«Não sei se vai ser no FC Porto, mas acredito que vou fazer jogos na Liga dos Campeões» – Entrevista BnR com Luís Mata

    – Opção B –

    «Olha-se para o jogador português como há uns anos olhávamos para o jogador brasileiro»

    Bola na Rede: Falando da tua carreira no Porto. Quando é que sentiste que a equipa B deixou de fazer sentido para ti?

    Luís Mata: Fiz mais um ano do que aquilo que queria na equipa B do Porto. Era a minha última tentativa para conseguir ir para a equipa A. Devido a uma lesão, não tive a minha oportunidade na equipa A no ano em que estive num jogo da Liga dos Campeões em Anfield. Não aconteceu, porque não tinha que acontecer. Nessa altura, estava numa fase muito boa. Estava sempre a treinar com a equipa A e só ia à equipa B jogar. Na época seguinte, o Oleg, que agora está no Olympiacos, ia começar a jogar e foi aí que decidi tentar uma aventura no Cartagena. Se subíssemos à Segunda Divisão espanhola ia prolongar o contrato com eles, mas perdemos nos play-offs e não conseguimos subir. Voltei a Portugal e a minha ideia era tentar ir para uma equipa de Primeira Liga. O mister Rui Barros teve uma conversa comigo. Disse que ia ser um jogador importante, que ia ser o capitão e, dependendo do meu trabalho, podia-me estrear na equipa principal do Porto. Foi um ano que me correu muito bem, mas, entretanto, veio a pandemia. Depois, não fazia sentido continuar mais um ano na equipa B, porque ia ser mais do mesmo. A melhor coisa que fiz à minha carreira foi ter vindo para a Polónia.

    Bola na Rede: Tornares-te capitão tem a ver com o facto de seres dos mais velhos ou reconheces em ti capacidades de liderança?

    Luís Mata: Reconheço em mim capacidades de liderança. Para seres capitão tens que ser um líder. Nesta altura da minha carreira, dadas as circunstâncias, acho que não faz muito sentido ser capitão. Aqui na Polónia é muito difícil por ser estrangeiro. Acho que, no futuro, tenho capacidades para ser capitão. Na equipa B do Porto, como era o mais velho, aí já era diferente. Estava com 22 anos e tinha mais experiência do que jogadores com 18. Acho que desempenhei um bom papel.

    Bola na Rede: As equipas B estão muito ligadas à formação. No Porto B sentias que tinhas mais espaço para errar?

    Luís Mata: A equipa B é muito importante. É uma das chaves para hoje em dia termos jogadores jovens a mostrar qualidade. Lembro-me que, quando era mais jovem, antes de as equipa B jogarem na Segunda Liga, muito jogadores saíam dos juniores e eram emprestados a equipas do terceiro e segundo escalão e depois não se conseguiam adaptar tão bem. São os primeiros dois, três anos de sénior de um jogador que vem da formação. Jogar nos juniores e jogar a Segunda Liga não tem nada a ver. É um futebol completamente diferente. A equipa B é o melhor espaço para errares, aprenderes e cresceres. É isso que faz com que Portugal esteja no top-3 de melhores jogadores do mundo. Toda a gente na Europa dá valor ao jogador português. Estamos com um bom mercado. O jogador português é um jogador diferente. Olha-se para o jogador português como há uns anos olhávamos para o jogador brasileiro. Esse reconhecimento reflete o trabalho das camadas jovens e as oportunidades dadas pelas equipas B.

    Bola na Rede: Achas que o Porto devia criar equipa na Liga Revelação?

    Luís Mata: Tens clubes que não têm equipa na Segunda Liga para quem a Liga Revelação é importante. Se me falares do Porto, não concordo com a criação da equipa sub-23. Benfica e Sporting têm, mas, se eu fosse responsável no Porto, não criava. Saíres dos juniores e disputares uma Segunda Liga é muito mais desafiante e cresces muito mais. Jogadores que jogaram comigo na equipa B, como o Fábio Vieira, o Vitinha, o João Mário, passaram pelos juniores, pela equipa B e agora estão na equipa A.

    Bola na Rede: Na formação, jogavas como extremo e só depois é que começaste a atuar como defesa-esquerdo. Na equipa B chegaste também a jogar a lateral-direito. Essa passagem pela equipa secundária do Porto foi importante para construíres a tua identidade enquanto jogador?

    Luís Mata: A primeira vez que joguei a defesa-esquerdo foi no meu último ano de júnior. Na altura, estava a jogar a extremo. Fui treinar à equipa B com Luís Castro e ele disse-me que as minhas características davam para ser um excelente defesa-esquerdo no futebol sénior. Foi a opinião dele. A verdade é que, a partir daí, o mister António Folha me começou a testar a defesa-esquerdo. Acabo a fazer a fase final de juniores a defesa-esquerdo e fomos campeões nacionais. Defesa-direito também é uma posição que gosto, pois jogo muito bem com o pé direito e, por isso, sinto-me confortável. Na altura, fiz de defesa-direito e foi aí que dei nas vistas para o mister Sérgio Conceição me chamar.

    Bola na Rede: Como foi a experiência da viagem a Anfield?

    Luís Mata: Eram os oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Apesar do Porto ter perdido 5-0 em casa, foi uma experiência única. O Liverpool, naquele ano, foi a melhor equipa com Salah, Mané e Firmino. Estive na equipa A do Porto com jogadores de enormíssima qualidade, ouvi o hino da Champions e estava com muita vontade de jogar com o estádio completamente cheio. O que é que um jogador de futebol ambiciona? Jogar nos melhores palcos. Não joguei, mas estive presente. Não sei se vai ser no Porto, mas acredito seriamente que vou ter oportunidade de fazer os meus jogos na Liga dos Campeões.

    Bola na Rede: E o hino do Liverpool?

    Luís Mata: A magia daquele estádio, a forma como os adeptos cantam o hino… Sentia-me ali como jogador, mas também um pouco como adepto a aproveitar aquele ambiente todo.

    Bola na Rede: É o jogo em que o Bruno Costa se estreia.

    Luís Mata: Ele ficou comigo no quarto. Pensámos os dois que, se calhar, até íamos ficar na bancada. O Bruno não sabia que ia jogar, porque nos treinos não dava para ver. Quando chegamos à palestra, três horas antes do jogo, ele vê que vai jogar. Entrou a titular num jogo da Liga dos Campeões e fez os 90 minutos sem nunca se ter estreado pela equipa principal. Eu também queria ter jogado, mas fiquei muito feliz por ele. Foi aí que ele começou a aventura dele na equipa A.

    Bola na Rede: Dormiste nessa noite?

    Luís Mata: Dormi. Estava entusiasmado, mas consegui descansar. Estava com esperança de ter minutos. Não tive minutos, mas foi uma experiência enriquecedora.

    Bola na Rede: Estiveste no Portimonense e no Cartagena. Os empréstimos foram importantes para ti?

    Luís Mata: Sem dúvida. No empréstimo ao Portimonense tive o prazer de trabalhar com um dos maiores treinadores do futebol português, o mister Vítor Oliveira. Tinha 19 anos e, em cinco meses, aprendi mesmo muito com ele. Tive conversas com ele que foram importantes para o meu crescimento. A segunda experiência foi diferente, numa liga onde, apesar de ser a Terceira Divisão em Espanha, existe muita mesmo muita qualidade. Espanha é um país muito parecido com Portugal, mas, por ser maior, nas ligas inferiores há mais qualidade.

    Bola na Rede: O Portimonense é um clube muito ligado ao Porto. Foste parte desse processo ou aquela era mesmo a melhor opção para ti?

    Luís Mata: Foi um pouco dos dois. Na altura, o meu empresário era o Deco e ele tinha uma excelente relação tanto com o Porto, como com Theodoro Fonseca, que geria o Portimonense. As relações do Porto e do Portimonense facilitaram. Foi bom para mim, porque fui para uma equipa que estava em primeiro que tinha um grande treinador e excelentes jogadores. Queria ir para um contexto diferente. Foram-me buscar à equipa B do Porto não só pela minha qualidade, como também pela excelente relação que havia entre os clubes.

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.