Após quase três décadas de ausência (sim, quase três e não duas, como tenho visto por muitos lados, visto que a equipa se extinguiu no ano de 1987), o Sporting Clube de Portugal vai regressar à estrada! Em parceria com o Clube de Ciclismo de Tavira, a equipa mais antiga do pelotão internacional, a formação leonina irá entrar em cena já nesta época vindoura.
Um regresso que corresponde à ânsia de vários sportinguistas em ter certas modalidades de volta ao clube, um desses casos era o próprio ciclismo, modalidade com uma grande tradição e história no clube, remontando para o princípio do século passado. Em 1911, António Soares Júnior (por três vezes, foi presidente do clube), ciclista campeão naquela altura, foi um dos primeiros a filiar-se na então União Velocipédica Portuguesa, instituição que, mais tarde, deu lugar à Federação Portuguesa de Ciclismo.
A primeira vitória apresenta mais de 100 anos, quando Laranjeira Guerra ganhou o II Porto-Lisboa, em 1912. Nos anos 40, o ciclismo chegou mesmo a ser a segunda modalidade mais relevante para o clube, que ia somando importantes vitórias, não só na Volta a Portugal, onde José Albuquerque e Francisco Inácio triunfaram, mas também nas inúmeras competições que disputavam ao longo de Portugal, onde se destacaram ciclistas como Ildefonso Rodrigues, João Lourenço ou João Rebelo.
A partir dos anos 70, o clube viveu os seus maiores êxitos, situação coincidente com a chegada ao ciclismo de um dos nomes mais incontornáveis da história do desporto português: Joaquim Agostinho! Nomes como Alfredo Trindade, Firmino Bernardino, Leonel Miranda ou João Roque também foram ciclistas que, de alguma forma, se destacaram.
Em 1984, a equipa teve um dos seus pontos altos, com a vitória de Paulo Ferreira numa das etapas da Volta à França. Infelizmente, esse ano não foi apenas para recordar pelas razões positivas. A 30 de Abril, numa etapa da Volta ao Algarve, como líder da classificação geral, o ciclista português e do Sporting teve uma grave queda, que, mais tarde, provocou, tragicamente, a sua morte.
Marco Chagas, um dos ciclistas portugueses mais conhecidos, também fez história pela equipa do Sporting. Na 48.ª edição da Volta a Portugal, disputada em 1986, Chagas venceu a competição pela quarta vez e a segunda de leão ao peito (a última vez que algum ciclista do Sporting venceu a competição), vitórias essas que determinaram, na altura, um recorde em termos de vitórias individuais. No ano a seguir, a modalidade extinguiu-se. No total, são mais de 150 títulos, quer na estrada, quer na pista, destacando-se, claramente, as 13 vitórias na Volta a Portugal.
Em 2009, existiu uma tentativa de regresso, mas acabou por não resultar. Os leões regressaram como uma equipa de sub-23, sendo que as circunstâncias naquela altura fizeram com que a experiência terminasse em 2011. Neste ano, o Sporting tinha encetado conversações com a W52 para criar uma equipa de ciclismo, chegando mesmo a ter um pré-acordo, mas a instituição acabou por se juntar ao FC Porto. O negócio esteve bastante perto de ser fechado, até porque, na altura, o Bola na Rede, no artigo que ia sair sobre o regresso do Sporting ao ciclismo, ia adiantar uma informação que tinha (apenas um pormenor) acerca das bicicletas, que iriam ter como marca e modelo a KTM (faltavam fechar as negociações). Na altura, o Sporting justificou a decisão de suspender o acordo com a W52 devido ao facto de eles, na altura, não terem esclarecido as dúvidas acerca dos procedimentos relacionados com análise e controlo antidoping, entre outros aspetos.
No comunicado de imprensa lançado nesta altura, é sublinhada “a importância dada pelo Sporting Clube de Portugal à sua inquestionável referência como maior potência desportiva nacional, através da descentralização e ligação a uma região como o Algarve que merece há muito uma atenção que as instituições ligadas ao fenómeno desportivo tantas vezes negligenciam por se focarem apenas em cidades ou regiões”. O clube de Alvalade explica ainda que a constituição desta equipa “é a resultante do esforço, do empenho e do sonho do vice-presidente, Comandante Vicente de Moura”, que atravessa um momento sensível devido a um problema de saúde.
A equipa algarvia dominou durante quatro épocas a Volta a Portugal, vencendo com David Blanco entre 2008 e 2010 e com Ricardo Mestre, que, provavelmente, estará de saída para a W52, em 2011. No entanto, nas últimas épocas, o Tavira enfrentou algumas dificuldades financeiras, que afastaram a equipa da discussão dos primeiros lugares da prova rainha do calendário português.
Com a chegada do Sporting ao ciclismo (juntando à entrada do FC Porto), sem dúvida que haverá ainda mais interesse na modalidade e acredito que, também, mais patrocinadores terão interesse em entrar em ação. Neste próximo ano, é difícil delinear os objetivos. Acredito que todos os sportinguistas querem logo a vitória na Volta a Portugal, mas tendo em conta certas circunstâncias, parece-me algo difícil, pelo menos para o ano de 2016, tudo depende também dos reforços que poderemos vir a ter. Nos anos seguintes, dependendo de como tudo correr, existirá a possibilidade de termos a equipa a um nível ProContinental, o que permitia a entrada nalgumas das principais provas do panorama internacional – mas este é um objetivo mais ambicioso e mais complicado de ser concretizado.
É verdade que, tendo em conta que estamos a falar de uma das equipas que teve mais dificuldades nestes últimos tempos em conseguir resultados de renome, o caminho a percorrer será mais complicado e terá mais obstáculos, mas tenho a plena confiança de que o Sporting chegará a um bom porto num futuro próximo. A primeira tentativa com a W52 não resultou, as negociações com a Efapel não chegaram a um bom rumo e o Tavira demonstrou, finalmente, o interesse e a forma necessária para chegar a acordo com o Sporting. A constituição da equipa ainda é uma incógnita, veremos quais os reforços que irão chegar e quem irá renovar. Manuel Cardoso, um dos melhores sprinters portugueses, irá, como tudo indica, fazer parte da equipa, tal como Hugo Sabido, ciclista recém-contratado, que “regressa a casa” e que foi o vice-campeão da Volta a Portugal em 2012.
Não tenho a menor dúvida de que esta é uma excelente notícia e de que a equipa tem capacidade para cumprir ao máximo com o lema do Sporting. Com esforço, dedicação e devoção, caraterísticas sempre presentes nos ciclistas, a equipa poderá chegar a uma imensa glória!