«Não tenho onde treinar aqui em Portugal, só consigo treinar mesmo antes das competições» – Entrevista BnR com Gonçalo Resende

    «Cabe-nos a nós compreender que às vezes Federação tem algum tipo de limitações, mas eu considero que a Federação faz o melhor trabalho que pode»

    Bola na Rede: E a nível de logística, como é que foi a experiência? A Federação cobriu algum custo?

    Gonçalo Resende: A nível de logística, é sempre complicado a Federação tem pessoas a trabalhar competentes e tal, mas às vezes como são um pouquinho mais velhas, têm mais dificuldade com coisas de computadores e assim, o que não é maus de todo, só requer um pouco de trabalho da minha parte. Às vezes, é um bocado complicado, umas “dores de cabeça”. Por exemplo, a querida Senhora Dona Dulce, às vezes manda-se para ela um documento, por exemplo, em Excel com várias páginas e ela diz que não está lá nada, porque está na segunda página e depois tenho de estar a explicar ao telefone como é que se muda a página, para ela poder imprimir para assinar à mão, depois colocar outra vez no computador, digitalizar. É engraçado, não digo que seja frustrante porque nunca fiquei mesmo chateado com nada. Cabe-nos a nós compreender que às vezes Federação tem algum tipo de limitações, mas eles fazem o melhor que podem. Eu considero que a Federação faz o melhor trabalho que pode. Às vezes, muitas pessoas gostam de reclamar porque reclamar é gratuito e fácil e dizer que os outros têm as coisas porque têm sorte ou porque têm um tacho, uma ajudinha. Não é ficando em casa à espera que nos tragam a comida à boca, nunca dá nada a ninguém e é exatamente isso que eu tento não fazer. Quis me inscrever no campeonato, ajudei a Federação com tudo o que precisavam, a assinar os boletins, a entrar em contacto diretamente com a organização para enviar os meus documentos e assim, ou seja, eu garanti que nada ficou para trás, ou seja, não deixei que nada do meu futuro ficasse nas mãos de outra pessoa. Não vou dizer “Eu não consegui ir porque aquela pessoa não assinou nada por mim”. Não, eu peguei e disse: ok, eu quero ir ao Campeonato do Mundo, nem que tenha de ir para o edifício da Federação fazer o preenchimento com a Secretária da Federação, eu faço isso, nem que seja preciso. E já me aconteceu, ter de ir lá, pessoalmente. Por acaso, a Federação é mesmo ao ladinho da minha casa, numa casa que eu vim morar há pouco tempo quando vim estudar para Évora. Podia serem qualquer sítio do país, mas é mesmo aqui pertinho. Mas mesmo que fosse no Norte e eu morei muitos anos no Norte, eu tivesse que ir até Évora para ir à Federação, eu ia lá para conseguir fazer as coisas pessoalmente, eu ia lá para me poder conseguir fazer as coisas pessoalmente, que foi exatamente o que eu às vezes tive de fazer e desta vez foi a mesma coisa, fiz o boletim todo. Foi só enviar o boletim, a Federação assinou-o e enviou aos responsáveis.

    Bola na Rede: Mencionaste a questão do Freestyle há bocadinho, qual é o próximo grande objetivo da tua carreira?

    Gonçalo Resende: Eu gostava muito de participar numa das competições que existem de Freestyle, que é o SUP Challenge que até aparece na televisão, onde eles saltam para rios mesmo, em que os saltos são feitos para rios e tem lá o que parece um colchão a boiar no meio do rio e é uma competição muito fixe porque ajuda muito a demonstrar o desporto ao Mundo todo. Também existem os World Games que é o mais próximo que o paraquedismo está de se chegar a Jogos Olímpicos onde há vários tipos de desportos diferentes e os desportos juntam-se todos, há natação, há canoagem, é desportos olímpicos e o voo de asa está a chegar perto disso e fazem, acho que é de 4 em 4 anos, tal como houve este ano. Este ano, os júris das competições, claro que são eles em conjunto com outros júris, naturalmente, que decidem quem é que vai e a decisão é que os atletas que ficam apurados são o top 30, top 40, uma coisa assim, do Campeonato Mundial. Neste caso, no ano passado, eu até tinha uma carta de recomendação de um dos júris principais do voo de asa que até conheço para ir a essa competição, mas como não participei no campeonato do Mundo da Rússia, não pude participar na competição. Vai ter de ficar para a próxima vez que for. Certamente, da próxima vez, já sou apurado. Mas esses dois são os meus próximos objetivos nas competições

    Gonçalo Resende
    Gonçalo Resende ambiciona competir nos World Games, já em 2025
    Fonte: Federação Portuguesa de Paraquedismo

    Bola na Rede: Tens participado em várias provas internacionais, como já referiste. Portugal também participou no Mundial de Precisão de Aterragem. O paraquedismo em Portugal está a crescer, é possível dizer isto?

    Gonçalo Resende: Penso que sim, que o paraquedismo nunca regrediu em Portugal. Tem sempre vindo a crescer. Eu, como trabalho numa escola, consigo objetivamente dizer que existem mais pessoas a saltar, existem mais pessoas a querer aprender a saltar, ou seja, a querer fazer o curso e existem mais pessoas diariamente a querer fazer um salto só, por diversão. Ou seja, sim pode-se dizer que o paraquedismo em Portugal está a crescer.  Ao nível de competições e assim, às vezes as pessoas que saltam sozinhas e assim, têm vindo a saltar um bocadinho menos, até porque a situação económica de Portugal está um bocadinho mais complicada do que estava há uns anos atrás. Se calhar, se fôssemos a ver antes da recessão económica que tivemos em 2008, antes disso havia muito mais paraquedismo desportivo, no sentido de saltar só por diversão, porque as pessoas tinham um pouco mais de rendimentos livres para gastar nesse tipo de coisas. Hoje em dia, já é um pouco mais complicado, as pessoas terem os rendimentos para vir só divertir-se e fazer só um salto. Ainda existem várias pessoas que o fazem, mas, se calhar o número de pessoas total que o faz é um bocadinho inferior. E uma coisa que se nota muito é que, e eu lembro-me de ser mais novo e havia muitos mais paraquedistas com bastante experiência a saltar sozinhos do que agora. Agora, parece que há menos paraquedistas que saltam sozinhos mas com muita experiência. Por exemplo, se calhar antigamente, quando eu digo antigamente, é antes, se calhar de 2010, havia em qualquer fim de semana, grupos de 10 ou 15 paraquedistas com mesmo muita experiência, ao ponto de estarem a fazer coisas que é preciso um grande nível de experiência para fazer. Hoje em dia, se calhar, há o mesmo número de paraquedistas a saltar sozinhos, mas as já são pessoas se calhar, com menos experiência. Se calhar a média de um atleta desportivo, neste momento são 50 saltos, a média, sendo que a maioria são alunos com poucos saltos e estão um ou dois que ajudam a média a chegar aos 50. Se fizermos a média de um gajo com 10 ou 15 saltos com um gajo com 4 mil saltos, sobe muito a média. Se calhar, antes a média eram para aí 500 saltos, haviam muitas pessoas a saltar com 4, 5 mil saltos, a saltarem só por diversão. Hoje em dia, existem um bocadinho menos, mas existem em contrapartida mais alunos, mais pessoas com 0 saltos, 1, 2, 3, até aos 50, existem muitos mais. Eu conheço pessoas que já estão há anos e anos a saltar, só que saltam menos, com mais calma, fazem menos saltos. Se calhar antes, por exemplo uma pessoa gastava quase 25 euros por salto, agora já tem que gastar 30 e tal. E havia também muito mais o pensamento do querer meter é “fun jumpers” a saltar, “fun jumpers” são pessoas que saltam sozinhas e já têm experiência, e começou-se a querer fazer muito mais os “tandems “porque lá está como eu disse, o desporto começou a ganhar muito mais fama. Começaram muito mais pessoas querem saltar, mas que não querem saltar sozinhas, querem saltar acompanhadas. Então, por haver também muito mais número de pessoas que querem saltar acompanhadas, acaba por reduzir a vaga para pessoas que querem saltar sozinhas. Se bem que ainda há e nós temos oferta para quem quiser saltar sozinho. Temos sempre vaga no avião para isso, às vezes é preciso é esperar um bocadinho, mas temos as vagas e penso que é exatamente por causa disso, por causa do facto do paraquedismo ser um pouquinho caro para se ter experiência, as pessoas acabam por pensar “Opá, eu estou aqui a treinar, a saltar, a saltar, sou sempre um beginner”. Lá está, requer muito investimento financeiro, que é uma das desvantagens, se calhar, do paraquedismo.

    Bola na Rede: A nível de cobertura mediática sentes que poderia existir uma cobertura melhor do paraquedismo?

    Gonçalo Resende: Penso que poderia haver muito, muito melhor. É claro que se nós perguntarmos a um jogador de xadrez se acha que havia de haver um campeonato de xadrez ao vivo, ele também vai dizer que sim. Acho que podia haver até porque é um desporto que tem muita nuance e é uma coisa muito única e penso que as pessoas iam conseguir aproveitar. Agora, tem havido mais o crescimento, dentro de desportos radicais, haver um ou dois praticantes mega famosos que as pessoas seguem veem os vídeos, veem as explicações, só porque a pessoa faz realmente vídeos que interessam a todo o mercado, seja uma pessoa paraquedista ou não. Dentro do paraquedismo, o que acaba por acontecer é que os sucessos do paraquedismo não têm grande interesse para pessoas de fora. As pessoas pensam: “Ok, és o melhor do paraquedismo, ninguém quer saber”. Precisamente por haver pessoas que conseguem pegar no desporto, contar boas histórias através de vídeos, através de imagens, seja o que for, acabam por ganhar um bocadinho mais de fama e eu acho bom isso, cada desporto acaba por ter uma ou duas pessoas que são instintivamente reconhecidas por estarem associadas a esse desporto. Não estamos a falar, por exemplo, dos canais de YouTube de paraquedismo. Um canal de YouTube que faça vídeos só sobre paraquedismo especificamente para paraquedistas, se tiver 10 mil subscritores, já é muito, já é ui, meu Deus! Enquanto que uma pessoa que tenha uma conta de Instagram, que seja tipo um “influencer” de paraquedismo, mas que esteja a fazer coisas para o público geral e não só para paraquedistas acaba por conseguir ter milhões de subscritores ou de seguidores, seja o que for. E pegando, nessa parte, é que consegues chegar à parte da televisão, Media, seja o que for.

    Bola na Rede: Vai um bocado de encontro àquilo que disseste até à um bocado, da questão do “networking” e da utilização das redes sociais.

    Gonçalo Resende: Tal e qual, tal e qual. Eu penso que quem conseguir pegar nisso e ficar conhecido pela parte do paraquedismo vai realmente conseguir partilhar um pouco o Mundo do paraquedismo, como trazer isso um pouco mais aos olhos do público geral. Se nós pensarmos em desportos muito específicos, há sempre um gajo que é bom no desporto, que faz vídeos para o YouTube que tem milhões, milhões de subscritores e então tu dizes “O quê, mas existem 10 milhões de pessoas a ver vídeos deste gajo?” Não. São 10 milhões de pessoas a ver, se calhar meia dúzia são paraquedistas ou ciclistas ou seja que desporto for. Para o paraquedismo ainda não existe nenhum, existem algumas pessoas no base, se calhar. O base (“base jumping”) é um desporto que se calhar puxa mais público. No paraquedismo, não estou a ver assim ninguém que imediatamente me venha à cabeça, mas no base por acaso temos muitas pessoas. Penso que a nível de cobertura mediática, penso que programas de televisão e assim.  Acho que era giro se pegassem nalgum atleta português, por exemplo, se pegassem em mim, claro, que era ótimo, não é? Mas há vários atletas que podiam ir por aí, mas eu penso que não vale a pena andar a pedinchar e a dizer “Ah, façam uma reportagem sobre mim”. Mais vale fazer as coisas, ter as valências próprias que as oportunidades hão de aparecer. Já houve bastantes atletas portugueses que tiveram bastantes oportunidade de aparecer em programas de televisão, de ter esse tipo de reportagem porque até tinham algumas conexões, tinham familiares ou amigos que trabalhavam na imprensa. Eu por acaso, não tenho, infelizmente ou felizmente, não sei, mas não sei, portanto, o que me calhar vai ter que ser mesmo por partilhar, tentar meter nas redes sociais, tentar mostrar ao Mundo o que é o paraquedismo. Vou tentar o meu melhor, se conseguir, acho que será muito benévolo para o paraquedismo, porque neste momento, temos pouca cobertura nesse tipo de meios.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.