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    Um dia na Clássica de Santo Thyrso

    Cheguei a Vila das Aves, local de partida da Clássica de Santo Tirso, por volta das 10:40. A primeira coisa que faço é dirigir-me a um edifício onde me tinha sido dito que estavam a ser entregues as credenciais (no meu caso para fazer coisas de jornalista). Ao observar através de uma janela, consegui perceber que decorria a reunião que a organização faz com os Diretores de cada equipa e com o Colégio de Comissários antes do início da prova.

    Tinha ainda algum tempo antes da partida, pelo que percebi que seria possível falar com alguns ciclistas ou diretores desportivos antes da corrida começar. Ao longo de uma grande reta, estavam os veículos de apoio de cada equipa. A Clássica de Santo Tirso contava com formações de elite e de clube (sub-23), todas portuguesas. No ciclismo português, não abundam os orçamentos altos, pelo que muitas equipas não tinham uma camioneta para se equiparem, tendo de o fazer numa carrinha.

    Não me tendo sido pedido diretamente que o fizesse, sabia que falar com os ciclistas antes do início da corrida daria um tom muito mais interessante e completo à minha cobertura. Portanto, decidi que ia começar por falar com alguém da Óbidos Cycling Team, uma formação sub-23 criada este ano. As equipas deste escalão são, tendencialmente, mais acessíveis e ao mesmo tempo trazem uma perspetiva e ambições diferentes à prova.

    Quando tentei falar com a equipa de Óbidos, foi-me dito que estavam em reunião com o Diretor Desportivo (há sempre estas antes de uma corrida) e portanto, fiquei um pouco à espera.  No entanto, cruzei olhares umas três vezes com ciclistas da ACDC Trofa, mesmo ao lado do sítio onde estava a Óbidos Cycling Team. Ora, como as perguntas que eu tinha a fazer eram rápidas, sabia perfeitamente que tinha tempo de falar com alguém da equipa trofense e depois voltar.

    Quando manifestei interesse em falar com alguém da ACDC Trofa, houve o típico “Fala tu” entre os ciclistas, o cenário característico e bastante engraçado que ocorre quando, nós jornalistas, abordamos um grupo de pessoas. Entrevistei Hélder Azevedo, ciclista de 36 anos, único elemento de elite na equipa.

    Qual é o objetivo para o dia de hoje?

    Hélder Azevedo (H): O objetivo para hoje, da ACDC Trofa, como somos uma equipa vizinha de Santo Tirso, acima de tudo passa por mostrar a nossa imagem e por competir com as equipas de Sub-23 porque estamos empatados no ranking e queremos fazer uma boa pontuação hoje para nos podermos classificar bem no ranking de sub-23.

    Ou seja, acaba por ser mais competição com as equipas de Sub-23 do que com as de elite, neste caso?

    H: Sim, naturalmente, nós temos uma equipa composta por elementos de Sub-23, à minha exceção, que sou de elite. Por isso, o objetivo tem de passar por estar na luta com as equipas que são mais do nosso nível. Se pudermos interferir um pouco com os de elite, também o iremos fazer, mas obviamente que são forças completamente distintas.

    E então, colocar um ciclista na fuga ou assim, seria uma coisa notável?

    H: Sim, poderia passar por aí a ideia para hoje, mas nunca é fácil colocar um elemento nosso na fuga… tentaremos, mas obviamente que nunca será fácil metermos alguém na fuga.

    E qual é o grande objetivo da temporada?

    H:O objetivo passa essencialmente pelas provas principais de sub-23, tanto a Volta a Portugal Sub-23 como o Grande Prémio dos Açores, se houver e os campeonatos nacionais. Acho que temos uma equipa de sub-23 muito interessante que poderá fazer bons resultados mas é nestas corridas com os elites que se ganha experiência e que eles melhoram a cada dia e é partir daqui que eles podem ganhar ritmo para depois chegar a essas corridas e fazer bons resultados

    Voltei à equipa de Óbidos e estavam a sair da carrinha, pelo que já podia conversar com um deles. Desta feita, conversei com Tomás Bauwens, um dos principais elementos da equipa, que os colegas disseram que gosta de falar à imprensa. Falha minha em não pedir uma confirmação do visado.

    Qual é o objetivo para o dia de hoje?

    Tomás Bauwens (TB): Bem, o objetivo para hoje passa por adquirir o maior número de pontos possíveis para a qualificação para a Volta ao Alentejo que é um dos objetivos da equipa e claro que se pudermos vencer no nosso escalão é sempre gratificante.

    E poderá passar também por colocar algum ciclista na fuga?

    TB: Sim, também temos esse objetivo. Claro que tentar sempre entrar naqueles grupos maiores, não ir sozinho que é um bocado mais complicado, mas um dos objetivos é também entrar na fuga do dia.

    E o grande objetivo para a temporada?

    TB:  Um dos maiores objetivos, como já disse, é a Volta ao Alentejo. Depois passa um bocado pela Volta a Portugal sub-23 e os Campeonatos Nacionais

    E portanto, conseguir um top 10 nesta corrida seria complicado?

    TB: Com os profissionais é complicado, mas nunca é impossível e a equipa está num bom momento de forma, temos bons ciclistas, é um grupo muito homogéneo e damo-nos todos muito bem e conseguimos trabalhar bem em equipa

    Depois de duas equipas de clube e com o início da assinatura do livro de prova (feita antes do início de cada corrida para registar a participação oficial do atleta na respetiva prova) quase a começar (um pouco depois da hora prevista) aproveitei para tentar falar com alguém da Glassdrive. É a melhor equipa portuguesa, neste momento, depois de ter alcançado 30 vitórias em 2022, pelo que seria muito bom falar com alguém da formação de Águeda.

    Aqui, já se tratava de uma infraestrutura muito mais desenvolvida com um autocarro próprio. Portanto, quem saiu do autocarro para me dar umas palavras foi Fábio Costa (meu conterrâneo, que acabaria por fazer 2º no dia).

    Qual é o objetivo para esta corrida?

    Fábio Costa (FC):O objetivo é que a equipa ganhe, é a primeira competição que vamos realizar para vencer depois da Volta ao Algarve e da Clássica da Figueira. Vimos aqui mesmo para disputar a vitória.

    Um bom resultado aqui seria já um bom presságio para uma eventual participação na Volta ao Alentejo?

    FC: Sim, eu já estou preparado para a Volta ao Alentejo, é um dos grandes objetivos da época tanto para mim, como para a equipa, é uma corrida importante e também estamos aqui não só para ganhar, mas também para ganhar ritmo para essa competição que também vamos com intenção de a vencer.

    Entrevista curta, mas que me deixou satisfeito. Todavia ainda tinha tempo para falar com, pelo menos, mais uma pessoa, antes da corrida começar. Portanto dirigi-me ao autocarro da ABTF Feirense e falei com Ivo Pinheiro, que digo com toda a segurança, é o homem mais alto que entrevistei até hoje (mede 1 metro e 88, de acordo com o “Pro Cycling Stats”).

    Qual é o objetivo para a corrida hoje?

    Ivo Pinheiro (IP): O objetivo é estarmos na disputa, estarmos atentos às principais fugas do dia e queremos ganhar a corrida como é óbvio, acho que não há outra tática.

    E uma boa corrida hoje seria já um bom presságio para a Volta ao Alentejo, então?

    IP: Sim, é um bom presságio. Eu, pessoalmente, ainda estou numa fase um pouco abaixo mas a época é longa e acho que vou ter a possibilidade de melhorar e tenho margem ainda de progredir bastante ao longo da época.

    Então não começou a época como queria?

    IP: Não, pessoalmente não comecei, mas não estou obcecado. Sei que tenho capacidade para mais e vou continuar a melhorar, com certeza.

    Entrevistas feitas, hora de ir para a partida, ver as últimas equipas picar o ponto. A chuva acabou por distanciar muita gente da partida, pelo que a moldura humana não estava assim tão repleta. Sobretudo pessoas com alguma idade, mais uma ou outra família. Antes da corrida começar, cruzei olhares com um ciclista que me cumprimentou e que tenho 90% de certeza que era o André Cardoso.

    A corrida começava, os ciclistas iam embora e estava na hora de também eu rumar a Santo Tirso. A chuva estava tímida (pelo menos até à cerimónia do pódio, mas já lá vamos). Enquanto tentava arranjar forma de chegar à chegada, pois a internet não estava a ajudar, passa por mim um ciclista com o equipamento da Laboral Kutxa (formação sub-23 da Euskaltel-Euskdi) que tenho quase a certeza que era o Rúben Rodrigues, antigo campeão nacional de juniores e antigo ciclista da equipa da Bairrada.

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    Filipe Pereira
    Filipe Pereira
    Licenciado em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, o Filipe é apaixonado por política e desporto. Completamente cativado por ciclismo e wrestling, não perde a hipótese de acompanhar outras modalidades e de conhecer as histórias menos convencionais. Escreve com acordo ortográfico.