Revolução Cultural Francesa segue de vento em popa e muitos dos novos Iluministas são os centrais

    Espero que já se tenham mentalizado que, aqui, nunca se fala apenas de futebol. Contudo, no que diz respeito a um dos nossos maiores amores, teríamos de andar com vendas bem grossas nos olhos para não admitir que a França é, indubitavelmente, uma autêntica fábrica de produção de talentos. Como? Assim de repente, como quem não quer a coisa, apostaria na diversidade cultural como principal causa.

    Vivendo do risco, mas com algum conhecimento de causa, digamos que os franceses, nas últimas décadas, e mais do que qualquer outra nação, têm andado sempre a “brincar à chuva de estrelas”.

    É que, a brincar a brincar, nos últimos cinco campeonatos do mundo os gauleses produziram bastantes mais jogadores dentro das suas fronteiras do que, por exemplo, o Brasil, a Alemanha, ou a Argentina. Em 2018, por exemplo, foi mesmo “à grande e à francesa”: eram 52 as estrelas nascidas e/ou criadas em França e claro que, com duas equipas e meia em competição, uma delas teria necessariamente de ganhar.

    Como sabemos, nem tudo foi sempre ouro sobre azul. Contrariamente ao cenário cultural propriamente dito, os anos 70 não foram “La Vie en Rose” dentro das quatro linhas. Depois de nem sequer se qualificarem para o campeonato do mundo, por duas vezes seguidas, os carinhosamente apelidados de “avecs” chegaram à conclusão que estava na altura de optar por outro tipo de abordagem e decidiram, então, começar a profissionalizar a educação futebolística.

    O resultado? A criação obrigatória de academias de jovens por parte de todos os clubes e o nascimento de uma instituição de futebol nacional. Este fresco pragmatismo na educação de jogadores desde tenra idade não demoraria muito a dar frutos, viabilizando a mudança desejada: em ‘84, Michel Platini faria o seu país levantar o principal troféu europeu pela primeira vez.

    O investimento continuaria e a Federação Francesa de Futebol tornar-se-ia cada vez mais responsável por captar os melhores talentos, auxiliada pela conceituada Clairefontaine, a melhor de 13 academias de elite que viriam a ser criadas por todo o país e antiga casa para, por exemplo, Thierry Henry e Kylian Mbappé.

    Ao mesmo tempo, mais ou menos doucement, essas academias encarregavam-se de garantir a adaptação a um futebol moderno que começava a ser igualmente necessária. O foco estava numa educação que englobasse, entre muitas outras coisas, a utilização de ambos os pés, a velocidade na reação e a adaptação a diferentes sistemas de jogo.

    E, entretanto, claro, mais história: em 1998, os gauleses ganhariam pela primeira vez, em casa, um campeonato do mundo, e dois anos depois o título europeu faria nova viagem até Paris.

    Aproveitando as conhecidas origens do meu jogador preferido que, em cima, segurava o troféu, e chegados nós à altura em que nasceram muitos dos que motivaram a escrita deste artigo, cabe-nos agora voltar um pouco atrás para entender de que forma a diversidade cultural foi chamada ao barulho logo no primeiro parágrafo.

    Piadas fáceis à parte, e zero alusões a acontecimentos infelizes, porque aqui queremos sempre o copo meio cheio e acreditamos que mais com menos até dá mais, é imperativo recordar os primórdios do pós-colonialismo.

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