
O Europeu Sub-19 já começou e promete muito bom futebol. A realidade da formação na Europa continua a preencher os verões e a suprir a ausência de grandes competições e este Europeu tem no menu encontros bem interessantes.
Dois grupos com quatro seleções num formato que permite acompanhar ao detalhe todos os jogos da competição e seguir bem de perto todas as histórias que a competição irá proporcionar.
Portugal, Polónia, Malta e Itália estão num grupo, Espanha, Noruega, Islândia e Grécia noutro. A competição realiza-se no território da pequena ilha de Malta que vai concentrar, por duas semanas, o olhar dos apaixonados pelo futebol de formação e pelos craques do futuro.
Depois de, no ano passado, a Inglaterra vencer a competição com Chukwuemeka como melhor jogador, e de Israel confirmar o potencial da geração que tem sido destaque nos campeonatos de formação e que conta em Oscar Gloukh como o expoente máximo em termos qualitativos, 2023 é um ano de novas histórias e de novos destaques.
1.
Rodrigo Ribeiro (Portugal) – É o nome maior da geração portuguesa. Foi estranha a forma como perdeu espaço na equipa principal do Sporting depois de chegar a ser a principal alternativa a Paulinho, mas não foi por isso que deixou de ter qualidade.
O Sporting é um dos principais fornecedores de matéria bruta aos sub-19 portugueses e a influência dos leões – é muito interessante a geração de 2004/2005 pelos lados de Alcochete – só não é maior por culpa de Rúben Amorim. Youssef Chermiti, Dário Essugo, Mateus Fernandes, João Muniz e Diogo Travassos foram chamados a fazer a pré-época com a equipa principal e desfalcam Portugal no Europeu.
Ainda assim, Portugal pode assumir-se como um dos favoritos à vitória. Gonçalo Esteves e Rodrigo Ribeiro estão num nível muito superior ao escalão e são, porventura, os principais destaques da seleção, mas há muita qualidade em vários setores. Hugo Félix, Carlos Borges e Jorge Meireles, são nomes a ter em conta, numa convocatória de Joaquim Milheiro que apresentou duas surpresas: Gonçalo Ribeiro (guarda-redes) e Martim Fernandes (defesa direito) marcaram presença no Europeu Sub-17 e sobem um escalão. Ambos partem como suplentes, mas podem ter minutos.
Quanto a Rodrigo Ribeiro é um dos fortes candidatos a melhor marcador deste Europeu sub-19 de Malta. Tem uma relação próxima com a baliza, mas não se pode reduzir a sua influência no jogo ao golo. Oferece soluções em apoio, encontra espaço para jogar entrelinhas nas costas dos médios adversários e tem recursos para resolver lances de forma criativa. É jogador para manter debaixo de olho não só no torneio, mas também na próxima temporada, embora não pareça contar para Rúben Amorim.
2.
Fabio Chiarodia (Itália) – Itália corre lado a lado com Portugal para se apurar no grupo. Curiosamente, as seleções reencontram-se depois da emocionante final de 2018, com boas memórias para a equipa das quinas que venceu o torneio no prolongamento (4-3).
Tinha na altura a azzurra nomes como Sandro Tonali, Davide Frattesi ou Ninolò Zaniolo. Volvidos cinco anos a seleção italiana chega à competição depois da seleção sub-20 se ter sagrado vice-campeã do mundo e com chances para sonhar.
O futebol italiano cresceu bastante nos últimos anos à boleia de uma nova geração de treinadores com ideias rejuvenescentes, baseadas numa abordagem positiva ao jogo. O catenaccio continua a existir, mas é neste momento uma generalização profundamente exagerada se tivermos em conta que é em solo transalpino que se encontram alguns dos modelos de jogo e jogadores mais cativantes do futebol.
Samuele Vignato, extremo do Monza com experiência na equipa principal, e Francesco Esposito, goleador da formação do Inter de Milão podiam ser referenciados, mas o destaque transalpino é de Fabio Chiarodia. O defesa italiano tem dupla nacionalidade e fez a formação na Alemanha. Recentemente foi transferido do Werder Bremen (quatro jogos na primeira equipa) para o Borussia Monchengladbach por dois milhões de euros e é um dos exemplos da nova cultura tática da jovem seleção italiana. Tem uma envergadura física notável e é muito forte na intercetação e nos duelos. Além das habilidades defensivas o esquerdino sente-se confortável com bola no pé, confiante em condução e desequilibrador no passe vertical e diagonal.
3.
Tomasz Pienko (Polónia) – Apesar de anfitriã, a seleção da Malta não deposita sobre si grandes expectativas e a Polónia é a principal ameaça à qualificação portuguesa. Não tendo uma geração excecional, pode ser uma seleção complicada de se defrontar.
A Polónia não tem tido uns anos fáceis e, depois de uma geração interessante (com Lewandowski como expoente), não tem tido facilidades em voltar a retornar ao mais alto nível do futebol europeu.
Pela proximidade geográfica a Polónia tem vários talentos a jogar em Itália. Kacper Urbanski, médio do Bologna, vai ser um dos destaques polacos do torneio e Mateus Kowalski, ponta de lança com quase dois metros do Parma, pode ser útil ao longo do torneio. São dois dos seis polacos que atuam em solo italiano.
Ainda assim, o destaque da seleção polaca joga no país natal. Tomasz Pienko é encarado no país como uma das maiores promessas para o futuro e não é difícil de entender o porquê. O jovem de 19 anos atua no Zaglebie Lubin, um modesto clube que terminou o Ekstraklasa, campeonato local, em 9º lugar. Realizou 32 partidas, praticamente todas como suplente utilizado, e marcou três golos, o máximo para jogadores a entrar no decorrer do jogo. Joga centralizado no ataque, mas não é um nove puro, beneficiando de ter um companheiro ao lado. É muito forte nas diagonais de dentro para fora e tem muita qualidade técnica, ousadia no drible e irreverência. Ainda falha no momento da tomada de decisão, mas tem qualidade para marcar diferenças.
4.
Georgios Koutsias (Grécia) – Já do outro lado do torneio, se a Espanha é a principal candidata ao primeiro lugar, Grécia e Noruega disputam, à partida, o apuramento na segunda posição.
Ao contrário da Noruega, a nova geração de talentos gregos tem passado algo despercebida e não tem tido facilidade em se impor fora do campeonato local. Christos Tzolis, outrora um dos mais promissores extremos do mundo ainda não conquistou o seu espaço no Norwich, por exemplo.
O PAOK, pela política de formação, tem conseguido ser fonte de talento. Stefanos Tzimas, jovem com apenas 17 anos é um dos destaques da seleção grega e pode ser uma das revelações do torneio. Ainda assim, não tem sido fácil ao clube grego facilitar a transição ao futebol sénior de várias pérolas da formação e muitos jovens procuram outros caminhos para se desenvolver.
Georgios Koutsias foi um desses jovens. O avançado grego encontrou no Chicago Fire da MLS a melhor equipa para continuar a sua viagem no mundo do futebol e este ano conta já com 16 partidas pelo clube, geralmente partindo do banco. É um avançado completo que consegue atuar como referência, mas prefere ter maior liberdade posicional. É muito forte na identificação dos espaços, pode começar a partir de um dos corredores, tem velocidade e uma meia distância interessante. Sabe ter bola no pé, mas é mais temível com espaço e pode ser uma das armas gregas para ambicionar o apuramento.
5.
Dani Rodríguez (Espanha) – Os últimos são os primeiros, ouve-se geralmente um pouco por toda a parte. Antes do torneio, a aposta mais certa é dizer que o último jogador da lista é o que tem maior probabilidade de terminar o Euro Sub-19 em primeiro lugar.
A geração 2004/05 da Espanha é uma das mais fortes do passado recente da Roja que, longe de ter uma equipa principal repleta de talentos, tem uma fornada de alto nível para os próximos anos. A seleção sub-21 chegou às meias-finais e a seleção sub-19 tem probabilidades elevadíssimas de repetir o percurso.
A principal estrela da seleção espanhola desceu de divisão esta temporada. Iván Fresneda é o nome mais mediático do Europeu e pode ter na competição uma montra para trocar de clube ainda este verão (já chegou a ser associado ao Benfica). Ainda assim não dá para esquecer o Barcelona nesta análise. Victor Barberá, Ilias Akhomach e Dani Rodríguez são a espinha dorsal do ataque espanhol e temíveis.
O último entra nesta lista pela capacidade de jogar e fazer jogar. De todos os nomes do Europeu, nenhum paga tão facilmente qualquer bilhete como Dani Rodríguez. Importa perceber o espaço que terá no onze titular de José María Lana, mas se o tiver não deve desiludir. Tem grande requinte técnico e uma beleza envolvente em cada pormenor. Aproxima o futebol da arte e tem no pé esquerdo o pincel com que pinta o campo de futebol como quem pinta uma tela. Arrisca no drible e no passe e resolve jogos sozinho. É contagiante vê-lo jogar e vai ter uma oportunidade de mostrar todo o seu talento na entusiasmante seleção espanhola.