«O Estrela da Amadora estará de volta à Primeira Liga nos próximos anos» – Entrevista BnR com Ricardo Chéu

– Tesouros da Amadora –

«A direção sabe que há grandes equipas que querem os nossos jogadores»

 

Bola na Rede: Um dos destaques individuais tem sido o Diogo Pinto. O que é que o mister considera que o Diogo é?

Ricardo Chéu: É claramente um médio ofensivo. Mesmo que possa jogar num corredor, terá sempre as características de vir para dentro, onde se sente confortável. Explora e sabe ler muito bem o espaço interior. É um jogador de eleição do ponto de vista do requinte técnico e definição. Também tem muito golo. Não é por acaso que é um dos melhores marcadores da Segunda Liga. Tem essa capacidade de inventar e reinventar situações. Acima de tudo, o Diogo é um jogador competente e focado. Isso é algo muito positivo e que o fará dar outros passos. Tem um foco enorme no compromisso coletivo. O individual de nada vale se não houver esse compromisso coletivo.

Bola na Rede: Utilizar um lateral tão ofensivo como o Sérgio Conceição beneficia a dinâmica de procura de jogo interior do Diogo Pinto, pois o jogo pelo corredor também está assegurado? 

Ricardo Chéu: Sim. O Sérgio Conceição tem uma intensidade muito grande. É capaz de ir e vir durante o jogo todo. Estamos sempre à espera que um jogador com a rotação do Sérgio Conceição nos acelere e rompa o corredor, como ele o faz tão bem. É um lateral extremamente influente na dinâmica da equipa. Por isso é que quando contruímos a três o fazemos, por exemplo, com o Afonso Figueiredo por dentro e com o Sérgio responsável pelo corredor, porque tem capacidade física para o fazer e capacidade técnica para cruzar muito bem. Isto também é um pouco do que eu pretendo para as minhas equipas. Comigo, os laterais saem sempre muito valorizados. 

Bola na Rede: Não acaba por ser um pouco contraproducente com a ideia de apostar no corredor central para visar a baliza contrária?

Ricardo Chéu: Não é, porque normalmente quem joga nos corredores são jogadores tecnicamente evoluídos, com capacidade de romper, de explorar espaços interiores, de forçar o um contra um, de forçar o último passe. Temos que perceber que o lateral, quando se envolve no ataque pelo corredor, está a ver o jogo de trás para a frente, consegue ler o jogo todo. O extremo muitas vezes está de costas para a linha defensiva e tem de explorar o espaço interior e criar espaço para outro aproveitar ou ele aproveitar. Essa é uma das dinâmicas que muitas vezes crio nos treinos. Um jogador tem que ser capaz de aclarar espaços para receber a bola e se não for para ele receber, para outro receber. É o jogo do gato e do rato. 

Bola na Rede: Os destaques individuais podem levar à saída de jogadores no mercado de janeiro? Se isso acontecer, as aspirações do Estrela subir na classificação podem ser hipotecadas?

Ricardo Chéu: Sabemos que isso é um risco que corremos, mas é um risco que todas as equipas correm quando têm bons jogadores. O Estrela tem um plantel jovem, com muitos jogadores de valor e que têm ambições próprias de poderem dar outros passos na carreira. A direção sabe que há grandes equipas que querem os nossos jogadores. A nós cabe-nos encontrar soluções para, caso existam essas saídas, colmatar. Claro que o processo precisa de tempo para crescer e, se calhar, poderá haver um retrocesso na evolução, porque terão que vir outros jogadores que necessitam de fazer uma adaptação à nova ideia. Não é algo que me preocupa enquanto treinador. Se eles saírem, temos pessoas capazes dentro do grupo que estão à espera dessa oportunidade e que trabalham diariamente para a terem. O futebol cada vez mais é um negócio e os clubes também precisam dessas vendas para, no futuro, darem passos mais consistentes e poderem apostar um bocadinho mais forte.

Bola na Rede: Tendo em conta a ideia de jogo, onde é que um Diogo Pinto ou um Paulinho encaixariam bem numa equipa de Primeira Liga?

Ricardo Chéu: O Diogo tem características que permitem atuar em diferentes perfis. Naturalmente, é um jogador que tem uma melhor identificação numa equipa que tenha uma elevada percentagem de posse de bola e que seja dominadora. No entanto, também pode jogar numa equipa do meio da tabela para baixo na Primeira Liga que aposte mais na transição. Uma das características em que ele melhorou muito foi a questão defensiva. A solidariedade e o compromisso fazem-me crer que está preparado para jogar numa equipa que tenha menos bola e está preparado para depois, quando tiver a bola, definir bem o último passe ou sair do adversário de um para um. Acredito que pode chegar a um patamar extremamente elevado. O Paulinho tem características diferentes. É um jogador que vem num processo de maturação diferente de aprender o jogo. Tem um potencial enorme também. Os números são muito interessantes para a idade dele. Sabemos que um ponta de lança precisa de tempo para ser consistente nos números, mas a verdade é que o Paulinho tem vindo a provar que tem números suficientes para poder contribuir com bons números na Primeira Liga. É um ponta de lança mais móvel, precisa de mais espaço para decidir melhor, porque são as características dele. Ainda assim, tem vindo a trabalhar para ter essa variabilidade no seu jogo: ser posicional ou a jogar no espaço.

Bola na Rede: Na análise que faz aos seus pontas de lança, que valor dá aos números?

Ricardo Chéu: Os números são sempre importantes para o jogador. Os pontas de lança vivem de golos. É um aspeto motivacional importante. Um ponta de lança, se fizer golos, sente-se mais motivado para a tarefa. Passar largos jogos sem fazer golos, por muitas assistências que faça, por muito que trabalhe, será sempre algo que deixa o jogador desmotivado. Acreditamos que os números são importantes para a evolução deles. Dizemos sempre que queremos um ponta de lança bom, barato e que faça golos. No entanto, se for um jogador que tenha a capacidade de criar muitas oportunidades para a equipa finalizar e a equipa tenha sucesso ofensivo, aí o número de golos passa para um plano secundário.

 

Francisco Grácio Martins
Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.

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