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O imbróglio tático na obra do “Engenheiro”

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A Seleção Nacional terminou a época com duas vitórias nos dois jogos finais da estação desportiva. No jogo “a sério”, alcançou uma vitória suada na Arménia, por 3-2, numa partida que ficou marcada pela paupérrima exibição dos comandados de Fernando Santos, disfarçada pelo fator CR7. Na partida “a brincar”, foi a Itália que cedeu face à equipa das quinas, pela margem mínima. Uma Itália que não é mais do que uma sombra daquela que vimos no Mundial do Brasil. Se bem nos recordamos, essa squadra azzurra, apesar de ter apresentado um futebol agradável, não foi capaz de passar aos oitavos de final da prova, o que por si só já diz muito.

Mas não é só a equipa italiana que está desencontrada. Em boa verdade, desde que Fernando Santos assumiu o comando técnico da Seleção, ainda não foi capaz de definir uma tipologia de jogo que sirva como base para o estilo que o “Engenheiro” procura implementar ou, quem sabe, introduzir. Apesar destas condicionantes, os resultados têm aparecido. E esse é, talvez, o maior problema que se criou em redor da “equipa de todos nós”. É bem sabido que o adepto português valoriza muito mais o resultado do que a qualidade exibicional. Para o propósito atual, as vitórias têm servido, mas julgo que todos sentem o mesmo: num nível competitivo mais exigente, como o da fase final de um Europeu, a sorte e o cinismo podem não chegar.

Vejamos: quando substituiu Paulo Bento, Fernando Santos tentou fazer do tradicional 4-3-3 um 4-4-2 losango, onde Tiago e Moutinho desempenharam o papel de médios-interiores, com Danny a jogar nas costas de Ronaldo e Nani, os elementos mais adiantados. Na ausência de um avançado fixo, a equipa portuguesa perdeu a sua referência atacante e passou a depender dos raides dos dois jogadores mais virtuosos. Se a pressão exercida sobre a saída de bola do adversário aumentou (como se viu no jogo na Dinamarca), o jogo português perdeu profundidade nas alas. Por muito bons executantes que Ronaldo e Nani sejam, não podem estar em dois sítios ao mesmo tempo.

Gorada a hipótese acima descrita, passou-se para um 4-2-3-1 mutante, que surgiu frente à Sérvia e, mais recentemente, na Arménia. Aqui reside a grande fonte de confusão tática da Seleção. Fábio Coentrão é extremo no momento ofensivo e, aquando da transição defensiva, “fecha” com os médios mais recuados, Tiago e Moutinho. Isto acaba por gerar alguma anarquia no miolo, porque quando Portugal encontra adversários rápidos a contra-atacar, muitas vezes deixa o “duplo-pivot” em inferioridade numérica, algo que aconteceu na Arménia, com Mkhitaryan a destroçar por completo o meio-campo luso. Ronaldo é vagabundo na frente de ataque, mas, quando vem buscar jogo atrás ou às alas, deixa (novamente) o ataque órfão de referências.

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Danilo esteve bem e pode ser opção para futuros encontros
Fonte: Facebook das Seleções de Portugal

O facto mais curioso acaba por ser o seguinte: os melhores momentos da ‘era Fernando Santos’ surgiram quando a equipa assumiu o clássico 4-3-3. Frente à Argentina, nos instantes finais do jogo e, como se viu nos 90 minutos, frente à Itália. Com um alvo na área (Éder, em ambos os casos), a equipa portuguesa recupera o seu ADN. Um médio mais posicional, o tradicional trinco, que pode ser William ou Danilo (excelentes indicações) e dois interiores mais adiantados, Moutinho e Tiago. Ronaldo pode ser deslocado para o eixo do ataque, transformando Éder na segunda alternativa, como é natural; ainda assim, e para que não fique tão limitado nas suas ações, o capitão pode trocar de posição com os extremos, para que se crie a noção de rotatividade constante, que poderá confundir marcações e oferecer mais soluções aos restantes companheiros.

Que fique bem claro: o 4-3-3 não resolve os problemas. Pode ser o ponto de partida, que esteve sempre lá, mas há inúmeros retoque a fazer na “obra” tática da Seleção. Há que tentar tirar o máximo de cada jogador e indicar-lhe qual é o seu papel exato no sistema e modelo de jogo. Para que tal aconteça, a prioridade é criar um onze base. Isso já depende de Fernando Santos, e convém que o selecionador não ignore as evidências. José Fonte é o central português em melhor forma, Coentrão tem que jogar a lateral e Vieirinha é, de momento, a solução mais viável para a direita defensiva. William Carvalho e Danilo Pereira são indispensáveis ao equilíbrio (pelo menos um deles), e Moutinho é o pêndulo. Tiago empresta mais solidez ao setor intermediário, mas não é um “criativo”. Bernardo Silva pode ser a chave para este lugar, em alturas que a espontaneidade de um “número 10” seja necessária. E, na frente, Nani, Ronaldo e Danny têm de ser as opções mais recorrentes, pela qualidade e experiência que acarretam.

O jogo com a Itália tinha tudo para correr mal, pelas ausências e pelo cariz amigável, desprovido de pressão. Talvez por isso se tenha transformado numa agradável surpresa. Éder marcou o primeiro golo de quinas ao peito, matou-se mais um “borrego” e fiquei convencido de que pode existir solução para o problema qualitativo do processo de jogo português. Há um longo caminho pela frente, mas a ideia já surgiu. Só é preciso que alguém pegue nela.

Foto de Capa: Facebook das Seleções de Portugal

Desejos para 2015/16: o renascer da fénix Falcao

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Nos últimos dias, têm surgido notícias que dão Falcao como certo no Chelsea. Devo confessar que fiquei bastante agradada com esta transferência; desde a grave lesão que sofreu, em 2014, que o jogador colombiano não conseguiu voltar a brilhar tal qual nos havia habituado.

Apesar de não ser adepta do FC Porto, considero Falcao “nosso”. E acho que não sou a única. El Tigre ficou internacionalmente conhecido em Portugal. Tornou-se um craque em Portugal. Deve, no meu entender, muitos dos seus sucessos ao clube portista e ao nosso país. E é por estes motivos que fico feliz e anseio pelo renascer do avançado. As duas épocas no Atlético de Madrid confirmaram o potencial que emergiu na cidade invicta: Falcao marcou 70 golos ao serviço dos colchoneros e é, dois anos volvidos, um dos grandes símbolos da história recente do clube.

Mas com a rotura de ligamentos no joelho esquerdo, já no Mónaco, também a sua carreira sofreu um valente rombo. Fora dos relvados durante meio ano, ausente do Mundial do Brasil, Falcao deixou de estar presente na linha cimeira do futebol internacional. E o empréstimo ao Manchester United só agudizou essa situação. Se alguns (incluindo-me nesse grupo) acharam que o futebol inglês era o sítio certo para um típico number nine, “rodinhas baixas” mas que marca golos de cabeça com tanta categoria como Jardel, a história fez questão de os provar errados. A travessia por terras britânicas foi um deserto de golos, exibições e concretizações, com os red devils a confirmarem o término do empréstimo ainda em Maio.

Falcao deve jogar no Chelsea na próxima temporada Fonte: Facebook Oficial de Falcao
Falcao deve jogar no Chelsea na próxima temporada
Fonte: Facebook Oficial de Falcao

E chegamos, então, ao presente mercado de transferências. Que dá Falcao como certo no Chelsea. Chelsea de Mourinho. Não encontro treinador mais certeiro para o colombiano. Nacionalismos à parte, atenção. Mourinho sabe o que é ser grande no FC Porto; sabe o que é estar num enormíssimo clube espanhol; sabe o que é lutar pela glória em palcos mais distantes e quiçá esquecidos (Mourinho em Itália, Falcao em França); e sabe, acima de tudo, que é possível renascer das cinzas e voltar a singrar. Anseio pelos resultados desta parceria e, quem sabe, por uma reprodução da dupla Mourinho/Drogba.

Hoje, Falcao joga frente ao Brasil, na segunda jornada da Copa América. Embora a concorrência de Jackson Martínez seja feroz, acredito na afirmação de El Tigre ao serviço da selecção colombiana. Depois de uma época desapontante, o avançado precisa de vitórias, de adrenalina, de bola no pé e, acima de tudo, de golos.

Pep Guardiola disse um dia que Radamel Falcao era “sensacional, um dos mais talentosos do mundo”. Subscrevo.

Foto de Capa: Página de Facebook Oficial de Falcao

Copa América’2015 – Paraguai 1-0 Jamaica: Quando não há jeito e a sorte não Kerr nada connosco…

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Depois dos dois jogos emocionantes de ontem, os ânimos da Copa América voltaram a ficar mais calmos na vitória do Paraguai por uma bola a zero sobre a seleção da Jamaica. Numa partida mal jogada, os paraguaios chegaram aos 4 pontos, ficando em boa posição para lutar pelo apuramento para os quartos de final.

A primeira parte foi inteiramente dominada pela seleção sul-americana, mas sem criar grandes chances de golo. Não é por acaso que o Paraguai é atualmente das seleções menos cotadas do seu continente. Têm um conjunto envelhecido e com muito pouca criatividade, muito pouca magia do meio campo para a frente. Derlis González, titular na partida de hoje, acaba por ser uma pequena luz dentro do meio campo sombrio dos paraguaios. Ainda assim, foram eles que dominaram territorialmente no primeiro tempo, circulando a bola no meio campo adversário. Contudo, esta circulação nunca assustou verdadeiramente a baliza amarela. Existiram algumas tentativas de Derlis González, Raúl Bobadilla e Roque Santa Cruz, mas nunca conseguiram criar grandes dificuldades a Kerr.

O jogo esteve sempre nesta toada morna até surgir o momento caricato do encontro. Aos 36 minutos, Víctor Cáceres lançou uma bola para a frente de ataque, mas com demasiada força, estando o lance condenado ao insucesso. Contudo, Duwayne Kerr, guardião jamaicano que alinha no Sarpsborg 08, da Noruega, quis resolver o lance fora da área, tentando fazer o corte de cabeça. O guarda redes até acertou com a testa no esférico, mas com tanta precisão que cabeceou contra Edgar Benítez, o extremo paraguaio que corria para tentar captar o lançamento longo de Cáceres. A bola encaminhou-se para a baliza deserta e estava feito o primeiro golo da partida. Num jogo mal disputado, com poucos pormenores de qualidade, tinha de ser um erro grosseiro (com alguma infelicidade à mistura) a desbloquear o resultado.

 Foi o joelho de Edgar Benítez que intercetou a cabeçada de Kerr e marcou o golo Fonte: Site oficial da Copa América
Foi o joelho de Edgar Benítez que intercetou a cabeçada de Kerr e marcou o golo
Fonte: Site oficial da Copa América

Na segunda metade, o Paraguai voltou a entrar melhor com dois lances perigosos. Primeiro, foi um livre estudado que resultou em golo mas foi bem anulado por posição irregular; depois, foi Víctor Cáceres a rematar de longe para uma defesa apertada de Kerr. Entretanto, a Jamaica começou a tentar atacar mais um pouco mas, se o Paraguai não conseguiu fazer grande coisa em termos ofensivos, os jamaicanos ainda fizeram menos, praticamente nada que assustasse a baliza de Anthony Silva. Aos 60 minutos, tivemos a melhor jogada do encontro, novamente para o lado paraguaio. O lateral esquerdo Samudio aventurou-se no ataque, correu em direção à entrada da área, tabelou com Bobadilla e disparou forte, com a bola a embater com estrondo na baliza de Duwayne Kerr. Foi uma das raras jogadas do encontro que conseguiu combinar intencionalidade e qualidade técnica.

O treinador alemão dos jamaicanos, Winfried Schäfer, tentou refrescar o ataque com as entradas de Laing e Deshorn Brown, mas Anthony Silva continuou sem precisar de se aplicar para defender a sua baliza. O jogo poderia ter ficado mais facilitado para a equipa orientada por Ramón Díaz perto dos 70 minutos, quando Wes Morgan devia ter sido expulso por agressão a Roque Santa Cruz e, na jogada seguinte, Michael Hector cortou com o braço, dentro da área, um cabeceamento do avançado paraguaio. Esteve mal nestes dois lances o árbitro equatoriano Carlos Vera.

Até final da partida, apenas merece destaque um remate de McCleary que passou a rasar o poste direito da baliza paraguaia e um cabeceamento disparatado de Mattocks, já em período de descontos, numa jogada em que Anthony Silva tinha saído em falso.

Os paraguaios voltaram assim a vencer um jogo na Copa América, coisa que já não acontecia desde 2007. Foi um jogo muito fraco, entre duas equipas muito esforçadas, com jogadores muito possantes fisicamente, mas que, na sua esmagadora maioria, pecam bastante em termos técnicos.

A Figura

Miguel Samudio – É difícil escolher um jogador que se tenha destacado pela positiva neste jogo. Assim, nomeio o lateral esquerdo do Paraguai pela raça que mostra em todas as jogadas, sempre ativo a tentar apoiar o ataque. Além disso, foi dele a melhor iniciativa do encontro, num lance finalizado com um remate à trave da baliza jamaicana. Merecia melhor sorte…

O Fora de Jogo
Duwayne Kerr – É certo que o guarda redes também teve azar, pelo facto de a bola ter ido direitinha para a baliza, após ressaltar em Benítez. Contudo, isso não desculpa o erro grosseiro que cometeu nesse lance. Além disso, houve uma mão cheia de cruzamentos em que o guardião jamaicano também mostrou insegurança.

Foto de capa: Site oficial da Copa América

Portugal 1-0 Itália : Será que já temos ponta de lança?

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Naquele que foi o último encontro da temporada para os jogadores das duas seleções, que devem começar os estágios nas respetivas equipas daqui a cerca de duas semanas, Portugal derrotou a Itália por 1-0, num jogo disputado em Genebra, na Suíça, graças a um golo de Éder no início da segunda parte.

Por se tratar de um jogo de caráter particular, e na sequência da operação de renovação a que a seleção nacional tem sido sujeita desde a saída de Paulo Bento, Fernando Santos manteve apenas no onze inicial cinco jogadores que tinham sido titulares diante da Arménia, no sábado (Vieirinha, Bruno Alves, Fábio Coentrão, João Moutinho e Tiago) e deu oportunidade ao médio Danilo Pereira, do Marítimo.

Disposta num 4-3-3 clássico, a equipa de Portugal tinha contra si o histórico de confrontos com os italianos: em 24 jogos realizados, entre oficiais e particulares, registaram-se apenas quatro vitórias portuguesas e dois empates. Para além disso, Cristiano Ronaldo já tinha saído da comitiva lusa e não entrava nas contas da partida, o que segundo a imprensa teria feito baixar o preço do cachê pago à Federação Portuguesa (informação que a FPF se apressou a desmentir) e resfriar o entusiasmo da comunidade portuguesa na Suíça, que não encheu o estádio.

O início de jogo lento parecia confirmar os receios que tinham surgido nos últimos dias: um jogo a meio do mês de junho, sem implicações nas contas do apuramento para o Europeu, com jogadores cansados depois de épocas longas e extenuantes, resultaria num encontro sem interesse, com pouca intensidade e baixa velocidade, uma autêntica pasmaceira. Nada disso. Bartolacci começou por mexer com o jogo aos 18 minutos com um remate perigoso à entrada da área, e pouco depois El Shaarawy arrancou pelo flanco esquerdo, fez o movimento para o meio e rematou em arco com muito perigo. A Itália estava por cima e nem precisava de acelerar muito o ritmo de jogo. O segredo estava, como sempre está, na cabeça de Pirlo, por onde passa toda a construção de jogo.

Uma informação extra dava conta da importância do jogo para a formação transalpina, que não se resumia só ao tradicional “honrar” da camisola – uma vitória faria com que Itália ultrapassasse a Croácia no ranking FIFA e se posicionasse, assim, como cabeça de série no sorteio da fase de grupos de apuramento para o Mundial de 2018. Contudo, a partir da meia hora de jogo, Portugal começou a equilibrar as operações. O trio da frente (Varela, Quaresma e Éder) apostava na pressão alta na saída de bola dos centrais italianos, o que resultou, aos 30 minutos, no momento de viragem do jogo. Éder consegue, em esforço, roubar a bola ao guarda-redes Sirigu e oferece, num passe atrasado, o golo a Varela, que só não marca porque um defesa italiano cortou a bola em cima da linha.

Se Pirlo é o “cérebro” da sua seleção, Moutinho é o coração de Portugal, tão ou mais importante do que Ronaldo. Daí que a decisão de afastar Meireles e Miguel Veloso da equipa para incluir Tiago tenha não só feito brilhar ainda mais Moutinho como consolidou a dinâmica do meio-campo, onde hoje Danilo se exibiu em bom plano – parece mais completo que William Carvalho, sobretudo mais rápido, e não comprometeu numa posição nevrálgica, a de médio-defensivo.

Danilo fez uma boa exibição na sempre exigente posição 6
Danilo fez uma boa exibição na sempre exigente posição 6
Fonte: FPF/Francisco Paraíso

Na segunda parte, acentuou-se o domínio da turma da quinas, embora Bonucci tenha ameaçado adiantar a Itália no marcador logo aos 49 minutos, com um remate ao poste. Logo a seguir, Eliseu, com talento e alguma sorte, consegue galgar uma série de metros e descobrir Quaresma solto na ala esquerda, de onde uma saiu uma trivela perfeita para Éder finalizar. Estava feito o golo de Portugal. A partir daqui, a iniciativa de jogo pertenceu muito mais a Portugal, que sobretudo em contra-ataque foi construindo oportunidades para dilatar a vantagem. Daniel Carriço, que fez a estreia pela seleção principal, Cédric, Adrien e Pizzi foram lançados no decorrer do jogo. Afinal, serão eles, ao que tudo indica, que daqui a cinco/seis anos vão ser considerados os indispensáveis no onze português.

Na parte final do desafio, a formação italiana dispôs de três claras oportunidades para fazer o empate, o que, a acontecer, teria sido tremendamente injusto. Tanto Gabbiadini como Vasquez e Ranocchia esbarraram em Beto. É já mais que evidente, até pela exibição de Rui Patrício na Arménia, que a baliza tem de mudar de dono.

A fechar, destaque positivo para uma (mais uma) boa performance de José Fonte e, pela negativa, destaca-se a lesão de Coentrão, cuja gravidade ainda está por confirmar. Com esta vitória, Portugal quebra um jejum de 39 anos sem ganhar à Itália e confirma a tremenda irregularidade exibicional na era Fernando Santos, onde tanto se pode assistir a jogos miseráveis como a exibições muito bem conseguidas. Agora digo: a jogar como hoje, e com Ronaldo em boa forma, o Europeu não é uma miragem e está ao nosso alcance. Eu acredito.

A Figura:

Éder – Depois de tantos jogos onde nada se viu dele, marcou hoje o seu primeiro golo ao serviço da seleção, mostrou a capacidade que tem de segurar a bola de costas para a baliza e de correr quilómetros a pressionar a defesa. Agora a expetativa é a de que se multipliquem exibições como estas para poder devolver Ronaldo à sua posição natural.

O Fora-de-jogo:

Quaresma – À exceção do cruzamento artístico que deu o golo a Éder, pouco mais se viu. Sucederam-se as perdas de bola, cruzamentos mal medidos, fintas idiotas, etc. Deu a ideia de que foi uma espécie de birra pelo facto de não ter jogado no sábado.

Foto de capa: FPF/Francisco Paraíso

Crónica rápida

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O meu texto, hoje, será muito curtinho. Enxuto. Mas não desprovido de conteúdo (espero).

O que será do Brasil nesta Copa América? Será que pode voltar a vencer? Uma competição que lhe escapa desde 2007. A Argentina já deu o exemplo de que o favoritismo não é tudo; aliás, mais ainda, vencendo ao intervalo por 2-0, acabou por ceder o empate ao Paraguai – uma seleção que hoje em dia já não está tão cotada mas sonha, porém, voltar à ribalta. Agora que o Brasil continua a ser o favoritíssimo. Disso não tenho dúvidas. Mas do deve ao haver… a distância é grande.

Mesmo que a canarinha levante o caneco no Chile, os exigentes torcedores brasileiros só vão voltar a perdoar a equipa daqui a algum tempo, pois o Mundial da Rússia, em 2018, é só daqui a três anos. Parece que ainda sei fazer contas. Porém, o tempo passa a voar. E sabemos bem que apenas o título de campeão do Universo pode saciar os gulosos egos dos habitantes da terra do pau-brasil. Num país onde crescem talentos como cogumelos e ainda por cima em tão pouco tempo, a equipa que se apresentará no Mundial vindouro poderá ser diferente desta (assumindo que o Brasil participará na próxima Copa). Não esquecendo que haverá Jogos Olímpicos pelo meio (precisamente em Terras de Vera Cruz), mestre Dunga quererá já contar com os pupilos em quem confia. Até porque a equipa do Brasil é muito jovem.

Vencendo a Copa América, o escrete garantirá uma presença na Copa das Confederações, a jogar-se na Rússia um ano antes do Mundial. O tal torneio de teste, para verificar se tudo está em ordem. Mas se não vencer, os brasileiros não precisam de ficar tristes. Afinal de contas, desde que a Taça das Confederações foi criada, nunca o vencedor da mesma saiu triunfante do Mundial do ano seguinte. Os nossos irmãos que o digam: vencendo em 2005, 2009 e 2013. Mas nos respetivos anos consequentes de cada um destes três falharam. Superstições. Assim a vida tem mais piada.

Foto de capa: Facebook da Copa América

Olheiro BnR – Danilo Pereira

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Um dos jogadores que promete ser uma das figuras deste defeso de Verão é o médio-defensivo Danilo Pereira, futebolista que se tem assumido como a principal figura do Marítimo e até já chegou à selecção nacional A. Afinal, acreditando na imprensa desportiva portuguesa, Danilo Pereira estará a ser disputado pelo FC Porto e Sporting, sendo certo que a subida de patamar competitivo chega numa altura em que o jovem de 23 anos se encontra mais do que preparado para tal.

Terminou formação no Benfica

Danilo Luís Hélio Pereira nasceu a 9 de Setembro de 1991 em Bissau, Guiné-Bissau, mas desenvolveu toda a sua carreira futebolística em Portugal, tendo passado pelas camadas jovens do Arsenal 72, Estoril-Praia e Benfica. Em 2010, contudo, no salto para o futebol sénior, o médio-defensivo preferiu abandonar as águias e assinar pelo Parma, tendo permanecido ligado a esse clube italiano por três temporadas, ainda que só tenha feito cinco jogos oficiais e todos como suplente utilizado.

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Danilo despertou interesse de Benfica, Sporting e FC Porto, aquando da passagem pelo Marítimo
Fonte: Facebook de fãs Danilo Pereira

Ganhou impacto no Roda

Pelo meio da ligação parmesã, existiram ainda empréstimos ao Aris Salónica (2011) e Roda (2012/13), sendo de destacar a campanha que Danilo Pereira fez no clube holandês, uma vez que foi titularíssimo, somando 35 jogos (um golo) na Eredivisie. Ainda assim, no rescaldo dessa excelente passagem por Kerkrade, Danilo Pereira haveria de se mudar em definitivo para o Marítimo, clube onde rapidamente se impôs como uma das principais figuras e até já serviu de trampolim para a cobiça de grandes emblemas e a chegada à selecção nacional. Afinal, em duas temporadas, são já 70 jogos e quatro golos pela equipa insular.

Tem evoluído imenso

Danilo Pereira é um “seis” que se destaca pela imponente presença física (188 cm, 78 kg), inteligência posicional e capacidade de recuperação, sendo fundamental para manter o equilíbrio defensivo do Marítimo.

Forte na ocupação dos espaços e nos duelos individuais, tem ainda uma capacidade inata para recuar criteriosamente até ao eixo defensivo (posição que também faz sem quaisquer problemas), permitindo então aos insulares, e sempre que necessário, entrar no processo defensivo com três centrais. Onde tem evoluído imenso, por outro lado, é na construção, sendo inegável que Danilo Pereira é agora um jogador que apresenta uma interessante qualidade técnica e de passe, algo que o torna muito importante no início do processo ofensivo e, acima de tudo, que o colocou num outro patamar de excelência.

Foto de Capa: Facebook Oficial de Danilo Pereira

Copa América’2015 – Chile 3-3 México: Isto é futebol!

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Quando me perguntarem o que me faz gostar de futebol, este jogo vai servir de exemplo. Isto é futebol. Pode criticar-se a anarquia táctica de parte a parte, mas isto é futebol no seu estado mais puro. O jogo pelo jogo. O jogo que apaixona milhões por todo o mundo. Este ficará gravado para mais tarde recordar.

Na segunda jornada do grupo A da Copa América, Chile e México protagonizaram um dos encontros mais alucinantes dos últimos tempos. No final, nem chilenos nem mexicanos conseguiram a vitória, mas ambos tentaram tudo para sair com os três pontos. Foram 90 minutos disputados num ritmo louco, com intensidade máxima e duas equipas à procura do golo.

O Chile apresentou-se da mesma maneira com que havia vencido o Equador, mas provavelmente não esperaria um México tão personalizado depois da exibição medíocre contra a Bolívia. A equipa orientada por Herrera surgiu completamente revigorada em relação à primeira partida e criou bastantes dificuldades ao conjunto da casa durante o primeiro tempo. Com laterais participativos, uma dupla de médios bem mais presente e Corona responsável pela criação de desequilíbrios, a “Tri” conseguiu chegar à vantagem. Vuoso, que desta feita teve a companhia de Jiménez, suplente inesperado no jogo inaugural, bateu Bravo com assistência do avançado do Atlético de Madrid. A resposta não tardou, com Vidal a restabelecer a igualdade no minuto seguinte. Na sequência de um canto, o médio da Juve apareceu sozinho na grande área e cabeceou de forma potente para o empate. Jiménez não quis ficar atrás e, também através de um canto, devolveu a liderança à sua equipa com um espectacular golpe de cabeça. O Chile voltava a estar em desvantagem, mas na recta final do primeiro tempo ganhou ascendente no encontro, muito por culpa das acções de Valdivia, e chegou de forma merecida ao 2-2. Isla e Vidal combinaram bem no lado direito (têm demonstrado um excelente entendimento, o que não surpreende) e o médio cruzou para o golo de Vargas, avançado que justificou plenamente a entrada na equipa titular.

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Jiménez, que foi suplente no primeiro jogo, entrou para dar outro poder ao ataque mexicano
Fonte: Facebook da Copa América 2015

O final da primeira parte teve continuidade no início da segunda. Uma boa entrada da equipa da casa viria a dar pela primeira vez a vantagem no encontro, com Vidal a ganhar um penalty e a encarregar-se da marcação, assumindo-se como a grande figura chilena até ao momento. “La Roja”, com a qualidade habitual no último terço, estava a massacrar a defesa mexicana, incapaz de travar as combinações rápidas de Alexis, Vargas e companhia. Num desses lances, Valdivia marcou um grande golo de fora da área, mas o árbitro anulou por fora-de-jogo no início da jogada. Logo a seguir, novo empate no marcador. Aldrete, com um passe longo para as costas da defesa chilena, isolou Vuoso, que não perdoou na cara de Bravo.

O experiente avançado mexicano, que tinha sido uma nulidade frente à Bolívia, aproveitou as debilidades da turma de Sampaoli no controlo da profundidade (uma espécie de “problema crónico”) para bisar na partida. A partir daqui, só deu Chile. Só por falta de eficácia é que o país anfitrião desta Copa América não saiu com os três pontos. Valdivia ia pautando todo o jogo chileno, as oportunidades sucediam-se e Alexis chegou a introduzir novamente a bola na baliza de Corona, mas o árbitro voltaria a anular por posição irregular. O México, que acusou o desgaste nos últimos minutos, perdendo alguma capacidade de chegar ao ataque, pode dar-se por satisfeito por ter saído com um empate. Ainda assim, o resultado acaba por servir mais a chilenos do que a mexicanos, agora obrigados a vencer na última jornada (um empate dificilmente chegará).

O Chile, apesar de não ter vencido, acabou por realizar uma exibição mais convincente do que no primeiro encontro, sobretudo na segunda parte. As entradas de Albornoz (bom lateral-esquerdo, bastante activo no primeiro tempo) e Vargas (tem de ser indiscutível nesta selecção) foram apostas certeiras de Sampaoli e melhoraram o rendimento da equipa. A dinâmica ofensiva dos chilenos, assente nas subidas dos laterais, nas entradas de Vidal e Aránguiz, na classe de Valdivia e nos “diabos” Alexis e Vargas, voltou a impressionar e promete fazer muitos estragos nesta Copa América.

Do lado dos centro-americanos, Herrera conseguiu fazer o mais importante depois da péssima partida de estreia: mudar o “chip” demasiado passivo e conservador deste México “B” (convém não esquecer que as principais figuras foram poupadas para a Gold Cup). O resultado foi uma subida de rendimento colectiva, consequência de uma ligação entre sectores bem mais eficaz. Apesar dos problemas defensivos, acentuados pela ausência por lesão de Rafa Márquez, as ilações a retirar deste encontro são positivas. Os laterais Flores e Aldrete estiveram mais expeditos na exploração dos flancos, os médios Güemez e Medina foram competentes no primeiro tempo (especialmente o segundo) e a inclusão de Jiménez deu claramente outro poder ao ataque. Corona, se conseguir ser mais objectivo, pode ter um papel ainda mais importante nesta equipa.

A Figura:

Arturo Vidal/Jorge Valdivia – O jogador da Juve está numa forma soberba e tem-se assumido como o patrão da equipa. Assinou dois golos, fez uma assistência e tem sido decisivo pela forma como aparece vindo de trás. Quanto ao médio do Palmeiras, é um daqueles génios que encanta a cada toque na bola. Visão, capacidade de decisão e muita qualidade técnica. Parece que vê antes dos outros. Aos 31 anos e sem problemas físicos, o seu maior “handicap”, tem mais uma oportunidade de mostrar que é um jogador que se destaca dos demais.

O Fora-de-Jogo:

Num jogo tão memorável como este, é injusto nomear alguém pela negativa.

Foto de Capa: Facebook da Copa América 2015

Copa América’2015 – Equador 2–3 Bolívia: O Preço das Infantilidades

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A Bolívia venceu, com muito sacrifício, o Equador na segunda jornada do Grupo A da Copa América. A seleção orientada por Mauricio Soria foi para o intervalo a vencer por 3-0, mas terminou a partida encostada às cordas, conseguindo, ainda assim, conservar a vitória e amealhar três pontos que podem ser importantíssimos para assegurar a qualificação para os quartos de final.

A equipa boliviana entrou praticamente a vencer no encontro. Estavam apenas decorridos 4 minutos quando Ronald Raldes apareceu solto de marcação a finalizar o pontapé de canto cobrado por Martin Smedberg. O central e capitão boliviano fugiu da marcação deficiente de Fidel Martínez e inaugurou o marcador no estádio Elias Figueroa, em Valparaíso. A seleção equatoriana não melhorou o seu rendimento defensivo e sofreu o segundo logo à passagem do minuto 18. O lateral esquerdo Ayoví ofereceu a bola a Lizio, este tocou para Marcelo Moreno, que, por sua vez, deixou para Smedberg encher o pé de fora da área, rematando sem hipóteses de defesa para Alexander Domínguez. Ainda não estavam decorridos 20 minutos e a favorita seleção equatoriana estava a perder, fruto da extrema passividade com que estava a encarar o jogo e de erros defensivos inadmissíveis.

A vencer, a Bolívia começou a jogar como gosta, com muita entreajuda e solidariedade nos momentos defensivos. A equipa fechou-se no seu meio-campo, defendendo com todos os jogadores, incluindo os avançados Marcelo Moreno e Pedriel. Perante tão densa muralha defensiva, os equatorianos tiveram dificuldades para criar ocasiões de golo. Nas poucas que criaram, encontraram pela frente um guarda redes inspirado. Romel Quiñonez esteve intransponível na primeira parte, defendendo inclusivamente uma grande penalidade aos 36 minutos. Na primeira tentativa, Enner Valencia introduziu a bola na baliza, mas o árbitro Joel Aguilar mandou repetir o castigo máximo, por invasão da área antes da cobrança da penalidade. Na segunda tentativa, Quiñonez defendeu o remate displicente de Enner Valencia, deixando os adversários à beira de um ataque de nervos.

Os equatorianos ficaram ainda mais destroçados quando aos 41 minutos sofreram o terceiro golo. O central Frickson Erazo esqueceu-se das regras e levantou o pé tão alto dentro da área que acertou na cara de Lizio. Na conversão da grande penalidade, Marcelo Moreno não perdoou e colocou o resultado nuns quase escandalosos 3-0 para a Bolívia.

Marcelo Moreno festeja com Pedriel após apontar o terceiro golo da Bolívia
Marcelo Moreno festeja com Pedriel após apontar o terceiro golo da Bolívia
Fonte: Site oficial da Copa América

Na segunda parte, assistimos a um carrossel de ataques equatorianos, das mais variadas formas e feitios, à baliza de Romel Quiñonez. Para isso, muito contribuiu a entrada ao intervalo de Juan Cazares. O médio do Banfield veio trazer alguma clarividência e frescura ao meio campo amarelo, formando com Noboa uma dupla forte no momento da distribuição de bolas para o ataque. Logo no terceiro minuto do segundo tempo, a seleção equatoriana reduziu para 1-3. Mais um erro defensivo, desta vez no lado boliviano – a bola sobrou para Montero, este furou entre dois defesas e assistiu Enner Valencia, que apenas teve de encostar para a baliza aberta. Estava relançado o jogo para a segunda metade, onde vimos um Equador a atacar bastante, mas de forma descoordenada nos últimos 30 metros. As boas exibições de Noboa e Cazares não tiveram sequência nos elementos do setor atacante e a defesa boliviana, que, apesar do bom resultado, mostrou que não é nada de especial, foi chegando para as encomendas, principalmente depois da entrada de um terceiro central, Cristian Coimbra, para o lugar do dianteiro Ricardo Pedriel, quando ainda faltava mais de meia hora para o final do encontro.

Romel Quiñonez ainda negou por mais duas ou três vezes o segundo golo equatoriano, que acabou por chegar aos 82 minutos, num remate de fora da área de Miller Bolaños. O número 8 aproveitou algum adiantamento de Quiñonez e rematou forte,  fazendo a bola a sobrevoar o guardião. Três minutos depois, esteve muito perto o empate, num lance a papel químico do 3-2. Desta vez, foi Noboa a rematar, novamente com a bola a sobrevoar o guarda redes, mas a embater com estrondo na trave. Até ao fim, nota para mais dois remates de Cazares, ambos superiormente defendidos por Romel Quiñonez.

Com este resultado, a Bolívia passa a somar 4 pontos e está em ótima posição para passar à fase seguinte, ao contrário do Equador, que somou a segunda derrota em duas partidas.

Este jogo foi mais uma excelente propaganda para a Copa América. Teve muita polémica, muitos erros defensivos, jogadas espetaculares e lances mais ríspidos, bem ao estilo sul americano. Venham mais jogos destes nesta competição!

A Figura:

Romel Quiñonez – Esteve em grande, o guarda-redes boliviano. Fez 3 ou 4 defesas de alto nível e ainda parou uma grande penalidade de Enner Valencia na primeira parte. Remendou vários erros do seu setor defensivo e foi um dos pilares da vitória da sua equipa.

O Fora de Jogo:

A defesa do Equador – Toda a equipa ficou parada no primeiro golo, Ayoví deu a bola ao ataque boliviano no segundo e Erazo teve uma “paragem cerebral” que resultou em grande penalidade no terceiro golo. Os defesas equatorianos estiveram horríveis na primeira parte e deitaram tudo a perder.

Foto de capa: Site oficial da Copa América

Critérium du Dauphiné – Froome deixa um aviso à concorrência!

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Cabec¦ºalho ciclismo

Em 2013, Chris Froome venceu o Critérium du Dauphiné e, mais tarde, venceu o Tour de France. Voltará a repetir esse desfecho? Veremos, mas a 1ª parte está completa, que foi o de levar de vencida este Dauphiné e deixar uma forte mensagem para todos os seus adversários à camisola amarela no Tour!

Mais uma vez, esta prova surpreendeu e voltou a dar-nos um bom espetáculo entre alguns dos candidatos a vencer o Tour ou a estar no top5/top10 do mesmo. Nibali e Valverde mostraram estar mais preocupados em ganhar mais forma para o Tour do que propriamente lutar por um bom resultado (mesmo assim, o ritmo de ambos foi suficiente para terminarem no 12º e 9º lugar, respetivamente – sendo que Nibali costuma, igualmente, tentar não estar muito forte nestas corridas para que os adversários não vejam quais poderão ser as suas táticas ou formas de corrida durante a prova). Talansky, o vencedor de 2014 desta prova, não conseguiu melhor do que um 10º lugar.

O Dauphiné que começou e terminou da mesma forma: com uma vitória da Sky! Na 1ª etapa, Peter Kennaugh consegue uma excelente vitória fruto da sua coragem e audácia. O restante do pelotão chegou atrás dele com Modolo a ser o mais forte ao sprint e a conseguir o 2º lugar. Na 2ª etapa, num final esperado ao sprint, Bouhanni, o vencedor da camisola dos pontos, consegue a sua 1ª vitória na prova francesa. Na 4ª etapa viria a vencer, novamente, numa chegada ao sprint e a mostrar que era mesmo o sprinter mais forte desta corrida (veremos como irá lidar com sprinters “de peso” no Tour – Modolo e Mezgec eram a maior concorrência para o francês nesta prova, mas o ciclista da Lampre apenas venceu o próprio Bouhanni num sprint para o 2º lugar e o esloveno, da Giant, o melhor que conseguiu foi um 3º lugar na 4ª etapa). No contrarrelógio coletivo ou por equipas, a BMC, campeã do mundo, mostrou exatamente o porquê de ter sido a mais forte nos mundiais e venceu a etapa deixando Rohan Dennis na liderança e Van Garderen numa excelente posição para poder vencer a prova.

Os atuais campeões do mundo de contrarrelógio por equipas não desiludiram e venceram na sua especialidade Fonte: steephill.tv
Os atuais campeões do mundo de contrarrelógio por equipas não desiludiram e venceram na sua especialidade
Fonte: steephill.tv

Depois desse CR e da última etapa ao sprint compacto, finalmente apareceram as etapas de montanha e tivemos as primeiras “lutas” entre os favoritos à geral. Na 5ª etapa, Romain Bardet esteve taticamente perfeito e, arriscando na descida, conseguiu ter uma vantagem suficiente para vencer a etapa e passar a ter a camisola branca da juventude na sua posse (tendo Van Garderen conseguido o 2º lugar na etapa, batendo Froome, e a camisola amarela). Nibali, Valverde e Rui Costa não aguentaram o ritmo dos principais adversários e deixaram-se ficar para trás. Mas é também por momentos como os seguintes que o ciclismo é o enorme espetáculo que é: na etapa seguinte, a 6ª, os mesmos três integraram a fuga principal do dia (juntamente com “dois Tony’s”: Martin e Gallopin). O italiano da Astana poderia ter conseguido, nesse mesmo dia, a camisola amarela e a vitória de etapa, não tivesse com ele um ciclista de seu nome…Rui Costa, claro está! O português, em mais uma “jogada de mestre”, geriu melhor as forças e acabou por bater o italiano, nos últimos metros, com relativa facilidade (pode ver mais acerca desta enorme vitória aqui).

As duas últimas etapas tiveram um nome em comum: Christopher Froome! O britânico da Sky, mesmo sem grande desgaste, deu espetáculo e venceu, com categoria, as duas etapas. Na 7º etapa, numa grande luta com Van Garderen, Froome conseguiu escapar-se do americano a tempo de ainda ganhar 17 preciosos segundos para o seu objetivo de vencer esta prova. Mesmo assim, depois disto, ainda estava tudo em aberto, com o ciclista da BMC a manter o seu 1º lugar por meros 18 segundos. Previa-se uma última etapa de enorme categoria, principalmente pelo facto de termos o homem que estava em 2º lugar numa melhor forma, mas com o Van Garderen a ter a vantagem na sua posse.

O pódio final do Critérium du Dauphiné Fonte: Letour.fr
O pódio final do Critérium du Dauphiné
Fonte: Letour.fr

Chegada a última etapa e chegados os últimos km’s, Froome (quem mais…) desfere um excelente ataque e o camisola amarela nunca mais o conseguiu apanhar (a certa altura chegou a olhar para trás para ver se conseguiria ter a ajuda do grupo perseguidor, mas isso não aconteceu). Esse mesmo grupo perseguidor continha o português Rui Costa (que na etapa anterior perdeu um pouco de tempo devido ao desgaste que teve no dia da sua vitória) e o britânico e uma das jovens sensações do momento Simon Yates (no final do dia conseguiu o 2º lugar na etapa, o 5º lugar da geral e, ainda, “tirou” a camisola de melhor jovem a Romain Bardet) – já agora, referente a jovens sensações do momento, há que ter em atenção, tal como já tenho dito a várias pessoas há uns tempos atrás, o crescimento de Caleb Ewan, venceu agora a Volta à Coreia e, das 8 etapas, ganhou 4. Voltando ao Critérium, quer o Yates, quer o Rui, ainda foram a tempo de superar o Van Garderen e, com as bonificações, o próprio Rui Costa (o ciclista da Movistar Benat Intxausti não foi forte o suficiente na última subida) conseguiu subir a um enorme 3º lugar na geral individual! Já Van Garderen perdeu a liderança, mas mostrou estar em forma para as provas vindouras.

A camisola da montanha até nem foi ganha por nenhum destes maiores intervenientes, mas sim por um ciclista da Eritreia, de seu nome Daniel Teklehaimanot, da equipa sul africana MTN Qhubeka, que foi integrando as fugas certas e conseguiu dar esta vitória a todo um povo eritreu e, até mesmo, a toda uma nação africana, sendo este outro dos grandes momentos deste Critérium du Dauphiné.

Em suma, uma vitória justa do Froome, da Sky (apesar de, por vezes, tentarem meter um ritmo lento nas corridas e que se pode tornar pouco interessante, não deixam de ser uma excelente equipa) e a confirmação de que o britânico não vai estar para brincadeiras no Tour – prova que começa já no princípio de Julho, dia 4! Por fim, igualmente a confirmação de que o Rui Costa deveria optar por fazer mais corridas de 1 semana ou menos, provas onde está a ter, cada vez mais, excelentes resultados. Mesmo assim, aguardamos todos, com boas expetativas, pelo começo do Tour, não só pela batalha que se prevê entre os 4 melhores ciclistas de Grandes Voltas, bem como por um possível top10 da parte do grande Rui Costa (e de boas provas, também, do restante elenco de portugueses que irá estar presente).

Das Astúrias à Catalunha – Uma Deambulação pela Liga Adelante

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Não passo de um mendigo do futebol, ando pelo mundo de chapéu na mão, nos estádios suplico: – Uma linda jogada pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre – sem me importar com o clube ou o país que o oferece.” – Eduardo Galeano

A edição 2014/15 da Liga Adelante (2.ª Divisão do futebol espanhol) foi provavelmente tão ou mais interessante do que a temporada da Liga BBVA que proporcionou ao Barcelona o 23.º título da sua história no escalão principal do futebol espanhol.

Com o playoff de subida ainda a decorrer (mas que terá  como finalistas o Las Palmas e o Zaragoza), a Liga Adelante já tem, no entanto, um campeão, um vice-campeão e quatro equipas que vão descer de categoria. O Real Betis do regressado Pepe Mel (homem que deixou os adeptos béticos em lágrimas quando deixou a equipa em Dezembro de 2013) sagrou-se campeão, conseguindo 84 pontos em 42 jogos, e com eles segue caminho para a Liga BBVA o surpreendente Sporting de Gijón, que conseguiu uma época notável, terminando a sua campanha com apenas duas derrotas.

A equipa asturiana, comandada pelo antigo internacional espanhol Abelardo Fernández, foi a protagonista de um jogo atípico e ao mesmo tempo emocionante disputado na última jornada do campeonato no Benito Villamarin (reduto do Real Betis), no qual somou os três pontos graças a uma categórica vitória por 3-0. O Sporting de Gijón precisava de vencer esse jogo e esperar por uma escorregadela do Girona em casa perante o Lugo, algo que seria à partida pouco provável, mas que acabou por acontecer já no período de descontos quando o avançado argentino Pablo Caballero conseguiu o empate para a equipa galega. Graças a esse inusitado empate, o Sporting de Gijón de Abelardo Fernández conseguiu uma merecida promoção ao escalão principal do futebol espanhol.

Abelardo Fernández: O Homem que reinventou o Sporting de Gijón Fonte: Sporting Gijón
Abelardo Fernández: O Homem que reinventou o Sporting de Gijón
Fonte: Sporting Gijón

O antigo defesa espanhol, que dividiu a sua carreira como profissional entre o Sporting de Gijón, equipa onde se formou, e o Barcelona, onde passou oito anos bem sucedidos, foi o grande mentor deste regresso da equipa asturiana ao convívio com os grandes. Apoiado pela Escuela de Fútbol de Mareo, a “fábrica” de jogadores do Sporting de Gijón, Abelardo, que conhece a estrutura da equipa asturiana como ninguém, montou um plantel recheado de atletas com imenso talento e composto essencialmente por jogadores espanhóis, algo muito pouco normal nos dias que correm por essa Europa fora.

Jogadores como o canterano Carlos Castro, um jovem avançado espanhol com um potencial tremendo, como Sergio Álvarez, um médio centro de elevadíssima qualidade, internacional pelas selecções jovens de Espanha, e outros mais experientes, como o seu número 10 Nacho Cases, o versátil lateral direito Alberto Lora e o experiente guarda-redes Iván Cuéllar, foram de vital importância nas manobras da equipa durante toda a temporada. Abelardo, que absorveu muito do estilo de jogo Barcelonista durante a sua passagem pelo clube catalão, implementou no Sporting de Gijón um estilo bastante atractivo, baseado no passe curto, nos movimentos rápidos e nas linhas muito juntas, em tudo semelhante àquele que caracterizou o futebol da formação blaugrana durante épocas a fio. Através de um 4-2-3-1 que rapidamente se transformava em 4-4-2 ou 4-4-1-1 graças à versatilidade dos seus homens da frente, Abelardo conseguiu não só construir a melhor defesa da Liga Adelante (apenas 27 golos sofridos em 42 jogos), como fazer do Sporting de Gijón uma das equipas que melhor jogam em todas as categorias do futebol espanhol. Falar da actual carreira de Abelardo Fernández e dos seus tempos como futebolista ao serviço do Barça quase nos obriga a olhar para aquilo que sucedeu ao Barcelona B esta temporada.

Os jovens jogadores do Barcelona B na hora do adeus à Liga Adelante Fonte: Página Oficial da Liga Adelante
Os jovens jogadores do Barcelona B na hora do adeus à Liga Adelante
Fonte: Página Oficial da Liga Adelante

A equipa que costuma abrir as portas do estrelato aos jogadores formados em La Masia terminou a época em último lugar, tendo sido, com isso, despromovida à 2.ª Divisão B. Depois de ter conseguido um 3º lugar em 2013-14, o Barça B foi incapaz de se impor numa liga em que o nível de qualidade futebolística tem aumentado de ano para ano. Apesar de ter um plantel recheado de excelentes jogadores, como o prodígio croata Alen Halilovic, Sergi Samper, Adama Traoré, Munir El Haddadi e Sandro Ramirez, entre outros demais, o Barcelona B não foi capaz nem de perto, nem de longe, de replicar aquilo que fez na temporada passada.

Eusebio Sacristán, o homem que tomou conta da equipa após a saída de Luis Enrique em 2011, não resistiu aos maus resultados e foi substituído no passado mês de Fevereiro por outro homem da casa, de seu nome Jordi Vinyals. Não obstante o bom resultado global da época passada, Eusebio Sacristán nunca conseguiu montar um Barcelona B nem altamente sincronizado, nem extremamente eficaz, como aquele que Luis Enrique criou aquando da sua passagem pela equipa. O treinador asturiano, que foi o responsável por devolver o Barcelona B às ligas profissionais após uma longa ausência de onze anos, viu, de forma algo irónica, o seu trabalho hercúleo ir por água abaixo no ano em que se sagrou campeão nacional e europeu com a equipa catalã.

Foto de Capa: Página Oficial da La Liga (Liga Espanhola)