Ao emprestar um atleta, o clube que detém o seu passe pretende que o jogador possa evoluir num contexto mais favorável, uma vez que o atleta em causa não seria uma peça devidamente utilizada ao longo da época. Quer seja para lhe dar mais minutos ou até para o valorizar e eventualmente vendê-lo, um empréstimo quer-se produtivo e indicador de sucesso. Nas últimas épocas o Benfica registou empréstimos bem sucedidos com Tiago Gouveia, Tomás Araújo, Florentino ou até Jota, por exemplo. Jogadores que saíram da Luz a título de empréstimo e que se valorizaram, sabendo tirar o melhor proveito desse período.
Posto isso, é altura de olhar para os sete jogadores que os encarnados emprestaram esta temporada e perceber de que forma se encontram nos planos do Benfica para o futuro.
1.
Paulo Bernardo – Depois de um período de ascensão em 2022, o médio português perdeu espaço com a chegada de Roger Schmidt ao comando dos encarnados e registou esta temporada o segundo empréstimo consecutivo. Nos últimos seis meses da época anterior havia sido cedido ao Paços de Ferreira e, ainda que se tenha feito notar na Capital do Móvel, a cedência ao Celtic esta temporada foi uma evolução notória.
O jovem de 22 anos, que outrora havia sido comparado a Rui Costa, foi feliz na Escócia, onde teve a oportunidade de disputar 33 jogos ao longo da temporada, estabelecendo-se como uma peça importante no conjunto católico. Não são todos os emprestados que têm a oportunidade de jogar na Liga dos Campeões ou de vencer dois troféus enquanto se encontram apenas cedidos, para além de serem figuras no eterno clássico frente ao Rangers. Foram quatro golos e três assistências para o médio na Escócia que marcam assim um ano bastante positivo para o atleta formado no Seixal.
Face à quantidade de médios que as águias têm ao seu dispor atualmente, a sua inclusão no plantel da próxima temporada é um cenário pouco provável. Ainda assim, tendo em conta as suas características, Paulo Bernardo tanto pode atuar nas posições de João Neves ou até na denominada posição “10” ocupada por Kokçu, e isso pode permitir ao jogador algum espaço. Contudo, caso o Celtic esteja interessado na sua contratação, é também do interesse do Benfica vender o jogador. Caso contrário, a sua inclusão, pelo menos na pré-época, é algo que o clube deve ao jogador.
2.
Tiago Dantas – Ao contrário de Paulo Bernardo, a possível inclusão de Tiago Dantas nos planos futuros do Benfica não parece ser um cenário sequer a ter em conta.
O seu empréstimo ao AZ Alkmaar foi o quarto consecutivo e não teve novamente o desfecho esperado pelos quadros encarnados. O médio português não se estabeleceu como titular na equipa neerlandesa e fez apenas um golo e uma assistência em cerca de mil minutos repartidos entre 25 jogos.
Depois de Bayern, Tondela e PAOK a estadia nos Países Baixos também não correu de feição ao médio de 23 anos e ao acabar contrato num futuro próximo a sua saída acaba por ser quase inevitável.
3.
Henrique Araújo – Tal como Paulo Bernardo, o ponta de lança formado no Benfica teve em Famalicão o seu segundo empréstimo em duas épocas.
Depois de meio ano em Inglaterra ao serviço do Watford, onde as expectativas não corresponderam à realidade, Henrique Araújo teve uma nova oportunidade em solo luso para que fosse possível acompanhar o seu desenvolvimento mais perto. Contudo, à semelhança da primeira cedência, o avançado português não conseguiu marcar um único golo, desta vez em 21 jogos disputados pelos famalicenses.
Um dado que não favorece em nada o potencial anteriormente demonstrado pelo jogador no Benfica. Ele que é o melhor marcador de sempre da equipa B, vencedor da Youth League, e autor de cinco golos ao serviço da equipa principal (dois dos quais na Liga dos Campeões), tem tido alguma dificuldade em valorizar-se em contextos diferentes do Benfica. Ainda assim, face à instabilidade dos avançados encarnados esta época, e à possível saída de um ou dois elementos no decorrer do mercado, Henrique pode aproveitar esse facto para surgir entre as opções de Roger Schmidt.
Ele que ao longo destes anos sempre se foi destacando também nas camadas jovens da seleção, está agora integrado no estágio de preparação para o Euro com a seleção A portuguesa, e deverá fazer a pré-época encarnada com o restante plantel. Mesmo com o insucesso em Inglaterra e Famalicão, Henrique Araújo tem a qualidade e sobretudo a hipótese de se voltar a integrar no plantel das águias.
4.
David Jurásek – O lateral esquerdo que custou 14 milhões de euros aos cofres encarnados no verão, fez a primeira parte da temporada antes de ser emprestado ao Hoffenheim da Alemanha e, por lá, acabou por se valorizar um pouco mais do que em Portugal.
Calçar as botas deixadas por Grimaldo não é uma tarefa fácil e Jurasek não esteve à altura da responsabilidade imposta, no entanto, o empréstimo foi uma boa solução para que a recuperação do investimento feito se tornasse numa realidade mais viável. Para além de ter tido a oportunidade de jogar mais do que em Lisboa, conseguiu destacar-se o suficiente para ser chamado pela seleção checa ao Euro2024 e, como já se sabe, isso pode valorizar muito um jogador.
Caso volte aos encarnados já estará mais apto para disputar a titularidade, agora com Álvaro Carreras, caso contrário, a sua possível saída deverá cobrir o investimento feito anteriormente e resolver esse dossiê.
5.
Soualiho Meité – Apesar de representar um caso diferente de todos os outros, o empréstimo de Meité ao PAOK revelou-se positivo para o Benfica.
Em todos os outros empréstimos o principal objetivo do Benfica passaria pela observação do jogador noutro contexto para perceber se realmente poderia regressar à Luz e fazer parte do plantel. No entanto, a cedência de Meité foi diferente por ser a única solução para o médio, uma vez que não foi possível alcançar a venda desejada.
Ainda assim, o médio francês acabou por realizar uma época consistente com 43 jogos realizados pelo conjunto que se sagrou campeão grego, aumentando assim as chances de venda no próximo mercado.
6.
Martim Neto – O Gil Vicente já havia sido casa de acolhimento de Tomás Araújo e voltou a sê-lo para Martim Neto. O impacto provocado pelo médio não foi tão grande quanto o do defesa, mas serviu para ajudar no crescimento e desenvolvimento do jogador.
O português de 21 anos, formado no Benfica, realizou 33 jogos em Barcelos onde foi maioritariamente titular e conseguiu mostrar alguma qualidade num nível superior àquele a que estava habituado. Apesar do empréstimo ter sido positivo, a inclusão do atleta no plantel da próxima época é ainda algo bastante difícil.
Olhando para o meio-campo das águias, mais especificamente para a posição que Martim Neto exerce, existem neste momento cinco opções à sua frente, sendo elas João Neves, Leandro Barreiro, Aursnes, João Mário e Paulo Bernardo até. Se estes jogadores permanecerem no plantel da próxima época, é bastante complicado incluir Martim Neto nesta equação.
Tendo em conta que a equipa B já é um patamar fora de questão e que o jogador tem contrato até 2028, e é visto como uma aposta para o futuro, é provável que o médio volte a ser emprestado.
7.
Andreas Schjelderup – O melhor empréstimo do Benfica. Ele que havia sido comprado em Janeiro de 2023, teve poucas oportunidades na equipa principal no restante da época e na pré-época, mesmo mostrando bons indícios, não conseguiu convencer o técnico alemão, acabando mesmo por ser emprestado ao clube que o havia lançado, o Nordsjaelland.
Uma vez que não iria ser aposta regular nos encarnados, o extremo norueguês teve consciência que a saída temporária seria a melhor opção para ele e mostrou que tinha toda a razão. Em 38 jogos realizados totalizou 10 golos e 11 assistências, tendo sido eleito o melhor jogador da liga dinamarquesa.
A excelente temporada foi coroada com a chamada à seleção principal da Noruega, o que trará a Schjelderup ainda mais preparação e confiança para o regresso ao Benfica. Em oposição às outras cedências, Schjelderup volta à Luz para lutar por um lugar no onze inicial e brilhar de forma regular.
É um jogador diferenciado, de enorme qualidade e potencial, que pode na próxima época estabelecer-se verdadeiramente como uma estrela das águias. Schjelderup representa perfeitamente um exemplo de um empréstimo bem sucedido para todas as partes.
