Força da Tática | Portugal x Marrocos: A força do querer e o não (fazer para) conseguir

    Que Portugal se poderia esperar perante os quatro avisos dados no Mundial, por parte da seleção de Marrocos? Na escolha dos 11 titulares, Fernando Santos escolheu confiar na componente que melhor funcionou com a Suíça e naquela que melhor poderia funcionar numa prova de continuidade. Mas… aconteceu aquilo que todos vimos no jogo Espanha x Marrocos e Portugal foi mais “uma Espanha”, a cair aos pés da seleção africana. Porquê? Vamos tentar decompor.

    1. A escolha do médio defensivo. Queria Fernando Santos colocar um pivot no Meio-campo, como base para poder sair a jogar com qualidade a trÊs na zona defensiva, libertando os defesas laterais, aproveitar o passe em profundidade e entre linhas, e dar potência e colocação no remate de meia distância. Terá sido produtivo deixar no banco jogadores com capacidades similares, mas mais potentes na recuperação e na impetuosidade a meio-campo? Uma parede em vez de um construtor? É que Otávio era necessário em movimentos de rutura e Bernardo Silva e Bruno Fernandes estavam focados na variação de centro de jogo.
    2. As 3 armas coletivas de Marrocos.
      1. A ocupação dos três corredores por vários jogadores, nas situações de Transição Ofensiva, aliada a grande capacidade de passar em profundidade e de guardar a bola. Com os defesas laterais da nossa Seleção, subidos, este momento era manteiga para a seleção de Marrocos. Espaço e mais espaço, para progredir.
      2. A contenção. Este princípio de jogo tem sido e foi brilhantemente interpretado pelos jogadores de Marrocos. O tempo e o espaço das contenções é uma arte marroquina.
      3. A junção das linhas de “guerra”. Quer a atacar, quer a defender, essas mesmas linhas, sempre a recuar ou a progredir, em distâncias quase simétricas. Leitura eximia do passe do adversário, pelos jogadores de Marrocos.
    3. A perspetiva pré jogo e a perspetiva que o jogo ia dando a Fernando Santos. O nosso Selecionador apostou na estratégia de circulação, mas “entregou-se”, quando deixou de ser possível penetrar sem bola na linha defensiva marroquina. Aí a entrada de mais um jogador de área seria importante, até mesmo antes do golo marcado por En-Nesyri. Seria até mesmo relevante considerar, a coexistência de costas para a baliza de Bernardo Silva ou Bruno Fernandes, entregando os corredores a outro tipo de jogadores. Era no espaço central, que a guerra deveria ser ganha, tal não era a densidade de jogadores à frente do guarda-redes, e era demasiado fácil adivinhar os cruzamentos para a área de Marrocos. Os africanos já posicionados, atacavam de “cadeirinha”.
    4. O espírito e a alma da seleção de Marrocos. Condimentos necessários para uma prova a eliminar. Foi Portugal que se encaixou no estilo de jogo do adversário. A Marrocos “só” lhe bastou ser Marrocos.

     

    Nem sempre a seleção de Marrocos se resguardou a um bloco zona pressionante em zona baixa. Vemos através da imagem, um exemplo dos terrenos adiantados que Marrocos pisava em alguns momentos da 1ª parte. Repare-se na colocação dos apoios dos jogadores marroquinos e na ocupação de espaços entre jogadores portugueses. Controlo absoluto do espaço, com possível rápida e intensa aproximação ao portador de bola. Repare-se em Amrabat (a amarelo): centro de gravidade baixo, escondendo-se para poder antecipar a jogada e atacar o espaço, controlando cirurgicamente todo o jogo defensivo da Seleção de Marrocos.

    Portugal Marrocos
    Fonte: SIC

    Portugal criou situações de finalização. Sem dúvida, mas nunca Marrocos esteve no seu pior momento: Organização Ofensiva. Portugal guardou a bola, de forma lenta e previsível na 1ª parte e na 2ª foi ludibriado pelo “efeito caixa”. Jogador livre junto a lateral (na imagem não visível, mas percetível pela orientação do corpo de Otávio e defesa esquerdo de Marrocos, a amarelo).

    Portugal Marrocos
    Fonte: SIC

    Esse jogador português escondido, não interessava, permitindo duas coisas: fechar o espaço central e entre linhas e caso a bola chegasse a área, quase sempre apanharia uma seleção de Marrocos de “cadeira”, à espera do cruzamento.

    Portugal Marrocos
    Fonte: SIC

    Portugal saiu da competição com um misto de sentimentos: consciente de que nesta fase, as seleções com maior qualidade individual poderiam sair, por outro lado, a estratégia para os jogos, nos campeonatos do mundo fazem a diferença, e a mudança de estratégia no decorrer do jogo, é absolutamente fulcral.

    Força, Portugal. Sempre!

    Artigo da autoria do treinador de futebol, Paulo Robles

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