«O Estrela da Amadora estará de volta à Primeira Liga nos próximos anos» – Entrevista BnR com Ricardo Chéu

    – Futebol de valores –

    «Se virmos que o Estrela tem condições para lutar por algo mais, não viraremos a cara»

     

    Bola na Rede: Como é que perspetiva o resto da época do Estrela?

    Ricardo Chéu: O mais importante é o próximo jogo. Estamos inseridos num campeonato muito competitivo. A Segunda Liga é dos campeonatos mais difíceis do mundo. Uma equipa ganha dois ou três jogos e está no topo, perde dois ou três jogos e está no fundo. Vamos entrar na segunda metade do campeonato. Tirando o Benfica B que não conta para a subida, vemos que existem cerca de dez equipas separadas por poucos pontos. Basta uma equipa perder dois jogos e cai do primeiro lugar para o décimo. Queremos sempre ser competitivos no próximo jogo. Se entrarmos no último terço do campeonato e virmos que o Estrela tem condições para lutar por algo mais, não viraremos a cara. Temos que ter os pés bem assentes no chão. Este é o ano zero do Estrela nos campeonatos profissionais. Somos uma equipa que veio de um campeonato inferior e que se está a adaptar a uma nova realidade. O Estrela tem uma massa associativa de Primeira Liga e isso traz-nos responsabilidade.

    Bola na Rede: A competitividade da Segunda Liga traduz-se em espetáculo?

    Ricardo Chéu: Em alguns jogos sim, não em todos. Há jogos que são muito pragmáticos, porque ainda existe a ideia de se jogar para o resultado, o que faz com que o espetáculo não seja valorizado. Aos poucos isso está a desaparecer. O perfil do jogador de Segunda Liga é diferente do perfil do jogador de Primeira Liga. A Segunda Liga é muito mais agressiva, parece que há menos espaço no campo, por causa dessa agressividade. Por vezes, a agressividade tira a espetacularidade ao jogo, porque o torna menos técnico.

    Bola na Rede: Que papel tem que desempenhar o treinador nesse ano zero do Estrela?

    Ricardo Chéu: Cada vez mais o treinador tem que pensar de uma forma macro. O processo de treino é importante, mas o trabalho do treinador não é única e exclusivamente o treino. Existe uma série de variabilidades na dinâmica do clube que se devem ajustar ao que nós queremos. Felizmente, encontrei dentro da estrutura pessoas com experiência de outros patamares que percebem o papel do treinador na formação e desenvolvimento da equipa. Há abertura total para o treinador mudar algumas coisas.

    Bola na Rede: Há pouco tempo, o mister esteve com Álvaro Pacheco numa conferência de imprensa conjunta. O que é que isso diz da postura que gosta de adotar dentro do futebol?

    Ricardo Chéu: Uma coisa que gosto sempre de transmitir são os valores. Os valores humanos são mais importantes do que tudo. Temos que admitir que muitas vezes o adversário é mais forte. Se o admitirmos com fair-play, só temos a ganhar. Nesse jogo, o FC Vizela foi superior a nós. Perdemos e perdemos bem. Acima de tudo, é dar uma transparência maior ao que envolve o futebol.

    Bola na Rede: Falta transparência ao futebol português?

    Ricardo Chéu: Em alguns momentos, sim. Tenho que admitir que um dos motivos que me fez sair do país, emigrar e procurar outras realidades, foi perceber que existiam algumas coisas com que eu não me identificava no futebol português. Quando voltei, percebi que a falta de transparência que existe aqui também existe lá fora. No futebol, ganhar está acima de tudo. O futebol, às vezes, é muito mais do que ganhar. Temos que perceber que se soubermos formar homens com valor vamos estar mais próximos de ganhar. Se os treinadores são muitas vezes a cara do fracasso, também têm que ser a cara dos valores que querem transmitir.

    Bola na Rede: Com que treinador gosta ou gostava mais de se sentar à mesa para falar de futebol?

    Ricardo Chéu: Já tive essa experiência com alguns treinadores de renome. Gostaria de estar à mesa com José Mourinho e perceber o porquê de ser tão titulado, algo diferente tem que haver. Podíamos falar de treinadores como Jorge Jesus, Sérgio Conceição, Rúben Amorim ou Carlos Carvalhal, que são os treinadores dos clubes grandes. Aprendemos sempre com todos. Serem mais conhecidos ou menos conhecidos é pouco importante nesta perspetiva. Quer seja com um treinador de topo, quer seja com um treinador de um clube mais humilde, estamos sempre a aprender. Aprendemos sempre na vida, nem que seja como não se faz. Já aprendi com outros treinadores como não se faz e retirei coisas positivas disso.

    Bola na Rede: Que treinador lhe dá mais dores de cabeça na preparação do jogo?

    Ricardo Chéu: Em Itália, todos eles eram difíceis, porque eram muito pragmáticos. As equipas jogavam muito no erro. Muitas vezes, tínhamos que tentar desbloquear as dinâmicas defensivas que eles tinham. Existem treinadores em Portugal que, pela sua variabilidade no jogo, nos obrigam a ter uma abordagem ao jogo diferente, porque sabemos que do outro lado vai sempre existir um plano B.

    Bola na Rede: Como por exemplo…

    Ricardo Chéu: Lembro-me de jogar contra o Abel Ferreira, que era um treinador que tinha essa variabilidade no jogo. O Paulo Fonseca e o Luís Castro também. Se olharmos para a realidade da Segunda Liga, percebemos que existem equipas como o SL Benfica B que, pela sua dinâmica individual, nos obriga a estar muito concentrados na leitura que fazemos durante o jogo para dar sinais à equipa de que é preciso mudar algo. Outra equipa é o Casa Pia AC, que tem uma dinâmica muito bem assimilada, são muito fortes nas transições, o mínimo erro defensivo coloca-nos em dificuldades. Mesmo assim, temos um conhecimento tão grande dos nossos colegas que eu digo aos elementos da minha equipa técnica que sei perfeitamente qual vai ser a abordagem dos treinadores. Jogamos muitas vezes uns contra os outros e percebemos o que é que está do outro lado. O treinador português é diferente dos restantes, mas vamos percebendo internamente o que é que cada um pretende.

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    Francisco Grácio Martins
    Francisco Grácio Martinshttp://www.bolanarede.pt
    Em criança, recreava-se com a bola nos pés. Hoje, escreve sobre quem realmente faz magia com ela. Detém um incessante gosto por ouvir os protagonistas e uma grande curiosidade pelas histórias que contam. É licenciado em Jornalismo e Comunicação pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e frequenta o Mestrado em Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social.