Tribuna VIP: Equilibrar com Tino e o poste americano

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    Significado de Tino no dicionário da Priberam:

    Nome Masculino

    1. Juízo.

    2. Tacto.

    3. Tento, prudência.

    4. Ideia, atenção.

    Todas elas palavras que, mesmo que num sentido futebolístico, podem ser aplicadas no texto que se segue.

    Enquanto espreitava o último jogo de preparação do Benfica, com o Feyenoord, tal como fui vendo outros encontros, de diferentes conjuntos, nesta fase inicial da época, vi uma equipa diferente do habitual: mais retraída, menos capaz no momento da pressão e até algo apática. Se a aposta em Kökçü parece fazer sentido, voltando até a utilizar este tipo de médio para construir mais atrás, como tantas vezes acontecia com Enzo há um ano e nos meses seguintes, a ausência de Florentino no onze teoricamente mais forte não me faz tanto sentido.

    Mais ainda quando olho para uma equipa que, a avaliar pelos jogos de preparação, deverá ter Rafa e Di María no onze, o que se justifica plenamente, mas que perde com isso os equilíbrios que Aursnes, por exemplo, dava quando jogava numa das alas do ataque. Mais, a capacidade que Florentino tem de “galgar” metros quando a equipa perde a bola dá ao Benfica muito mais possibilidades de recuperá-la em terrenos adiantados como, de resto, passou a acontecer repetidamente após a entrada do médio formado nos encarnados no jogo em questão.

    Casper Tengstedt Andreas Schjelderup Alexander Bah Fredrik Aursnes
    Fonte: Carlos Silva / Bola na Rede

    Aceitando a opinião de que a dupla Kokçu/Aursnes possa vir a ser um caso de sucesso em determinados contextos, não prevejo o mesmo resultado no início de época, nomeadamente no jogo da Supertaça, frente ao Futebol Clube do Porto.

    Os minutos em que Florentino esteve em campo frente ao Feyenoord mostraram que o Benfica precisa dele. Pegando nos significados de Tino sugeridos pela Priberam, a equipa ganha mais “Juízo” na leitura do jogo, “Tacto” para ocupar zonas mais adiantadas do campo, “Tento, Prudência” para proteger melhor a zona defensiva e fica ainda mais perto da sua “Ideia” de jogo. À “Atenção” do mister Roger Schmidt.

    O poste americano

    Confesso que, até há não muito tempo, liguei pouco ao futebol feminino. Duas experiências profissionais mudaram essa realidade: os relatos da final da Taça de Portugal, entre Sporting e Famalicão, em 2022, para a TSF, e o jogo em que Portugal carimbou a passagem à fase final do Campeonato do Mundo, com os Camarões, já este ano, na Flashscore.

    Há uns 25 anos fiz parte de uma equipa técnica de futebol feminino e, quando relatei aquele Sporting x Famalicão, no Jamor, o que mais me impressionou foi a velocidade do jogo. Fui percebendo depois que já não deveria ser uma surpresa.

    O maior mérito que dou às “Navegadoras” é o feito de terem posto tanta gente a ver os jogos da seleção a horas pouco habituais para ver futebol. Mas há mais. O “sabor a pouco” com que muitos de nós ficámos só foi possível porque aquele grupo de trabalho fez algo que, há meses, não passava de um sonho pouco provável de ser concretizado. E, simplificando, não fosse aquele poste americano e Ana Capeta podia ter-se transformado numa espécie de Éder em versão feminina. Um golo não teria dado o título, como em 2016, mas a importância do feito não seria muito diferente.

    Nesta altura, é igualmente importante não esquecer quem durante tantos e tantos anos trabalhou em prol do futebol feminino em condições que, para ser simpático, não podem ser comparadas com as que, felizmente, a seleção e os principais clubes nacionais podem trabalhar atualmente. São vários os nomes que podiam e deviam ser mencionados, mas permitam-me juntá-los numa referência ao Professor Nuno Cristóvão, que foi meu formador em cursos de treinadores e que, curiosamente, comentou a tal final da Taça de Portugal que relatei na TSF.

    A todos os que lutaram até hoje, com mais ou menos condições, com mais ou menos sucessos: Obrigado. É esta a palavra certa. E agora, tal como referiu Jéssica Silva, o futuro passa por não esquecermos este brilharete e fazer dele a alavanca para a continuidade do mediatismo dado ao futebol feminino nas últimas semanas.

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    Pedro Castelo
    Pedro Castelohttp://www.bolanarede.pt
    Desde que se lembra de ser gente que gosta de futebol, mas sabe que se apaixonou a sério pelo jogo em 1994, com 12 anos. Romário liderava o Brasil à conquista do Mundial dos EUA e tornou-se no primeiro ídolo do Pedro Castelo. O “Baixinho” e Iniesta são os seus jogadores preferidos de sempre. Na área da comunicação social desde 1998, o Pedro Castelo é daquelas pessoas com dias que parecem ter mais de 24 horas. Na televisão, é narrador na Eleven e na ZAP (Angola e Moçambique). Na rádio, é coordenador da Rádio Voz de Alenquer e relata na TSF - Rádio Notícias. Na imprensa, também em Alenquer, coordena o jornal Nova Verdade. No online, relata em flashscore.pt.