Universo Paralelo: A história de Portugal no Europeu 2020

    30 junho a 08 julho 2020

    Com os alemães como líderes do grupo, Portugal ficou em segundo lugar, relegando os franceses para o terceiro posto. Nos oitavos, a Seleção Nacional iria defrontar a Croácia, primeira do Grupo D, em Dublin. Este encontro previa-se bastante equilibrado, existindo a perceção de que poderíamos voltar a ser felizes contra os croatas. Num estádio mais pequeno em relação aos anteriores, notavam-se bem mais portugueses, que viajaram esperançosos na qualificação. As atenções viraram-se novamente para a cerimónia dos hinos que começava a ser uma imagem de marca nossa e um ritual interessante de acompanhar. Dava a ideia que era a partir daqui que começávamos a ganhar o jogo.

    Como qualquer um de nós pressentia, este era o jogo ideal para ser decidido no prolongamento ou em grandes penalidades, embora ainda não tivéssemos registado qualquer empate neste torneio, o que era de espantar. E devo desde já adiantar que esta antiga tendência passou ao lado do encontro, uma vez que o triunfo luso por 2-1 assegurou a presença nos quartos de final, o que tem sido nosso hábito.

    Mais uma batalha superada e com nova exibição convincente, ainda que com sofrimento à mistura, mas isso é algo intrínseco no nosso ADN. Por esta altura, João Félix, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Rúben Neves, entre outros, encantavam nos relvados europeus e os media nacionais exultavam os novos craques, tal como o grupo em si, que mostrava competência, ambição e união, visível sobretudo no mediático momento do hino.

    Apesar de tudo, era preciso cautela, porque euforia em excesso costuma ser prejudicial. E os espanhóis também sabiam disso, eles que seriam os próximos adversários. Com Portugal cada vez mais a assumir-se como uma Seleção de topo, os discursos e as posições de quem se cruzava connosco eram cada vez mais moderados. A imprensa vizinha, que se habituou a ver ganhar tudo, adotava uma postura cautelosa e sublinhava João Félix como uma séria ameaça, ele que acabara de ter um fim de época espantoso no Club Atlético de Madrid. O confronto seria em Roma e o nosso historial recente frente aos espanhóis não era muito simpático.

    No Estádio Olímpico estava tudo a postos para um dos jogos grandes da competição e apesar dos espanhóis estarem em maior número, verificava-se uma grande presença de portugueses que se faziam ouvir com facilidade. No nosso país, o mote era dado com o movimento “Não fiques em casa”, que serviu para encher praças, ruas e avenidas. “Mostrem-nos outra vez aquele hino”, pediam os radialistas nacionais pouco antes do apito inicial. E ele voltou, aquele momento épico que nos fazia a todos encher de esperança. Será que era mesmo necessário? Os especialistas motivacionais achavam que sim.

    Fonte: Carlos Silva / Bola na RedeEm relação à partida, escusado será dizer que o sofrimento esteve sempre presente, ele que se agudizou quando Espanha marcou primeiro e conservou o resultado até meio do segundo tempo. Numa fase de maior ascendente, Portugal empatou e mostrava sinais de estabilidade com boas trocas de bola e uma organização eficiente. Não ganhámos para o susto quando, perto do fim, a bola foi à barra de Rui Patrício, mas conseguimos aguentar e fomos para prolongamento. “Finalmente um empate” – gritava Fernando Santos para a equipa, enquanto dava instruções. De facto, o resultado mais fiel estava de volta e podíamos estar mais descansados, pois resolver empates é connosco.

    Quanto ao tempo extra e depois de Santos ter dado a receita de como ultrapassar empates, relembrando a campanha de 2016, lá chegámos à vitoria com um golaço de livre de Cristiano Ronaldo, desta vez a fazer lembrar 2018. Isto, também, depois do conjunto espanhol ter visto dois golos anulados que os fez enervar e desorientar coletivamente. Era impossível conter a euforia após mais uma ronda superada e isso era visível em toda a equipa e nos adeptos. Até foi recriado o cântico triunfal de há quatro anos, que passava agora a ser entoado no Olímpico: “Voltaremos voltaremos, Todos vós sabeis, Vamos levar a Taça, Como em 2016”.

    Vivia-se um estado de espírito altamente positivo em toda a nação portuguesa e não era caso para menos. Com apenas quatro formações em prova, o caminho ia estreitando e a possibilidade de chegar a uma nova final era bem real. No entanto, o selecionador apelava à calma e a toda a prudência possível antes de embarcar para Londres, onde seria realizada a final-four da competição. A capital inglesa, que era o trono do futebol por estes dias, via o seu principal aeroporto invadido por entusiastas da Seleção, muitos deles estrangeiros que admitiam estar a torcer por nós, mostrando o quanto este grupo estava a encantar neste Europeu.

    Seguiam-se dois grandes jogos nas meias finais com a Alemanha a enfrentar a Holanda, e Portugal a encarar a Itália, que tinha chegado aqui após ter afastado a poderosa Bélgica. Depois de terem sido felizes naquele país transalpino, os lusos esperavam sair por cima contra a respetiva seleção. Dotada de um conjunto renovado e ambicioso, a squadra azzurra era vista como uma potência em ascensão e estava a realizar uma excelente prova. A maioria dos media internacionais hesitavam em conceder qualquer favoritismo, bem como as casas de apostas.

    Entre treinos, conferências e momentos de boa disposição, notava-se que os níveis de dedicação e motivação estavam no alto. Na verdade, estávamos habituados a marcar presença em fases adiantadas nos últimos anos e esta era mais uma. O mítico Wembley encontrava-se a abarrotar num final de tarde calorento e o ambiente era digno de uma final – esperava-se apenas que o jogo correspondesse. Quase tudo apontava para uma partida fechada, em que ambos os conjuntos privilegiam a organização defensiva, mas o que se viu foi um desafio de alta rotação, bastante intenso, com várias quezílias e golos. Em termos futebolísticos, foi até considerado pela crítica internacional como um dos melhores deste século em Europeus, numa daquelas partidas em que ninguém merecia ser eliminado.

    Quanto ao resultado, esse sorriu à formação lusa que venceu por 3-2, evidenciando uma qualidade superlativa, assente numa nova e atraente filosofia de jogo e que faziam da nossa equipa um portento a jogar. Desta vez, as atenções viraram-se para a festa no balneário, onde Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa se juntaram para felicitarem os jogadores e staff técnico, num convívio onde não faltaram os famosos beijos e abraços. Estava assim garantida a presença em novo momento de decisão, o que já começava a ser hábito.

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    André da Silva Amado
    André da Silva Amadohttp://www.bolanarede.pt
    O desporto em geral atrai este jovem aveirense mas é o futebol a sua maior paixão. As conversas com amigos e familiares costumam ir dar ao futebol, hábito que preserva desde sempre. Poder escrever sobre esta vertente é o que o satisfaz, com o intuito de poder acrescentar algo de positivo ao ambiente em torno do futebol nacional.                                                                                                                                                 O André escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.