo treinador: Bento lançou o médio no Sporting quando este tinha 18 anos e colocou-o sempre a trinco, fora da sua posição natural – as exibições não foram as melhores e o jogador começou a ser criticado, entrando numa roda-viva de empréstimos que só acabaram há duas épocas; agora, o mesmo Bento recusa levar um dos melhores médios do campeonato ao Mundial, impedindo a valorização do jogador e a concretização de um sonho pessoal. Com todas estas “brincadeiras”, certo é que, no próximo Campeonato do Mundo, Adrien terá 29 anos. Será, provavelmente, a sua última oportunidade de disputar a competição desportiva mais importante do planeta. Ver isto a acontecer ao mesmo tempo que André Gomes e João Mário são pré-convocados não é fácil de compreender…
3) Tenho de dar os parabéns a Daniel Carriço. Nunca me encheu as medidas enquanto central (ser lançado às feras com 20 anos num Sporting em ruínas e jogar ao lado de Anderson Polga também não é fácil…), mas sempre apreciei o seu profissionalismo. As suas palavras após a conquista da Liga Europa são um bom exemplo daquilo que é ser um grande Sportinguista: não teve problemas em elogiar a excelente equipa do Benfica, disse que “deve tudo” ao clube de Alvalade e que “o coração não muda e ficará sempre do Sporting”, além de ter tido a seriedade, a frontalidade e a presença de espírito para, no meio da festa, lembrar os jornalistas daquilo de que muita gente por vezes se esquece e até ridiculariza: o Sporting podia ter ido ainda mais longe neste campeonatose não fossem algumas arbitragens. Depois de vários anos “a penar”, Carriço merece como poucos a glória alcançada. Pena que tal nunca tenha acontecido ao serviço do clube do coração… A jogadores como este, só consigo desejar o melhor possível. Foi um orgulho ouvir estas palavras!
4) Leonardo Jardim saiu, Marco Silva entrou. Confesso que a saída do madeirense me apanhou desprevenido, mas acabo por percebê-la. E o Sporting continua. Tenho a convicção de que a experiência com o novo treinador será de extremos: ou correrá muito bem, ou correrá muito mal. Esperemos que se verifique a primeira opção. Que tenha toda a sorte do mundo e que confirme num grande clube as boas indicações que deixou no Estoril, é o meu desejo.
P.S.: Mesmo debilitado fisicamente, Cristiano Ronaldo conquistou ontem a segunda Liga dos Campeões da carreira, a tão ansiada “décima” do Real Madrid. 17 golos em 11 jogos é um registo assombroso. É um orgulho ver que o maior produto da formação do meu clube é o melhor jogador português de todos os tempos e um dos maiores de sempre a nível mundial. E ele promete não parar por aqui. Notável! Os parabéns a Carriço estendem-se também a Ronaldo
A Inglaterra é a nova campeã europeia de sub-17. Os ingleses derrotaram a Holanda na final (4-1 nas grandes penalidades após o empate a um no tempo regulamentar) e conquistaram o segundo título da sua história neste escalão. Os britânicos apresentaram-se em Malta com um conjunto recheado de potencial e saíram com um triunfo que premeia a boa organização colectiva e o talento individual. Patrick Roberts foi o melhor jogador do torneio, mostrando uma qualidade muito acima da média para um jovem de apenas 17 anos. Foi essencialmente no plano ofensivo que a Inglaterra fez a diferença. Para além do extremo do Fulham, Isaiah Brown– jogador explosivo, que tem características físicas e técnicas muito interessantes e que pode actuar em todas as posições do ataque – e Dominic Solanke – oportuno em zonas de finalização e dono de uma excelente técnica individual – foram as grandes figuras. O patrão do meio-campo foi Ryan Ledson, que, a jogar à frente da defesa, se destacou na recuperação e na distribuição (exímio no capítulo do passe); Onomah acabou o torneio em bom plano – foi mesmo um dos melhores na final -, aproveitando a sua disponibilidade física e capacidade de transporte de bola. No sector defensivo, os laterais JonjoeKenny e Tafari Moore (bastante completos tanto a atacar como a defender) demonstraram mais potencial do que os centrais.
A Holanda, como habitualmente, contou com um elenco cheio de qualidade e podia perfeitamente ter vencido o torneio. Jari Schuurman foi a estrela da equipa. O médio do PSV destacou-se essencialmente no plano ofensivo: para além da qualidade de passe, tem enorme facilidade de aparecer em zonas de finalização (desmarca-se extremamente bem). Marcou 4 golos que lhe valeram o prémio de melhor marcador da prova (juntamente com Solanke). Nas funções defensivas sobressaiu Donny Van de Beek – médio com uma excelente leitura de jogo e capacidade de recuperação -, dando maior liberdade a Schuurman para se envolver no ataque. Bilal Ould-Chikh foi o principal desequilibrador da equipa. Actuando no corredor direito, apesar de ser esquerdino, é irreverente, fortíssimo no 1×1 e remata muito bem. Bergwijn, avançado móvel e com boa visão de jogo, e Nouri, médio habilidoso, são outros elementos interessantes. Defensivamente, Calvin Verdonk foi quem mostrou mais potencial, não só a defender – muito eficaz na antecipação e no desarme – como a atacar, conseguindo desequilibrar tanto através do passe como da condução de bola. Para além disso, tem um remate forte com o seu pé esquerdo (marcou o golo do torneio frente à Inglaterra) e é um exímio marcador de bolas paradas.
Schuurman foi um dos principais destaques dos neerlandeses Fonte: timesofmalta.com
No que diz respeito à selecção nacional portuguesa, assistimos à história do costume. Depois de uma fase de grupos brilhante, com 3 vitórias (a juntar às 6 da qualificação) e nenhum golo sofrido, os lusos desperdiçaram oportunidades incríveis no jogo da meia-final e acabaram injustamente eliminados pela Inglaterra. Sem ter nenhum craque que se destaque dos restantes, o conjunto de Emílio Peixe – constituído maioritariamente por jogadores do Benfica – mostrou mais qualidade a defender do que a atacar. A dupla de centrais formada por Francisco Ferreira (excelente na antecipação, no desarme e na saída de bola) e Rúben Dias (mais forte fisicamente) esteve impecável e complementa-se na perfeição. Nas laterais, Hugo Santos e Yuri Ribeiro foram competentes, embora tenham dado pouca profundidade ofensiva.
O meio-campo é outro sector desta selecção com bastante potencial. A actuar como médio defensivo, Rúben Neves demonstrou muita cultura táctica, inteligência posicional e qualidade no passe, assumindo-se como um dos pilares da equipa. À sua frente, Gonçalo Rodrigues fez um torneio algo irregular, mas a espaços demonstrou ser um médio talentoso (muita intensidade e boa leitura de jogo). Renato Sanches, talvez o nome mais conhecido à partida, acabou por não estar totalmente à altura das expectativas. Depois de uma excelente exibição na partida inaugural, perdeu influência e não conseguiu ser o médio ofensivo de que a equipa precisava. Ainda assim, tem imensa margem de progressão e consegue aliar qualidade técnica a uma capacidade física impressionante. Tem qualidade de passe, é muito forte no transporte de bola e cumpre defensivamente. Como opções de banco, Pedro Rodrigues, médio defensivo, e Pedro Delgado, dono de um excelente pé esquerdo, foram alternativas à altura.
Pelo que se viu neste torneio, o ataque é, surpreendentemente, o sector com menos qualidade. Os extremos titulares pouco produziram. À direita, Buta mostrou muita velocidade mas pouca inteligência nas decisões; do outro lado, Diogo Gonçalves não conseguiu aproveitar a sua qualidade técnica. Esteve constantemente desaparecido dos jogos e só apareceu na meia-final com a Inglaterra, exibindo um poder de remate bastante interessante. Luís Mata foi a arma secreta, sendo decisivo nas duas primeiras vitórias. Curiosamente, quando foi titular teve uma prestação desapontante. João Carvalho, que pode actuar na zona central e no corredor esquerdo, é provavelmente o jogador com mais técnica desta selecção. O jogador do Benfica tem uma excelente capacidade de aceleração, é criativo e forte no 1×1. Ganhou o lugar no onze com o decorrer do torneio. Como referência ofensiva, Alexandre Silva foi uma desilusão e, para já, não parece ter condições de ser o futuro da selecção. É muito fraco nas decisões e demasiado perdulário a finalizar. Tendo em conta as suas características, talvez possa tornar-se num extremo interessante (é rápido e consegue desequilibrar no 1×1).
Ruben Neves. capitão de Portugal, demonstrou muita maturidade e muita qualidade Fonte: UEFA
A Escócia foi a grande surpresa da prova, apesar de ter tido alguma felicidade na forma como se apurou para as meias-finais. Os escoceses vacilaram frente aos adversários mais poderosos (Portugal e Holanda), mas conseguiram derrotar as equipas de valia semelhante (Alemanha e Suíça). O jogador mais talentoso é Scott Wright, segundo avançado que cai bastante nas alas e é capaz de criar desequilíbrios através das suas mudanças de velocidade. Como pontas-de-lança, Craig Wighton e Ryan Hardie mostraram potencial. São dois jogadores com características idênticas – altos mas móveis –, que seguram bem a bola e têm sentido de baliza. Nesbitt, médio ofensivo com uma excelente qualidade no passe, e Joseph Thomson, trinco agressivo e forte na recuperação, são outros elementos que podem chegar longe.
Apesar de terem sido afastadas na primeira fase, a Turquia e a Suíça mostraram bastante qualidade. Os suíços voltaram a apresentar uma geração que pode ter sucesso no futuro. Ainda assim, o jogador de quem mais se esperava – Albian Ajeti – não esteve à altura. O avançado, que já se estreou na equipa principal do Basileia, tem muito potencial (rápido, potente e com remate fácil), mas passou ao lado do torneio. No meio-campo destacaram-se Djibril Sow – box-to-box intenso, eficaz na recuperação e forte no transporte de bola – e Dimitri Oberlin, que, a actuar como médio ofensivo, deixou excelentes indicações. Arxhend Cani, extremo que ocupa preferencialmente o corredor esquerdo, foi o principal desequilibrador da equipa, mostrando bons atributos técnicos e uma capacidade de aceleração muito acima da média. O guarda-redes Gregor Kobel – tremenda segurança na saída aos cruzamentos e boa presença entre os postes – também merece nota positiva (pode seguir as pisadas de guardiões como Sommer ou Benaglio).
Os turcos tiveram alguns problemas defensivos, mas a principal razão para não terem seguido em frente foi a falta de maturidade na gestão do jogo (estiveram em vantagem contra Holanda e Inglaterra). Enes Ünal, que já é presença habitual na equipa do Bursaspor, é o jogador com mais potencial. O avançado destacou-se pelo seu instinto e sentido de baliza, impressionando pela forma como consegue trabalhar na grande área (marcou dois golos à meia volta). Forte fisicamente, joga bem como pivot e é bastante perigoso na marcação de livres. O guarda-redes Tarik Çetin – impecável entre os postes -, e os extremos Incedere e Sabit Yilmaz, dotados tecnicamente e com boa visão de jogo, são outros elementos talentosos.
A Alemanha foi a grande desilusão da prova. Ao contrário do que se esperava, os germânicos viajaram para Malta com uma equipa pouco talentosa e saíram do torneio sem qualquer vitória. O capitão Benjamin Henrichs foi um dos poucos destaques positivos. O jogador do Bayer Leverkusen actuou como médio centro e mostrou uma maturidade muito acima da média para um jovem de 17 anos. Muito completo, tem qualidade técnica, capacidade de passe e aparece bem em zonas de finalização, sendo igualmente competente nas tarefas defensivas. Os extremos Ferati e Fiore-Tapia também deixaram boas indicações, apesar da irregularidade exibicional. Em relação à selecção da casa, como se previa não teve capacidade para ombrear com os adversários (equipa bastante atrasada a nível técnico e táctico, tanto individual como colectivamente). O ponto alto acabou por ser os dois golos marcados à Holanda. Friggieri, extremo com um excelente pé esquerdo, e Mbong, rápido e capaz de criar desequilíbrios, são os jogadores mais interessantes.
Onze ideal (4-3-3):
GR – Tarik Çetin (Tur)
LD – Jonjoe Kenny (Ing)
DC – Francisco Ferreira (Por) e Calvin Verdonk (Hol)
LE – Tafari Moore (Ing)
Mdef – Ryan Ledson (Ing)
MC – Jari Schuurman (Hol)
MO – Dominic Solanke (Ing)
Extremos – Patrick Roberts (Ing) e Bilal Ould-Chikh (Hol)
Av – Isaiah Brown (Ing)
Melhor jogador:Patrick Roberts – O médio holandês Jari Schuurman também brilhou, mas o extremo inglês é quem mais merece esta distinção. Marcou 3 golos e fez 4 assistências. Actuando preferencialmente no corredor direito, o jovem de 17 anos tem nas diagonais para o corredor central – onde pode aplicar o seu forte remate de pé esquerdo – a sua grande arma. Dotado tecnicamente, com uma excelente visão de jogo e uma capacidade de decisão muito acima da média, cria bastantes desequilíbrios através da condução de bola (principalmente) e do drible.