João Prates está na Tribuna VIP do Bola na Rede. É treinador de futebol, licenciado em Psicologia do Desporto e está no seu espaço de opinião no nosso site. O técnico de 52 anos já orientou o Dziugas da Lituânia, o Vaulen da Noruega e o Naft Maysan, do Iraque, e esteve na formação do Al Batin e Hajer Club da Arábia Saudita.
Portugal vive um paradoxo competitivo. Tem uma das gerações mais talentosas do mundo, mas continua a revelar fragilidade estrutural nos momentos em que o jogo exige controlo, seja com bola (frente à Irlanda), seja sem bola (frente à Hungria). A qualidade individual tem conseguido compensar a ausência de um modelo coletivo coerente, e é aí que o rendimento se torna vulnerável.
O jogo de Portugal com a Irlanda
Diante da Irlanda, Portugal teve bola, mas faltou-lhe ideia. A circulação foi previsível e feita de forma muito lenta e previsível. A equipa jogou em largura, mas raramente fez movimentos de profundidade que obrigasse a linha defensiva da Irlanda a desmontar-se, Cristiano Ronaldo jogou longe da zona onde define Faltou ligação entre médios e avançados, muito passe lateral, pouca ocupação racional dos espaços interiores, poucas sobreposições dos laterias.
O ataque posicional não teve coordenação entre quem constrói e quem finaliza. Síntese, houve posse, mas não houve domínio e grandes oportunidades.


O jogo de Portugal com a Hungria
O colapso do controlo frente à Hungria, o cenário inverteu-se: Portugal teve a vantagem, mas perdeu o controlo emocional e posicional. Nos últimos 10 minutos, a equipa baixou demasiados jogadores e de forma desorganizada, perdeu ligação entre setores, deixou de ter a bola. Surgiram linhas de seis e sete jogadores, reação instintiva de medo, não de decisão estratégica. O adversário ganhou confiança, jogadores sempre com bolas descobertas, bolas no corredor lateral e procurou a área, onde se define.
Falhou o essencial nestes 10 minutos, equipa compacta, linhas curtas e controlar a bola. A vantagem transformou-se em vulnerabilidade, Portugal defendeu com quantidade, mas sem qualidade. Os dois jogos revelam o mesmo diagnóstico sob perspetivas diferentes: Com bola, contra equipas de bloco baixo faltou velocidade, profundidade e mais presença na área. Sem bola, faltou agressividade, gatilho de pressão e igualar os Húngaros na intensidade. Uma seleção com este talento precisa de algo mais do que qualidade, precisa de casar as caracteristicas dos jogadores porque só com criativos, que pouco correm para trás e de forma desorganizada Portugal terá dissabores, porque nem sempre a qualidade individual resolve.
Precisamos do equilíbrio entre os que tocam bombo e os criativos. O que o futuro exige? Portugal tem jogadores capazes de decidir qualquer jogo, mas ainda não tem um colectivo capaz de gerir todos os momentos do jogo. Enquanto o foco for o talento e não o colectivo, continuaremos a oscilar entre o brilhantismo e o susto.

