Foi a ousadia que permitiu ao Torreense vergar novamente o Benfica | Supertaça Feminina

O Torreense voltou a vencer o Benfica e, num espaço de poucos meses, conquistou o segundo troféu da sua história no futebol feminino português. Na Supertaça, a nova mostra de qualidade individual e coletiva da equipa de Gonçalo Nunes foi sustentada pela ousadia na pressão.

Ainda que a distância para Benfica e Sporting continue a existir e a traçar o desenho do futebol feminino português, há uma sensação (e confirmação) de competência crescente em alguns dos projetos da Primeira Liga Portuguesa. De todos, o Torreense será, porventura, o expoente máximo. Em conferência de imprensa, Gonçalo Nunes, treinador da equipa de Torres Vedras e o maior em termos de historial e conquistas no futebol feminino português de momento, destacou precisamente a estabilidade do projeto. A confiança sente-se dentro de campo.

O Benfica apresentou novidades no regresso à linha de 4, na conjugação de perfis com aceleração no ataque, na utilização de Nycole Raysla como média ofensiva, no posicionamento de Lúcia Alves como extrema ou na confiança que Carolina Tristão mereceu quando, com apenas 16 anos, fez a estreia pelo Benfica. A primeira versão da equipa às ordens de Ivan Baptista ainda precisa de ajustes e continuidade, mas trouxe dinâmicas novas. Ainda assim, foi o Torreense quem foi superior.

Nycole Raysla Benfica Torreense
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

Organizado no seu 5-2-1-2, foi a partir da agressividade na pressão que a formação de Torres Vedras se superiorizou. Os encaixes individuais na saída de bola do Benfica, com as duas avançadas sobre as centrais, Paloma Lemos e uma das médias nas médias do Benfica e um papel híbrido das alas, principalmente Catarina Pereira, que variavam entre o equilíbrio e o salto nas laterais do Benfica, permitiu à formação de Torres Vedras recuperar bolas alto no terreno e impedir que as águias assentassem o seu jogo desde trás.

O desconforto foi evidente, o Benfica apostou em demasia na procura da profundidade e o Torreense, com investidas rápidas e recuperações altas, conseguiu a aproximação à área adversária. Aí, o atleticismo e porte físico superior, já evidente no desdobramento das pressões, permitiu à equipa vencedora vencer bolas aéreas, ganhar duelos e ganhar vários lances de bola parada no jogo.

Com mais centímetros e presença física na área do Benfica, foi uma questão de tempo e de lances capitais para, num contexto difícil e depois de uma entrada de jogo com um golo sofrido aos 30 segundos, o Torreense conseguir confirmar a reviravolta no marcador.

Maile Hayes Torreense
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

Na segunda parte, como esperado, o perfil do jogo mudou, o Benfica conseguiu prolongar as posses e o Torreense recuou as linhas. Maile Hayes passou a ser a jogadora em maior destaque do ponto de vista ofensivo, depois de uma exibição de luxo de Paloma Lemos com bola, e ofereceu soluções em apoio e de costas para a baliza ao Torreense, dando sentido e corpo à intenção da equipa em segurar a bola e impedir um cerco do Benfica à área adversária.

Quando ele chegou, destacaram-se três pilares. Janny Belém tem uma presença engraçada no plantel do Torreense. É curioso como numa equipa talhada pela fisicalidade e atleticismo a guarda-redes acabe por ser uma das jogadoras mais baixas. Não foi impedimento para ser uma das melhores em campo, principalmente na segunda etapa, acumulando defesas importantes.

Depois, destacaram-se duas jogadoras que merecem uma atenção mais detalhada de Francisco Neto. Em campo estava a dupla de titulares da seleção nacional (Diana Gomes e Carole Costa), mas foram Bárbara Lopes e, principalmente, Carolina Correia os baluartes de estabilidade e segurança defensiva. A estabilidade e segurança das duas jogadoras, principalmente da capitã, permitiram ao Torreense defender a vantagem, ter um controlo aparente das operações e arrancar mais um troféu para o seu palmarés.

Torreense Jogadoras
Fonte: Luís Batista Ferreira / Bola na Rede

BnR na Conferência de Imprensa

Bola na Rede: O Torreense conseguiu criar muitos problemas à saída de bola do Benfica com uma pressão alta e agressiva e um papel híbrido das alas nos saltos da pressão. Como avalia este momento e quais os principais objetivos?

Gonçalo Nunes: Pretendíamos retirar confiança, fluidez e a bola ao nosso adversário. É uma equipa com muita qualidade nas suas jogadoras e queríamos condicionar o jogo ao máximo, intranquilizar, recuperar para atacar rápido num momento em que o Benfica está muito dimensionado no campo, quer na largura, quer na profundidade. Há ali um momento em que quando conseguimos ter sucesso nessas recuperações e intercetar ligações, podemos sair em ataques rápidos, principalmente projetando. Contávamos com um Benfica com uma linha de quatro, o que quer dizer que podíamos ter a possibilidade de ter situações de 2X2 entre as nossas avançadas e as centrais e queríamos muito potenciar esse momento. A equipa, independentemente de ter entrado a perder, conseguiu ser fiel e manter aquele que era o nosso objetivo. Não é fácil, mas conseguiu manter-se fiel ao objetivo. Tivemos sucesso e muito bem nesse momento sem bola e na forma como conseguimos constranger a ligação. Nunca foi um jogo muito fluído em termos do Benfica, principalmente na primeira fase.

Bola na Rede: O Torreense começa com uma linha defensiva muito subida e acaba encapsulado na sua área, naturalmente. Como é que, como central e referência de liderança, é possível fazer a mudança do chip num jogo com esta exigência?

Carolina Correia: Nos jogos temos de ter a capacidade de nos adaptar aos momentos do jogo. Decidimos pressionar alto, assumimos essa responsabilidade e acabámos por sofrer um golo. Não foi por aí que recuámos no que queríamos fazer. Começámos com linhas altas, acabámos na segunda parte por descer no terreno, mas são momentos do jogo. Como capitã tento transmitir calma. Há momentos do jogo em que temos de ter calma, mas as minhas colegas, com a época que fizeram, conseguiram crescer muito individualmente e ter essa gestão. Como capitã digo que é fácil liderar esta equipa. Elas são muito incríveis e estão a crescer imenso nesse aspeto.

Bola na Rede: O Benfica procurou muitas vezes o espaço em profundidade, com várias jogadoras a atacar este espaço, muitas vezes no limite do fora de jogo. O que pretendia com esta estratégia e pergunto-lhe se será uma das bases da identidade do Benfica nesta temporada?

Ivan Baptista: Permita-me discordar. É um facto que, principalmente na primeira parte, talvez em excesso porque não era o que queríamos, mas também fruto das condições atmosféricas porque o vento estava a favor, e da linha defensiva do Torreense, acabámos por procurar algumas vezes isso. Por vezes em demasia. O nosso jogo não passa só por aí. É necessário ter esse ataque à profundidade e essa capacidade de procurar o espaço nas costas, mas em simultâneo procurar jogar entrelinhas como hoje estávamos a fazer. Na segunda parte creio que as coisas mudaram relativamente. Na parte final, normalmente e às vezes até inconscientemente, acabámos por entrar num jogo mais direto que não tem a nossa cara. É compreensível que assim seja, mas foi só na parte final da segunda parte. Respondendo diretamente, não é essa a nossa forma de atacar. Vai ser, certamente, uma das armas a usar a nosso favor, essa vertigem e capacidade de atacar a profundidade, muito também com a capacidade de trabalhar entrelinhas com as dinâmicas que temos tentado desenvolver. Hoje acredito que já se tenha visto alguma coisa.

Diogo Ribeiro
Diogo Ribeirohttp://www.bolanarede.pt
O Diogo é licenciado em Ciências da Comunicação, está a terminar o mestrado em Jornalismo e tem o coração doutorado pelo futebol. Acredita que nem tudo gira à volta do futebol, mas que o mundo fica muito mais bonito quando a bola começa a girar.

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