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Bayern Munique 1-0 Inter Milão: A organização + Douglas Costa

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O Bayern de Munique e o Inter de Milão enfrentaram-se hoje, na China, num estádio de 80 mil cadeiras e onde poucas estavam vazias. Os alemães venceram por 1-0 mas o resultado é mentiroso. Podia muito bem ter sido por mais de 1. Perante o entusiasmo (e o dinheiro) asiático, ambas as equipas se apresentaram com onzes não muitos distantes daqueles que poderão vir a ser os principais. Do lado alemão, Douglas Costa era o único reforço a aparecer de início; já no Inter, Mancini colocou Murillo, Montoya e Kondogbia no onze.

Como era de esperar, até pelo tempo superior que Guardiola tem ao serviço do seu clube quando comparado com Mancini – que voltou ao clube de Milão apenas nesta temporada -, o Bayern mostrou-se autoritário no que ao controlo da posse diz respeito. Ainda assim, foi o Inter o primeiro a criar perigo: Hernanes aproveitou a má recepção de Xabi Alonso que, ainda no seu meio-campo, perdeu a bola e possibilitou ao médio brasileiro a possibilidade de rematar. Foi, aliás, o mais perigoso momento do conjunto italiano. A partir daí, a equipa de Munique assumiu o jogo e mostrou uma organização, em 3x5x2, já bem assente fruto dos dois anos de trabalho com o técnico catalão. Boateng, pela direita, Benatia, no meio e Alaba, pela esquerda, constituíam a linha recuada de três – nota para a preferência de Guardiola por três jogadores muito fortes e rápidos, de forma a que consigam controlar a profundidade dada -, Xabi Alonso, Thiago e Lahm eram os três médios interiores, com as faixas entregues a Bernat (esquerda) e Douglas Costa (direita). Na frente, Muller e Lewandowski, que desperdiçaram várias oportunidades para inaugurar o marcador.

Por sua vez, o Inter mostrou-se demasiado inconclusivo. Com dificuldades em sair desde trás, usou e abusou da bola longa mas muito raramente conseguiu solicitar com qualidade Palácio e Icardi, os dois da frente. Em 4x4x2, resta a dúvida sobre se este será o modelo que Mancini pretende implementar ou se foi o Bayern que forçou os italianos a optar pelo jogo directo e menos fluído. Kovacic, a principal estrela da equipa, passou completamente ao lado do encontro tal era a pouca influência que o meio-campo exercia e a pouca procura dos espaços entre linhas. Hernanes, ainda assim, foi o melhor do Inter. Kondogbia mostrou aqui e ali alguma qualidade, mas esteve longe de ser capaz de contrariar o domínio bávaro.

Douglas Costa, o único reforço bávaro a começar de início
Douglas Costa, o único reforço bávaro a começar de início

Em termos individuais, e perante a ausência de Robben e Ribery, Douglas Costa foi o principal motivo de destaque. A partir da direita, criou inúmeros desequilíbrios (nem sempre bem definidos no último passe, é certo) e serviu várias vezes colegas que na finalização não conseguiram concretizar. Seja como for, está claro que Guardiola tem mais um elemento capaz de desequilibrar para além de Robben e Ribery, que se têm mostrado intermitentes no que ao estado físico diz respeito. Sobre os reforços do Inter, uma palavra para o central Murillo que teve de sair no final da primeira parte por um problema físico mas que, até aí, foi autoritário e ganhou boa parte dos lances que disputou.

No segundo tempo ambas as equipas mexeram significativamente. O Bayern lançou muitos jovens, mas também Gotze. O Inter mexeu de forma menos repentina e até colocou um português: Pedro Delgado, médio, entrou aos 69′ para o lugar de Hernanes. O jogo perdeu, de parte a parte, alguma qualidade  mas o sentido não se inverteu: o Bayern continuou dono e senhor do encontro. Entre os meninos, menção para Benko, extremo de apenas 17 anos, muito audaz e com qualidade óbvia na condução. Dificilmente será relevante nesta época do Bayern, mas por certo que será um nome a não esquecer daqui em diante.

O golo que viria a determinar o vencedor do jogo acabou por chegar já aos 80′, através de Gotze – de quem se diz poder sair, perante a pouca importância na equipa -, que contornou o guardião Carrizo e finalizou com a baliza deserta. Ambas as equipas continuarão em solo chinês. Do lado de Guardiola, a preparação parece ir conforme o esperado e a bom ritmo, já com qualidade e organização latentes tanto neste encontro como na vitória por 4-1 ao Valência; já Mancini terá muito trabalho pela frente, até para definir o seu modelo de jogo. De qualquer forma, o conjunto italiano terá como meta competir em Itália e as competições europeias não serão uma prioridade para este ano.

Fontes das fotografias: Facebook oficial do Bayern de Munique

Euro Sub-19: A hegemonia continua a ser deles

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Marco Asensio e Dani Ceballos. Decorem estes nomes, porque vão ser duas estrelas do futebol mundial. A magia de ambos ajudou a Espanha a vencer pela sétima vez (em catorze edições) o Europeu de Sub-19, que se disputou na Grécia. Na final, La Rojita derrotou a Rússia por 2-0 e conquistou, de forma justa, mais um título nos escalões de formação. Sem a presença de Portugal, afastado pelos novos campeões europeus na Ronda de Elite, a competição perdeu interesse mediático no nosso país e a cobertura foi quase nula, apesar de estarem presentes alguns jogadores que podem vir a ser referências.

O título espanhol acaba por ser apenas a cereja no topo do bolo, já que o objectivo primordial de criar bases para que alguns destes jovens integrem futuramente a selecção principal foi totalmente atingido. Houve respeito por aquela que tem sido a identidade do futebol nacional na última década, e o perfil dos jogadores também ajudou a que isso acontecesse. Com defesas capazes de iniciar a construção de jogo, médios muito inteligentes tacticamente e jogadores dinâmicos e criativos no ataque tudo se torna mais fácil. Há muita qualidade individual nesta geração. Jesús Vallejo é um líder nato (tem apenas 18 anos e já é capitão do Saragoça) e um central que se destaca pela elegância com que aborda os lances, pela confiança com a bola nos pés e por uma leitura de jogo fora do normal. É justo afirmar que é um dos mais promissores do mundo na sua posição, não sendo surpreendente que seja cobiçado por todos os grandes do país vizinho. Formou uma excelente dupla com Jorge Meré, jogador do Sporting Gijón com características semelhantes. À frente da defesa, Rodrigo Hernández, do Villarreal, foi preponderante na manobra da equipa espanhola. Grande sentido posicional e uma tremenda segurança no passe. As comparações por vezes podem ser injustas e precipitadas, mas é inevitável recordarmo-nos de Sergio Busquets.

Ceballos foi o melhor da prova e vai estrear-se na liga espanhola pelo Bétis Fonte: marcadorint.com
Ceballos foi o melhor da prova e vai estrear-se na liga espanhola pelo Bétis
Fonte: marcadorint.com

Dani Ceballos é um diamante que vai brilhar na próxima liga espanhola. Ajudou o Bétis a conseguir a subida e terá oportunidade de se mostrar ao mundo na época que se aproxima. Está destinado aos grandes palcos e isso percebe-se em poucos minutos. Não sendo um “10” à antiga, até porque tem capacidade de pegar na bola em zonas recuadas e revela uma intensidade defensiva assinalável, é um médio ofensivo com argumentos de sobra (tecnicamente brilhante e com uma capacidade de decisão extraordinária) para chegar ao topo. Marco Asensio é outro craque, e não admira que o Real Madrid o tenha contratado ao Maiorca por 3,9 milhões de euros. O esquerdino foi um jogador decisivo no torneio e também tem potencial para ser uma das figuras do futebol espanhol. Com uma visão de jogo muito acima da média, foi um criador constante de desequilíbrios – seja através do drible ou do passe – a partir do lado direito. Borja Mayoral, também do Real Madrid, é um digno sucessor de Morata, tendo um estilo muito idêntico ao avançado da Juve. Matías Nahuel, extremo rapidíssimo do Villarreal, foi a arma secreta que saltava do banco e esteve igualmente em bom plano nesta competição.

O finalista vencido confirmou que o título de sub-17 em 2013 não foi obra do acaso. Numa altura em que se pode falar numa crise de talentos no futebol local (ou talvez seja apenas uma consequência da falta de aposta nos jovens), a Rússia, com muitos jogadores que faziam parte dessa equipa, deixou uma bela imagem neste torneio, apresentando um conjunto extremamente bem organizado e que fugiu ao excessivo conservadorismo que ficou patente nas últimas participações. Vale a pena dar espaço para que esta geração recheada de qualidade em todos os sectores possa crescer. Começando pelo dono da baliza, Anton Mitryushkin, guardião do Spartak que foi considerado o melhor jogador do Euro Sub-17 de 2013 e que voltou a provar que tem características técnicas e mentais para ser uma referência na sua posição. Nikita Chernov, que já é internacional AA, foi o patrão da defesa, tendo ao seu lado o promissor Dzhamaldin Khodzhaniyazov, central esquerdino com uma excelente capacidade de antecipação, forte nos duelos e extremamente competente na saída de bola. Foram indubitavelmente uma das melhores duplas da prova. Não menos importante foi a dupla de meio campo composta por Dmitri Barinov e Aleksandr Golovin, que teve um papel fundamental no sucesso da equipa. No ataque, para além do irrequieto Ayaz Guliev, desequilibrador sobre os flancos, foram dois jogadores do Zenit a brilhar: Aleksei Gasilin, extremo muito objectivo e um óptimo finalizador, e o avançado Ramil Sheydaev, móvel, com instinto e capacidade no 1×1.

Vallejo e Mitryushkin são dois nomes que podem chegar ao topo do futebol europeu Fonte: uefa.com
Vallejo e Mitryushkin são dois nomes que podem chegar ao topo do futebol europeu
Fonte: uefa.com

A França, que caiu nas meias-finais perante a Espanha, esteve longe de deslumbrar futebolisticamente. Para não variar, os gauleses apresentaram uma geração impressionante do ponto de vista físico e individualidades acima da média, mas isso não chega quando não há dinâmica colectiva. Faltou qualidade ao ataque, já que ao sector defensivo nada se pode apontar. Mouctar Diakhaby e Abdou Diallo têm o perfil habitual nos centrais franceses (dois “monstros”) e os laterais Angelo Fulgini e Lucas Hernández, jogador à imagem de Digne, foram dos melhores da prova. Olivier Kemen, médio defensivo que revelou grande capacidade de passe, controlou o meio campo, onde Samed Kilic, criativo e com qualidade técnica, também mostrou potencial. Kingsley Coman era provavelmente o jogador mais cotado da competição e está claramente noutro patamar, mas nunca foi a referência de que a equipa precisava. Gnaly Cornet, explosivo e com facilidade na criação de desequilíbrios, e o possante avançado Moussa Dembelé, que fez a diferença saltando do banco, tiveram maior preponderância na equipa do que o craque da Juve.

Os anfitriões, apesar de terem chegado à fase a eliminar, foram provavelmente a selecção que menos qualidade mostrou nesta prova. A equipa grega nunca demonstrou capacidade de jogar em ataque continuado e passou a maior parte dos jogos a defender, apostando depois no futebol directo ou em saídas rápidas. O lateral-esquerdo Kostas Tsimikas, que revelou facilidade em fazer todo o flanco, foi um dos jogadores em evidência e mostrou potencial para fazer parte do futuro da selecção helénica, que atravessa um período bastante negativo. Ainda no sector defensivo, o central Albert Roussos, polivalente da Juventus que também pode jogar no meio campo, destacou-se pela maturidade e pela inteligência na leitura de jogo. Não houve condições para que os jogadores ofensivos pudessem brilhar, tendo em conta a forma de actuar dos gregos. O ponta-de-lança Nikolas Vergos, que já se estreou na Liga dos Campeões pelo Olympiacos, foi obrigado a jogar muito sozinho na frente e deu boa conta de si, provando que é um dos mais talentosos desta geração, bem como o extremo Panagiotis Kynigopoulos, por vezes demasiado individualista mas capaz de criar desequilíbrios.

Com a passagem da Grécia, dois conjuntos de grande valia ficaram pelo caminho. A Áustria não conseguiu vencer nenhum jogo mas apresentou mais uma geração recheada de jogadores que podem chegar brevemente à selecção principal, que tem o apuramento para o Europeu do próximo ano muito bem encaminhado e que tem demonstrado que o futebol do país está numa fase muito positiva. Mesmo sem dois dos maiores projectos do futebol nacional, Valentino Lazaro (o Salzburgo não abdicou dele) e Sinan Bytiqi (por lesão), os austríacos deixaram bons sinais para o futuro. O baixinho Sascha Horvath, que abdicou de participar no Mundial Sub-20 para se concentrar nesta prova, é claramente um dos maiores talentos a despontar e foi a figura da equipa. Com apenas 18 anos e já com uma participação em dois Europeus de Sub-19, é um médio ofensivo que não deve ficar muito tempo no Sturm Graz, tendo em conta o seu potencial. Jogando no apoio directo ao avançado ou sobre os corredores laterais, é um jogador veloz a pensar e a executar, com qualidade técnica e facilidade na criação de desequilíbrios. O reforço do Estugarda Stefan Peric, central forte na saída de bola e com uma excelente capacidade de antecipação, Xaver Schlager, um dos mais jovens da prova (apenas 17 anos), e o avançado Marko Kvasina, gigante de 1,94m com sentido de baliza e uma agilidade interessante para um jogador da sua envergadura, também aproveitaram a competição para despertar atenções.

Sascha Horvath é um dos nomes da nova geração austríaca Fonte: uefa.com
Sascha Horvath é um dos nomes da nova geração austríaca
Fonte: uefa.com

A Ucrânia contou com vários jogadores que brilharam recentemente no Mundial Sub-20, mas a presença de nomes como Viktor Kovalenko, craque que passou ao lado deste Europeu, Valeri Luchkevych ou Artem Biesiedin não fez a diferença nesta equipa de sub-19. As principais figuras desta selecção são produtos das escolas de formação do Shakhtar Donestsk, que realizou uma campanha notável na última UEFA Youth League, onde perdeu na final com o Chelsea. Olexandr Zinchenko, pivot defensivo com bom sentido posicional e uma capacidade de passe notável, Beka Vachiberadze, médio com um pé esquerdo fantástico, e o avançado Olexandr Zubkov, móvel, potente e forte tecnicamente, deram nas vistas e, tendo espaço para isso, têm qualidade de sobra para se afirmarem no futebol sénior.

A Alemanha foi a principal desilusão no grupo da morte e teve um ano para esquecer em termos de futebol jovem (só a presença na final do Euro Sub-17 limpa a má imagem deixada). Os germânicos, que já tinham falhado no Mundial Sub-20 e no Euro Sub-21, apresentaram um futebol previsível e não houve individualidades para resolver o que o colectivo não conseguiu. Timo Werner ainda deu um ar de sua graça, percebendo-se que é um avançado de grande qualidade, mas Leroy Sané, produto mais recente das escolas do Schalke, não foi capaz de marcar a diferença. Numa geração que não deve ter muito impacto no futuro, Jonathan Tah, central que faz lembrar Boateng, acabou por ser o jogador que mais se valorizou nesta prova, de tal forma que levou o Bayer Leverkusen a contratá-lo ao Hamburgo por 10 milhões de euros.

A Holanda não fez muito melhor do que a Alemanha, mas a ausência de alguns dos jogadores mais importantes, como Donny Van de Beek, Riechedly Bazoer ou Jairo Riedewald, todos concentrados na pré-temporada do Ajax, atenua um pouco a má prestação. Bilal Ould-Chikh, recentemente contratado pelo Benfica, não esteve à altura das expectativas e ainda tem de evoluir bastante se quiser confirmar o rótulo de “novo Robben”. Pedia-se mais a uma das figuras desta equipa. Abdelhak Nouri, outro dos craques, teve menos protagonismo do que Frenkie de Jong, médio muito requintado tecnicamente que não vai demorar a dar o salto para um dos principais emblemas holandeses (joga no Willem II). Destaque também para o ponta-de-lança Pelle van Amersfoort, típico avançado de área, corpulento e muito forte no jogo aéreo.

11 ideal:

GR – Anton Mitryushkin (Rússia)

LD – Angelo Fulgini (França)

DC – Jesús Vallejo (Espanha)

DC – Nikita Chernov (Rússia)

LE – Lucas Hernández (França)

MDef – Rodrigo Hernández (Espanha)

MDef- Olivier Kemen (França)

MO – Dani Ceballos (Espanha)

ED – Marco Asensio (Espanha)

AV – Ramil Sheydaev (Rússia)

AV – Borja Mayoral (Espanha)

Melhor jogador: Dani Ceballos (Espanha)

Foto de Capa: uefa.com

Zona de conforto

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O comodismo está na génese de muitos problemas do mundo. Encrava o desenvolvimento, tanto pessoal como colectivo. Seja a nível físico, pelos dias e noites que se possam passar em frente a um ecrã de computador ou de uma televisão, ou intelectual, pelo facto de se falar sempre com as mesmas pessoas, da mesma maneira, nos mesmos lugares. A nível colectivo, civilizações e estados menos desenvolvidos não crescem, e a riqueza que uma economia produz escorre quase em absoluto para barões e ditadores que têm como braço direito um povo que não muda porque não conheceu outra coisa desde que se conhece. Caso conhecessem, talvez quisessem mudar, talvez não se conformassem como acontece em alguns países desenvolvidos, mas o comodismo de quem os (des)governa é o que dita leis, e assim se prolongam problemas (acesso a comida, educação e higiene básica) que deviam ser do século passado pelo galopante “encolhimento” do mundo que as TIC (e o acesso a elas) têm patrocinado.

O comodismo, porém, pode não ser uma coisa má. É, até, algo necessário ao ser humano que precisa de uma identidade para se distinguir dos demais e, por isso, de uma zona onde se sinta mais do que querido – amado e respeitado incondicionalmente. No fundo, um lugar ao qual possa chamar “casa”, seja ele físico (partilhado com os seus entes mais queridos) ou fictício (as bases da sua educação, os valores). Essa “casa” física, porém, não nasce com a compra de um apartamento ou a chegada a um novo cargo. Vai-se construindo através do “ir ficando”, das rotinas estabelecidas, dos mesmos sorrisos, dos comportamentos gradualmente previsíveis… enfim, do comodismo.

Porém, até o “excesso de justiça faz injustiça”, pelo que o comodismo deverá ser algo bem regrado. Se alguém não sair de uma “casa” onde foi feliz e bem sucedido, nunca saberá se foi só a força das circunstâncias externas que o provocou ou se as causas do sucesso se devem às suas qualidades. Sem se sair dessa zona de conforto, ficará sempre essa prova por dar – ao mundo e, sobretudo, a si mesmo.

Ronaldo já saiu da zona de conforto e tem, agora, menos provas a dar Fonte: Facebook do Real Madrid
Ronaldo já saiu da zona de conforto e tem, agora, menos provas a dar
Fonte: Facebook do Real Madrid

O futebol conhece casos destes. Leo Messi, actualmente, é o mais flagrante. O talento nasceu com ele, a formação foi feita em Barcelona. É um dos melhores jogadores de sempre, mas só actuou num clube, profissionalmente, ao longo da sua carreira. Cristiano Ronaldo, espécie de “inimigo mortal” do argentino, pode gabar-se de já ter conquistado troféus em vários ”casas” e de ter sido considerado o melhor jogador do mundo nelas (Real Madrid e Manchester United). No seu caso, ficou provado que foram as qualidades do jogador que fizeram o sucesso e não a força das circunstâncias, as rotinas estabelecidas, o conhecimento da casa e das infraestruturas, o sistema táctico ou a posição que ocupou. Neste momento, Cristiano Ronaldo tem menos a provar a si mesmo, e não se esperaria outra coisa de um animal competitivo como ele é.

A fuga da zona de conforto deve ser algo que Messi deve estar a considerar e algo que muitos jogadores por esse mundo fora já pensaram e… executaram. Sobretudo este ano. Bastian Schweinsteiger (do Bayern Munique para o Manchester United) e Iker Casillas (do Real Madrid para o FC Porto) são os casos mais mediáticos. Ganharam coragem e deixaram o conforto de “casa” para interromper ligações de 17 e 25 anos, respectivamente, com os clubes onde nasceram para o futebol.

Agora podem provar que a sua qualidade não depende do clube que representavam. Principalmente o guarda-redes espanhol, muitíssimo criticado por adeptos e analistas de futebol que foram colocando sobre ele um manto de incerteza acerca da sua competência entre os postes, apontando o clube que representava como a principal razão para ser considerado um dos melhores do mundo.

Em 2015/2016 essa dúvida ficará desfeita. Casillas vai sair da zona de conforto.

Olheiro BnR – Diogo Jota

olheiro bnr

Um dos jogadores que promete ser uma das grandes figuras do Paços de Ferreira em 2015/16 é o jovem Diogo Jota, atacante de apenas 18 anos que já na temporada transacta se estreou na equipa sénior dos “castores” e logo com impacto significativo.

Nascido a 4 de Dezembro de 1996 em Massarelos, Diogo José Teixeira da Silva, que tem em Diogo “Jota” o seu nome de guerra, iniciou a sua carreira futebolística no Gondomar, clube que foi representando até ao escalão de juniores, em 2013/14, quando se mudou para o Paços de Ferreira. No emblema da Mata Real, somou época e meia de grande destaque nos juniores, mas, perante o seu inquestionável talento e maturidade, começou aos poucos por ser integrado na equipa principal, sendo que essa transição tornou-se definitiva n o início de 2015. Ao todo, sublinhe-se, Diogo Jota somou 12 jogos e quatro golos pelo Paços de Ferreira na temporada anterior, sendo que dez desses encontros e dois desses tentos foram precisamente na Liga NOS.

Diogo Jota é uma promessa na Primeira Liga Fonte: Facebook de Diogo Jota
Diogo Jota é uma promessa na Primeira Liga
Fonte: Facebook de Diogo Jota

Salto não deve tardar

Diogo Jota é inquestionavelmente um grande talento do nosso futebol, esperando-se que rapidamente dê o salto para um emblema com ambições diferentes do Paços de Ferreira, sendo até surpreendente que isso ainda não tenha ocorrido, atendendo à gigantesca e facilmente identificável qualidade e margem de progressão deste atacante. Posicionalmente, este jovem luso é preferencialmente um segundo avançado, destacando-se por uma fantástica qualidade técnica, seja de remate, passe ou drible, isto sem esquecer uma ampla mobilidade, excelente visão de jogo e rapidez na corrida e execução.

Muito inteligente na forma como pensa o jogo, o jovem de 18 anos pode actuar igualmente como “dez”, ainda que a sua excelente capacidade finalizadora e forma decidida como procura imediatamente as zonas de remate pareçam privilegiar a sua colocação como o tal avançado de suporte que apoie directamente um ponta de lança mais fixo. Aí, afinal, poderá aliar a sua excelente capacidade criadora à finalizadora, num cocktail que promete torná-lo numa das grandes revelações da próxima edição da Liga NOS.

Foto de Capa: FC Paços de Ferreira

Spartak de Moscovo – Alenichev e o Gigante com Pés de Barro

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“Joguem com alma” – foi isto que Dmitri Alenichev pediu aos seus jogadores antes da partida com o FC Ufa da passada sexta-feira, jogo a contar para a primeira ronda da RPL (Primeira Liga Russa). De acordo com o capitão de equipa do Spartak Moscovo, Artem Rebrov, o seu novo treinador tem passado aos jogadores uma mensagem de tranquilidade, ao mesmo tempo que lhes tenta reacender a paixão por jogar bom futebol.

O Spartak Moscovo está actualmente a atravessar um período decepcionante da sua longa e gloriosa história. O gigante moscovita não vence a liga russa desde 2001, nem sequer uma competição oficial desde 2003. Esta longa travessia no deserto pareceria algo altamente improvável se estivéssemos a olhar para os triunfos dos Народная команда (equipa do povo) durante a década de 1990 e para as fantásticas campanhas realizadas, dentro e fora de portas, durante os anos 80.

Foi, curiosamente, uma abrupta descida de divisão e consequentes mudanças no departamento técnico em 1976 que possibilitaram ao Spartak reformular-se enquanto equipa e, ao mesmo tempo, marcar uma posição firme no futebol da ex-União Soviética. A chegada de Konstantin Beskov, um homem claramente à frente do seu tempo, permitiu ao Spartak vencer a 2ª divisão do futebol soviético na época seguinte à sua despromoção e duas temporadas depois sagrar-se campeão da Liga Suprema do Futebol Soviético (Высшая лига), quebrando assim um penoso jejum de uma década. Beskov mudou o Spartak para sempre e provocou, ao mesmo tempo, um autêntico turbilhão no futebol do antigo império soviético. O gigante moscovita deixou de ser aquela valente equipa que se afirmou, e de que forma, durante o pós-2.ª Guerra Mundial, e que foi oscilando entre o bom e o medíocre durante mais de uma década, para passar a ser um autêntico tormento à hegemonia do Dynamo Kiev de Valeriy Lobanovskiy e um acérrimo candidato ao título época após época.

A equipa foi amadurecendo e, após anos de trabalho intenso, já em plena Glasnost, o Spartak sagrou-se campeão em 1987, numa campanha durante a qual apenas conheceu o sabor da derrota por três vezes. O Spartak tinha, à época, uma equipa fantástica e era considerado por muitos a equipa que jogava o melhor futebol no antigo bloco de leste. Conduzidos dentro de campo pelo verdadeiro maestro soviético, Fyodor Cherenkov, os Красно-белые (os vermelhos e brancos) punham em prática aquilo que décadas mais tarde veio a chamar-se tiki-taka e que não era mais nem menos do que uma versão melhorada e mais elaborada do Passovotchka, do lendário Boris Arkadyev, que Konstantin Beskov e, mais tarde, Oleg Romantsev desenvolveram na primeira equipa e na academia do Spartak.

Konstantin Beskov – O homem que revolucionou o futebol do Spartak Fonte: SportStories
Konstantin Beskov – O homem que revolucionou o futebol do Spartak
Fonte: SportStories

Numa entrevista a um jornal desportivo espanhol há alguns anos atrás, o antigo jogador do Spartak, do SL Benfica e do Celta de Vigo, Aleksandr Mostovoi, que trabalhou com Beskov e Romantsev no gigante moscovita, afirmou que a equipa jogava praticamente de olhos fechados e muito raramente necessitava de olhar para o lado para saber se o seu companheiro de equipa estava lá para receber a bola. Esse Spartak que Mostovoi descreveu foi precisamente a equipa que, na época de 1990-91, atingiu as meias-finais da extinta Taça dos Clubes Campeões Europeus, caindo nas mãos do poderoso Olympique de Marseille de Jean-Pierre Papin e Abédi Pelé. Essa gloriosa caminhada ficou marcada pela estrondosa vitória por 3-1 no Santiago Bernabéu, com dois golos de Dmitri Radchenko e um de Valeri Shmarov, e pela eliminação do SSC Napoli de Diego Armando Maradona na marcação de grandes penalidades num Central Lenin Stadium em Moscovo (actual Luzhniki) a rebentar pelas costuras, com mais de 86 mil espectadores nas bancadas. Foi precisamente Aleksandr “El Zar” Mostovoi que marcou o penálti decisivo nesse jogo, aproveitando da melhor forma o falhanço de Marco Baroni e levando ao desespero um Diego Maradona que raramente foi capaz de pôr à prova a bem organizada defesa moscovita.

Aleksandr Mostovoi e Diego Maradona no Spartak vs Napoli de 1991 Fonte: Spartak World
Aleksandr Mostovoi e Diego Maradona no Spartak vs Napoli de 1991
Fonte: Spartak World

A queda da União Soviética e as mudanças geo-políticas que assolaram a então mais extensa nação do mundo tiveram também um impacto profundo no futebol e em todas as outras modalidades desportivas. Contudo, o Spartak Moscovo cresceu consideravelmente no meio da anarquia que foram os primeiros anos de “democracia” de Boris Yeltsin e a equipa moscovita, liderada pela genialidade errática de Oleg Romantsev, conquistou a então recém-criada Liga Russa nove vezes entre 1992 e 2001. O histórico treinador russo e antigo jogador do Spartak, que foi também presidente do clube durante um período considerável de tempo, conseguiu construir e reconstruir a equipa, sobrevivendo às constantes saídas dos melhores jogadores época após época.

Oleg Romantsev – O génio errático do futebol russo Fonte: vk.com
Oleg Romantsev – O génio errático do futebol russo
Fonte: vk.com

Foi numa dessas equipas que Romantsev lançou o actual treinador do Spartak Moscovo e antigo jogador do FC Porto, Dmitri Alenichev. O antigo internacional russo chegou ao clube em 1994, proveniente dos vizinhos e rivais do Lokomotiv Moscovo, e rapidamente se tornou num dos meninos de ouro de Oleg Romantsev. Yegor Titov, agora um dos adjuntos de Alenichev no Spartak, fazia também parte dessa equipa e não há muito tempo lembrou numa entrevista o “medo” que os jogadores tinham de Romantsev, recordando que Oleg havia ficado profundamente chateado com o facto de Alenichev não ter tido coragem para lhe comunicar atempadamente a sua ida para o AS Roma em 1998 e que esteve sem lhe dirigir a palavra durante alguns anos.

A saída de Romantsev da estrutura da equipa em 2003 marcou o início da longa travessia no deserto do Spartak, aquela que cabe agora a Dmitri Alenichev terminar. A sua tarefa não se afigura, contudo, nada fácil, uma vez que o antigo médio do FC Porto está obrigado a começar tudo, ou quase tudo, do zero, fruto das épocas de histeria colectiva que têm vindo a assolar a equipa há mais de uma década.

Depois de uma caminhada firme e bem sucedida com o Arsenal Tula, Alenichev e os seus adjuntos, Dmitri Ananko e Yegor Titov, têm agora em mãos a tarefa de reabilitar um gigante com pés de barro, que viu a sua estrutura “apodrecer” lentamente, vítima de negócios ruinosos e engenharias financeiras altamente dúbias, levados a cabo por uma direcção mercantilista cuja única preocupação se prendia com a forma mais rápida de obter dinheiro.

Para a nova época, que teve início na passada sexta-feira frente ao FC Ufa (2-2 foi o resultado final do jogo), Alenichev fez regressar à equipa o capitão da selecção russa, Roman Shirokov, que esteve por empréstimo no FC Krasnodar na temporada passada, em virtude de um “castigo” aplicado pela direcção do clube, assim como todos os outros jogadores que estavam fora por empréstimo, tendo ainda conseguido assegurar as contratações do talentoso médio de ataque búlgaro Ivelin Popov, do central russo Vladimir Granat e do avançado cabo-verdiano Zé Luís, proveniente do SC Braga.

Conseguirá Alenichev devolver a glória ao Spartak? Fonte: Spartak World
Conseguirá Alenichev devolver a glória ao Spartak?
Fonte: Spartak World

Segundo testemunhos recentes dos jogadores, Alenichev, que tem um relacionamento muito próximo com todos os membros da equipa, tem procurado instituir um estilo de jogo muito semelhante àquele que aprendeu com um dos seus mentores, Oleg Romantsev, e que é, na verdade, a essência do futebol do Spartak. Mas tal implementação levará tempo e será precisamente de tempo que o antigo menino de ouro dos Спартачи (Spartachi) mais necessitará para construir uma equipa à sua imagem, uma equipa que honre os pergaminhos de um clube que conseguiu em tempos desafiar o poder instituído e que graças a isso se tornou na mais popular equipa de todo o vasto território do antigo império soviético.

Foto de Capa: Spartak de Moscovo

Real Madrid: habemus crise?

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cab la liga espanha

Não fui, decerto, a única a ficar desagradada com a contratação de Rafa Benítez pelo Real Madrid. Era – tenho de o assumir – grande defensora de Carlo Ancelotti, e, depois da saída do Italiano, creio que um clube destes merecia um treinador com mais elasticidade táctica, inteligência futebolística e títulos na bagagem.

O Real perdeu esta semana, nos penáltis, com a Roma, na International Champions Cup. Ainda que este tenha sido um jogo de preparação, em que a equipa está ainda embrionária e sem fundações, já se pode fazer uma breve análise: o Real Madrid está frágil, sem bases, com um meio-campo pouco fluido e que pouco ajuda os homens da frente. A dupla Ronaldo-Bale continua a não funcionar (dois egos demasiado grandes que não coexistem), Odegaard é demasiado inexperiente para a posição que procurou ocupar e Benítez ainda não tem controlo nos seus rapazes.

Por muito que Iker Casillas tenha perdido a preponderância no colosso espanhol nos últimos anos, era uma voz activa no balneário. Era o mais antigo, o mais experiente, o que tinha o maior amor à camisola. Como Nélson no Sporting. Moreira no Benfica. E quando um jogador no espectro de Casillas decide sair – não para acabar a carreira, mas para outro clube – o restante plantel ressente-se. Rafa Benítez é uma cara nova que não transmite conforto, o eterno capitão saiu, e os merengues ficaram “órfãos”. Resta-nos esperar para ver se alguém se assume como líder, se os blancos se enchem de força, e se o próximo campeonato espanhol vai ser a grande batalha a dois a que já nos habituou.

Quanto ao mercado de transferências, o Real Madrid ainda não fez grandes manchetes de jornais. Saiu Khedira, regressou Casemiro. Danilo já era aquisição confirmada e Casillas reforçou o Porto. As últimas notícias dão conta da possível saída de Benzema para Inglaterra. Se tal boato se confirmar, seja qual for o valor exorbitante a que este mercado de 2015 já nos habituou, fica a pergunta: que jogador, de qualquer liga, de qualquer país, pode substituir Benzema neste Real? O francês passou os últimos anos a formar uma dupla mortífera com Cristiano Ronaldo, a servi-lo, a desmarcá-lo, a jogar como o segundo avançado que não é. E depois disso, ainda havia tempo para ser o típico ponta-de-lança infalível.

O Real Madrid ensaia uma nova equipa para esta época com Rafa Benítez Fonte: Real Madrid
O Real Madrid ensaia uma nova equipa para esta época com Rafa Benítez
Fonte: Real Madrid

O último grande rombo foi feito por Santos Márquez, empresário de Casillas. Segundo este, a cedência dos direitos de imagem de Ronaldo a Peter Lim foi o primeiro passo para a saída do Português do clube espanhol. O empresário desfere também duras críticas a Florentino Pérez ao dizer que “Isto não normal. O Real Madrid parece que não existe. Há um presidente e abaixo disso está o clube. O Florentino está acima do bem e do mal. É o mais honesto em relação a contratos, mas está a carregar contra a galinha dos ovos de ouro, que é a equipa”.

Não acredito em Benítez, não acredito neste Real; ainda assim, não acredito que Ronaldo saia e não acredito que esta equipa não dê suor e lágrimas para atingir os seus objectivos.

Não sei se haverá motivos suficientes para dizer que o Real Madrid está em crise. Não sei também se podemos dizer que a próxima época irá ser parca em resultados e concretizações. Tudo isto ao destino, e a Benítez, pertence.

Foto de Capa: Camilo Rueda López

Mundial Futebol Praia’15 – Pegadas de um sonho só nosso!

cab futebol de praia

Lembram-se daquele célebre dia 4 de julho de 2004, quando Charisteas fez um golo que gelou o Estádio da Luz e pôs um país em lágrimas? Na altura, era o Euro 2004 que perdíamos. Lembram-se daquela geração de ouro que tivemos em 2011 e que no Mundial de Sub 20 apenas perdeu devido a um golo fortuito em pleno prolongamento? Lembram-se de uma das gerações com mais futuro no futebol português e que perdeu há dias uma final na decisão pelas grandes penalidades? Os três momentos que aqui coloquei são apenas aqueles que mais estão na minha memória e que refletem a tristeza por uma derrota de Portugal.

É certo que a emoção de uma final em futebol de onze não é sequer comparável com a emoção que senti hoje nas bancadas do Estádio da Praia da Baía, em Espinho. Mas não foi por isso que o nervosismo e ansiedade foram menores. E isso aconteceu porque invariavelmente Portugal tem a tendência de ficar sempre à porta das grandes vitórias. Há quem lhe chame o triste fado lusitano, há quem pense que é o destino e outros, como eu, acreditam que a falta de competência e felicidade em alguns momentos têm andado demasiadas vezes de mãos dadas quando se refere à nossa seleção. Este domingo, eram apenas 9h30 quando cheguei à Praia da Baía. Muito provavelmente, deve-me estar a considerar um louco por ir tão cedo para uma fila quando o primeiro dos dois jogos do dia apenas se disputava às 17 horas. Àquela hora, com o sol ainda escondido por entre as nuvens, não era o primeiro a chegar. Já lá estavam centenas, como se este domingo fosse o dia mais importante das suas vidas. As horas passaram, o calor chegou e com ele veio a enchente que se esperava e que em pouco mais de meia hora encheu por completo o Estádio. O número de adeptos à espera de entrar nas barreiras era proporcional ao tamanho do sonho de todos os portugueses: depois de tantos pontapés ao lado, esta tinha que ser a nossa final e o nosso mundial.

3 segundos de jogo e primeira explosão de alegria: como em tantas outras ocasiões durante a última década, Madjer arrancou um pontapé de pé esquerdo como só ele sabe. Foi a primeira vez que a bola ficou nas redes do guarda redes Jo. Era o primeiro passo rumo ao título. Para todas aquelas almas que durante horas a fio ali ficaram à espera para entrar no Estádio, não haveria melhor maneira para Portugal retribuir o esforço. De forma categórica, a seleção punha-se numa vantagem que haveria de ser decisiva. No meio destas contas, há que falar igualmente do outro finalista, o Taiti. Uma equipa absolutamente genial e cuja imprevisibilidade do seu jogo foi cativando o público português durante os últimos dez dias. Ganharam à Rússia e eliminaram Irão e Itália para chegarem ao jogo decisivo. Ali, perante milhares de portugueses, viram-se de caras com uma desvantagem precoce. Ainda assim, não foi por isso que a seleção de Tehina Rota abrandou o ritmo. Sem nunca fugirem à sua ideia de jogo, foram para cima de Portugal à procura de um título inédito. O problema para os asiáticos é que esta tarde estava destinada a ser nossa. Tão simples quanto isso.

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Foram milhares os adeptos na Praia da Baía
Fonte: lusogolo.com

Aos 6 minutos de jogo, Madjer, numa assistência brilhante, pôs a bola em Belchior. O movimento, tantas vezes repetido ao longo da competição, finalmente dava frutos. Era o segundo golo de Portugal, num remate colocadíssimo de pé direito do talentoso avançado. Nova explosão de alegria em Espinho e a certeza, para os 3500 adeptos, que a vitória estava mais perto. Desengane-se, porém, quem acha que a final deste domingo foi um mar de rosas para os jogadores portugueses. O Taiti, mesmo em desvantagem numérica, nunca virou a cara à luta e sempre procurou ir à procura de um resultado que fizesse história. Para que isso não tivesse acontecido, em muito contribuiu a qualidade das defesas de Elinton Andrade e a segurança defensiva mais uma vez presente na exibição da seleção nacional. O segundo período chegou e com ele assistiu-se a um ritmo mais calmo imposto por Portugal. Não havia razão para que isso não acontecesse e era inclusive a melhor forma para parar a capacidade ofensiva do Taiti. Percebeu-se ao longo de jogo que este foi um adversário bastante estudado por Mário Narciso: conhecedor de que a seleção do Taiti é uma equipa que gosta mais de explorar os espaços e as transições; decidiu dar a posse de bola ao adversário e explorar as costas do adversário, com a velocidade sobretudo de Belchior. Aos 16 minutos, nova machadada nas aspirações do Taiti. Desta vez, tinha sido a vez de Coimbra faturar, desviando de forma subtil mas decisiva um passe em forma de remate do guarda redes Andrade.

É certo que ainda faltavam 20 minutos para terminar a partida, mas o 3-0 no marcador indiciava um final feliz para a equipa portuguesa. É caso para dizer que a alegria portuguesa teve o primeiro travão logo no reatamento após o golo de Coimbra. Num remate fortuito – no qual Elinton Andrade não ficou bem na fotografia – Labaste reduziu o marcador, dando justiça àquilo que havia sido a produção ofensiva do Taiti até àquele momento. Com o golo, a motivação dos asiáticos aumentou. A velocidade do seu jogo foi maior e a intensidade com que Labaste, Taiarui, Li Fung Kuee e companhia começaram a trabalhar a jogo ofensivo  tornou-se cada vez mais perigosa para a seleção portuguesa. Por isso, apenas dois minutos após o primeiro golo, Li Fung Kuee – num remate soberbo ao ângulo de baliza de Andrade – reduziu para apenas um golo de diferença o marcador. O Estádio da Praia da Baía gelava e o sofrimento pairava novamente em Espinho.

Os minutos que se seguiram ao segundo golo do Taiti foram de verdadeiro sufoco para os milhares de adeptos portugueses. Afinal de contas, o triplo falhanço dos jogadores nacionais (Bruno Novo falhou um penálti, Belchior falhou por duas vezes isolado) fez com que o nervosismo se tenha apoderado dos adeptos. Felizmente, esse sentimento acabou por não passar para dentro do campo, visto que Portugal nunca se mostrou verdadeiramente preocupado com a desvantagem mínima no marcador. Bem vistas as coisas, esta também durou apenas dois minutos, visto que Bruno Novo, após um brilhante livre direto, voltou a recolocar Portugal com dois golos de vantagem.

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Portugal sagrou-se finalmente Campeão do Mundo
Fonte: Facebook Seleções Portugal

O terceiro período acabou por não trazer grandes alterações ao figurino geral da partida. No lado português, a tranquilidade pelos dois golos de vantagem fazia com a seleção tenha jogado mais na expetativa do que na procura por mais golos. O Taiti procurava a todo o custo o golo e a verdade é que foram várias as oportunidades que a seleção asiática foi desperdiçando, com Fung Kuee e Labaste como os principais responsáveis. A equipa de Rota haveria de chegar ao 4-3 no marcador, com a estrela da equipa Fung Kuee a desviar da melhor forma um passe do guarda redes Jo. Com todo um terceiro período ainda por disputar, a ansiedade e o nervosismo voltaram a tomar conta dos adeptos. O problema é que, ao contrário do que havia sucedido na primeira ocasião, desta vez a ansiedade também passou para os jogadores portugueses. A verdade é que depois de dois períodos em que a exibição portuguesa tinha roçado a perfeição, o terceiro período acabou por redundar em demasiados erros não forçados dos jogadores portugueses. A qualidade no passe baixou e à medida que os minutos iam passando o espectro do empate ia-se aproximando. Felizmente, os nervos dos milhares de portugueses acabaram por sucumbir à alegria no último minuto de partida, no quinto e decisivo golo português. Com o Taiti completamente balanceado para o ataque, Coimbra decidiu colocar uma bola com conta, peso e medida para o pé esquerdo de Alan. Com um chapéu perfeito ao guarda redes adversário, o veterano da seleção portuguesa dava a alegria final ao público português. A vitória estava conquistada. O título era finalmente nosso.

Até ao apito final do árbitro da partida, foi apenas o tempo para que o público do Estádio da Baía se enchesse de orgulho pela conquista portuguesa. Depois do título alcançado em 2001 – ainda sem a égide da FIFA – Portugal voltou a ser o capitão maior das areias mundiais. Capitaneado por um soberbo Madjer e liderado por um tremendo Alan, a seleção portuguesa decidiu construir desde o primeiro momento a sua própria sorte. Terminado o Mundial, é caso para dizer que a vitória lusitana foi tremendamente justa, tendo em conta a qualidade com que Portugal brindou quase todos os adversários. E sim, agora podemos ser nós a festejar. Depois de tantas desilusões e finais perdidas, finalmente chegou a nossa hora. Se calhar não foi onde queríamos e como queríamos mas o que interessa é que finalmente aconteceu. Portugal está no topo do mundo do futebol de praia e por isso as nossas pegadas vão ficar na história. Tão simples quanto isso.

 

P.S – A Rússia terminou o Mundial no terceiro lugar após vitória inequívoca por 5-2 frente à Itália. Os russos foram sempre melhores e a vantagem no marcador apenas peca por escassa. Do lado soviético, marcaram Peremitin (duas vezes), Shaikov, Romanov e Paporotnyi. No lado italiano foi a vez de Palmacci e Marinai fazerem o gosto ao pé.

 

Figura do Dia: Portugal – Durante o mundial, a seleção liderada por Mário Narciso viveu vários altos e baixos. O jogo frente ao Senegal foi sem dúvida a pedra num sapato que acabou por assentar da melhor forma à nossa seleção. Depois dessa derrota, as exibições vieram em crescendo e a conquista do título mundial é totalmente justa. Portugal é campeão do Mundo!

 

Fora de Jogo: Demasiada procura e pouca oferta – A partir do momento em que a FPF anunciou que os convites para o campeonato do Mundo seriam grátis, facilmente se percebeu que a confusão para o acesso ao Estádio seria uma constante. Não contesto que os bilhetes fossem grátis mas penso que não fez sentido a FPF não ter posto qualquer limitação no número de convites atribuído por dia. Claramente foi o pior fator deste Mundial.

Benfica 2-3 PSG: Quem quiser entrar… Vai ter muito que melhorar

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Foi com uma derrota que o Benfica deu início aos jogos de preparação para a época 2015/16 frente ao PSG, em partida a contar para a International Champions Cup, competição que reúne algumas das principais equipas europeias e americanas. 3-2 foi o resultado que favoreceu os franceses, com o golo da vitória a surgir bem perto do fim.

Embora o resultado seja sempre o que mais conta num jogo de futebol, nesta fase importa analisar a performance coletiva de cada equipa e a capacidade dos reforços. Ora, de reforços a primeira parte nada trouxe, já que Rui Vitória, em estreia no banco encarnado, optou por manter um elenco muito próximo do que tornou o Benfica de JJ campeão nacional. Sílvio surgiu no lugar de Maxi e Talisca no de Salvio, remodelando assim a asa direita dos encarnados.

O sistema também não mudou e o Benfica beneficiou disso para se impor no jogo e se superiorizar a um PSG bastante desfalcado, sem Ibra, Cavani, Lavezzi, David Luiz ou Thiago Silva. Os jogadores já se conhecem de olhos fechados e foram fazendo boas combinações, mostraram grande mobilidade e foram cercando a área dos franceses. A única grande diferença em relação ao esquema de JJ estava em Talisca, que, ao contrário de Salvio, pisava muito os terrenos centrais, tal como Gaitán. Os dois eram os organizadores de jogo e iam abrindo espaços na defensiva parisiense. A ala direita ficava, quase exclusivamente, a cargo de Sílvio.

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Este foi o primeiro 11 de Rui Vitória ao serviço do Benfica
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Se ofensivamente o Benfica, com os principais protagonistas, parecia bem oleado, defensivamente as coisas mudam de figura. Jardel e Luisão não estiveram muito felizes e os espaços entre lateral e central foram frequentemente aproveitados pelos atacantes franceses. A carga física da pré-época foi, certamente, um dos motivos para este desacerto, já que foi visível o cansaço em Luisão e Sílvio.

E foi precisamente de uma má abordagem de Jardel que surgiu o golo inaugural. O central tentou antecipar-se a Augustin, mas o avançado foi mais esperto e com um toque tirou-o do caminho. Surgiu Luisão, mas o camisola 29, descaído para o lado direito, não hesitou e atirou a contar.

Estavam corridos 29 minutos de jogo e o golo acontecia um bocadinho contra a corrente. Talisca encarregou-se de repor a justiça e empatar o jogo aos 33’ com um remate fora da área, que surpreendeu Trapp, e Jonas completaria a reviravolta aos 42’ na melhor jogada do encontro. Gaitán recuperou no miolo, Lima recebeu, de costas para a baliza, deu a Pizzi, que dominou, levantou a cabeça e isolou Gaitán. O maestro argentino sentou o guardião Trapp e deu a Jonas para este encostar.

O intervalo chegaria e os benfiquistas ficariam com a certeza de que o melhor reforço para esta época se chama Nico Gaitán. Para além disso, é de registar a excelente exibição de Talisca, muito influente na manobra coletiva da equipa e o homem de maior perigo para as redes adversárias, e para a continuação do esquema por parte de Rui Vitória.

Na segunda parte, os reforços. Carcela e João Teixeira acompanharam André Almeida nas entradas ao intervalo e mais tarde Nelson Oliveira, Paulo Lopes, Lisandro, Marçal, Ola John, Lindelof, Gonçalo Guedes e Cristante tiveram a sua oportunidade. Esta roda viva das substituições quebrou a qualidade de jogo do Benfica e, com a utilização de jogadores que nunca jogaram juntos, a fluidez e a ligação entre setores foi-se perdendo.

Do lote de jogadores que não figuraram no anterior plantel, João Teixeira foi o elemento mais em foco, mostrando uma boa qualidade de passe, boa leitura de jogo e ocupação de espaços e uma excelente maturidade. Não teve problemas em assumir a bola, jogando no meio dos grandes como se um jogo de equipas B se tratasse. Já na pré-época passada mostrou ser um jogador acima da média e esperemos que este ano tenha mais oportunidades.

Carcela acanhou-se no início, mas com o passar do tempo foi ganhando confiança e procurando o jogo. A toada lenta e as paragens não permitiram ver muito mais, mas notou-se que é jogador para rasgar o jogo e fazer muitas diagonais da direita para o centro. Precisa de confiança e de ganhar entrosamento com os colegas.

Os restantes “reforços” tiveram pouco tempo. É de salientar só a infelicidade de Lindelof no terceiro golo. O sueco escorregou e permitiu ao avançado francês ir na direção da área benfiquista e servir Digne, que rematou fortemente à figura de Paulo Lopes. Aparentemente fácil, o lance, só que o guardião português complicou e meteu a bola na baliza. Antes já Lucas tinha convertido uma penalidade, cometida por Samaris.

Nem um minuto para Taarabt, o reforço mais sonante até ao momento Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica
Nem um minuto para Taarabt, o reforço mais sonante até ao momento
Fonte: Facebook do Sport Lisboa e Benfica

Guedes várias vezes tentou a jogada individual, sempre sem efeito; Marçal esforçou-se e tentou sair para o ataque sempre que pôde, e Nelson Oliveira foi quase uma nulidade. Precisa de mais esforço, mais confiança e rotinas. Talvez com um avançado como Jonas ao lado consiga ser mais eficaz e mais útil no coletivo, já que não tem características de ponta-de-lança fixo. Mesmo assim, aos 87’ tentou dar um chapéu ao guarda-redes recém-entrado, Sirigu, mas o italiano brilhou. No canto, Lisandro atirou de cabeça à figura do habitual titular na baliza do PSG.

Assistimos a uma segunda parte desconcertada, com muitos erros individuais e coletivos, muitos passes errados e muitas alterações, que custaram a derrota ao Benfica, depois de ter saído a vencer para o intervalo, após uma primeira parte com nota positiva. Há ainda muito trabalho a ser feito e Rui Vitória já leva daqui muitos pontos para trabalhar. Uma nota para Taarabt, o reforço mais sonante, que neste primeiro jogo nem sequer foi utilizado: o que se passará com o marroquino?

As Figuras: Talisca e Gaitán – O argentino apareceu como se nem férias tivesse tido. A bola com ele é sempre bem tratada e, quando chega a si, a probabilidade de existir perigo aumenta. É um mágico e por isso não admira tanta cobiça. Talisca regressou das férias, recarregado e parecido com aquele que desatou a marcar golos no início da última época. É um talento puro que motivado é difícil de parar, mas precisa ainda de ser moldado. Bom início para já.

O Fora-de-jogo: Segunda parte – Mal jogada pelo Benfica, que sentiu muito as alterações e perdeu o fio do jogo. Os que entraram nada acrescentaram e a falta de entrosamento entre os vários jogadores foi por demais evidente. Precisam de melhorar caso aspirem a roubar o lugar a algum titular.

Está aberta a caça ao “onze” no reino das estrelas

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Foram duas equipas ainda à procura de ritmo competitivo aquelas que se apresentaram em Melbourne, na Austrália, num estádio de 100 mil lugares que se encontrava quase lotado. Para o Real Madrid foi o jogo de estreia da pré-época. Já a AS Roma fez a sua segunda partida de preparação. Foi, contudo, a estreia de espanhóis e italianos na edição 2015 da Internacional Champions Cup, onde o Benfica também participa.

O Real começou em 4-4-2, com Ronaldo e Bale na frente de ataque. Benítez começa assim a reformular a equipa pela base, já que os merengues alinhavam maioritariamente em 4-3-3, tanto sob comando de Mourinho como sob a liderança de Carlo Ancelotti, embora o treinador italiano tenha utilizado o sistema de dois avançados em alguns jogos da época passada.

Na primeira parte, sinal mais para a AS Roma. Os italianos mostraram segurança no passe, grande disponibilidade ofensiva, rapidez. Rudi Garcia tem beneficiado, ao longo dos dois anos em que comanda a equipa, de uma estabilidade no plantel, que se revela crucial a cada começo de época. A equipa vem das férias com a ideia de jogo do ano anterior, salvo um ou outro ajuste, já tem os processos interiorizados e, assim, tudo se torna mais fácil.

Já no Real, a realidade é outra. Uma mudança de treinador traz quase sempre ideias de jogo novas, métodos de treino diferentes. Benítez é o primeiro espanhol a treinar o Real desde 2009. A fornada de estrelas em ascensão que chegaram serão peças importantes mas tudo indica que o núcleo duro da equipa transite da época passada.

Depois da saída de Casillas, Keylor Navas deve assumir a baliza merengue Fonte: Facebook do Real Madrid
Depois da saída de Casillas, Keylor Navas deve assumir a baliza merengue
Fonte: Facebook do Real Madrid

As mudanças no onze merengue começam desde logo pela baliza. Com a inesperada saída de Casillas para o FC Porto, Keylor Navas deve assumir a titularidade. Fez duas grandes defesas no jogo de hoje e embora não tenha a dimensão de Casillas, é um nome que não levanta grande contestação junto dos adeptos. Deverá estar em vantagem sobre a mais recente contratação do Real para a baliza, o ex-Espanhol Kiko Casilla, que não embarcou com a equipa por ainda estar a fazer exames médicos em Espanha mas que muitos apontam ser mais um promissor jovem guarda-redes espanhol. Sendo assim, Florentino Pérez parece ter desistido de De Gea.

Na defesa, e agora que a possibilidade de Sergio Ramos se transferir para Manchester se tornou mais remota (Benítez já lhe terá dito que conta com ele), a dúvida parece estar essencialmente no outro central. Ainda não se percebe vai ser Pepe ou Varane a ocupar esse lugar. Se por um lado, com 32 anos, Pepe acumula mais experiência e ainda mantém as qualidades que o caracterizam (bom jogo aéreo, instinto goleador, vantagem no confronto físico), também é verdade que o francês é dez anos mais novo, reúne igualmente esses atributos e junta-lhe outro, essencial num central moderno, a rapidez (que já vai faltando ao português). Terá ainda uma larga margem de progressão.

No lado esquerdo, não se vislumbra ninguém capaz de competir com Marcelo. Agora que Fábio Coentrão nem sequer embarcou com a equipa (está lesionado na coxa e só deverá voltar em Agosto), a concorrência ao lugar do brasileiro fica a cargo de Nacho. É um promissor defesa espanhol, promovido à equipa principal por Mourinho, que também pode jogar no eixo defensivo. Já não é um menino, tem 25 anos e nunca saiu do Real, onde foi formado. Pela qualidade, merecia jogar com mais regularidade e, por isso, sair por empréstimo por uma época poderia ser uma boa solução.

Mais concorrido parece ser a ala direita da defesa. No jogo de hoje, a titularidade foi entregue a Carvajal mas nada garante que Benítez mantenha a escolha. O espanhol tem exibições relativamente constantes, mas arrisca demais no ataque, o que acaba por descompensar a equipa e lhe dificulta as tarefas defensivas. A contratação de Danilo por mais de 30 milhões tem de querer dizer algo. Não significa que o brasileiro tenha a passadeira estendida até ao onze inicial mas, se se adaptar depressa e bem e assimilar as ideias do treinador, tem todas as condições para ficar com o lugar. Arbeloa já dificilmente entrará na luta.

Carvajal e Danilo vão lutar pelo lugar de defesa direito Fonte: Facebook do Real Madrid
Carvajal e Danilo vão lutar pelo lugar de defesa direito
Fonte: Facebook do Real Madrid

No meio-campo, antevê-se uma disputa renhida, principalmente pelo lugar de médio defensivo. O regresso de Casimiro, que tinha sido emprestado ao FC Porto, e a contratação do também brasileiro Lucas Silva acrescentam qualidade à equipa. Casimiro é um 6 possante, com um bom sentido posicional mas que ainda não terá capacidade para competir com Illarramendi pelo lugar. O espanhol ex-Real Sociedad fez praticamente todos os jogos na Liga o ano passado e partirá em vantagem.

Mantendo-se a aposta de Benítez no 4-4-2, o lugar de extremo esquerdo deve ser de Jesé Rodriguez, como aconteceu no jogo deste sábado. O espanhol pode atuar em qualquer das alas por causa da sua polivalência, é forte no um para um e tem um remate potente e instantâneo. Vai ter a concorrência de um russo, Denis Cheryshev, resgatado ao Villareal.

Quanto à posição mais avançada do meio campo, Isco e Kroos são as opções mas não é de afastar a hipótese de jogarem em simultâneo, como aconteceu em mais de 50 jogos na última temporada.  O menino norueguês Martin Odeggard foi hoje utilizado de início mas os seus 16 anos não lhe devem permitir um lugar no plantel. Tem de ganhar volume físico, noções táticas e tudo o resto antes disso. Depois, restarão 3 lugares para 4 estrelas. Uma terá de ficar de fora ou não necessariamente. Vejamos: no jogo diante da AS Roma, Benítez não tinha James Rodriguez (está ainda de férias por ter estado ao serviço da Colômbia na Copa América). Optou por deixar Benzema no banco (um erro na minha opinião) e colocar Ronaldo e Bale na frente. Se eu estivesse no lugar do técnico espanhol, colocaria Ronaldo e Benzema como a dupla atacante. E Bale a extremo direito, por ser a posição onde o galês mais rende. James ficaria de fora. Era a estrela sacrificada. É sempre difícil fazer escolhas destas.

Por falta de espaço, fica por analisar ao pormenor a AS Roma, que, pelo que demonstrou neste jogo, tem nesta época condições para não se ficar pelo já habitual segundo lugar da Série A e lutar pelo título com a Juve até ao fim. A partida terminou empatada a 0 e foi sempre marcada pelo equilíbrio, tendo a formação romana ganho nos penáltis por 7-6. O melhor em campo foi Gervinho. O costa marfinense continua, aos 28 anos, a ser rei e senhor do drible, finta e tudo o que mais possa baralhar o adversário. Rápido, determinado, tecnicista, merecia mais troféus no currículo (tem apenas uma liga francesa). Destaque ainda para a qualidade e classe que Totti ainda sustenta, à beira dos 39 anos, e para a promessa que é o médio ofensivo belga Nainggolan.

Foto de capa: Facebook do Real Madrid

Mundial Futebol Praia’15 – Nada como o bê à bá rumo ao título!

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Dez anos depois, Portugal está novamente na final de um Campeonato do Mundo de Futebol de Praia. Com a vitória por 4-2 frente à Rússia, a bicampeã mundial em título, a seleção nacional assegurou o apuramento para o jogo decisivo, onde procurará a conquista do primeiro título de campeão da sua história, enquanto competição sob a égide da FIFA. A equipa liderada por Mário Narciso entrava para esta meia final com uma ausência de vulto: Jordan Santos. Sem o experiente jogador português, o técnico optou por colocar Bruno Novo no seu lugar, mantendo o restante “5 titular”, com o guarda redes Elinton Andrade e os jogadores de campo Madjer, Torres e Belchior.

Frente a uma seleção com a qual tinha perdido há bem pouco na meia final dos Jogos Europeus, em Baku (derrota de Portugal frente à Rússia por 2-1), a seleção nacional entrou bem na partida, impondo um ritmo que lhe permitiu controlar os destinos da partida. A verdade é que o estilo cerebral em que o jogo se foi envolvendo acabou por ser do agrado de ambas as formações, que fazem do poderio coletivo a sua principal arma. Por isso, a toada geral do encontro foi a de grande equilíbrio, com ambas as equipas a respeitarem-se e não permitirem espaços que lhes poderiam ser fatais. Sendo assim, era expectável que as bolas paradas pudessem ter um papel absolutamente determinante no decorrer do marcador. De facto, foi assim que surgiu o primeiro golo da partida, apontado aos oito minutos pelo russo Makarov, na sequência de um livre direto cujo remate de pé direito só parou no fundo das redes do guarda redes Elinton Andrade.

Apesar do golo sofrido, a seleção portuguesa não se desorganizou e é caso para dizer que não poderia ter tido melhor reação. E isso porque, até ao final do primeiro período, Jordan Santos e Bê Martins – na sequência de um excelente pontapé de pé esquerdo e de um livre direto superiormente executado – deram uma preciosa vantagem de 2-1 a Portugal no final do primeiro período. A reação dos bicampeões do mundo não tardou e, logo no primeiro minuto do segundo tempo, um cabeceamento de Dimitri Shishin após um lançamento de linha lateral (a defesa portuguesa ficou toda a dormir) deu empate aos russos. O problema para a equipa de Likhachev veio logo após, pois, nos festejos, Shishin teve um gesto impróprio para as bancadas, o que levou o árbitro da partida a expulsar por vermelho direto o jogador russo. Este foi mesmo um dos principais momentos da partida: não tanto pelo aproveitamento de Portugal da inferioridade numérica russa – visto que a seleção não conseguiu marcar em vantagem numérica – mas mais pela falta a partir daquele momento de um dos jogadores mais importantes da seleção russa.

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Bê Martins foi a figura da vitória de Portugal
Fonte: Facebook Seleções Portugal

Até ao final do segundo período, aquilo que se viu foi um jogo verdadeiramente amarrado taticamente, onde apenas Makarov e Zé Maria estiveram perto de fazer o gosto ao pé. O terceiro e último tempo começou da mesma forma, com muito mais cabeça do que coração no areal da Praia da Baía, em Espinho. As equipas continuavam num verdadeiro “jogo de sombras” e, à medida que os minutos passavam, facilmente se chegava à conclusão de que apenas uma bola parada ou um lance de génio individual ou coletivo poderiam resolver a segunda meia final da competição. É caso para dizer que as previsões acabaram por acontecer pois, a dois minutos do final, Alan cavou uma falta a meio campo que deu o segundo amarelo e respetiva expulsão a Krash e permitiu a Bruno Novo fazer um excelente remate que só parou no fundo da baliza de Bukhlitsky. As 3 500 pessoas que encheram o Estádio da Praia da Baía explodiram novamente de alegria e só tiveram que esperar mais meio minuto para festejarem definitivamente o apuramento para a final do Campeonato do Mundo. Já bem perto do último minuto do jogo, após assistência com a mão de Elinton Andrade, Bê Martins (bisou no encontro) fez o 4-2 final com um remate colocadíssimo de pé esquerdo.

Depois da derrota em 2005 frente à França nas grandes penalidades no Mundial disputado no Rio de Janeiro, a seleção portuguesa volta ao jogo decisivo do Campeonato do Mundo de Futebol de Praia. Pela primeira vez sobre a égide da FIFA, Madjer e companhia terão a oportunidade de fazer história. E nada melhor do que poderem encerrar esta campanha de ouro com uma vitória em casa, perante milhares de adeptos que têm sido a força desta equipa. Já só falta um degrau para atingir o tão ambicionado título mundial. É preciso acreditar que o sonho é possível!

O outro finalista do Campeonato do Mundo é o surpreendente Taiti, que venceu a Itália por 3-1 nas grandes penalidades, após o 6-6 no tempo regulamentar e prolongamento. Depois do quarto lugar alcançado no último mundial, realizado em 2013 no seu país, a seleção asiática continua a surpreender na Praia da Baía. Impulsionada pelas referências Jo, Taiarui, Labaste, Fung Kuee e Benett, a seleção de Tahina Rota surpreendeu hoje a equipa italiana depois de uma exibição onde o seu estilo irreverente voltou a ter frutos.

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O Taiti vai à procura de um inédito título mundial
Fonte: Facebook Beach Soccer Fan Page

A equipa do Taiti, tal como já havia acontecido nos outros seus jogos, entrou muito forte no encontro e adiantou-se no marcador logo no primeiro minuto, através de um golo de Taiarui. Apesar de ter estado sempre na frente do marcador, a verdade é que a seleção asiática encontrou uma equipa italiana que deu uma forte réplica e que procurava dar continuidade às boas exibições produzidas durante a competição. O empate da equipa de Esposito aconteceu mesmo aos quatro minutos, quando o inevitável Palmacci restabeleceu a igualdade. Nesse mesmo minuto, Labaste – uma das principais figuras da equipa do Taiti – fez o 2-1 após um forte remate que permitiu à sua seleção ir para o final do primeiro período em vantagem. Tal como no primeiro tempo, os asiáticos – empurrados por uma fantástica falange de apoio – voltaram a entrar melhor no segundo período, e Bennett, aos 14 minutos, fez o 3-1 para a sua seleção.  O jogo ia correndo de forma intensa e equilibrada, com a Itália a não conseguir parar o ímpeto de uma seleção que joga constantemente sob um ritmo frenético. Também por isso os italianos passaram a jogar mais no erro do adversário, sobretudo na procura de bolas paradas que lhes permitissem reentrar na decisão da partida. E assim aconteceu, com Gori, na sequência de um livre, a reduzir a desvantagem dos italianos aos 22 minutos. Para os transalpinos, a desvantagem mínima durou pouco pois, na sequência de uma jogada estudante num pontapé de canto, Tavanae recolocou o Taiti a vencer por dois golos, tendo sido com o marcador em 2-4 que a primeira meia final da competição se encaminhou até ao término do segundo tempo.

O terceiro e último período trouxe uma seleção italiana com mais projeção para o ataque. A desvantagem era preocupante e, com apenas doze minutos para jogar, os italianos sabiam que tinham de arriscar tudo na procura por outro resultado. Aos 26 minutos, em mais uma bola parada, Dario Ramacciotti reduziu para a Itália, mas, tal como tinha ocorrido no segundo tempo, o Taiti voltou a repor a vantagem de dois golos nesse mesmo minuto, após um golo de Bennett, que bisava assim na partida. Di Palma e Tepa, aos 28 e aos 33, na sequência de dois livres diretos, fizeram mais um golo para cada uma das equipas, o que fazia prever que, a tão pouco tempo do final do jogo, nada pudesse retirar o Taiti da grande final do Campeonato do Mundo de Futebol de Praia.

A questão é que, nos instantes finais do terceiro período, os jogadores italianos conseguiram encontrar forças para recuperarem de um 4-6 para um 6-6. Com os golos aos 35 minutos de Carosiniti e Gori (este de grande penalidade), a equipa transalpina levou o jogo para um prolongamento de três minutos que acabou por não ter qualquer golo. A decisão da meia final teve mesmo que ir para a marca das grandes penalidades, onde Palmacci permitiu a defesa a Jo. No último e decisivo remate, Fung Kuee não desperdiçou a oportunidade de colocar o Taiti pela primeira vez na história na final de um Campeonato do Mundo. Para a seleção asiática, só falta bater a seleção anfitriã no jogo decisivo para fazer história no futebol de praia. Quanto à Itália, e apesar da boa campanha, mais uma vez fica à porta da grande decisão e vai ter que se contentar com o jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares, frente à ainda bicampeã mundial Rússia.

 

Figuras do Dia: Portugal e Taiti – É inevitável  destacar as duas formações que conseguiram um histórico apuramento para a final do Campeonato do Mundo. Apesar de terem tido percursos diferentes na competição, facilmente se chega à conclusão de que a final deste domingo será disputada pelas duas melhores equipas ao longo do Mundial. Com estilos de jogo diferentes, o jogo decisivo será certamente empolgante e com um resultado imprevisível.

Fora de Jogo: Shishin – Numa seleção que ainda é bicampeã mundial, não podem existir comportamentos como o de Shishin esta tarde. O gesto obsceno com que brindou o público após o seu golo foi o ato mais lamentável ocorrido durante este mundial. Foi expulso e acabou por prejudicar a sua seleção. Coincidência ou não, a verdade é que, depois de ter sido retirado de jogo, a Rússia nunca mais se encontrou no jogo desta meia final, frente a Portugal.