«Não sei se vai ser no FC Porto, mas acredito que vou fazer jogos na Liga dos Campeões» – Entrevista BnR com Luís Mata

– Contra dogmáticos do futebol polaco –

«Um dos melhores métodos para se chegar ao golo é o cruzamento. O cruzamento é um passe»

Bola na Rede: Em termos de jogo jogado, como é que caracterizas esta equipa do Pogon?

Luís Mata: Fugimos um pouco ao que é o típico futebol polaco, o que é bom para mim. Não sou um jogador muito propício a futebol direto. Foi muito bom para mim, porque foi o futebol a que me habituei na formação do Porto e nas seleções nacionais. No futebol português, as equipas preocupam-se mais com a parte tática, com a posse de bola e com o jogo mais pensado. Aqui, é um jogo em que se corre muito mais, agressivo, mais rápido, muito mais à futebol inglês, por exemplo. A nossa equipa contraria isso, porque somos uma equipa mais parecida com as portuguesas. Somos sempre a equipa com mais posse de bola, porque as características dos nossos jogadores são essas. Temos sempre 60/65% de posse de bola, ou seja, dominamos a bola. Se vires outro jogo do campeonato polaco, é um jogo mais partido.

Bola na Rede: Jogam em 4-3-3.

Luís Mata: Sim, um pivot e dois médios à frente. Em determinadas situações, no decorrer do jogo, já jogámos com dois pivots, mas começamos sempre o jogo em 4-3-3. Aqui encontram-se mesmo muitas equipas a jogar em 3-5-2. Isso é um desafio para mim e para o outro lateral, porque pressionamos de forma diferente. Quando as duas equipas jogam em 4-3-3, ficas sempre no um para um com o extremo. Quando o teu adversário joga em 3-5-2, tens sempre um jogador no meio e também tens que bater de frente com o lateral. Temos que nos adaptar ao futebol moderno.

Bola na Rede: Há apenas dois treinadores estrangeiros na liga polaca, um deles o vosso. O que é que o treinador austríaco, Kosta Runjaic, vos tem passado para introduzir essa mentalidade diferente em relação ao contexto em que se encontram?

Luís Mata: O que treinamos é tentarmos saídas curtas por trás. Dá-nos confiança para os jogos treinarmos isso. Por vezes, não arriscamos tanto. Se o adversário tem uma pressão mais forte também sabemos jogar longo e subir linhas. Nunca tive um treinador polaco, mas vendo as ideias deles, acho que o que fazemos tem muito a ver com a mentalidade do nosso treinador.

Bola na Rede: Falaste nas saídas baixas. Antes, os laterais colavam-se muito junto à linha e hoje já procuram muitas vezes espaços interiores para criar dinâmicas diferentes nas equipas. Sentes que o teu jogo tem evoluído nesse sentido?

Luís Mata:  Essas saídas baixas ajudam a que procure esses espaços mais interiores. Posso ir para o meio e o médio abrir por mim ou então fico mais baixo e jogo na linha, como também estou habituado. Apesar de ser lateral, gosto muito de ir no um para um quando tenho essa oportunidade. Gosto também de fazer assistências e até já fiz três esta época. O que posso evoluir mais e que me pode fazer dar o salto na carreira é procurar mais o golo. Preocupo-me mesmo muito com as assistências.

Bola na Rede: As três assistências que tens são cruzamentos milimétricos. Muitas vezes, as ações de cruzamento são vistas como tendo pouca probabilidade de sucesso. O cruzamento é uma solução válida para o jogo de uma equipa?

Luís Mata: Um dos melhores métodos para se chegar ao golo é o cruzamento. O cruzamento é um passe. Depende também das características do teu adversário. Na Polónia, encontras equipas com centrais muito altos. A jogares contra essas equipas, quando eles têm a linha defensiva bem posicionada, não vais ter sucesso. Numa das minhas assistências, o adversário tinha centrais altos, mas apareceu um espaço que o meu extremo ocupou depois de se ter antecipado ao lateral deles [ver tweet]. Tens que fazer o cruzamento no momento em que achas que podes tirar benefício disso. Por vezes, nos contra-ataques podes fazer um cruzamento forte e rasteiro. Outras vezes, em ataque posicional, podes fazer um cruzamento forte, porque o teu avançado está bem posicionado. Por exemplo, vejo o João Cancelo no Manchester City a fazer muitas assistências em diferentes tipos de cruzamento.

Bola na Rede: Recentemente, Fernando Santos disse que o João Cancelo é o melhor lateral do mundo. Concordas?

Luís Mata: Na forma atual, é o melhor do mundo. Tenho visto os jogos do Manchester City muito por causa dele. Ele está nos quatro melhores laterais do mundo. Há um lateral que neste momento não está em forma por causa da equipa, mas que, para mim, foi sempre uma referência, que é o Jordi Alba. Apesar do Barcelona estar numa fase complicada, foi dos laterais que mais me inspirou nos últimos anos. O estilo de jogo dele é muito idêntico ao meu.

Bola na Rede: Apesar de serem dominantes em termos de posse, atualmente, são a segunda melhor defesa, setor em que te incluis, do campeonato.

Luís Mata: Isso é a chave para estarmos tão bem classificados, porque nós não marcamos assim tantos golos como isso. É um trabalho que já vem do ano passado onde, em 30 jogos do campeonato, não sofremos golos em 17, mais de 50% dos jogos. Como o futebol aqui é mais direto seria de esperar que sofrêssemos muitos golos. Também treinamos muito a parte defensiva e isso reflete-se. Em termos defensivos, trabalhamos muito bem a linha de quatro mais o pivot. Claro que o resto da equipa também está envolvida, porque a defesa começa com os avançados.

Bola na Rede: Mesmo assim já marcaram 22 golos e são o quinto melhor ataque.

Luís Mata: No ano passado, tivemos muitas vitórias por 1-0. Este ano estamos melhor no ataque, porque fomos buscar jogadores com muita qualidade.

Bola na Rede: Paulo Sousa, o selecionador polaco, é português. Já aconteceu ele falar contigo para saber como são os jogadores elegíveis para a seleção polaca fora do campo?

Luís Mata: Ainda não aconteceu, mas já foi ver os nossos jogos. Se algum dia o mister precisar de alguma opinião minha terei todo o gosto em falar com ele.

Bola na Rede: O jogador mais jovem a atuar num Europeu, Kacper Kozlowski, joga na vossa equipa. Que avaliação fazes da qualidade dele?

Luís Mata: É um jogador predestinado. Fez agora 18 anos. Tem que trabalhar muito e ter a cabeça no lugar. Se ele quiser, vai jogar nas melhores equipas do mundo. É um jogador mesmo com muita qualidade. Sei que já teve contactos com as melhores equipas da Europa e dificilmente vai ficar connosco. Não sei se vai sair em janeiro ou no final do ano, mas, seguramente, o Pogon vai fazer alguns milhões com ele.

Francisco Grácio Martins
Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.

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