Desde pequenos que aprendemos que em desporto o mais importante, para além de participar, é divertirmo-nos. Nos dias que correm, olhamos para a televisão e raramente vemos sorrisos sinceros no futebol. Aliás, quase que aposto que poucos são os jogadores que se divertem. Uma vez que a modalidade tende a ser vista cada vez mais como um negócio, a felicidade deixa de ser um factor de escolha. Por exemplo, Assou-Ekotto já disse que não “adora” o desporto. Contudo, um dos jogadores que mais admiro é a personificação da alegria no futebol.
Quando li os textos anteriores desta rubrica, apercebi-me de que muitos deles começavam com o autor a escrever, num tom nostálgico, sobre o momento em que viram o atleta a jogar primeira vez. No entanto, não me lembro muito bem de quando é que vi este homem a jogar pela primeira vez. Muito sinceramente, por mais que me esforce, simplesmente não consigo. Sei que foi muito graças a Ronaldinho Gaúcho que comecei a gostar mais de futebol.
Com um dos sorrisos mais conhecidos do mundo, o astro brasileiro foi o atleta que melhor representou o estilo de jogo do “joga bonito”. O futebol de bairro que Ronaldinho praticava é, até hoje, inigualável. Centenas tentam imitá-lo e as mesmas centenas falham.
Não sei como nem quando, mas lembro-me de estar sentado na minha sala a ver um jogo do Paris Saint-Germain e de ver um jogador magrinho com os dentes tortos que se estava sempre a rir. Sem tocar na bola, Ronaldinho, limitava-se a acompanhar as jogadas de ataque. De repente tocou no esférico. Perdi-me ao ver o seu toque de bola.
Pouco tempo depois foi o Mundial de 2002. O Brasil venceu a final por 2-0, com dois golos de outro grande “fenómeno” do futebol brasileiro, Ronaldo. Contudo, o jogador que mais me fascinou foi mesmo aquele que tinha o número 11 na camisola. O seu número (10) estava então ocupado por Rivaldo.
Até então, ver o PSG era raro para mim. Foi aí que Ronaldinho se apercebeu das minhas dificuldades para ver os seus jogos e acabou por se transferir para o Barcelona. É indiscutível que foi no “Barça” que a estrela brasileira realmente brilhou. Ganhou a Bola de Ouro por duas vezes, ganhou o campeonato e também a “Supercopa”.
Mas chega de títulos porque o que Ronaldinho fez, pelo menos no meu ponto de vista, transcende qualquer taça levantada. O brasileiro apaixonou milhões e, acima de tudo, mostrou que o futebol pode ser vivido com a mesma alegria com que as crianças jogam diariamente à frente das nossas casas. Aquela inocência que os mais novos trazem quando fazem uma peladinha é a mesma que o antigo número 10 do Barcelona demonstrava jogo atrás de jogo.
A partida que melhor recordo aconteceu em 2005 contra o Real Madrid. O Barça venceu 3-0 com dois golos carimbados pela maior estrela, na altura, do futebol brasileiro. Ronaldinho Gaúcho conseguiu o impensável e foi aplaudido de pé pelos adeptos da equipa rival.
Ronaldinho Gaúcho é, sem dúvida, um dos jogadores que mais admiro, por tudo o que representou e ainda representa.