«Não tenho onde treinar aqui em Portugal, só consigo treinar mesmo antes das competições» – Entrevista BnR com Gonçalo Resende

    «Fiz o percurso mais rápido do que outros atletas que estavam a voar normalíssimo, sem travar, daí que até são bastante proficientes. Ou seja, o meu pior tempo foi melhor que o melhor tempo de muitos gajos muito bons»

    Bola na Rede: E falaste agora de que ficaste contente por chegar inteiro até, que balanço fazes da tua participação no Mundial?

    Gonçalo Resende: Estou feliz com a minha participação, eu sou uma pessoa que sempre disse “O que está feito, está feito”, nunca na vida vou dizer mal do meu próprio trabalho, mesmo que não tenha corrido da forma ideal. Aquilo tem 3 disciplinas, neste caso até teve 4 porque aquilo também tem o Freestyle. Em cada disciplina, correu-me pelo menos uma ronda mal, no total são 12 rondas, ou seja, 1 ronda má a multiplicar por 4 disciplinas, dá 4 rondas bastante más. As minhas “performances” se compararem números individuais com as outras pessoas, dá para perceber que consigo fazer performances, que penso que são boas, tanto na precisão como na distância, como no Freestyle, como no “speed”. Consigo fazer boas prestações, só que às vezes, um pouco por causa de eu ter muito medo de me magoar e assim, já tive muitos familiares, muitos amigos, tanto da minha idade como mais velhos, a magoarem-se, a morrerem, etc. Acabo por ter um tipo de respeito pela disciplina que às vezes me faz ter de abortar a agressividade que estou a levar, a ter de reduzir ali um bocado. Por exemplo, se nós estivermos a fazer uma corrida de fórmula 1, mesmo que o piloto tenha medo a fazer a volta, ele vai acabar na mesma a volta. Ele mesmo que abrande um bocadinho porque está com medo, vai fazer na mesma a volta, mas no voo de asa não é assim. Se nós estivermos com medo ou falharmos uma das rondas, é zero pontos. No máximo o que podes ter é 900 pontos, sem contar com o Freestyle. Claro que é muito raro, nem sei se alguma vez aconteceu, alguém ter os 900 pontos todos, porque basicamente, quem tem a melhor pontuação, recebe 100 pontos e depois faz-se uma regra de três simples para as outras pontuações, para saber se vai ter 99, se vai ter 80. Por exemplo, um gajo faz 200 metros, eu faço 100, ele vai ter 100 pontos, eu vou ter 50, é basicamente. E se eu falhar uma ronda, por exemplo, são 0 pontos, ou 3 que às vezes se passarmos lá pelo circuito, dão-nos 3. Pá, não é nada. Ou seja, é logo aí uma penalização muito grande só por ter falhado e o que me aconteceu foi isso. Foi numa ronda de distância, primeira ronda correu bem, segunda ronda pensei “Ok, vou dar-lhe um bocadinho mais, vou tentar fazer aqui uma boa distância” e tinha dito a mim próprio que se conseguisse fazer mais de 150 metros, tentava homologar um recorde nacional, que não existe um recorde nacional nem na distância, nem no “speed” e eu pensei para mim próprio: se vou fazer um recorde, eu podia fazer um recorde com a minha distância mais curta, mas se vou fazer um recorde, quero fazer com uma distância respeitável e o recorde neste momento são de 201.57metros, que foi batido nessa competição.

    Gonçalo Resende
    Das 3 disciplinas de voo de asa, a especialidade de Resende é o “speed”
    Fonte: Federação Portuguesa de Paraquedismo

    Gonçalo Resende: Se eu fosse homologar um recorde nacional, queria que fosse mais de 150. Fiz 136 logo na primeira e pensei que na segunda dava para fazer 150 na boa. Como ia com muito “power”, com muita velocidade e terminei um bocadinho a volta baixo, tive de passar para manobradores, que é para a asa como meter os travões naquilo e como meti os travões naquilo, estava um bocado nervoso, tentei tocar na água porque tem de se tocar na água que é para a distância contar e por um bocadinho de nada, não toquei na água. Ou seja, o que na minha cabeça ia ser uma boa distância de 150 metros ou uma coisa assim, passou a ser menos, para tipo 70 e quando se vai para manobradores, a asa nunca faz mais de 70, 80 metros, vá e depois, pior ainda foi não ter tocado na água, passou os meus não sei quantos pontos para 3, neste caso. Ou seja, passou de poder ser a minha melhor ronda para ser a minha pior de todas e nem foi a pior de todas com poucos pontos, foi a pior de todas com zero pontos. Depois, no “speed”, a primeira ronda correu-me um bocadinho mal. O “speed” é a disciplina em que eu costumo ter melhor pontuação, porque o “speed” não envolve tocar na água e o problema a da competição de voo de asa para mim e para muitos atletas é que não temos um lago, não temos água para treinar. E é preciso água para treinar de forma realista. E então o que eu me safo melhor acaba por ser no “speed” porque no “speed”, não há água. A água está lá, mas eu não preciso de lhe tocar, a água não está lá a fazer nada. Ou seja, é só voar o meu paraquedas de forma normal, como eu estou habituado a voar nos meus saltos do dia a dia e acaba por ser a disciplina em que eu me comporto melhor, é no “speed” até porque a minha técnica é um bocado diferente do que o resto das pessoas fazem. Há várias pessoas que fazem uma técnica parecida comigo e a minha asa também é uma asa muito boa para o “speed”. Tenho uma asa muito pequena e uma asa muito pequenininha assim para o “speed” acaba por fazer com que ela vá muito mais rápido, que tem menos resistência ao ar, ou seja no “speed” é onde eu consegui recuperar muitos pontos. E se forem ver, na minha pontuação do “speed”, estava sempre ali nos trintas nas outras disciplinas, no Speed consegui ficar nos vinte e tal e mesmo com uma ronda que me correu super mal porque foi logo a primeira ronda, lá está como a asa é muito pequena, é muito rápida, é uma asa tão difícil de voar que se não for perfeitamente ao milímetro, a asa não vai ter a performance que necessita para completar o circuito de forma segura. E na primeira ronda, a asa estava a voar bem, mas eu assustei-me um bocadinho tive que ir para o meio, tive que ir para manobradores, lá está, meter outra vez os travões. Mesmo assim, fiz o percurso mais rápido do que outros atletas que estavam a voar normalíssimo, sem travar, daí que até são bastante proficientes. O meu pior tempo foi melhor que o melhor tempo de muitos gajos muito bons. Os meus dois outros tempos, 2.6, foram muito bons, especialmente para o vento de frente, para a condição que estava e correu bem. Na precisão, também, tive uma ronda que me correu mal, que foi a última ronda por acaso. Estava durante a volta e a minha passada, o meu grupo de atletas, nós saímos em grupos de quatro, tivemos todos vento de costas e o resto do pessoal teve vento de frente, ou seja, é uma desculpa, entre aspas, não é bem uma desculpa foi má sorte, mas o vento mudou quando eu já estava a começar a volta, ou seja já meio que não podia fazer quase nada. Ainda travei ali ao máximo e tal, mesmo assim, não foi terrível. Em vez de ter tido oitenta e tal pontos que é o que tive no salto anterior, tive 62, ou seja, são alguns pontos, mas não é o fim do Mundo. No Freestyle, a primeira ronda e a última ronda, considero que foram boas. A do meio, o que aconteceu foi: eu em vez de sair do lago e ficar de pé, como tinha os manobradores numa mão só a fazer uma manobra de Freestyle, a asa andou um bocadinho para a direita e eu fiquei todo molhado e se tu ficares dentro de água, não saíres da água com a asa a voar, são zero pontos, ou seja, tive também zero pontos nessa, que tirou-me ali alguns pontos do total, mas as outras rondas que me correram bem, estou feliz com o que fiz.

    Bola na Rede: Ou seja, existiram alguns azares, mas, em geral, foram bons resultados?

    Gonçalo Resende: Eu considero que foram bons resultados. Se fôssemos a fazer as pontuações com as melhores três rondas de todos, ou seja, a melhor ronda de todos em cada disciplina, penso que a minha pontuação ia estar muito mais acima, ou seja, significa que a minha performance já está a um nível que considero bastante elevado. Só falta um bocadinho ali a consistência, que ainda estou a trabalhar nisso, também não tenho onde treinar aqui em Portugal, só consigo treinar mesmo antes das competições.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.